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EUA tem a semana mais forte do ano e Ibovespa continua subindo; veja os destaques da semana

O clima de otimismo se reinstaurou nas bolsas globais esta semana, com os EUA passando pelo que parece ser sua semana mais forte do ano.

Por Matheus Spiess

16 ago 2024, 09:19 - atualizado em 16 ago 2024, 09:21

Imagem representando o financial deepening, uma expressão que denota um avanço significativo na sofisticação dos produtos oferecidos no mercado financeiro.

Bom dia, pessoal. Uma série de dados recentes que destacam a resiliência da economia americana colocou o mercado dos EUA a caminho de sua semana mais forte do ano.

Juntamente com ele, as ações globais também estão prestes a registrar sua melhor semana desde novembro de 2023, com o principal índice de ações mundiais da MSCI avançando para um ganho de quase 4% em cinco dias de negociação.

Esse movimento ocorre após o mercado afastar os temores de uma recessão na maior economia do mundo. Trata-se de uma reversão em relação ao início da semana passada, quando investidores venderam suas posições precipitadamente.

Como venho enfatizando, a serenidade na tomada de decisões é nossa maior aliada em momentos de tensão.

Nesse contexto, os mercados asiáticos encerraram a sexta-feira (16) em alta, acompanhados pelos índices europeus que também operam em terreno positivo nesta manhã. O apetite por risco tem se refletido igualmente no Brasil, que voltou a flertar com suas máximas após meses.

O principal motor por trás desse otimismo é a expectativa de um corte nas taxas de juros nos EUA, previsto para setembro, provavelmente de 25 pontos-base, sem necessidade de um ajuste mais drástico.

A ver…

· 00:51 — Com a corda toda

Ontem, o Ibovespa registrou sua oitava alta consecutiva, alcançando 134.153,42 pontos, ficando a poucos passos de seu recorde histórico de 134.193,72 pontos, estabelecido em dezembro do ano passado. Esse avanço foi impulsionado por um clima de otimismo decorrente de dados econômicos favoráveis vindos dos Estados Unidos.

Destacou-se também o expressivo aumento do capital estrangeiro ingressando na bolsa brasileira ao longo de agosto. Esse renovado interesse dos investidores internacionais foi alimentado pela expectativa de cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve.

Além disso, a atratividade dos valuations dos ativos, impulsionadas por uma estratégia de “rotação setorial”, e uma temporada de resultados corporativos robustos, contribuíram significativamente para esse cenário positivo.

A postura mais assertiva adotada pelo Banco Central do Brasil após a instabilidade na comunicação de maio também desempenhou um papel crucial nesse contexto. No entanto, ainda é incerto se Brasília conseguirá manter esse ambiente favorável nos próximos meses.

Paralelamente, começam a surgir sinais de tensão política que podem afetar essa dinâmica positiva. Hoje, o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou, em sessão virtual, a análise de uma decisão do ministro Flávio Dino que suspendeu a execução das emendas impositivas até que os repasses se tornem mais transparentes, gerando descontentamento significativo entre os membros do Congresso. Dino, relator do caso, votou pela manutenção de sua liminar.

Essas tensões foram ainda mais acirradas pelas recentes declarações do presidente Lula, que criticou o controle exercido pelo Congresso sobre partes do Orçamento. Esse cenário político complicado, em que o governo precisa alcançar um superávit de R$ 36 bilhões até dezembro para cumprir a meta fiscal mínima, pode prejudicar o ambiente econômico do país.

Além disso, a escolha do próximo presidente do Banco Central está sendo observada de perto, com Gabriel Galípolo surgindo como o principal candidato ao cargo.

· 01:48 — O Brasil em 2050

O plano de trabalho da “Estratégia Brasil 2050” foi formalmente apresentado pela ministra Simone Tebet ao presidente Lula em junho e, em seguida, discutido em linhas gerais com os demais ministros durante a reunião ministerial de agosto. Este plano ambicioso busca enfrentar desafios cruciais, como a redução das desigualdades sociais e regionais, o aumento da produtividade e da inovação, a adaptação aos impactos das mudanças climáticas e a gestão da transição energética e demográfica.

A formulação do plano é inspirada em modelos internacionais de planejamento de longo prazo que têm sido bem-sucedidos e já começam a ser replicados em âmbito subnacional no Brasil, com 17 estados e o Distrito Federal desenvolvendo estratégias de longo alcance que se estendem até 2060. O projeto tem como objetivo estabelecer um roteiro estratégico que vá além do alcance do atual Plano Plurianual Participativo, que cobre o período de 2024 a 2027.

