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Mercado em 5 minutos

Fed vai finalmente moderar o ritmo de aumento da taxa de juros dos EUA?

Comentários do presidente do Fed dos EUA, Jerome Powell, animaram o mercado global; veja as novidades desta quinta-feira (1)

Por Matheus Spiess

01 dez 2022, 08:59 - atualizado em 01 dez 2022, 09:00

Pessoa relaxada representando última declaração do FED
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos encerraram o dia em alta nesta quinta-feira (1), acompanhando as movimentações positivas dos mercados globais no último pregão de novembro, com os investidores comemorando os comentários do presidente do Fed dos EUA, Jerome Powell, sobre aumentos nas taxas de juros. A mensagem de quarta-feira acabou fornecendo mais evidências de que o banco central americano planeja desacelerar seu ritmo agressivo de taxa de juros. 

No mesmo ritmo, os mercados europeus dão continuidade ao movimento positivo, também repercutindo a nova informação de que faria sentido moderar o ritmo de nossos aumentos de juros à medida que os EUA se aproximam do nível de contenção que será suficiente para reduzir a inflação. Os futuros americanos, por outro lado, depois da alta vigorosa de ontem, acabam reservando a manhã para um ajuste na posição, pelo menos por enquanto. O Brasil acompanha o ritmo internacional. 

A ver… 

· 00:44 — Esconde-esconde 

Por aqui, os investidores vêm repercutindo bem a falta de novos ruídos vindos de Brasília, com expectativa pela desnutrição da PEC da Transição para algo ao redor de R$ 120 bilhões, apesar da ansiedade pelo nome para comandar a Fazendo nos próximos quatro anos. A equipe de transição, porém, foi clara ao indicar que Lula não está com pressa para definir o ministro, devendo ficar apenas para semana que vem em diante. 

Se por um lado a frente política deu uma trégua entre o final de novembro e o início de dezembro, por outro, os investidores voltam a ficar atentos aos dados econômicos, com PIB do terceiro trimestre sendo aguardado agora pela manhã. A expectativa é que a economia tenha crescido 0,7% na comparação trimestre e 3,7% na comparação anual. Para o ano, devemos registrar crescimento consolidado de 3%. 

· 01:25 — Falamansa do Fed

O evento mais importante de ontem foi o discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), na Brookings Institution. Estamos a duas semanas da próxima decisão política do banco central, que deverá subir os juros em 50 pontos-base (77% de chance segundo a expectativa do mercado). 

Em suma, Powell enfatizou que os juros vão subir ainda mais, ainda que em um ritmo menor, e precisam permanecer elevados por algum tempo para reduzir a inflação. Não era uma mensagem particularmente nova, mas ainda assim as ações dispararam de modo a reverter suas perdas nos últimos dois dias.  

De fato, a hora de moderar o ritmo de aumento das taxas pode chegar logo na reunião de dezembro, o que não muda o fato de que a taxa de juros deverá continuar subindo, pelo menos no início de 2023, e que o mercado ainda não precificou devidamente uma recessão ou revisão dos lucros. Ainda assim, a fala mansa de Powell animou. 

Powell apresentou um argumento de que o mercado de trabalho ainda está muito aquecido, que o crescimento econômico precisará permanecer abaixo da tendência por um período sustentado e que a inflação provavelmente permanecerá teimosamente alta por um tempo. Em outras palavras, os juros ficarão elevados por mais tempo, uma vez que a história adverte fortemente contra o afrouxamento prematuro da política monetária. 

· 02:31 — Barbarians at the Gate 

A maioria dos mercados asiáticos subiram acentuadamente nesta quinta-feira, repercutindo a fala de Powell e o relaxamento de algumas medidas anti-Covid na China, fato que também aumentou as esperanças de uma reabertura total. Sabemos que a polícia chinesa se move contra os protestos relacionados às restrições que eclodiram em várias cidades. Seria natural esperar um relaxamento da política radical. 

É importante sinalizar que a ausência de qualquer escalada clara nos protestos pode ajudar a trazer alguma calma aos mercados, até mesmo porque as próprias autoridades sabem que o “zero-Covid” sufocou a segunda maior economia do mundo — 25% do PIB chinês foi afetado —, prejudicando as cadeias de suprimentos globais. 

Assim, um resultado provável é um afrouxamento mais rápido das restrições, uma vez que a atual onda de Covid e numerosos focos de protesto diminuam. Pequim, porém, até agora não deu nenhuma indicação de que planeja reduzir ainda mais a política, já que a China enfrenta aumentos recordes de infecções de coronavírus. 

· 03:19 — A tão temida inflação salarial 

O crescimento dos salários pode ser visto como uma ameaça inflacionária terrível, podendo servir também como vetor de moderação dos preços. O crescimento dos salários nominais, pelo menos na maioria das economias desenvolvidas, é superior ao compatível com uma inflação de cerca de 2%. Nos EUA, contudo, o rastreador salarial do Fed de Atlanta está mostrando um crescimento salarial de 6,7%. É relevante. 

Claro, os salários não são necessariamente custos trabalhistas. Hoje, menos trabalhadores trabalhando mais significam que as pressões sobre os custos salariais são muito menores do que o valor nominal dos salários. Além disso, os dados de hoje provavelmente subestimam os ganhos de produtividade desde a pandemia. Estruturalmente, o salário não vem crescendo em janelas dilatadas de tempo. 

Isso sugere que as atuais estruturas do mercado de trabalho não deram aos trabalhadores um forte poder de negociação salarial. O objetivo mais básico de um funcionário que negocia um aumento de salário é manter seu padrão de vida. Funcionários em todo o mundo desenvolvido não conseguem atingir esse objetivo mínimo, apesar do crescimento salarial recente. Não vejo com tanta clareza, portanto, o risco de uma inflação espiral de salários no curto prazo. 

· 04:17 — O problema da desigualdade 

Vivemos hoje um dos períodos mais desiguais da história recente. Claro, nada se compara com a desigualdade brutal já verificada em certas épocas da história, mas para os padrões modernos, de uma sociedade desenvolvida, as coisas estão bastante desajustadas. Ocorre que a desigualdade atual foi causada pelas políticas erradas dos governos centrais, copiadas pelos emergentes. 

Veja, é natural que governos acabem tentando atuar de maneira anticíclica de modo a tentar evitar as recessões, em especial no Ocidente, onde são pressionados por fatores eleitorais (vide o que aconteceu no Brasil nesta eleição, por exemplo). Ainda assim, a explosão da base fiscal e monetária acabou servindo como ferramentas de acumulação de riqueza, aumentando a diferença entre ricos e pobres. 

Outro problema é o que se convencionou chamar de financeirização da economia. Particularmente, eu não gosto do termo, muitas vezes associados com eixos mais heterodoxos da escola econômica, dos quais eu não faço parte, mas ainda assim serve de sustentáculo para o argumento: o mercado financeiro ficou tão grande que as últimas três recessões nos EUA foram geradas no setor financeiro e não no setor real.  

Em outras palavras, gradualmente, as consequências e reações vêm piorando. Para piorar, uma de nossas reações não foi proporcional. Por exemplo, depois da crise de 2008, até que as economias centrais mantiveram alguma austeridade fiscal (vide crise da dívida europeia), ainda que houvesse muita expansão monetária. Em 2020, porém, isso não foi o mesmo, o que deverá trazer consequências graves para o futuro.  

Um abraço, 

Matheus Spiess 

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.