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Ibovespa deve seguir recuperação das bolsas globais e do petróleo nesta quarta-feira (23); veja os destaques do dia 

Mercado internacional reage positivamente após Trump voltar atrás em ameças de “demitir” Powell. Veja mais.

Por Matheus Spiess

23 abr 2025, 09:17 - atualizado em 23 abr 2025, 09:17

rali ibovespa ações

Imagem: iStock.com/MicroStockHub

O mercado internacional amanheceu em tom mais ameno nesta quarta-feira (23), embalado por mais uma rodada de recuos da Casa Branca — tanto na frente comercial quanto nos embates institucionais com o Federal Reserve. Primeiro, o governo Trump sinalizou que pretende costurar um acordo com a China e que as tarifas de 145% anunciadas recentemente estão longe de se tornar um patamar permanente. Segundo, o próprio presidente americano recuou de sua retórica da semana passada e declarou não ter a intenção de demitir Jerome Powell, apesar de, dias antes, ter dito exatamente o contrário. O alívio foi imediato. Ativos que haviam sofrido nas sessões anteriores passaram a se recuperar, movimento que se prolonga na abertura de hoje.

Na Europa, os mercados também respiram melhor, impulsionados pelos resultados corporativos — com destaque para a SAP, cujos números positivos ajudaram a consolidar o sentimento de alta. A melhora nos índices europeus acompanha a recuperação vista na Ásia e é reforçada pela valorização dos futuros americanos. Também chama atenção a alta do petróleo, sustentada por novas sanções dos EUA contra o Irã, que reacendem preocupações com a oferta da commodity no curto prazo.

Apesar do respiro, convém manter certa cautela. O padrão errático de ameaças seguidas por recuos — marca registrada do atual governo americano — pode até produzir alívios pontuais, mas tem um custo. A incerteza constante acaba contaminando a confiança de consumidores e empresários, dificultando decisões de investimento, consumo e alocação global. Em suma, o mercado está melhor hoje, mas continua exposto a um ruído institucional que não parece prestes a cessar.

· 00:53 — Eu avisei que eles tinham perdido o timing…

No retorno do feriado, a Bolsa brasileira teve um desempenho positivo, acompanhando a recuperação dos mercados globais após uma nova rodada de recuos vindos de Washington. O Ibovespa voltou a superar os 130 mil pontos, enquanto o dólar cedeu e voltou a ser negociado abaixo de R$ 5,75. Com uma agenda doméstica esvaziada, os ativos locais seguem se guiando pelo humor externo — que, ao menos por ora, permanece construtivo, com alta das bolsas internacionais nesta manhã e um início de dia promissor para o petróleo.

No front político, o ministro Fernando Haddad participa de um evento nesta manhã, mas, como de costume, não se espera qualquer declaração que possa gerar ruído. Mais relevante é o encontro do presidente Lula com o presidente da Câmara, Hugo Motta, e líderes da Casa, em tentativa de reorganizar sua pauta legislativa e frear o avanço do projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. A iniciativa acontece em meio ao desgaste crescente de Lula com o Congresso, agravado pela fracassada tentativa de reforma ministerial no início do ano.

Apesar de algumas tentativas recentes de rearranjo da esplanada, os sinais de desarticulação continuam evidentes. A recusa do deputado Pedro Lucas Fernandes em assumir o Ministério das Comunicações escancarou o atrito persistente entre o governo e o União Brasil. Como já antecipado aqui, Lula perdeu o timing político. E agora, os partidos não apenas cobram mais caro pelo apoio, como em alguns casos sequer demonstram interesse — já com os olhos voltados para 2026 e para a possibilidade real de uma inflexão no pêndulo político. A candidatura de Tarcísio de Freitas, que mencionamos com destaque desde o primeiro semestre de 2023, ganha tração à medida que o desgaste do governo se intensifica e as pesquisas mostram um cenário mais competitivo.

Enquanto isso, Lula embarca amanhã para Roma, onde acompanhará o funeral do Papa Francisco. No período, o vice-presidente Geraldo Alckmin assume o Planalto e deve intensificar os esforços para construir pontes com Washington e avançar na agenda comercial. Uma das sinalizações recentes, aliás, foi a promessa de zerar o imposto de importação sobre produtos que não têm fabricação nacional — tentativa de mostrar pragmatismo diante de um cenário internacional volátil.

