Investimentos

Grandes bancos americanos estreiam nesta sexta (12) divulgação de resultados corporativos do 2T24; saiba mais

Na agenda econômica brasileira, serão divulgados os dados sobre o setor de serviços, após os números do varejo terem surpreendido positivamente ontem.

Por Matheus Spiess

12 jul 2024, 09:19 - atualizado em 12 jul 2024, 09:19

resultados dos balanços de bancos americanos no 1T23 surpreendem positivamente, mas especialista recomenda cautela na compra de Bolsa americana
Crédito: Unsplash

Bom dia, pessoal. Ontem, os dados sobre a inflação ao consumidor nos Estados Unidos reforçaram a possibilidade de cortes nas taxas de juros em 2024. A inflação desacelerou, chegando a níveis de deflação em junho, resultado abaixo das expectativas.

No entanto, a resposta do mercado foi menos entusiasmada, possivelmente devido ao fenômeno de “comprar no rumor, vender no fato”.

Diante de uma sequência de altas nos EUA, ajustes são normais e bem-vindos, especialmente na véspera da temporada de resultados financeiros, que começa hoje com os grandes bancos americanos. Apesar dessa reação moderada, as expectativas de um corte de juros em setembro permanecem.

Simultaneamente, os mercados de ações na Ásia tiveram um desempenho misto nesta sexta-feira. A balança comercial da China, divulgada durante a madrugada, revelou um aumento de 8,6% nas exportações em junho, superando a previsão de 8,0%. No entanto, a queda de 2,3% nas importações frustrou a expectativa de um aumento de 3,0%.

A bolsa de Tóquio, que vinha se destacando com dois recordes consecutivos e ultrapassando os 42 mil pontos, sofreu uma correção de quase 2,5% devido a uma valorização inesperada do iene frente ao dólar, impulsionada pelos dados de inflação ao consumidor nos EUA.

Nesta manhã, os futuros americanos tentam ganhar tração, enquanto as bolsas europeias avançam.

A ver…

· 00:56 — Dor de cabeça

No mercado financeiro brasileiro, o Ibovespa encerrou o pregão com uma alta de 0,85%, alcançando 128.294 pontos, impulsionado pela divulgação de dados de inflação dos Estados Unidos em junho, que ficaram abaixo do esperado. Esses dados reforçaram as expectativas de que o Federal Reserve possa começar a reduzir as taxas de juros já em setembro.

Vale lembrar que, no primeiro trimestre, a alta das taxas de juros americanas foi a principal responsável pelo fraco desempenho dos ativos brasileiros. Uma possível redução dessas taxas no segundo semestre poderia ser muito benéfica para o mercado brasileiro. Consequentemente, o índice brasileiro registrou sua nona alta consecutiva.

Apesar dessa sequência positiva, uma correção nos preços seria natural e até desejável para manter o equilíbrio do mercado. Curiosamente, mesmo com a alta do Ibovespa e a expectativa de queda dos juros, o dólar valorizou-se frente ao real, fechando a R$ 5,44.

Esse movimento pode ser parcialmente atribuído à realização de posições após a queda do câmbio de R$ 5,70 para R$ 5,40, além de um fator técnico curioso: a valorização do iene, que serve como funding para posições ‘short’ contra moedas de carry trade, como o real, provocando uma realização forçada. Não podemos nos esquecer, porém, do estresse político.

Em Brasília, a Reforma Tributária, embora necessária, gerou grande incerteza entre os investidores. A principal controvérsia do projeto reside na fixação de uma alíquota padrão de 26,5%, concomitantemente à inclusão de diversos produtos em regimes diferenciados, com alíquotas zero ou reduzidas.

Isso levanta dúvidas sobre a neutralidade fiscal da reforma e se ela poderia resultar em uma arrecadação menor do que a atual, agravando os problemas fiscais existentes. A reforma também expõe a questão dos privilégios fiscais no Brasil, onde diversos setores buscam benefícios específicos, resultando em uma solução subótima em termos de eficiência tributária.

Além disso, há questões significativas ainda não resolvidas, como a dívida dos estados e a compensação pela desoneração fiscal. Temos pouco tempo antes do recesso.

Na agenda econômica do dia, serão divulgados os dados sobre o setor de serviços, após os números do varejo terem surpreendido positivamente ontem. O ideal é que não haja surpresas nos dados de hoje, a fim de manter a estabilidade recente do mercado.

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· 01:49 — Sobe no boato e realiza no fato

Nos EUA, o relatório do Índice de Preços ao Consumidor revelou que a inflação está desacelerando mais rápido do que o previsto. Em junho, a inflação subiu 3,0% em comparação anual, abaixo da expectativa dos economistas de 3,1%. Na verdade, os preços diminuíram de maio para junho, marcando a primeira queda mensal desde maio de 2020.

Isso reacendeu as expectativas de um corte nas taxas de juros pelo Federal Reserve, com investidores agora amplamente antecipando uma redução de 25 pontos base na reunião de setembro. Esta é a certeza que os investidores aguardavam desde que o Fed interrompeu os aumentos das taxas há quase um ano.

