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Fed corta juros como previsto e bolsas reagem em queda; veja os destaques nos mercados globais nesta quinta-feira (19)

As taxas de juros dos Estados Unidos foram cortadas em 25 pontos-base, dentro do previsto. Veja a reação do mercado.

Por Matheus Spiess

19 dez 2024, 08:56 - atualizado em 19 dez 2024, 08:56

bolsa de valores opcoes ibovespa

Imagem: Freepik/ @freepik

Os mercados globais reagiram negativamente ontem (18) e seguem ajustando suas posições nesta manhã, em resposta ao corte de 25 pontos-base na taxa básica de juros anunciado pelo Federal Reserve.

Embora a decisão em si já fosse amplamente antecipada, o que chamou atenção foi o tom firme adotado pela autoridade monetária, que sinalizou um ritmo mais lento de cortes de juros em 2025. Além de reforçar a expectativa de uma pausa no ciclo em janeiro, o Fed deixou claro que manterá uma abordagem gradual e cautelosa, prolongando o período de juros elevados nos EUA.

Ontem, os índices americanos recuaram diante da perspectiva de um cenário monetário mais apertado por mais tempo, e as bolsas europeias seguiram o mesmo caminho na abertura desta quinta-feira (19). Esse movimento ajuda a justificar decisões de outras autoridades monetárias. O Banco da Inglaterra, por exemplo, optou por manter sua taxa de juros inalterada em 4,75%, em linha com as expectativas do mercado. Da mesma forma, o Banco do Japão não promoveu alterações em sua política monetária, embora, no caso japonês, o contexto seja de uma gradual elevação das taxas.

Enquanto isso, no cenário doméstico, o já fragilizado real sofreu novas desvalorizações. A moeda brasileira vem sendo pressionada pela combinação de incertezas fiscais e fortalecimento do dólar no cenário global. A percepção de que o Brasil permanece sem uma estratégia clara para lidar com seus desafios fiscais só agrava a vulnerabilidade da economia, criando um contexto de maior aversão ao risco entre os investidores. Embora tenha havido algum avanço modesto nas pautas legislativas no Congresso, o progresso não é suficiente para mitigar as preocupações.

· 00:51 — O atrasado, medíocre, insuficiente e desnutrido pacote fiscal

A aversão ao risco no Brasil tomou proporções generalizadas, refletindo uma deterioração alarmante do ambiente econômico e político. O Ibovespa recuou aos 120 mil pontos, enquanto a curva de juros precifica uma Selic terminal de 16,75%. O dólar disparou para R$ 6,26 no fechamento, marcando uma nova máxima histórica e acumulando uma alta de 30% contra o real apenas neste ano. A crise de confiança se espalhou como um incêndio, alimentada tanto por fatores internos quanto externos.

A postura mais conservadora do Federal Reserve, que sinalizou um ritmo mais lento de cortes de juros em 2025, certamente agravou o mau humor global. No entanto, o catalisador principal parece ser o esvaziamento do já insuficiente, atrasado e medíocre pacote fiscal no Congresso. Como se isso não bastasse, a Câmara não conseguiu concluir as votações pendentes ontem, adiando para hoje a apreciação do texto. Paralelamente, o Banco Central retoma suas atuações no mercado de câmbio, após ausência ontem. Embora essas intervenções reduzam momentaneamente a volatilidade, elas oferecem cada vez menos espaço para ganhos estruturais.

A agenda legislativa de hoje é crucial, especialmente diante da necessidade de digerir o Relatório Trimestral de Inflação e acompanhar a coletiva de imprensa de Gabriel Galípolo e Roberto Campos Neto. O cenário, no entanto, é agravado por outros fatores: o Congresso aprovou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), mas com dispositivos que ampliam gastos e flexibilizam a meta fiscal. Além disso, foi removida a obrigatoriedade de mirar o centro da meta fiscal até outubro de 2025.

Nesse contexto, a perspectiva de solução para os problemas fiscais parece cada vez mais remota. Mesmo o ministro Fernando Haddad já reconheceu a necessidade de novas medidas para conter os gastos, mas o tempo está contra ele. Sem avanços concretos no campo da política econômica, a perda de parâmetros dos ativos locais continuará, e projeções de dólar a R$ 7 e juros a 20% se tornam cada vez mais plausíveis.

Há, sim, um nervosismo exacerbado nos mercados, mas ele não é fruto de um “ataque especulativo”, como alguns sugerem (por desconhecimento ou má fé), mas de uma série de eventos técnicos, incluindo liquidações forçadas (stops) e ajustes de posições, que amplificaram os movimentos já exacerbados. Economias emergentes tendem a sofrer com essas dinâmicas, que se retroalimentam em momentos de fragilidade. Se o governo não tomar medidas contundentes e urgentes, o país pode caminhar para um cenário semelhante ao que ocorreu com a lira turca ou o peso argentino: uma perda dramática de valor da moeda e uma deterioração ainda maior da credibilidade.

O que estamos contratando para os próximos dois anos é uma combinação de estagflação e desconfiança generalizada, em grande parte por conta da recusa do governo em adotar medidas fiscais robustas e responsáveis. Sob essas condições, as perspectivas para 2026 começam a ganhar protagonismo, com o mercado antecipando a possibilidade de uma mudança de direção política. O atual governo parece cada vez mais distante de uma reeleição, caso o presidente decida ser candidato. O pêndulo político, assim, oscila na direção de uma virada que poderia redesenhar a trajetória do país nos próximos anos. A ponte até lá, porém, me parece bem esburacada.