· 01:46 — Recuos e resultados

Nos EUA, o mercado acionário voltou a subir nesta quarta-feira, impulsionado por sinais de que a Casa Branca pode estar pronta para suavizar sua postura na guerra comercial com a China. A reviravolta veio após o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmar que espera uma redução nas hostilidades entre as duas potências “em um futuro muito próximo”. A fala trouxe algum alívio aos investidores, ainda anestesiados pelas oscilações recentes geradas pela retórica errática de Washington. Também ajudou o tom mais conciliador de Donald Trump — ou, ao menos, sua tentativa de parecer moderado. Apesar de ter renovado críticas ao Federal Reserve por não acelerar os cortes de juros, o presidente americano disse a jornalistas no Salão Oval que não tem intenção de demitir Jerome Powell, atual presidente da autoridade monetária. Não é a primeira vez que Trump recua após ameaçar, mas o mercado, já calejado, prefere comemorar qualquer redução na temperatura institucional.

Do lado corporativo, a temporada de resultados parece estar servindo como contrapeso ao ruído político. A Tesla inaugurou os balanços do chamado Magnificent Seven, e mesmo com números aquém do esperado — lucro e receita abaixo do consenso e recuo na previsão de crescimento de vendas para o ano —, as ações da companhia subiram 4,6% no after market. O impulso veio menos dos números e mais das palavras de Elon Musk, que prometeu se afastar das distrações envolvendo o DOGE e focar “significativamente” na Tesla. As ações, que já vinham bastante descontadas, reagiram bem à promessa. Na agenda do dia, ainda teremos a divulgação do Livro Bege do Federal Reserve e os balanços de grandes nomes como Philip Morris, IBM, AT&T, Texas Instruments e Boeing. É mais um daqueles dias em que a racionalidade dos resultados tenta se sobrepor à volatilidade da política — com relativo sucesso…

· 02:32 — Hostil?

Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, descreveu os recentes aumentos tarifários contra a China como algo próximo de um embargo comercial — um movimento que, se levado às últimas consequências, poderia simplesmente encerrar o fluxo de comércio entre as duas maiores economias do mundo. Ainda assim, ele fez questão de afirmar que o objetivo não é uma dissociação completa das economias de EUA e China. Ao contrário: Bessent acredita que a atual situação, claramente insustentável, acabará forçando uma recalibração das relações comerciais, conduzindo os dois países a uma nova tentativa de entendimento.

Pode ser apenas uma esperança disfarçada de pragmatismo — e talvez seja mesmo —, mas o tom mais brando foi suficiente para animar os mercados no fechamento de ontem. Afinal, em tempos como os atuais, qualquer indício de descompressão já é celebrado como se fosse trégua duradoura. Como já comentado neste espaço em diversas ocasiões, havia razões legítimas para os EUA questionarem certas práticas do comércio global e reavaliarem sua inserção estratégica. O problema, como de costume, foi o método. A escalada tarifária conduzida sem coordenação, estratégia ou diplomacia se mostrou, até agora, mais contraproducente do que transformadora.

Do outro lado do Pacífico, a China tenta manter o verniz diplomático, sinalizando que está aberta a negociações comerciais — desde que estas não venham sob coerção. Em nota oficial, o Ministério do Comércio chinês deixou claro que qualquer tentativa de intermediação que envolva acordos feitos “às custas da China” encontrará resistência firme. Em outras palavras, o país aceita conversar, mas não sob ameaça.

Essa tensão crescente ganha contornos ainda mais simbólicos porque ocorre no exato momento em que delegações de todo o mundo se reúnem em Washington para as reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Ou seja, no mesmo palco onde se discutem cooperação internacional e estabilidade global, as duas maiores potências do planeta seguem travando uma batalha tarifária que ameaça solapar os próprios fundamentos da ordem multilateral.