Esse cenário gerou um movimento de venda nas ações, especialmente entre os maiores ganhadores do ano (realização de lucros). O mercado continuará focado nas taxas de juros até que o Fed finalmente inicie os cortes.

No entanto, o foco mudará rapidamente hoje, com os grandes bancos, incluindo JPMorgan Chase, Citigroup e Wells Fargo, começando a divulgar seus lucros do segundo trimestre. Além disso, na agenda econômica, será divulgado o índice de preços ao produtor de junho. O consenso aponta para um aumento de 0,1%, após uma queda de 0,2% em maio. O aumento anual está previsto em 2,3%.

· 02:32 — E essa temporada?

JPMorgan, Wells Fargo e Citigroup darão início à temporada de resultados do segundo trimestre nesta sexta-feira. As ações desses grandes bancos de Wall Street têm influenciado significativamente o mercado este ano, com investidores esperando uma melhoria nas perspectivas de lucros nos próximos trimestres. Embora se preveja uma diminuição na receita líquida de juros – uma importante fonte de receitas para os credores – o mercado estima que as empresas do S&P 500 registrem um crescimento de lucro de 8,8% no trimestre, o maior desde o primeiro trimestre de 2022.

Além disso, será crucial observar a percepção dos bancos para obter pistas sobre como os consumidores e a economia norte-americana estão reagindo às taxas de juros elevadas e à inflação, que está esfriando, mas permanece alta. Nos últimos meses, os consumidores têm enfrentado dificuldades crescentes, com atrasos ou inadimplências em pagamentos devido às pressões das altas taxas de juros. Pelo menos, o sistema financeiro dos EUA parece estar em uma posição robusta após a crise bancária regional do ano passado. É importante analisar o sentimento dos executivos bancários para entender melhor a possibilidade de evitar uma recessão nos EUA.

· 03:27 — Novas iniciativas

Bill Gates, fundador da Microsoft e defensor fervoroso de fontes competitivas de energia limpa para combater as mudanças climáticas, inaugurou recentemente a construção de uma instalação de energia nuclear de próxima geração nos arredores de uma pequena cidade do Wyoming. A TerraPower, empresa co-fundada por Gates em 2008 para fomentar o investimento nuclear privado, está desenvolvendo um reator inovador que promete inaugurar uma nova era de energia limpa e escalável.

O novo reator da TerraPower se diferencia significativamente dos antigos: é menor, mais barato e tem maiores chances de ser concluído. Ao contrário dos novos reatores tradicionais, que muitas vezes enfrentam atrasos e custos excessivos antes mesmo de começarem a operar, os Estados Unidos construíram apenas dois reatores nos últimos 30 anos, ao custo de 35 bilhões de dólares. O projeto da TerraPower utiliza sódio líquido em vez de água para resfriar o reator, eliminando a necessidade de tubulações pesadas e caras.

No entanto, o projeto ainda enfrenta várias incertezas, incluindo a questão de se o reator será realmente mais barato de construir – um ponto de ceticismo entre alguns críticos – e se a Comissão Reguladora Nuclear aprovará seu plano de engenharia inovador. Mesmo assim, este desenvolvimento sinaliza que a energia nuclear poderá ganhar mais destaque nos próximos anos, especialmente no contexto das discussões sobre a transição energética.

· 04:11 — O Mar do Sul da China: um conflito em formação

Recentemente, o Ministério da Defesa do Japão conduziu um exercício militar trilateral com os Estados Unidos e a Coreia do Sul no Mar da China Oriental, em resposta ao aumento das tensões entre a guarda costeira da China e marinheiros filipinos. O presidente filipino, Ferdinand Marcos Jr., buscou amenizar as tensões entre Manila e Pequim, recusando-se a invocar o tratado de defesa mútua de 1951 com os EUA. 

Washington condenou as ações da China, assim como a União Europeia, Japão, Austrália e outras nações ocidentais e asiáticas, deixando claro para Pequim que o tratado exige a defesa das forças filipinas caso sejam atacadas. A disputa central gira em torno do Mar do Sul da China.

Atualmente, um conflito entre China e Filipinas parece mais provável do que entre China e Taiwan. Pequenos incidentes resultaram em militares filipinos feridos, sugerindo que um confronto direto entre as marinhas das duas nações pode ser uma questão de tempo. Embora o conflito entre China e Taiwan seja mais profundo e tenha consequências muito maiores para a paz e prosperidade globais, isso torna ambos os lados mais cautelosos na gestão da situação. Ninguém quer mexer no vespeiro que é Taiwan, essa é a verdade.

· 05:03 — Inflação ultra longa

Neste ano, a Empiricus Gestão intensificou seu foco na gestão de fundos ativos, uma área em que possui notável expertise. Recentemente, os investidores do fundo Vitreo Inflação Longa foram informados sobre a suspensão de novas captações a partir de 10 de julho. Este fundo se destaca por investir na NTN-B com maior prazo e liquidez no mercado. Quem acompanha minhas análises sabe do meu entusiasmo por uma posição estratégica em juros reais longos brasileiros, especialmente nas condições favoráveis atuais.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.