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Foco nos juros: semana de Super Quarta mantém investidores atentos aos juros dos EUA e Selic no Brasil

Nesta semana, os investidores globais acompanham o Federal Reserve, que se prepara para uma reunião decisiva.

Por Matheus Spiess

16 set 2024, 09:05 - atualizado em 16 set 2024, 09:05

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Imagem: Unsplash

Nesta semana, os investidores globais acompanham o Federal Reserve, que se prepara para uma reunião decisiva. A expectativa é de que o comitê de política monetária dos EUA reduza as taxas de juros pela primeira vez desde 2020, marcando o início de um ciclo de flexibilização após um longo período de políticas restritivas, as mais rigorosas em décadas.

Embora haja consenso sobre o corte, a dúvida gira em torno de sua magnitude: o Fed optará por uma redução de 25 ou 50 pontos-base? Além disso, o Banco da Inglaterra e o Banco do Japão também estão prontos para anunciar suas respectivas decisões monetárias nesta semana.

No Brasil, a atenção se volta para a chamada “Super Quarta”, quando serão divulgadas tanto as decisões do Federal Reserve quanto do Banco Central brasileiro. Diferente da tendência global de redução das taxas de juros, a expectativa é de que a Selic seja elevada em 25 pontos-base, mantendo o ciclo de aperto monetário vigente no país.

A sessão asiática de hoje (16) foi marcada por baixa liquidez, com as bolsas da China, Japão e Coreia do Sul fechadas devido ao feriado. Na Europa, as ações abriram de forma mista. Já nos Estados Unidos, os futuros amanheceram em queda, refletindo a cautela dos investidores diante da incerteza sobre a iminente decisão do Fed.

A ver…

· 00:56 — 25 pontos de alta?

As atenções no Brasil, nesta semana, estão voltadas para as decisões cruciais de política monetária, tanto do Federal Reserve quanto do Comitê de Política Monetária (Copom), previstas para esta quarta-feira (18). Esses eventos são aguardados com grande expectativa, dado o impacto que terão nos mercados.

Nas últimas semanas, a volatilidade tem dominado o cenário financeiro, e essa tendência deve se manter à medida que especulações sobre os próximos passos das autoridades monetárias continuam a influenciar o comportamento dos investidores. No que diz respeito ao Copom, antecipo um aumento de 25 pontos-base na taxa Selic, elevando-a para 10,75% ao ano.

A comunicação do Banco Central evoluiu de forma considerável desde a última reunião, refletindo os desdobramentos da economia. Espera-se que o comunicado que seguirá essa decisão reforce uma postura de maior cautela, destacando a necessidade de vigilância constante sobre o cenário macroeconômico.

Embora em outro momento uma comunicação mais assertiva pudesse ter permitido a manutenção da Selic nos níveis atuais, as últimas declarações do Banco Central apontam para um ajuste, ainda que moderado. O aumento de 25 pontos parece inevitável, preferível a um movimento mais agressivo de 50 pontos. No entanto, essa elevação provavelmente não será a última, e o rumo dos juros segue em aberto para os próximos meses. Dependemos de dados e de outros BCs ao redor do mundo.

Outros temas econômicos importantes, como a regulamentação da reforma tributária, devem ser adiados em Brasília nas próximas semanas, principalmente devido ao calendário eleitoral das eleições municipais. Além disso, nota-se um aumento das medidas pouco ortodoxas na frente fiscal, que se afastam do arcabouço oficial. Entre os exemplos estão a flexibilização na contabilização de precatórios, a exclusão de despesas ligadas à recuperação do Rio Grande do Sul e a contabilização de receitas duvidosas nas contas públicas.

Essas práticas remetem a uma fase de “contabilidade criativa” que o país já viveu. No final de semana, o ministro Flávio Dino autorizou a emissão de créditos extraordinários, fora da meta fiscal, até o final do ano, para combater as queimadas no país. Embora essa medida tenha justificativa, o mercado vê com ceticismo o superávit fiscal, dadas as recorrentes exceções, o que impacta diretamente a curva de juros.

· 01:41 — O ajuste americano

O mercado de ações dos EUA recuperou grande parte das perdas sofridas durante o verão do hemisfério norte, mas desta vez o cenário é diferente. Ao contrário de altas anteriores, nas quais o S&P 500 foi impulsionado pelas gigantes de tecnologia, agora o movimento está sendo liderado por outros setores.

Durante os últimos dois anos, empresas como Nvidia (NVDC34) e Microsoft (MSFT34) dominaram os ganhos no índice, impulsionadas pelo crescimento expressivo dos lucros e pela exposição à inteligência artificial. No entanto, o mercado tem mudado de foco, favorecendo setores como imóveis, serviços públicos e bens de consumo básicos.

Esse movimento reflete uma crescente preocupação com o crescimento econômico, à medida que o Federal Reserve se prepara para iniciar um ciclo de corte de taxas de juros. Desde o pico do S&P 500 em 16 de julho, as ações de tecnologia, em grande parte, recuaram, com o Índice Bloomberg Magnificent 7 caindo 5,3%. Em contrapartida, setores historicamente mais estáveis, como imóveis e serviços públicos, registraram ganhos expressivos.

Com a iminente redução da taxa de juros pelo Fed, esperada em 25 pontos-base, o mercado deve se concentrar na coletiva de imprensa de Jerome Powell, que poderá fornecer pistas sobre os próximos passos da política monetária. A expectativa está não apenas no primeiro corte, mas na trajetória que será adotada nas reuniões seguintes, já que o ritmo e a profundidade dos cortes serão cruciais para o ritmo do mercado.

