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Mercado em 5 minutos

Ibovespa finalmente ajustou o ritmo e realização de lucros só não foi maior por conta de Petrobras; confira este e outros destaques

Além da Bolsa brasileira ter dado um respiro depois de altas consecutivas, no âmbito internacional Japão aponta crescimento e a situação de crédito segue tensa nos EUA

Por Matheus Spiess

17 maio 2023, 09:07 - atualizado em 17 maio 2023, 09:07

ativos locais - Ibovespa
Imagem: Reprodução/Google Finance

Bom dia, pessoal. Lá fora, a maioria das ações asiáticas se movimentou em uma faixa estável de baixa nesta quarta-feira, com os mercados estressados com a desaceleração do crescimento na China e o teto da dívida dos EUA, enquanto o índice Nikkei do Japão se recuperou devido ao crescimento econômico mais forte do que o esperado no primeiro trimestre. O mais preocupante, porém, é o sentimento em relação à China, abalado por uma série de leituras econômicas fracas para abril, que sugeriam que uma recuperação econômica pós-Covid no país estava perdendo força. 

Paralelamente, os mercados europeus não conseguem sustentar um único movimento nesta manhã, alternado entre altas e baixas (a inflação da Zona do Euro em linha não empolgou). Pelo menos os futuros americanos sobem timidamente, com os investidores esperançosos de que um acordo seja alcançado sobre o teto da dívida dos EUA — o presidente Joe Biden se reunirá hoje mais uma vez com os principais líderes do Congresso. O assunto é urgente: a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse que uma recessão seria provável se os EUA deixassem de pagar sua dívida. 

A ver… 

· 00:55 — Caiu no fato 

No Brasil, depois de oito dias positivos, os ativos locais finalmente ajustaram o ritmo. A correção do Ibovespa veio depois de uma enxurrada de resultados corporativos entre segunda e terça-feira, sem falar da apresentação do relatório sobre o arcabouço fiscal (todo mundo reconhece que a proposta avançou, ainda que restem críticas). A justificativa encontrada foi a desaceleração da atividade econômica na China, que resultou em pressão sobre as commodities. A realização de lucros só não foi maior porque a Petrobras segurou o índice depois que o mercado aprovou sua nova política de preços

A petroleira mudou sua política de preços, o que acalmou a bancada do PT no Congresso — deverá facilitar na tramitação do arcabouço, que terá sua urgência aprovada hoje, provavelmente (a regra realmente foi endurecida, mas o mercado “subiu no boato e caiu no fato”). Em paralelo, a empresa reduziu os preços dos combustíveis nas refinarias, mas como a mudança ocorreu em um momento favorável, com os preços do petróleo em baixa e o câmbio mais favorável, a leitura do mercado foi positiva, até mesmo porque não haverá abandono completo do preço externo. 

· 01:49 — Os consumidores dos EUA fizeram o que fazem de melhor: comprar. 

Em solo americano, os dados de ontem mostraram um aumento nas vendas no varejo dos EUA em abril, o primeiro ganho mensal desde janeiro — excluindo as vendas de automóveis e gás, as vendas subiram 0,6%, contra a expectativa média de 0,2%. Em outras palavras, nenhum dos números sugere que uma recessão liderada pelo consumidor esteja em andamento; afinal, os gastos com consumo representam quase 70% do produto interno bruto dos EUA. Ao mesmo tempo, esse dado é negativo na luta do Fed contra a inflação e pode significar taxas mais altas por mais tempo. 

Enquanto isso, a crise dos bancos regionais parece ser novamente esquecida depois que o Western Alliance divulgou crescimento dos depósitos, fato que impulsionou as ações do banco no after-hours de ontem em Wall Street. A preocupação com um default do governo ainda existe, contudo, ainda que esse cenário seja o menos provável. Nos próximos dias deveremos ter algum desfecho sobre a elevação do teto da dívida nos EUA. O debate tem aumentado a pressão de alta sobre os títulos de curto prazo do governo. Por fim, mais resultados corporativos são esperados para hoje. 

