Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações asiáticas encerraram a segunda-feira sem uma única direção, depois de um relatório na sexta-feira mostrar a resiliência da força de trabalho americana, enquanto os mercados ficaram fechados em muitos países durante o feriado da Sexta-Feira Santa — isso indica que o Federal Reserve provavelmente teria que aumentar as taxas de juros novamente, visando segurar a inflação. Pelo menos serviu para acalmar as preocupações recentes sobre uma possível recessão (o relatório mostrou que os empregadores americanos criaram 236 mil empregos no mês passado).
Na volta do feriado, os futuros americanos estão em alta (os mercados europeus permanecem fechados). A grande discussão, depois dos dados de emprego, repousa sobre a inflação ao consumidor dos EUA, a ser apresentada nesta semana. O dado será definitivo para as expectativas na nova reunião de política monetária do Fed, que deverá elevar em 25 pontos-base a taxa de juros. Por aqui, também aguardamos a inflação do mês de março, enquanto digerimos as novidades envolvendo o novo arcabouço fiscal, que deverá ter seu texto formal apresentado nesta semana.
A ver…
· 00:51 — Não pode elogiar muito
No Brasil, alguns dados chamam a atenção do mercado nos próximos dias, como o IPCA de março na terça-feira. Algumas pesquisas com os setores de comércio e serviços também são aguardadas. Contudo, o grande diferencial dos próximos dias fica por conta do envio formal ao Congresso do novo arcabouço fiscal — deveria ser nesta terça-feira, mas Lula viaja para a China durante a semana, podendo provocar mais um atraso na divulgação do texto com os detalhes da regra para o orçamento público.
Como se não bastasse as notícias ruins envolvendo as revisões ao Marco do Saneamento, agora precisamos lidar com os ruídos envolvendo o novo marco fiscal. Ao que tudo indica, o governo estaria estudando desvincular os investimentos em saúde e educação da arrecadação, de modo que esses gastos tenham crescimento acima da inflação mesmo em um quadro de desaceleração da economia. Nunca subestime a capacidade do governo de gastar mais. Teremos apenas certeza com o texto em mãos.
· 01:38 — A difícil decisão
O Federal Reserve enfrenta uma decisão difícil sobre aumentar as taxas de juros para reduzir a inflação que ainda está alta ou encerrar finalmente o ciclo de aperto monetário diante dos sinais de desaceleração da economia. Há muita incerteza sobre os próximos movimentos do Fed, principalmente depois do estresse financeiro com bancos regionais e dos dados de atividade mais fracos — o mercado não sabe dizer se as condições atuais já são o suficiente para o fim do ciclo de aperto da política monetária. Entendo que mais uma alta de 25 pontos-base dos juros seja o mínimo.
Chamaram a atenção os dados de emprego da semana passada. Um mercado de trabalho menos aquecido é exatamente o que o Fed está tentando alcançar. Aumentar as taxas é uma das maneiras mais eficazes do Fed de reduzir a inflação, mas é uma ferramenta notoriamente contundente que funciona apenas desacelerando toda a economia, o que aumenta o risco de recessão. O foco agora está na divulgação dos números da inflação ao consumidor desta semana. Se o dado mostrar uma desaceleração dos preços, teríamos mais um vetor para a decisão do Fed.
· 02:35 — As mudanças no Japão
Depois de uma década como governador (presidente) do Banco do Japão (autoridade monetária japonesa), Haruhiko Kuroda chegou ao final de seu mandato no fim de semana. Enquanto esteve no cargo, Kuroda liderou o experimento monetário mais ousado do mundo, levando as taxas de juros japonesas para patamares negativos, de onde não saiu até hoje. A ideia era sustentar uma inflação minimamente aceitável.
Durante a maior parte de seu mandato, a inflação não ficou nem perto da meta de 2% e, quando aumentou, foi amplamente provocada no exterior por uma recuperação pós-pandêmica, emaranhados na cadeia de suprimentos e invasão da Ucrânia pela Rússia. As previsões de preços mais recentes do BOJ mostram que as autoridades ainda não veem a inflação acima de 2% de maneira sustentável.
O custo assombroso das políticas de Kuroda, que superaram qualquer tentativa do Fed ou do BCE, faz com que os agentes econômicos se perguntem se teria valido a pena de fato. A resposta dependerá de como seu sucessor, Kazuo Ueda, lidará com sua herança. A partir de agora, Ueda enfrenta a difícil tarefa de encontrar um caminho de saída do programa de estímulo sem prejudicar o crescimento econômico.
Até agora, Ueda não expressou a urgência de mudar a política com a qual Kuroda iniciou seu mandato, mas um eventual endurecimento da política é amplamente esperado. Em muitos sentidos, o sucesso de Ueda determinará como a história vê o mandato de Kuroda. Se os sinais de inflação à vista agora florescerem em uma taxa sustentável de 2% e Ueda conseguir uma saída ordenada das atuais configurações de política monetária, o mandato de Kuroda poderá ser considerado um sucesso.
· 03:47 — Questões hipersônicas na geopolítica
O Pentágono esperava declarar a primeira arma hipersônica dos EUA com capacidade de combate até meados de 2022, mas seus programas de teste estão enfrentando problemas. Os relatórios sugerem que a Força Aérea americana não vai prosseguir com a aquisição da arma de resposta rápida da Lockheed Martin, também conhecida como ARRW, após a falha de transmissão e perda de dados em um exercício recente. O atraso gera constrangimento das Forças Armadas e cobranças da Casa Branca.
O objetivo dos hipersônicos é escapar dos sistemas de defesa enquanto voam a velocidades superiores a Mach 5 — os armamentos podem manobrar durante o voo em comparação com as trajetórias suborbitais fixas dos mísseis balísticos. Os EUA tentaram acelerar seu desenvolvimento depois que a Rússia usou pela primeira vez mísseis hipersônicos na Ucrânia no ano passado. Essas armas devem ajudar a moldar a geopolítica do mundo ao longo dos próximos anos, assim como armas nucleares.
· 04:32 — A velocidade da inteligência artificial
Depois do ChatGPT, muitos estão se perguntando se a Inteligência Artificial (IA) está ficando muito inteligente rápido demais? De acordo com o bilionário Elon Musk e mais de 1.000 outros especialistas da inteligência artificial, a resposta é sim. Tanto é verdade que eles publicaram uma carta aberta pedindo uma “pausa” de seis meses no desenvolvimento da IA. A ideia seria a de evitarmos criar mentes digitais tão poderosas que não podem ser controladas por humanos.
O choque social pode ser relevante, com projeções do Goldman Sachs indicando que a IA pode deixar até 300 milhões de pessoas desempregadas em uma década. O efeito pode ser ainda maior, com a OpenAI, empresa por trás do ChatGPT, indicando que quase 50% da força de trabalho poderá ser substituída ao longo das próximas décadas. Os próximos meses devem ser vitais para estruturarmos um modelo funcional de controle para o desenvolvimento das inteligências artificiais.
Um abraço,
Matheus Spiess