Considero essa iniciativa extremamente positiva. Durante décadas, o Brasil tem enfrentado desafios resultantes da falta de um planejamento estratégico de longo prazo, concentrando-se principalmente em soluções imediatistas que podem limitar o desenvolvimento sustentável do país. No entanto, ainda resta a dúvida sobre a aplicação prática deste documento: será ele realmente implementado ou acabará caindo no esquecimento, como tantos outros planos anteriores?

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· 02:35 — O apetite pelo consumo supera as expectativas nos EUA 

Nos Estados Unidos, as preocupações sobre a saúde financeira dos consumidores foram temporariamente ofuscadas pelos últimos dados econômicos. Os números mais recentes revelaram que os americanos mantêm um forte apetite por consumo, com as vendas no varejo registrando um aumento de 1% em julho, superando amplamente a expectativa de consenso, que era de apenas 0,3%.

Em comparação ao mesmo período do ano anterior, a alta foi de 2,7%. Esses relatórios pintam um quadro de uma economia que está longe de entrar em recessão. O modelo GDPNow do Federal Reserve de Atlanta, por exemplo, atualmente projeta uma taxa de crescimento anualizada de 2,4% para o PIB real no terceiro trimestre. 

Essa percepção inicial gerou incertezas quanto à possibilidade de o Fed cortar as taxas de juros em setembro, quase eliminando as apostas em uma redução de 50 pontos-base, como mencionei anteriormente que considerava improvável. Acredito que um corte de 25 pontos-base seja o caminho mais adequado para setembro. Assim, o cenário, no geral, ainda parece bastante positivo. Na agenda de hoje, é importante acompanhar a pesquisa de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan, além dos novos dados sobre a construção residencial em julho.

· 03:24 — Quem tem medo do carro chinês?

Me parece que Joe Biden tem. E muito. O presidente dos EUA está intensificando os esforços para enfrentar a crescente rivalidade tecnológica com a China, com um foco especial no emergente setor de veículos autônomos e conectados à internet. O governo americano planeja impor restrições à venda de software para veículos chineses nos EUA, como parte de uma estratégia para mitigar preocupações de segurança associadas à nova geração de carros inteligentes.

A atual geração de veículos, tanto a gasolina quanto elétricos, frequentemente incorpora dispositivos que os conectam à internet, tornando-os suscetíveis a ataques cibernéticos. Esta medida representa uma continuidade da prolongada guerra comercial entre as duas maiores potências econômicas do mundo, um conflito que está longe de uma resolução.

Note que este movimento ocorre em um cenário onde a China já se consolidou como líder no mercado de veículos elétricos e na produção de componentes essenciais para carros inteligentes, posição que tem sido fortemente apoiada por substanciais subsídios governamentais. Por outro lado, montadoras chinesas como a BYD têm enfrentado dificuldades no mercado americano, em grande parte devido à tarifa de 27,5% imposta pelo ex-presidente Donald Trump (uma tarifa que Biden anunciou a intenção de aumentar para mais de 100% em maio). Com as novas restrições ao uso de tecnologia chinesa, os EUA buscam impedir que automóveis fabricados na China ganhem uma posição dominante no mercado americano.

· 04:17 — Ninguém quer reduzir o déficit

Os principais partidos políticos dos Estados Unidos não apresentam um plano viável para reduzir o déficit fiscal. As plataformas e os históricos dos candidatos presidenciais indicam pouca preocupação com déficits fiscais ou com os gastos governamentais pró-cíclicos, o que é preocupante em um cenário de altas taxas de juros e custos crescentes do serviço da dívida, que já representam uma parcela significativa do orçamento federal.

As circunstâncias e o timing são cruciais. O estímulo fiscal, mesmo quando não é altamente produtivo, é justificável durante recessões, quando a demanda agregada precisa de impulso, as taxas de juros estão baixas e os gastos públicos tendem a se pagar por meio do crescimento econômico. No entanto, o momento adequado para o governo apertar os cintos é durante os períodos de expansão econômica, o que claramente não aconteceu neste último ciclo que vivemos.

Em resumo, a trajetória fiscal dos Estados Unidos é motivo de preocupação, como venho destacando com frequência. No curto prazo, não há perspectivas de que alguém possa impedir uma escalada desse problema. Diante disso, é fundamental que se invista com essa realidade em mente, mantendo proteções adequadas na carteira para mitigar os riscos de uma possível instabilidade no mercado, como observamos no ano passado, entre agosto e outubro.

· 05:01 — Mais um exemplo de bom resultado

Um dos principais fatores que sustentam a recente alta nos mercados é o desempenho das empresas na última temporada de resultados corporativos, referentes ao segundo trimestre de 2024. Nos últimos dias, mencionei alguns exemplos de empresas que recomendei anteriormente e nas quais continuo acreditando. Já falei de um nome no setor financeiro e outro no varejo; agora, gostaria de destacar o setor de construção civil, que também apresentou resultados bastante positivos para diversas empresas no mercado.

Hoje, foco na…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.