Investimentos

Índices de inflação ao consumidor nos EUA e no Brasil pautam mercado nesta quarta (10); saiba mais

Expectativa é de uma desaceleração de 0,24% do IPCA em março; surpresas positivas no dado podem impulsionar o Ibovespa

Por Matheus Spiess

10 abr 2024, 09:27 - atualizado em 10 abr 2024, 09:27

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Bom dia, pessoal. O dia de hoje se apresenta como um marco crucial do trimestre, com implicações que podem se estender por várias semanas (ou até meses). Estão programados para serem divulgados os índices de inflação ao consumidor de março tanto nos EUA quanto no Brasil. A discussão sobre inflação evoluiu para uma análise cada vez mais intrincada, distanciando-se dos grandes números frequentemente destacados nas manchetes. O foco essencial agora recai sobre o detalhamento dos dados, que nos permitirá avaliar com mais precisão o rumo da inflação. Essa desagregação surge logo depois dos relatórios sobre o mercado de trabalho nos EUA, que apresentaram um número de contratações surpreendentemente alto, acirrando debates sobre um possível adiamento no ciclo de diminuição das taxas de juros. Diante do atual êxodo de capitais do Brasil, um registro robusto da inflação hoje poderia precipitar mais um período desafiador para o mercado local. Em contrapartida, uma cifra mais amena pode acender a centelha necessária para uma postura mais otimista no curto prazo.

No cenário internacional, as ações asiáticas mantiveram-se estáveis nesta quarta-feira, à medida que os investidores aguardam ansiosamente os dados de inflação significativos dos EUA. Os mercados europeus abriram em alta, antecipando a iminente reunião do Banco Central Europeu. Por ora, os futuros nos EUA mostram-se indecisos, oscilando sem um trajeto definido. O dia promete ser agitado, com atenção especial aos próximos acontecimentos. No âmbito das commodities, observa-se uma ligeira recuperação do petróleo nesta manhã, após o ajuste de ontem, enquanto o minério de ferro experimenta uma correção seguindo a expressiva valorização do dia anterior. Apesar da predisposição do Brasil em responder às flutuações das matérias-primas, as atuais circunstâncias econômicas e políticas locais podem nos levar a desconsiderar, até certo ponto, essas variações.

A ver…

· 00:59 — Inflação e questão fiscal

As ações no Brasil marcaram o segundo dia seguido de avanços, levando o Ibovespa ao seu maior nível de fechamento em mais de um mês, destacando-se como uma jornada significativa para o mercado local. O foco está voltado para a divulgação do IPCA, projetado para mostrar uma desaceleração para 0,24% no mês, comparado a 0,83% em fevereiro, com a expectativa anual fixada em um aumento de 3,70%, oscilando entre 3,0% e 4,70%. A análise minuciosa dos componentes do IPCA se faz mais relevante, especialmente com os preços dos serviços que devem apresentar uma redução na taxa de crescimento de 1,06% para 0,13%. Um registro abaixo do antecipado, junto a uma inflação moderada nos EUA, poderia representar o ponto de virada para uma melhora na performance dos ativos brasileiros neste ano desafiador.

Em Brasília, a situação em torno da Petrobras ganha destaque, notadamente após o anúncio de uma nova descoberta de petróleo em águas ultraprofundas da bacia Potiguar, na Margem Equatorial. Os desenvolvimentos recentes indicam a possibilidade de Jean Paul Prate permanecer na liderança da companhia, representando uma considerável reviravolta contra Silveira e o setor político do governo que, apesar dos esforços, parece não alcançar seus objetivos, ficando decidido que apenas metade dos dividendos extraordinários será distribuída. A respeito dos dividendos, que seriam uma grande ajuda para as finanças do país, a Câmara dos Deputados aprovou uma medida que modifica o arcabouço fiscal, possibilitando a antecipação de gastos. Essa ação reflete a situação fiscal precária do Brasil, que espera definições críticas em breve.

· 01:48 — E essa inflação aí

Nos Estados Unidos, o mercado de ações vivenciou um dia de oscilações intensas na véspera da divulgação dos dados de inflação, altamente antecipados. O S&P 500 encerrou a sessão praticamente estável, registrando uma leve alta de 0,1% após flutuar entre um aumento de 0,4% e uma baixa de 0,8%. O Dow Jones manteve-se inalterado após um dia igualmente volátil, enquanto o Nasdaq viu um modesto avanço de 0,3%. O destaque de hoje recai sobre o índice de preços ao consumidor de março, que deve ofuscar a relevância das atas do FOMC da última reunião, previstas para serem publicadas à tarde. Para a inflação, espera-se um consenso de crescimento anual de 3,4%. O núcleo do IPC, excluindo os custos flutuantes de alimentos e energia, é projetado para aumentar 3,7%, sugerindo uma possível desaceleração.

