Bom dia, pessoal.
Lá fora, os mercados asiáticos fecharam em alta nesta terça-feira, seguindo as indicações positivas dos mercados globais durante o pregão de ontem, com os investidores voltando às compras depois das vendas na semana passada. Há ainda a preocupação com as taxas de juros, já que dados econômicos recentes geraram apreensão com a possibilidade de o Federal Reserve aumentar as taxas mais do que o previsto atualmente, mantendo-as em um nível elevado por um período prolongado.
Os mercados europeus e os futuros americanos, entretanto, abrem o dia em queda, corrigindo as altas de segunda-feira. Na agenda, os investidores se debruçam sobre indicadores de atividade e confiança nos EUA, os quais podem surpreender e voltar a frustrar os investidores sobre os próximos passos do Fed. Paralelamente, a maioria das commodities sobe, pelo menos por enquanto, na expectativa para o PMI da China, a ser divulgado durante a noite, um vetor que poderia ajudar os ativos brasileiros.
A ver…
· 00:46 — Qual será o desdobramento sobre a Petrobras?
Por aqui, ainda acompanhamos de perto a questão dos combustíveis. Ontem, o Ministério da Fazenda afirmou que haveria a retomada integral dos impostos sobre os combustíveis (fósseis pagando mais do que biocombustíveis, como era anteriormente e alinhado com o discurso ambientalista do governo), o que poderá ajudar nas perspectivas fiscais, dado que estamos falando de cerca de R$ 28,9 bilhões em arrecadação na veia do governo. Para quem temia uma meia derrota de Haddad, a vitória cai muito bem, na expectativa pelo novo arcabouço fiscal agora em março.
Mas não há almoço grátis. A ala política teme uma repercussão muito negativa do impacto sobre o consumidor da retomada dos impostos e, por isso, Lula baterá o martelo hoje para eventuais compensações, de modo a mitigar a alta de R$ 0,68 no litro da gasolina nos postos. Para isso, será utilizada provavelmente a Petrobras, que tem gordura para reduzir preço nas refinarias (o único risco seria uma queda dos dividendos, mas isso não está certo ainda), se valendo da queda do petróleo. Como a companhia é relevante no índice, se trata de um fato sistêmico importante.
· 01:41 — Expectativas americanas
Nos EUA, os juros dos títulos públicos subiram à medida que investidores revisaram suas expectativas para um pico mais alto na taxa em 2023. A mudança na previsão é uma reação aos recentes dados fortes sobre a economia de consumo e leituras de inflação acima do previsto; afinal, uma economia mais forte agora pode significar apenas mais aperto monetário por parte do Fed, o que provocaria recessão mais tarde.
Justamente sobre atividade, temos hoje a pesquisa de confiança do consumidor, que deve marcar a leitura de 109,2 pontos, ligeiramente superior à janeiro. Vale destacar que o índice se recuperou da mínima verificada em julho de 2022 impulsionado por um forte mercado de trabalho — em janeiro, quase metade dos entrevistados disse que os empregos eram abundantes.
Além desse dado, contamos também com a reta final da temporada de resultados e com o índice nacional de preços de residências, que vem enfrentando mais dificuldade diante da situação mais complicada do mercado imobiliário nos EUA. Hoje podemos ter uma economia mais fraca que reduz a inflação, mas também atinge os lucros corporativos, afetando os ativos, ou uma economia mais forte que obriga o Fed a apertar ainda mais para domar a inflação, também reduzindo os preços dos ativos.
· 02:43 — E a inflação na Europa?
Na Europa, a semana é recheada com dados de inflação, começamos hoje com França e Espanha, indo amanhã para a Alemanha e finalizando com Itália e a Zona do Euro como um todo na quinta-feira. É bastante coisa. Para os dados desta terça-feira, o mercado recebeu uma inflação acima do esperado na França e na Espanha, com retomada da aceleração dos indicadores, o que pressiona a curva de juros e prejudica os ativos de risco, como vemos que acontece nesta manhã.
O processo de nova aceleração da inflação pode acontecer em todo o mundo, não só na Europa. Como sabemos, por exemplo, o Brasil muito provavelmente passará por algo assim nos próximos meses por conta da volta dos impostos sobre os combustíveis. O problema é que isso coloca inúmeros impasses para as autoridades monetárias, que serão forçadas a subir ainda mais os juros para controlar a inflação, o que aumentará consideravelmente as chances de uma recessão.
· 03:29 — Nova estrutura para a separação entre Reino Unido e União Europeia
A interminável discussão sobre a separação entre o Reino Unido e a União Europeia parece estar se aproximando do fim. O último impasse envolvia a fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte. Ao que parece, as negociações chegaram em um novo consenso sobre o comércio da região, substituindo o protocolo de Johnson sobre a Irlanda do Norte pelo que se tem chamado de “Estrutura Windsor”.
Com a conclusão deste capítulo, os britânicos e os demais europeus podem começar uma nova etapa em suas relações, uma vez que a nova solução prevê resoluções duradouras para atritos complexos há alguns anos discutidos. O Reino Unido precisa superar logo essa etapa e seguir adiante, uma vez que entre os países do G7 é um destaque negativo, demandando muito trabalho para colocar o país no rumo certo.
· 04:10 — A semana mais curta
Nos EUA, na década de 1920, Henry Ford padronizou a semana de trabalho de cinco dias e 40 horas, encurtando a semana de seis dias sem reduzir o pagamento de seus funcionários. O modelo só se tornaria lei na década de 1930, com o New Deal, quando Roosevelt formalizou a jornada de 40 horas semanais. Agora, alguns países desenvolvidos discutem a jornada de apenas quatro dias de trabalho, uma ideia que se discute desde a década de 1950. Pois bem, tivemos um experimento formal.
O experimento com a semana de quatro dias de trabalho terminou no Reino Unido, tendo influenciado cerca de 3 mil trabalhadores britânicos ao longo dos últimos meses. Entre as descobertas estavam melhores equilíbrios entre vida profissional e pessoal, menos problemas de sono e queda nas taxas de esgotamento. De fato, das 61 empresas que participaram do teste, 56 continuam implementando a semana de trabalho de quatro dias (18 das quais serão permanentes), enquanto duas empresas estenderam o teste e apenas três estão voltando ao seu padrão anterior de horários.
O experimento é interessante, mas está longe de ser significativo. Afinal, foi feito por um período muito curto, em poucas empresas e com poucos funcionários. Não sabemos se os resultados verificados no curto prazo poderiam ser observados em outros países, em demais setores não incluídos no experimento e por mais tempo. Em outras palavras, o sonho da geração millennial de se trabalhar menos parece bem distante, principalmente com um mundo tão complexo e desafiador. Hoje, a semana mais curta, parece ter sido apenas um sonho de um mundo pós-pandêmico.
Um abraço,
Matheus Spiess