· 01:42 — Menos cortes

As ações recuaram na quarta-feira (18), refletindo o tom mais cauteloso adotado pelo Federal Reserve em sua última decisão de política monetária. Atendendo às expectativas do mercado, o Fed reduziu a taxa básica de juros em 25 pontos-base, situando-a no intervalo de 4,25% a 4,50%. Contudo, foi o discurso do presidente Jerome Powell que trouxe uma mensagem mais dura: o banco central considera que a inflação ainda está persistentemente elevada e antecipa novas pressões inflacionárias no futuro, justificando uma abordagem mais moderada daqui para frente.

Após a terceira redução consecutiva na taxa de referência, o Fed revisou suas projeções, indicando apenas dois cortes adicionais para 2025, um sinal claro de que o ciclo de flexibilização monetária poderá ser pausado já em janeiro. Essa mudança de postura contribuiu para intensificar o pessimismo no mercado, resultando em uma queda de 2,6% no Dow Jones Industrial Average. Com isso, o índice acumulou sua mais longa sequência de perdas desde 1974.

Em termos de atividade econômica, todas as atenções agora se voltam para a terceira e última estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no terceiro trimestre, que será divulgada hoje. O mercado espera um crescimento anualizado, ajustado sazonalmente, de 2,8%. Esse número, caso se confirme, já seria suficiente para reforçar a narrativa do Fed sobre a necessidade de uma política monetária mais contida. E se o dado superar as expectativas, o argumento para uma pausa no ciclo de cortes será ainda mais robusto.

· 02:39 — E o fiscal americano?

Donald Trump e Elon Musk manifestaram críticas contundentes ao projeto de lei que visa evitar uma paralisação (shutdown) do governo americano, uma proposta que comentei ontem. Para relembrar, na noite de terça-feira (17), os líderes do Congresso apresentaram um texto que prevê a aprovação de um orçamento temporário de três meses, com o objetivo de impedir uma paralisação iminente no sábado. Apesar de essencial para evitar um colapso administrativo, o projeto tem sido alvo de controvérsias, com Trump e Musk apontando que ele está excessivamente inflado, alimentando a atenção ao preocupante quadro fiscal dos EUA.

A questão ganha ainda mais relevância diante da promessa do novo governo de enfrentar os desafios fiscais do país. Scott Bessent, escolhido por Trump para liderar o Departamento do Tesouro, declarou que sua principal motivação para ingressar na esfera pública é lidar com a “montanha” da dívida nacional. Entre suas metas ambiciosas está a redução do déficit fiscal, atualmente em 6%, para 3% nos próximos anos — um objetivo que, embora desafiador, não é impossível de alcançar. No entanto, a tarefa que Bessent enfrenta é monumental, exigindo medidas firmes para equilibrar as contas públicas e restaurar a confiança no compromisso fiscal do governo.

· 03:25 — Cessar-fogo?

Enquanto a situação na Ucrânia permanece tensa, com os ucranianos assumindo a responsabilidade pelo assassinato do chefe das forças de defesa radiológica, química e biológica da Rússia, o Oriente Médio parece estar se aproximando de uma oportunidade significativa: Israel e o Hamas estão próximos de um acordo sobre os termos de um cessar-fogo, que poderia encerrar a guerra de 14 meses em Gaza.

Autoridades israelenses já expressaram que a possibilidade de um cessar-fogo em Gaza é mais realista agora do que em qualquer outro momento do último ano. Isso sugere que um acordo tão esperado, envolvendo a libertação de reféns e a ampliação da ajuda humanitária ao território, pode finalmente estar prestes a ser concretizado.

Uma resolução como essa teria impacto direto nos mercados globais, potencialmente aliviando a pressão sobre os preços do petróleo, à medida que as tensões geopolíticas na região se reduzissem. A concretização desse acordo representaria um passo importante para a estabilização da região.

· 04:19 — Movimentação chinesa

Recentemente, a China realizou a emissão de US$ 2 bilhões em títulos denominados em dólares. Dois aspectos chamam a atenção: i) os títulos foram emitidos em Riad, na Arábia Saudita, um local pouco convencional para uma oferta dessa natureza; e ii) a demanda por esses títulos foi impressionante, com uma subscrição 20 vezes superior ao valor da emissão, uma proporção muito acima do que é tipicamente observado nos leilões do Tesouro dos EUA, onde a relação de cobertura gira em torno de 2 a 3 vezes.

Outro ponto notável é que esses títulos estão sendo negociados em níveis quase equivalentes aos dos títulos do Tesouro dos EUA, com rendimentos praticamente idênticos, apesar de a classificação de risco ser inferior. Embora o valor da emissão tenha sido modesto, o sucesso dessa operação sugere que, se a China conseguir replicar esse modelo de forma consistente, poderá começar a influenciar significativamente os fluxos globais de liquidez em dólar.

Na prática, isso cria a possibilidade de Pequim estabelecer um mecanismo estratégico para exercer maior controle sobre o mercado global de dólares. Pode ser que estejamos vendo uma mudança estratégica significativa: em vez de insistir nos projetos cambiais patéticos, como o dos BRICS, a China parece estar adotando uma abordagem mais pragmática, focando em minar a supremacia do dólar a partir de dentro do sistema financeiro global. Este movimento sugere uma visão mais sofisticada e ambiciosa de como alavancar sua influência econômica enquanto consolida o yuan.

· 05:03 — O acordo

No início deste mês, a Eletrobras (ELET6) anunciou ao mercado que realizou uma reunião com representantes da Advocacia Geral da União (AGU) e da Casa Civil para discutir os diversos pontos em negociação com o governo desde sua privatização.

Entre os temas abordados, o mais sensível envolve a limitação do direito de voto da União, cláusula que foi amplamente debatida e considerada indispensável para viabilizar o processo de privatização, permitindo ao governo arrecadar R$ 30 bilhões.

A questão que surge é: esse movimento sinaliza algo positivo ou negativo?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.