Bom dia, pessoal.
Acompanhando o movimento, os ativos europeus não têm uma boa manhã, na volta do mercado americano, ainda que por tempo limitado nesta sexta-feira — os futuros abriram mistos, sem uma única direção, e próximos da estabilidade. Por aqui, podemos voltar a nos descolar do sentimento mais pessimista global desta sexta-feira a depender das novidades políticas, as quais vêm dominando o mercado local ao longo de novembro. Ontem, por exemplo, foi um forte dia de recuperação dos ativos brasileiros em meio ao menor volume de negócios (feriado nos EUA e jogo da seleção).
Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em baixa nesta sexta-feira, apesar dos sinais amplamente positivos dos mercados europeus durante o pregão de ontem, já que os investidores se abstiveram de fazer movimentos significativos em meio à falta de novos gatilhos com o mercado americano permanecendo fechado para o Dia de Ação de Graças. Adicionalmente, há uma preocupação com o aumento de casos de Covid-19 na China, que poderia pesar sobre o crescimento global — a inflação acima do esperado no Japão também não ajudou.
A ver…
· 00:53 — Respirando aliviado: o primeiro jogo já foi…
No Brasil, depois de uma prévia de inflação marginalmente abaixo do esperado e informações mais positivas sobre o ambiente político e a perspectiva fiscal, os ativos brasileiros ensaiaram uma forte recuperação, a qual poderá ser vista hoje novamente a depender do noticiário político — o mercado é um péssimo avaliador marginal de política na média, o que faz com que meses como o atual sejam bem voláteis.
Hoje, o presidente eleito Lula conversa com membros da equipe de transição, com destaque para a participação de Geraldo Alckmin, Gleisi Hoffmann, Wellington Dias e Jaques Wagner. O tema será a PEC da Transição e os nomes para o ministério, que poderá ser anunciado em breve. Enquanto isso, Fernando Haddad, que ontem foi ventilado em uma possível dobradinha junto ao Pérsio Arida nas pastas pesadas da economia, conversa com a Febraban — poderá ser um bom termômetro de aceitação do mercado.
O mercado estará de olho no ambiente político, mas também nos dados econômicos. Teremos a divulgação do relatório mensal da dívida pública em outubro, comentado em coletiva de imprensa na parte da tarde, logo depois da apresentação do material. Qualquer comentário sobre a trajetória da dívida e perspectivas fiscais podem ter efeito sobre a curva de juros e, consequentemente, sobre os ativos brasileiros.
· 01:55 — Voltando do feriado
Com encerramento previsto para às 13 horas, os mercados americanos voltam apenas parcialmente do feriado do Dia de Ação de Graças. Diante da ausência de indicadores a serem apresentados, os investidores se atentam para as comemorações da Black Friday, que dá início à temporada de compras natalinas.
Contudo, talvez a temporada frustre um pouco as expectativas, uma vez que os consumidores americanos passaram os últimos 18 meses comprando enormes quantidades de bens duráveis, o que pode desacelerar a demanda agora — se a pessoa comprou uma geladeira em 2021, não vai comprar outra em 2022, por exemplo.
Ao mesmo tempo, o mercado ainda está comprando a tese de que o Federal Reserve tem espaço para recuar em sua postura hawkish. Mesmo que vários membros tenham alertado que mais restrições estão por vir, há uma expectativa de que os dias de aumentos de 75 pontos-base tenham acabado, o que aliviou o mercado.
· 02:40 — A preocupação com a Covid
Os mercados asiáticos continuam preocupados com o aumento dos casos de Covid-19 na China. Nesse estágio, o dano econômico provavelmente já foi feito, dado que o medo e as restrições políticas estão bem estabelecidos, sendo improvável que as flutuações no número de casos alterem significativamente qualquer um deles.
Com isso, os investidores estão de olho nos novos bloqueios chineses para conter a propagação de infecções por coronavírus, uma vez que a direção que a China tomará terá grande impacto no resto da Ásia. Sabemos que as políticas de reabertura giraram no país, mas o processo poderá ser bem mais gradual do que pensávamos.
Claro, as medidas de controle do Covid variam entre as cidades — as restrições mais chamativas são as de Pequim e Xangai, embora faltem bloqueios completos, o que é algo bom. De qualquer forma, é bom que os investidores estejam reconhecendo que é normal que os casos aumentem à medida que a economia chinesa inicia seu longo e sinuoso caminho para a normalidade.
· 03:29 — Tudo começa com os bancos centrais
Basicamente, nunca vimos os bancos centrais aumentarem as taxas de juros nessa velocidade e nesse patamar ao mesmo tempo. O Fed foi um dos vários bancos que aumentaram as taxas nos últimos meses. Críticos, como o Banco Mundial, dizem que esses aumentos simultâneos de juros podem ter um efeito desastroso na economia global devido ao aperto excessivo e rápido das condições financeiras. De fato.
Com a deterioração das perspectivas econômicas, as ações não estão em seu melhor momento. Ao mesmo tempo, os títulos de renda fixa lá fora (bonds) também sofreram uma derrota histórica, tendo seu pior ano desde 1949 diante da alta dos rendimentos, inclusive fazendo com que as ações pareçam menos atraentes do que são agora. Consequentemente, as moedas também ficam extremamente voláteis.
Naturalmente, nem todo mundo está prevendo um desastre econômico. Apesar dos mercados sugerirem o contrário, os EUA podem pousar sua economia suavemente, o que seria uma façanha e tanto. Até o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, disse recentemente que o forte mercado de trabalho do país indica que o Fed pode esfriar a inflação de maneira relativamente ordenada. Se conseguir, pode ser bom para as economias globais e para a estabilidade das commodities, o que é bom para nós.
· 04:41 — 14 anos de história
Exatamente 14 anos atrás, em 25 de novembro de 2008, o Fed anunciou que compraria US$ 600 bilhões em dívidas relacionadas a hipotecas para ajudar a evitar que o mercado imobiliário destruísse o sistema financeiro. Assim começou a versão americana da “flexibilização quantitativa” (quantitative easing). O que ninguém poderia prever no momento é que o processo duraria tanto tempo (nunca acabou de verdade).
Há toda uma geração de pessoas trabalhando nos mercados hoje que nunca conheceu um mundo amortecido pelo balanço inflado do Fed, o que ajuda a explicar por que a ideia de o perder é tão assustadora. Vale destacar que o Fed tentou sair do QE várias vezes nos últimos anos, mas continuou sendo puxado de volta. O mundo está diferente agora, porém, com uma inflação mais alta forçando o Fed a retirar todo o seu apoio à economia. O mundo da flexibilização monetária está acabando.
Um abraço,
Matheus Spiess