Apesar do desempenho positivo dos mercados globais ontem, o Brasil não acompanhou esse otimismo devido à incerteza em torno da política monetária e às percepções negativas sobre a situação fiscal interna. Perdemos uma grande oportunidade de compartilhar do bom humor dos investidores americanos, que viram o S&P 500 adicionar mais de US$ 1,3 trilhão em valor de mercado nesta semana. Isso ocorreu porque os dados econômicos recentes nos Estados Unidos não alteraram as expectativas de que o Federal Reserve realizará uma série de cortes nas taxas de juros.
Hoje, a agenda econômica inclui mais indicadores, como o índice de sentimento do consumidor de setembro nos EUA, mas é improvável que esses dados mudem a expectativa de um corte de 25 pontos-base na taxa na semana que vem.
Mesmo nesse cenário, as bolsas asiáticas fecharam o último pregão da semana sem uma direção definida. O presidente chinês, Xi Jinping, solicitou que as autoridades regionais intensifiquem os esforços nos meses restantes do ano para atingir as metas anuais de desenvolvimento econômico e social. Esse pedido ocorre em um momento em que a segunda maior economia do mundo mostra sinais de fraqueza, apesar de sua meta de crescimento ser em torno de 5% para este ano.
Por outro lado, nesta manhã, os mercados europeus estão em alta, buscando encerrar a semana com ganhos, após o Banco Central Europeu ter reduzido a taxa de juros ontem, conforme previsto. Os índices futuros nos Estados Unidos também apresentam elevações.
A ver…
· 00:53 — Está difícil de comprar
No Brasil, concluímos a semana com a divulgação do IBC-Br de julho, indicador que funciona como uma proxy do PIB, e que está previsto para apresentar uma queda de 0,5% após ter registrado uma alta de 1,37% em junho.
Considerando que os dados de serviços e varejo divulgados nesta semana superaram as expectativas, não seria surpreendente se o IBC-Br também mostrasse um desempenho mais robusto, o que poderia aumentar a probabilidade de um aumento de 50 pontos-base na taxa Selic na próxima reunião do Copom. Ainda assim, mantenho a expectativa de um ajuste mais moderado de 25 pontos-base, especialmente porque os Estados Unidos estão reduzindo suas taxas de juros ao mesmo tempo. A curva de juros já precifica uma Selic de 11,71% no final deste ano, aproximando-se dos 12% que muitos analistas renomados têm projetado no mercado.
Essa incerteza sobre a condução da política monetária tem gerado um sentimento de aversão ao risco, pois não sabemos qual será o grau de agressividade nos aumentos de juros nos próximos meses. Portanto, uma comunicação clara e eficaz por parte das autoridades monetárias será mais crucial do que nunca, diferentemente da confusão observada nos últimos meses.
Além disso, não é apenas a política monetária que está preocupando os investidores. O Ibovespa registrou queda ontem também devido às tensões fiscais, após o mercado começar a questionar com mais ceticismo os esforços do governo em reduzir gastos. No caso específico da desoneração da folha de pagamento, há muitas dúvidas sobre a recorrência das receitas estimadas para compensar a perda de arrecadação no curto prazo, mesmo com a previsão de reoneração gradual ao longo do tempo.
Sobre esse assunto, teremos a divulgação do Boletim Prisma Fiscal, que apresenta as previsões do mercado para as contas públicas, e o Boletim Macrofiscal, com sua grade de parâmetros macroeconômicos. Com o Brasil prestes a iniciar um ciclo de aperto monetário, o intervalo entre os aumentos de juros e eventuais cortes poderia ser encurtado caso o governo demonstrasse maior clareza e compromisso com as regras fiscais vigentes no país. A previsibilidade é benéfica.
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· 01:47 — Afetando a safra
Conforme informações do IBGE, a produção agrícola brasileira está projetada para diminuir 6% em 2024 em comparação com 2023, o que equivale a uma redução de 19 milhões de toneladas. Este ano, a expectativa é que o país produza 296,4 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas. A estimativa de agosto aponta uma queda de 0,6% em relação ao previsto em julho para o mesmo período. Diversos problemas climáticos contribuíram para esse cenário: inicialmente, a escassez de chuvas afetou a produção de soja e milho; posteriormente, o excesso de precipitações resultou em enchentes no Rio Grande do Sul. Nesse contexto, com a oferta afetada, há preocupações sobre uma possível inflação nos preços dos alimentos.
As variações climáticas têm surpreendido até mesmo os órgãos especializados, gerando apreensão adicional entre os produtores, conforme destaca o instituto. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, contestou essa projeção, afirmando que não há motivos para se falar em inflação de alimentos neste momento devido à seca. Segundo ele, não há atrasos no plantio da safra de grãos, e as previsões meteorológicas indicam níveis satisfatórios de chuvas nos próximos meses. Algo a ser confirmado em breve.
Inicialmente, enfrentamos incêndios que devastaram campos de cana-de-açúcar. Agora, a pior seca em mais de quatro décadas ameaça as plantações de café e soja no Brasil. Entre maio e agosto, algumas das principais regiões agrícolas enfrentaram as condições mais secas desde 1981. Certamente, haverá algum impacto decorrente disso, especialmente porque não há perspectiva de alívio climático no horizonte. A falta de chuvas representa riscos para o fornecimento global de grãos em um mundo que se tornou cada vez mais dependente do Brasil para produtos como açúcar, café e soja.
