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Mercado em 5 minutos

Fogo em ônibus e cargo para o Mercadante: dois tipos diferentes de vandalismo

Inflação norte-americana, manifestações bolsonaristas, PEC da Transição e nomes da equipe econômica de Haddad: tudo que você precisa saber sobre o mercado nesta terça-feira (13)

Por Matheus Spiess

13 dez 2022, 09:09 - atualizado em 13 dez 2022, 09:09

PEC da Transição / mercado em 5 minutos

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos subiram nesta terça-feira (13), ainda que os investidores internacionais estejam nervosos esperando os principais dados de inflação dos EUA e a decisão de política monetária do Federal Reserve, a ser divulgada amanhã. Para melhorar o humor, as novas promessas da China de relaxar ainda mais sua política de “zero-Covid” ofereceu suporte aos ativos. 

Os mercados europeus começam o dia em alta, acompanhando o desempenho de ontem nos EUA e a boa manhã dos futuros americanos. Se a inflação vier abaixo do esperado, o bom sentimento dos investidores pode ser aprofundado. No Brasil, os atritos políticos continuam afetando os mercados, com tensão envolvendo a PEC da Transição, os nomes da equipe econômica e as manifestações bolsonaristas. 

A ver… 

· 00:36 — Virou bagunça 

Por aqui, o mercado repercute hoje as manifestações de alas bolsonaristas mais radicalizadas, que reagiram com atos de vandalismo à diplomação de ontem de Lula e à prisão de alguns nomes do movimento. Ainda que possa reacender o risco do “Terceiro Turno”, o que mais impactou o mercado local ontem e deverá continuar impactando é a possibilidade de alguns nomes mais ideologizados do PT para cargos importantes (Mercadante no BNDES ou na Petrobras seria péssimo), bem como a especulação de mudança na Lei das Estatais. Atear fogo em ônibus e “terraplanismo” econômico: dois tipos diferentes de vandalismo. 

A equipe de transição negou os rumores sobre a mudança na Lei das Estatais, o que acalmou um pouco os mercados na reta final do pregão, mas foi insuficiente para reverter o estresse — Haddad deve conceder entrevista hoje para negar mais uma vez a intenção de mudar a Lei das Estatais, aproveitando o momento para anunciar alguns nomes do segundo escalão, o que é altamente esperado (o futuro ministro também tem hoje reunião com Paulo Guedes e Roberto Campos Neto). Ainda no ambiente político, devemos ter hoje a PEC da Transição na pauta da Câmara, devendo ser votada até quinta-feira, na reta final do prazo (as negociações seguem aquecidas). 

Fora da agenda política, contamos com dados de serviços de outubro e com a ata do Copom da semana passada, que manteve a taxa de juros inalterada e mostrou preocupação com o panorama fiscal de maneira responsável. As novidades no documento de hoje devem sinalizar mais cautela com os próximos passos do governo eleito para a âncora fiscal. Como muito bem colocou Tony Volpon, ex-diretor do BC: “O mercado tem que tomar um calmante e aceitar que é um governo de esquerda e vai ter mais gasto e investimento público.” De fato, temos visto um ruído exacerbado sobre os ativos, os quais não necessariamente serão justificáveis (podem ser, mas não necessariamente). Agora, só nos resta a serenidade para avaliar os diferentes cenários.

· 01:56 — E essa inflação ao consumidor? 

Nos EUA, voltamos a ver um rali dos ativos de risco enquanto os investidores aguardam pelo índice de preços ao consumidor de hoje de manhã, o último grande relatório de inflação antes da próxima decisão do Federal Reserve sobre a taxa de juros, que ocorre na quarta-feira após uma reunião de dois dias do Comitê Federal de Mercado Aberto. A visão otimista é que os investidores podem finalmente estar em paz com taxas mais altas e inflação persistente, embora mais baixa.  