· 02:35 — O tom agressivo das eleições americanas segue chamando a atenção

Dois meses após sofrer um atentado durante um comício na Pensilvânia, o ex-presidente Donald Trump foi novamente alvo de uma tentativa de assassinato, desta vez enquanto jogava golfe em um clube em West Palm Beach, Flórida. O atirador conseguiu fugir inicialmente, mas uma testemunha capturou imagens do veículo usado na fuga, o que facilitou a captura do suspeito em um condado próximo. No local do ataque, as autoridades encontraram um rifle AK-47 e uma câmera GoPro.

Trump foi imediatamente removido da área assim que os disparos foram ouvidos. No panorama eleitoral americano, a corrida à presidência permanece incerta, sem debates programados e sem eventos que ajudem a esclarecer as tendências futuras. O tom geral da campanha continua marcado por negatividade, agressividade e pouca discussão de propostas concretas.

No que se refere ao mercado, historicamente, nos 60 dias que antecedem uma eleição presidencial nos EUA, o S&P 500 apresentou um retorno médio de -0,6% em 19 ciclos eleitorais desde a Segunda Guerra Mundial. Quatro das seis últimas eleições no século XXI tiveram retornos negativos, geralmente acompanhados por picos de ansiedade e tensão social, como foi o caso da queda de 7,6% em 2020.

No entanto, é comum o mercado se recuperar logo após o encerramento da votação.

Isso explica, em parte, por que os investidores estão em estado de cautela, mas ainda não em pânico total. Embora sempre existam debates sobre qual impacto econômico cada candidato pode trazer, os mercados de ações, em geral, não reagem diretamente à vitória de um partido ou outro. O que mais afeta os índices é a proximidade da eleição, que tende a aumentar a volatilidade no curto prazo, seguida de uma recuperação assim que o resultado é definido. Assim, até novembro, pode haver muita oscilação nos mercados.

· 03:21 — A fraqueza chinesa

A pressão sobre as autoridades chinesas para intensificar rapidamente o estímulo fiscal e monetário está aumentando, à medida que o país tenta alcançar a meta de crescimento de cerca de 5% este ano. Dados divulgados no último sábado revelaram que a produção industrial da China teve, em agosto, sua maior desaceleração desde 2021. O crescimento da produção industrial foi de 4,5% em relação ao mesmo mês do ano anterior, ficando abaixo da expectativa do mercado, que previa um avanço de 4,6%. Além disso, tanto o consumo quanto o investimento apresentaram um desempenho inferior ao esperado. As vendas no varejo subiram 2,1% em agosto, contra uma projeção de 2,5%, enquanto os investimentos em ativos fixos aumentaram 3,4% entre janeiro e julho, desacelerando em comparação com o crescimento de 3,6% registrado no mês anterior. Esses dados reforçam as preocupações em torno da economia chinesa.

Embora o Banco Central da China (PBoC) tenha adotado uma política monetária mais flexível, visando criar um ambiente favorável à recuperação econômica, essa medida parece insuficiente para enfrentar os desafios atuais. A guerra comercial com os Estados Unidos agrava ainda mais a situação. Na semana passada, o governo americano anunciou tarifas adicionais significativas sobre as importações chinesas, com o objetivo de proteger setores estratégicos da indústria doméstica contra a produção excessiva patrocinada pelo governo chinês. As novas tarifas, que entram em vigor no dia 27, incluem uma taxa de 100% sobre veículos elétricos, 50% sobre células solares, além de 25% sobre aço, alumínio, baterias para veículos elétricos e minerais estratégicos. O cenário para a China se complica, e isso também impacta negativamente o mercado de commodities.

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· 04:19 — A perspectiva não é boa

O novo congresso do México assumiu neste mês e já aprovou uma reforma judicial na Câmara, marcando o início de uma série de mudanças controversas que provavelmente manterão os mercados em estado de volatilidade nas próximas semanas. Essa instabilidade pode prejudicar as perspectivas de investimentos de longo prazo no país. A reforma judicial, em particular, gerou apreensão entre investidores e críticos, pois propõe a eleição de todos os juízes, incluindo os da Suprema Corte, por voto popular. A iniciativa é vista como polêmica, principalmente porque a Suprema Corte tem sido um obstáculo para várias medidas do presidente López Obrador.

O ponto é que essa reforma pode comprometer a independência do Judiciário e concentrar mais poder nas mãos do Executivo, facilitando a implementação de políticas presidenciais sem a devida supervisão judicial. Além disso, a reforma judicial é apenas uma das 17 propostas polêmicas que estão na agenda legislativa, o que aumenta o risco de deterioração das perspectivas de investimento no país a longo prazo.

Até o momento, o impacto mais visível tem ocorrido no mercado cambial, com o peso mexicano sob pressão crescente. Fatores como incertezas fiscais, desaceleração econômica e o risco de tarifas adicionais dos Estados Unidos — especialmente se Trump for reeleito — devem continuar a exercer pressão sobre a moeda. A esperança para uma abordagem mais pragmática e menos ideológica recai sobre a presidente eleita, Cláudia Sheinbaum, que assume o cargo em outubro e pode trazer uma perspectiva mais moderada ao cenário político e econômico do México.

· 05:02 —  Movimentações no mercado de energia

Recentemente, a Aneel atualizou a bandeira tarifária para vermelha, refletindo o agravamento das previsões climáticas para o restante do ano e a possibilidade de os reservatórios atingirem níveis críticos, o que impacta diretamente os preços da energia elétrica.

Já havíamos discutido anteriormente que os preços da energia estavam sendo mantidos em patamares artificialmente baixos, com base em projeções excessivamente otimistas em relação à hidrologia brasileira.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.