· 02:45 — Uma situação delicada 

O ano passado foi ruim para o crédito em todos os aspectos, já que as políticas de zero-Covid na China, a guerra da Rússia na Ucrânia (e a crise energética associada) e a alta inflação levaram os investidores a mercados turbulentos, em um ambiente de as taxas de empréstimos mais elevadas e desaceleração da economia global. Esperava-se que este ano trouxesse notícias melhores, mas, em vez disso, 2023 trouxe o colapso de três bancos regionais dos EUA e um subsequente aperto de empréstimos — falências bancárias podem dificultar a obtenção de empréstimos, o que pode reduzir os gastos e pesar na atividade econômica. 

Nos EUA, a Pesquisa de Opinião de Agentes de Empréstimos (Senior Loans) trimestral do Federal Reserve, divulgada recentemente, confirmou que os credores estão endurecendo seus padrões após o colapso bancário. O mercado atribuiu as mudanças nos padrões de empréstimo à incerteza econômica, redução do apetite por risco, deterioração nos valores das garantias e preocupações mais amplas sobre os custos de financiamento dos bancos e posições de liquidez. Com isso, os credores informaram que esperam endurecer os padrões em todas as categorias de empréstimos até o final deste ano, citando as preocupações acima, bem como as retiradas de clientes. 

Inclusive, apesar da crise bancária nos EUA, alguns analistas da Empiricus Research identificaram uma oportunidade interessante nas ações de um banco brasileiro que tem atravessado muito bem qualquer cenário macroeconômico. Você pode acessar o nome e o ticker aqui.

· 03:44 — O crescimento japonês  

O índice Nikkei 225 subiu 0,9% para quase sua máxima em 20 meses, estendendo os ganhos recentes, já que os dados mostraram que a economia do Japão cresceu mais do que o esperado no primeiro trimestre, auxiliado principalmente por fortes gastos do consumidor e turismo receptivo — a leitura preliminar do PIB mostra alta de 0,4% na comparação trimestral, impulsionada pelo setor de turismo e pela melhor demanda por bens de consumo duráveis. 

Tendo sido a última grande economia a reabrir da pandemia, os padrões de consumo pós-pandemia estão atrasados no Japão. Sim, as perspectivas para a economia ainda permanecem sombrias, em meio a desaceleração sustentada nos maiores mercados de exportação do Japão no Ocidente. Ainda assim, uma forte temporada de resultados corporativos, juntamente com sinais dovish do Banco do Japão, fez o Nikkei superar amplamente seus pares asiáticos nas últimas semanas. 

· 04:28 — De “blockchain” e “metaverso” para “inteligência artificial” 

Em 2017, o termo da moda era “blockchain”. Em 2021, era “metaverso”. Em 2023, “inteligência artificial” (IA) é o termo que mais instigou as empresas em um mundo no qual os investidores estão salivando sobre o valor potencial de centenas de bilhões que poderia ser desbloqueado pela nova tecnologia. Houve mais de 1.000 menções de IA nos resultados das empresas do S&P 500 até agora este ano. 

Enfatizar suas capacidades de IA faz sentido financeiro. Estima-se que as empresas que adotam a IA estão ganhando 0,4% a mais por dia para os acionistas do que aquelas com menos exposição à tecnologia nos meses após o lançamento do ChatGPT. O melhor exemplo até agora é a Microsoft: desde que se conectou à Open AI, fabricante do ChatGPT, com um investimento de US$ 10 bilhões em janeiro, o preço de suas ações disparou 28%. 

Ao mesmo tempo, IA não é a primeira tecnologia agitada a agir como um ímã de capital financeiro. Aconteceu com inovações verdadeiramente revolucionárias, bem como tecnologias que ainda não corresponderam ao hype. Ainda é um caso em aberto, apesar de bem promissor. 

  • ‘Irmão’ do ChatGPT pode colocar R$ 4 mil por mês na sua conta com apenas 5 minutos de uso por dia. Técnica foi inspirada no modelo de negócio de seguradoras de automóveis. Clique aqui para entender como funciona.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.