· 03:28 — E por falar neles…

E já que falamos do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, vale destacar que o FMI revisou para baixo sua projeção de crescimento para a economia dos Estados Unidos em seu mais recente Panorama Econômico Mundial, divulgado ontem (22). A nova previsão aponta para uma expansão de apenas 1,8% em 2025 — queda significativa frente aos 2,7% estimados em janeiro. A razão? As políticas comerciais de Trump, que seguem gerando mais ruído do que resultado concreto.

Segundo o fundo, o pacote tarifário anunciado com estardalhaço no Rose Garden, no último 2 de abril, representa, por si só, um choque negativo de grande magnitude para o crescimento. Ainda que o FMI não esteja oficialmente projetando uma recessão, a probabilidade de que ela ocorra foi elevada de 25% para 40%, o que por si só já dispensa maiores comentários sobre o nível de incerteza atual. No cenário global, as perspectivas tampouco são animadoras. A projeção de crescimento do PIB mundial em 2025 foi reduzida para 2,8%, abaixo dos 3,3% previstos no início do ano.

Caso se confirme, esse desempenho representará a expansão mais fraca da economia global desde o colapso causado pela Covid-19 — e a segunda pior desde 2009, quando o mundo ainda digeria os efeitos da crise financeira global. O mais irônico, porém, é que grande parte desse pessimismo poderia ser atenuado de maneira relativamente simples: bastaria um recuo coordenado nas tensões comerciais e algum avanço — ainda que modesto — na resolução de distorções históricas, como barreiras não tarifárias e políticas protecionistas disfarçadas. Mas, por ora, o mundo segue pagando a conta da política comercial errática de Washington.

· 04:13 — A globalização não foi boa?

A globalização foi um dos pilares que sustentaram a ascensão dos EUA à condição de maior potência econômica da história. Ao longo de décadas, o livre comércio expandiu mercados, reduziu custos, elevou a produtividade e permitiu aos americanos desfrutar de um padrão de vida sem precedentes. Ainda assim, muitos cidadãos sentiram-se excluídos dos benefícios desse processo — e parte significativa desse ressentimento acabou sendo canalizada politicamente na figura de Donald Trump, eleito com a promessa de “libertar” os EUA do próprio sistema que o país ajudou a construir ao longo dos últimos 80 anos. Foi exatamente sob esse pretexto que, no dia 2 de abril, o presidente americano anunciou um pacote tarifário contra praticamente todos os parceiros comerciais dos EUA, com alíquotas que variam de 10% a 50% e passaram a valer nesta manhã. Em poucas horas, a tarifa média efetiva dos EUA saltou para mais de 22% — um nível não visto desde o início do século XX, ultrapassando até mesmo as infames tarifas Smoot-Hawley de 1930, geralmente apontadas como catalisadoras da guerra comercial global que agravou a Grande Depressão.

Já comentei por aqui: o processo de globalização gerou, sim, uma redistribuição estrutural da atividade econômica — e isso inclui um inevitável grau de desindustrialização nas economias avançadas. O país como um todo enriquece, mas certos setores — em especial, os menos adaptáveis à concorrência internacional — perdem. É um efeito geracional, que exige políticas de compensação e reconversão produtiva, não uma tentativa de regresso a um passado idealizado que já não existe mais. A ideia de aplicar tarifas para fins geopolíticos ou para corrigir distorções bilaterais específicas, como no caso do comércio com a China, pode até ser compreensível em alguns contextos. Mas o ataque indiscriminado a aliados históricos e o rompimento de cadeias produtivas globais sob a promessa de uma reindustrialização generalizada beira a fantasia. Não só é inviável — como será profundamente custoso. Reverter décadas de integração global não é apenas um erro estratégico: é um retrocesso com consequências duradouras para a competitividade americana.

· 05:01 — Ritmo robusto

A Direcional (DIRR3) divulgou recentemente sua prévia operacional do primeiro trimestre de 2025, e os números indicam um início de ano consistente. Foram lançados 17 novos empreendimentos ou fases, com um Valor Geral de Vendas (VGV) total de R$ 901 milhões — 75% sob a marca Direcional e 25% pela Riva. A fatia correspondente à participação direta da companhia somou R$ 802 milhões, representando um avanço robusto de 47% em relação ao mesmo período do ano anterior, desempenho ligeiramente acima do que projetávamos. Motivos para animação? 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.