De fato, tivemos muitas más notícias este ano. No fundo, tem sido uma transição para o Novo Normal. Hoje, os preços aos consumidores devem mostrar aumento de 7,3% na comparação anual, após um salto de 7,7% em outubro. O núcleo, que exclui os preços voláteis, deve subir 6,1%, ante 6,3% em outubro. A inflação americana tornou- se um fenômeno bastante complexo e dividido em três momentos: inflação de bens duráveis; ii) inflação de serviços; e iii) inflação de commodities. 

A primeira atingiu o pico em fevereiro, aos 18,7% na comparação anual, e já recuou para 4,7% em outubro. A segunda e terceira onda é a que estão recuando agora. Note que, mesmo que os preços recuem ao longo dos próximos meses, eles ainda vão levar tempo para relaxar de volta para a meta de 2% do Fed. Ou seja, ainda que haja desaceleração do aperto monetário, ainda teremos juros altos por mais tempo. 

· 02:59 — Dados germânicos 

Na Europa, os investidores estão acompanhando os dados de inflação e de atividade alemã. A começar com o índice de preços, o mês de novembro registrou deflação de 0,5% na comparação mensal, levando o índice anual de 10,4% para 10%, o que é um fenômeno positivo para quem está preocupado com os preços europeus. Por outro lado, o inverno poderá ter um efeito nocivo sobre a inflação nos próximos meses. 

Sobre a atividade, ficamos também com a tradicional pesquisa de sentimento econômico alemão ZEW, que mostrou patamar negativo, mas acabou saindo melhor do que o esperado, em um nível não tão baixo quanto no mês anterior, o que é um bom sinal para o mercado. Outro bom sinal foi o aumento inesperado no emprego no Reino Unido. As notícias acalmam os investidores que tem uma boa manhã na Europa. 

· 03:36 — Um sol quadrado 

No final da noite, foi noticiado que Sam Bankman-Fried (SBF), fundador e ex-CEO da exchange de criptomoedas FTX, que declarou falência recentemente, foi preso nas Bahamas a pedido de autoridades dos EUA, que citaram uma acusação do Distrito Sul de Nova York. SBF deveria testemunhar amanhã de manhã perante o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA, mas essa audiência agora parece muito duvidosa. A prisão de Fried já era esperada, mas talvez não tão cedo. 

Hoje, o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA se reúne para uma audiência inicial investigando o colapso da FTX. Até agora, o fundador da FTX agora preso não conseguiu explicar o que aconteceu com os bilhões de dólares que os clientes da FTX enviaram para as contas bancárias de sua empresa comercial, a Alameda Research. Mais ruídos no mercado de criptos, que tem sido muito afetado em 2022 com a alta dos juros nos EUA. Ainda há muita água para rolar. 

· 04:18 — Questões energéticas 

Em resposta ao limite de US$ 60 por barril de petróleo imposto pelo G7 ao produto russo, o Kremlin pode cortar sua produção de petróleo. O movimento, ainda que não aconteça de imediato, pode ter impactos no preço da commodity, uma vez que afeta a oferta global dela. Nas últimas semanas, o petróleo caiu bastante com os investidores se antecipando a uma recessão. De fato, o problema da demanda promete falar mais alto no curto prazo, mas a médio e longo prazo, o problema estrutural da oferta deveria permitir que o petróleo continuasse negociando em patamares elevados. 

Enquanto isso, uma expectativa de oferta adicional vem sendo silenciada. O Alto Representante da União Europeia, Josep Borrell, anunciou que o bloco definiu adotar novas sanções contra o Irã, uma vez que o acordo nuclear parece ter chegado a mais um impasse. A questão é problemática e promete ficar no ar por mais um tempo, evitando que a expectativa por mais petróleo iraniano se concretize. Ainda pior é o clima geopolítico que isso cria, em um mundo já bastante fustigado por ruídos entre nações. Mais volatilidade nos mercados globais deve ser esperada. 

Um abraço, 

Matheus Spiess 

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.