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Ibovespa segue subindo enquanto temor de recessão nos EUA se dispersa – veja os destaques do mercado nesta quinta-feira (15)

As expectativas de que o Fed corte as taxas de juros seguem altas, enquanto o Ibovespa acumula sete dias consecutivos de altas.

Por Matheus Spiess

15 ago 2024, 09:12 - atualizado em 15 ago 2024, 09:14

Imagem representando os múltiplos de mercado, que são indicadores financeiros usados para avaliar a valorização de uma empresa.

Bom dia, pessoal. As ações globais voltaram a subir ontem após a divulgação do relatório de inflação, que veio em linha com as expectativas e pouco alterou as projeções de que o Federal Reserve começará a cortar as taxas de juros em setembro. Agora, o debate gira em torno da magnitude desse corte, se será de 25 ou 50 pontos-base.

O S&P 500 registrou seu quinto dia consecutivo de alta, marcando a maior sequência de ganhos do índice em mais de um mês, enquanto o VIX, conhecido como o “índice do medo”, recuou. Os dados têm reforçado a narrativa de desinflação, trazendo um certo alívio aos mercados, que ainda se recuperam do colapso ocorrido no início da semana passada.

Nesta manhã, os futuros americanos e os índices europeus continuam em alta, com investidores reagindo positivamente ao crescimento de 0,9% do PIB do Reino Unido no segundo trimestre e ao aumento de 0,8% na produção industrial britânica, ambos acima das previsões.

Esse movimento acompanha o que também foi observado na Ásia, onde os mercados fecharam em alta, impulsionados por dados de crescimento promissores do Japão e por números positivos da indústria e do varejo na China. No radar dos investidores para hoje, estão mais dados de atividade econômica nos Estados Unidos, com especial atenção para os pedidos de auxílio-desemprego.

A ver…

· 00:56 — Eu avisei que Brasília voltaria para o radar

O Ibovespa registrou na quarta-feira (14) seu sétimo dia consecutivo de alta, ultrapassando a marca dos 133 mil pontos. Esse movimento foi impulsionado pelo otimismo em relação aos mais recentes dados de inflação dos Estados Unidos, que reforçam as expectativas de um corte nas taxas de juros pelo Fed.

Esse cenário é particularmente favorável para ativos sensíveis às taxas de juros americanas, como os dos mercados emergentes. O Brasil, em especial, poderia se beneficiar de um aumento no fluxo de capital estrangeiro.

Atualmente, o índice está a menos de mil pontos de alcançar seu recorde histórico de fechamento, ligeiramente acima dos 134 mil pontos, registrado em dezembro de 2023. No entanto, é fundamental que a dinâmica política em Brasília, que retomou suas atividades legislativas após o recesso, não prejudique esse avanço, especialmente com um calendário legislativo bastante movimentado até setembro.

Ontem, por exemplo, o Senado aprovou, com ampla maioria de 70 votos a favor e apenas 2 contrários, um projeto que propõe a renegociação das dívidas dos estados com a União. A iniciativa sugere o congelamento e o parcelamento dessas dívidas ao longo de 30 anos. Essa medida é especialmente benéfica para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, que juntos possuem uma dívida superior a R$ 700 bilhões.

O projeto segue agora para a Câmara, mas já há preocupações de que essa flexibilização no manejo das dívidas possa desestabilizar a estrutura fiscal do país, embora não afete diretamente o resultado primário.

Na sequência da agenda legislativa, um tema que promete gerar controvérsias é a compensação pela desoneração da folha de pagamento, especialmente devido a desacordos sobre as negociações das emendas parlamentares (questão envolvendo agora o STF). Espera-se que o relatório traga uma série de medidas que poderiam aumentar a receita pública em cerca de R$ 25 a R$ 26 bilhões. No entanto, esses recursos podem não representar um benefício permanente, o que poderia exercer pressão negativa sobre a curva de juros do país (ruim para ativos de risco).

· 01:41 — Estamos quase lá, falta mais um pouco

Nos Estados Unidos, a inflação conseguiu recuar para abaixo de 3% em julho, atingindo esse patamar pela primeira vez desde 2021. A variação anual do índice de preços ao consumidor registrou uma taxa de 2,9%, a menor em 12 meses desde março de 2021 e alinhada com as expectativas do mercado. Alguns argumentam que o resultado não foi tão positivo quanto a deflação observada em junho, embora ainda sustente a possibilidade de um corte nas taxas de juros.

Discordo dessa visão.

Um dado excessivamente fraco poderia reforçar a preocupação com uma possível recessão, tão indesejável quanto um resultado robusto que afastasse a perspectiva de redução dos juros. O ideal é que a inflação continue a se normalizar de forma gradual, sem grandes surpresas em relação às expectativas dos investidores.

Entretanto, ainda há desafios a serem enfrentados: a inflação de serviços — especialmente os custos de moradia — aumentou significativamente no último mês. Isso reforça a probabilidade de que nossa previsão de um corte modesto de 25 pontos-base em setembro esteja correta, o que seria mais do que suficiente para o momento.

