Os mercados globais reagiram negativamente ontem (18) e seguem ajustando suas posições nesta manhã, em resposta ao corte de 25 pontos-base na taxa básica de juros anunciado pelo Federal Reserve.
Embora a decisão em si já fosse amplamente antecipada, o que chamou atenção foi o tom firme adotado pela autoridade monetária, que sinalizou um ritmo mais lento de cortes de juros em 2025. Além de reforçar a expectativa de uma pausa no ciclo em janeiro, o Fed deixou claro que manterá uma abordagem gradual e cautelosa, prolongando o período de juros elevados nos EUA.
Ontem, os índices americanos recuaram diante da perspectiva de um cenário monetário mais apertado por mais tempo, e as bolsas europeias seguiram o mesmo caminho na abertura desta quinta-feira (19). Esse movimento ajuda a justificar decisões de outras autoridades monetárias. O Banco da Inglaterra, por exemplo, optou por manter sua taxa de juros inalterada em 4,75%, em linha com as expectativas do mercado. Da mesma forma, o Banco do Japão não promoveu alterações em sua política monetária, embora, no caso japonês, o contexto seja de uma gradual elevação das taxas.
Enquanto isso, no cenário doméstico, o já fragilizado real sofreu novas desvalorizações. A moeda brasileira vem sendo pressionada pela combinação de incertezas fiscais e fortalecimento do dólar no cenário global. A percepção de que o Brasil permanece sem uma estratégia clara para lidar com seus desafios fiscais só agrava a vulnerabilidade da economia, criando um contexto de maior aversão ao risco entre os investidores. Embora tenha havido algum avanço modesto nas pautas legislativas no Congresso, o progresso não é suficiente para mitigar as preocupações.
· 00:51 — O atrasado, medíocre, insuficiente e desnutrido pacote fiscal
A aversão ao risco no Brasil tomou proporções generalizadas, refletindo uma deterioração alarmante do ambiente econômico e político. O Ibovespa recuou aos 120 mil pontos, enquanto a curva de juros precifica uma Selic terminal de 16,75%. O dólar disparou para R$ 6,26 no fechamento, marcando uma nova máxima histórica e acumulando uma alta de 30% contra o real apenas neste ano. A crise de confiança se espalhou como um incêndio, alimentada tanto por fatores internos quanto externos.
A postura mais conservadora do Federal Reserve, que sinalizou um ritmo mais lento de cortes de juros em 2025, certamente agravou o mau humor global. No entanto, o catalisador principal parece ser o esvaziamento do já insuficiente, atrasado e medíocre pacote fiscal no Congresso. Como se isso não bastasse, a Câmara não conseguiu concluir as votações pendentes ontem, adiando para hoje a apreciação do texto. Paralelamente, o Banco Central retoma suas atuações no mercado de câmbio, após ausência ontem. Embora essas intervenções reduzam momentaneamente a volatilidade, elas oferecem cada vez menos espaço para ganhos estruturais.
A agenda legislativa de hoje é crucial, especialmente diante da necessidade de digerir o Relatório Trimestral de Inflação e acompanhar a coletiva de imprensa de Gabriel Galípolo e Roberto Campos Neto. O cenário, no entanto, é agravado por outros fatores: o Congresso aprovou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), mas com dispositivos que ampliam gastos e flexibilizam a meta fiscal. Além disso, foi removida a obrigatoriedade de mirar o centro da meta fiscal até outubro de 2025.
Nesse contexto, a perspectiva de solução para os problemas fiscais parece cada vez mais remota. Mesmo o ministro Fernando Haddad já reconheceu a necessidade de novas medidas para conter os gastos, mas o tempo está contra ele. Sem avanços concretos no campo da política econômica, a perda de parâmetros dos ativos locais continuará, e projeções de dólar a R$ 7 e juros a 20% se tornam cada vez mais plausíveis.
Há, sim, um nervosismo exacerbado nos mercados, mas ele não é fruto de um “ataque especulativo”, como alguns sugerem (por desconhecimento ou má fé), mas de uma série de eventos técnicos, incluindo liquidações forçadas (stops) e ajustes de posições, que amplificaram os movimentos já exacerbados. Economias emergentes tendem a sofrer com essas dinâmicas, que se retroalimentam em momentos de fragilidade. Se o governo não tomar medidas contundentes e urgentes, o país pode caminhar para um cenário semelhante ao que ocorreu com a lira turca ou o peso argentino: uma perda dramática de valor da moeda e uma deterioração ainda maior da credibilidade.
O que estamos contratando para os próximos dois anos é uma combinação de estagflação e desconfiança generalizada, em grande parte por conta da recusa do governo em adotar medidas fiscais robustas e responsáveis. Sob essas condições, as perspectivas para 2026 começam a ganhar protagonismo, com o mercado antecipando a possibilidade de uma mudança de direção política. O atual governo parece cada vez mais distante de uma reeleição, caso o presidente decida ser candidato. O pêndulo político, assim, oscila na direção de uma virada que poderia redesenhar a trajetória do país nos próximos anos. A ponte até lá, porém, me parece bem esburacada.
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· 01:42 — Menos cortes
As ações recuaram na quarta-feira (18), refletindo o tom mais cauteloso adotado pelo Federal Reserve em sua última decisão de política monetária. Atendendo às expectativas do mercado, o Fed reduziu a taxa básica de juros em 25 pontos-base, situando-a no intervalo de 4,25% a 4,50%. Contudo, foi o discurso do presidente Jerome Powell que trouxe uma mensagem mais dura: o banco central considera que a inflação ainda está persistentemente elevada e antecipa novas pressões inflacionárias no futuro, justificando uma abordagem mais moderada daqui para frente.