· 02:35 — Inflaçãozinha chata
Nos Estados Unidos, com a iminência de um corte na taxa de juros pelo Federal Reserve, os investidores estão retomando as compras de ações. Ontem, os índices S&P 500 e Nasdaq Composite registraram sua quarta alta consecutiva, avançando 0,7% e 1%, respectivamente. Ao longo dos últimos quatro dias, período que incluiu diversas atualizações sobre a inflação, o Nasdaq acumulou um ganho de 5,3%, enquanto o S&P 500 subiu 3,5%. T
odos os setores do S&P 500 fecharam em território positivo, com 372 ações em alta. Esse desempenho positivo ocorreu após a divulgação de mais um dado inflacionário—desta vez, o índice de preços ao produtor—que mostrou um aumento relativamente moderado em agosto, alimentando as expectativas de que o Fed iniciará cortes nas taxas de juros a partir da próxima quarta-feira.
O índice de preços ao produtor é considerado um indicador antecedente do índice de preços ao consumidor, pois os custos enfrentados pelos produtores tendem a ser repassados aos consumidores finais. Os dados de inflação modestos estão renovando a esperança dos investidores de que o Federal Reserve possa reduzir as taxas em meio ponto percentual na próxima semana. No entanto, mantenho minha expectativa de um corte de apenas 25 pontos-base. Na agenda econômica, destaca-se a divulgação do Índice de Sentimento do Consumidor de setembro pela Universidade de Michigan. O consenso do mercado aponta para uma leitura de 68, praticamente estável em relação ao mês anterior. O aspecto mais relevante aqui, porém, são as expectativas dos consumidores em relação à inflação para o próximo ano.
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· 03:22 — Os cortes estão vindo
Após a decisão de ontem de reduzir a taxa de juros em 25 pontos-base, levando-a para 3,5% ao ano, o Banco Central Europeu (BCE) forneceu poucas indicações sobre quando poderá cortar as taxas novamente. A presidente Christine Lagarde e seus colegas estão aguardando dados que mostrem quão acentuada é a deterioração da economia e como isso afetará a inflação. Apesar disso, a possibilidade de uma nova redução em breve não está totalmente descartada.
Os membros do Conselho do BCE não excluem a chance de um corte na taxa de juros em sua próxima reunião, agendada para 17 de outubro, embora considerem esse movimento improvável no momento. Diante dos riscos de desaceleração do crescimento econômico na zona do euro, as autoridades preferem manter aberta a opção de reduzir os juros nessa ocasião.
Paralelamente, nos Estados Unidos, o ciclo de cortes nas taxas de juros também está em foco, com rumores ressurgindo sobre a possibilidade de uma redução de meio ponto percentual já na próxima semana. Dependendo dessa trajetória, outros bancos centrais terão mais espaço para promover cortes em suas próprias taxas, como é o caso do BCE.
O dólar tem enfraquecido em relação a outras moedas nas últimas semanas, e esse movimento deve continuar após o Federal Reserve iniciar seu ciclo de redução de juros neste mês. Isso é positivo para o real no último trimestre, que não teve um desempenho favorável recentemente.
· 04:19 — Um avanço para inteligência artificial
A OpenAI declarou que seu novo modelo é capaz de raciocinar como um ser humano. Ontem, foi lançada a prévia do novo modelo do ChatGPT, oficialmente chamado de “o1”, mas conhecido entre os entusiastas da tecnologia pelo codinome interno “Strawberry”—uma referência humorística à dificuldade da IA em determinar o número correto de letras “r” na palavra. A empresa afirma que este novo modelo pode realizar raciocínios sofisticados em nível humano, permitindo a resolução de problemas complexos em matemática e programação.
Vale lembrar que os últimos dias foram marcantes para a OpenAI. Como chegamos a conversar, a empresa também manteve conversações com investidores sobre a captação de fundos, com uma avaliação estimada em US$ 150 bilhões (US$ 50 bilhões acima do previsto anteriormente), o que a colocaria entre as empresas privadas mais valiosas do mundo, ao lado da ByteDance (US$ 220 bilhões), Ant Group (US$ 150 bilhões) e SpaceX (US$ 125 bilhões). Seria um passo significativo para o mercado que tem animado os investidores em tecnologia desde o final de 2022.
· 05:08 — Máxima histórica
O ouro flerta agora com o patamar de US$ 2.570 por onça. Neste ano, os preços já subiram quase 25%, impulsionados também pelas compras de bancos centrais e pela forte demanda por ativos de proteção devido aos conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia. Há quase um ano, mencionei neste espaço a oportunidade de investir em ouro; desde então, instrumentos como o GOLD11 valorizaram mais de 50%, e o IAU cerca de 40% em dólares.
O ouro alcançou um novo recorde histórico ontem. Investidores têm direcionado recursos para o metal precioso em meio a expectativas crescentes de que o Federal Reserve iniciará um ciclo de cortes nas taxas de juros.
Surge então a questão: ainda é vantajoso manter o metal na carteira?