· 02:38 — Com a inflação praticamente domada, a recessão é um eco distante

As discussões sobre uma possível recessão nos EUA têm sido constantes desde que a taxa de desemprego subiu para 4,3% em julho, conforme indicado no último relatório de empregos. Embora esse aumento tenha acionado a regra Sahm e provocado uma breve queda nos mercados, a economia dos EUA não dá sinais generalizados de que está à beira de uma recessão.

A própria Claudia Sahm, criadora da regra, apontou que sua métrica pode gerar falsos positivos no contexto pós-pandemia, especialmente em um mês atípico como julho para o mercado de trabalho americano.

Em vez de uma recessão, o que estamos testemunhando é um padrão de normalização econômica. Os dados que indicam um esfriamento da economia não deveriam ser surpreendentes, nem deveriam provocar temores de uma reunião de emergência do Fed para cortar as taxas de juros. Talvez seja hora de abandonar as especulações sobre uma recessão?

· 03:29 — O problema fiscal

Na eleição presidencial dos EUA de 1992, a preocupação com o crescente déficit orçamentário federal era tão difundida que um candidato independente, o magnata dos negócios Ross Perot, conseguiu conquistar quase um em cada cinco votos com sua plataforma focada na questão fiscal. Embora Perot não tenha vencido, sua candidatura teve um impacto significativo: cada candidato, inclusive o vencedor Bill Clinton, foi obrigado a abordar o déficit em suas políticas econômicas.

Clinton, por sua vez, impulsionou um pacote fiscal que, ao longo do tempo, ajudou a reduzir o déficit. Vale lembrar que Perot desempenhou um papel crucial na derrota de George H. W. Bush, ao tirar votos importantes do republicano em estados-chave. Em 1992, o déficit orçamentário era de 4,5% do PIB dos EUA. Este ano, o governo federal está a caminho de um déficit de 6,7%, superando os 6,3% do ano passado.

A situação fiscal atual é alarmante. As projeções indicam que os déficits continuarão a atingir ou exceder 5,5% do PIB a cada ano até 2034, um cenário simplesmente insustentável. Desde pelo menos 1930, os déficits não permaneceram tão elevados por mais de cinco anos consecutivos, o que seria algo historicamente negativo.

O problema é que não se deve esperar soluções de nenhum dos dois principais candidatos à presidência, seja a vice-presidente Kamala Harris ou o ex-presidente Donald Trump. Na realidade, tanto o democrata quanto o republicano parecem competir para oferecer mais benefícios fiscais. A bomba fiscal americana está sendo armada sem qualquer perspectiva de desativação a curto prazo. Empurrar esse problema com a barriga pode resultar em grandes dores de cabeça para os mercados.

· 04:14 — Saindo da corrida

Hoje foi divulgada a leitura preliminar do PIB do segundo trimestre do Japão, mostrando uma alta de 0,8% em relação ao trimestre anterior, superando a previsão de 0,6%. Essa boa notícia veio um dia após o anúncio do primeiro-ministro Fumio Kishida de que ele não buscará outro mandato como líder do Partido Liberal Democrata (PLD) em setembro, abrindo caminho para um novo primeiro-ministro. Embora a decisão possa ter soado surpreendente para alguns, ela não é inesperada, considerando a alta taxa de desaprovação de Kishida, refletindo as dificuldades enfrentadas para equilibrar um iene em queda em meio a uma economia em desaceleração. A instabilidade geral da semana passada foi o fator decisivo que precipitou a sua decisão.

Apesar de sua impopularidade doméstica, Kishida ganhou admiradores em Washington por seus esforços para aumentar os gastos com defesa do Japão e fortalecer as relações com outros aliados dos EUA, como a Coreia do Sul e as Filipinas. No entanto, a mudança no comando não deve trazer grandes alterações na política japonesa.

Curiosamente, essa troca se alinha com o padrão histórico do Japão. Shinzo Abe foi uma exceção, permanecendo no cargo por um período mais longo do que o usual. Além disso, o domínio do PLD, de direita, é uma constante na política japonesa, tendo governado com apenas duas breves interrupções desde 1955.

O novo primeiro-ministro, no entanto, precisará aproveitar cada momento do próximo ano para reconquistar a confiança do eleitorado e assegurar o mandato do partido nas próximas eleições gerais, previstas para ocorrer até outubro de 2025. A renovação da imagem do PLD pode ser fundamental para melhorar seu desempenho eleitoral.

· 05:07 — Como falei antes, a temporada de resultados vai bem, obrigado

Ontem, destaquei como a temporada de resultados está favorecendo a maioria das empresas listadas na Bolsa brasileira, com ênfase especial no desempenho do Itaú (ITUB4), cujos resultados foram divulgados recentemente. Nesta semana, outro ponto positivo veio da Azzas 2154 (novo nome da Arezzo & Co após a fusão com o Grupo Soma). Na terça-feira, a empresa apresentou seus resultados do segundo trimestre de 2024, que ainda refletem os números reportados separadamente pelas duas empresas antes da fusão.

A Arezzo registrou um crescimento de…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.