Após a terceira redução consecutiva na taxa de referência, o Fed revisou suas projeções, indicando apenas dois cortes adicionais para 2025, um sinal claro de que o ciclo de flexibilização monetária poderá ser pausado já em janeiro. Essa mudança de postura contribuiu para intensificar o pessimismo no mercado, resultando em uma queda de 2,6% no Dow Jones Industrial Average. Com isso, o índice acumulou sua mais longa sequência de perdas desde 1974.
Em termos de atividade econômica, todas as atenções agora se voltam para a terceira e última estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no terceiro trimestre, que será divulgada hoje. O mercado espera um crescimento anualizado, ajustado sazonalmente, de 2,8%. Esse número, caso se confirme, já seria suficiente para reforçar a narrativa do Fed sobre a necessidade de uma política monetária mais contida. E se o dado superar as expectativas, o argumento para uma pausa no ciclo de cortes será ainda mais robusto.
· 02:39 — E o fiscal americano?
Donald Trump e Elon Musk manifestaram críticas contundentes ao projeto de lei que visa evitar uma paralisação (shutdown) do governo americano, uma proposta que comentei ontem. Para relembrar, na noite de terça-feira (17), os líderes do Congresso apresentaram um texto que prevê a aprovação de um orçamento temporário de três meses, com o objetivo de impedir uma paralisação iminente no sábado. Apesar de essencial para evitar um colapso administrativo, o projeto tem sido alvo de controvérsias, com Trump e Musk apontando que ele está excessivamente inflado, alimentando a atenção ao preocupante quadro fiscal dos EUA.
A questão ganha ainda mais relevância diante da promessa do novo governo de enfrentar os desafios fiscais do país. Scott Bessent, escolhido por Trump para liderar o Departamento do Tesouro, declarou que sua principal motivação para ingressar na esfera pública é lidar com a “montanha” da dívida nacional. Entre suas metas ambiciosas está a redução do déficit fiscal, atualmente em 6%, para 3% nos próximos anos — um objetivo que, embora desafiador, não é impossível de alcançar. No entanto, a tarefa que Bessent enfrenta é monumental, exigindo medidas firmes para equilibrar as contas públicas e restaurar a confiança no compromisso fiscal do governo.
· 03:25 — Cessar-fogo?
Enquanto a situação na Ucrânia permanece tensa, com os ucranianos assumindo a responsabilidade pelo assassinato do chefe das forças de defesa radiológica, química e biológica da Rússia, o Oriente Médio parece estar se aproximando de uma oportunidade significativa: Israel e o Hamas estão próximos de um acordo sobre os termos de um cessar-fogo, que poderia encerrar a guerra de 14 meses em Gaza.
Autoridades israelenses já expressaram que a possibilidade de um cessar-fogo em Gaza é mais realista agora do que em qualquer outro momento do último ano. Isso sugere que um acordo tão esperado, envolvendo a libertação de reféns e a ampliação da ajuda humanitária ao território, pode finalmente estar prestes a ser concretizado.
Uma resolução como essa teria impacto direto nos mercados globais, potencialmente aliviando a pressão sobre os preços do petróleo, à medida que as tensões geopolíticas na região se reduzissem. A concretização desse acordo representaria um passo importante para a estabilização da região.
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· 04:19 — Movimentação chinesa
Recentemente, a China realizou a emissão de US$ 2 bilhões em títulos denominados em dólares. Dois aspectos chamam a atenção: i) os títulos foram emitidos em Riad, na Arábia Saudita, um local pouco convencional para uma oferta dessa natureza; e ii) a demanda por esses títulos foi impressionante, com uma subscrição 20 vezes superior ao valor da emissão, uma proporção muito acima do que é tipicamente observado nos leilões do Tesouro dos EUA, onde a relação de cobertura gira em torno de 2 a 3 vezes.
Outro ponto notável é que esses títulos estão sendo negociados em níveis quase equivalentes aos dos títulos do Tesouro dos EUA, com rendimentos praticamente idênticos, apesar de a classificação de risco ser inferior. Embora o valor da emissão tenha sido modesto, o sucesso dessa operação sugere que, se a China conseguir replicar esse modelo de forma consistente, poderá começar a influenciar significativamente os fluxos globais de liquidez em dólar.
Na prática, isso cria a possibilidade de Pequim estabelecer um mecanismo estratégico para exercer maior controle sobre o mercado global de dólares. Pode ser que estejamos vendo uma mudança estratégica significativa: em vez de insistir nos projetos cambiais patéticos, como o dos BRICS, a China parece estar adotando uma abordagem mais pragmática, focando em minar a supremacia do dólar a partir de dentro do sistema financeiro global. Este movimento sugere uma visão mais sofisticada e ambiciosa de como alavancar sua influência econômica enquanto consolida o yuan.
· 05:03 — O acordo
No início deste mês, a Eletrobras (ELET6) anunciou ao mercado que realizou uma reunião com representantes da Advocacia Geral da União (AGU) e da Casa Civil para discutir os diversos pontos em negociação com o governo desde sua privatização.
Entre os temas abordados, o mais sensível envolve a limitação do direito de voto da União, cláusula que foi amplamente debatida e considerada indispensável para viabilizar o processo de privatização, permitindo ao governo arrecadar R$ 30 bilhões.
A questão que surge é: esse movimento sinaliza algo positivo ou negativo?