Uma concordância unânime entre os dirigentes do Fed é a prematuridade de qualquer decisão sobre cortes de juros, necessitando de mais dados para uma convicção robusta para tal ação, provavelmente nos próximos dois meses. Assim, a expectativa é alta para o relatório de hoje, servindo como um termômetro crítico para avaliar se o pico de inflação no início do ano foi episódico ou se indica um prolongamento no caminho de retorno à meta inflacionária estabelecida pelo Fed. Embora o cenário base predominante ainda antecipe três reduções de juros ao longo do ano, iniciando-se entre junho e julho, os resultados de hoje poderão redefinir ou ratificar essa trajetória.

· 02:35 — Há espaço para se manter em patamar elevado

Hoje, os preços do petróleo experimentaram uma leve recuperação, aproximando-se novamente dos US$ 90 por barril, após uma queda no dia anterior. O cenário geopolítico no Oriente Médio permanece no centro das atenções do mercado. Relatos indicam avanços nas negociações para um cessar-fogo em Gaza, apesar da recusa do Hamas em confirmar tais alegações. Por outro lado, uma importante figura da Guarda Revolucionária do Irã assegurou que o país não pretende obstruir o Estreito de Ormuz, mesmo com a escalada de tensões com Israel, um desenvolvimento que, se ocorresse, poderia impactar negativamente os preços do petróleo.

Em uma tentativa de apaziguar a situação, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, comunicou ao secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que ainda não foi estabelecida uma data para qualquer operação em Rafah, contrariando o que havia sido anunciado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Isso traz certo alívio, pois uma ação militar em Rafah poderia colocar em risco a segurança do Estreito de Ormuz. Diante desses desenvolvimentos, é razoável prever que os preços do petróleo permaneçam em níveis elevados, o que representa um potencial desafio para os bancos centrais devido ao impacto inflacionário.

· 03:27 — Feedback de Yellen

Janet Yellen, a secretária do Tesouro dos EUA, recentemente concluiu uma visita de cinco dias à China, marcando um esforço diplomático significativo. Ela trouxe notícias encorajadoras, relatando uma estabilização nas relações EUA-China, um avanço considerável para fortalecer a cooperação econômica e assegurar um campo de jogo nivelado para trabalhadores e empresas de ambas as nações. Contudo, a visita não esteve livre de advertências, especificamente sobre as consequências das sanções dos EUA para os bancos chineses caso haja um reforço na capacidade militar da Rússia. A situação complicou-se ainda mais com o encontro subsequente entre o presidente chinês, Xi Jinping, e o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, levantando questões sobre a direção das relações sino-russas.

No cenário global, tanto os EUA quanto a Índia posicionam-se cautelosamente em relação à China, percebendo-a não somente como um concorrente comercial mas também como um desafiador geopolítico. Esta perspectiva levou a uma tendência protecionista por parte destes países, manifestada através de tarifas elevadas e restrições de investimentos. Por outro lado, a Europa, com sua dependência mais acentuada da economia chinesa, adota uma abordagem diferenciada, resistindo à importação de produtos chineses enquanto incentiva investimentos de gigantes chineses como a CATL e a BYD para estabelecerem megafábricas no continente. A possível reeleição de Donald Trump nos EUA traz incertezas adicionais, sugerindo que as relações EUA-China poderiam enfrentar novas tensões, dependendo das políticas externas que vierem a ser adotadas.

· 04:17 — A corrida do ouro

O ouro, mantendo sua trajetória ascendente, parece desafiar a lógica convencional que liga seus preços à movimentação dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA e às expectativas de ajustes na política monetária do Federal Reserve. Ontem, este metal valioso atingiu um novo pico, sendo negociado a US$ 2362,40 a onça-troy, sustentando uma recomendação que temos feito aqui no M5M+ por algum tempo. Esta tendência recente diverge do comportamento típico do ouro, que tradicionalmente se valoriza em períodos de taxas de juros mais baixas, embora a validade dessa correlação tenha sido debatida nas últimas duas décadas. Parece que o ouro está sendo procurado como um refúgio seguro, por aqueles preocupados com as consequências da estratégia do Fed em alcançar um ajuste econômico sem causar turbulências. Uma falha nesse objetivo poderia impulsionar o ouro diante de uma desaceleração econômica severa, sinalizando cortes acentuados nas taxas de juros.

Adicionalmente, percebemos um ressurgimento no interesse pelo ouro por parte de compradores que o haviam deixado de lado durante anos. Este interesse é notavelmente robusto entre os bancos centrais, que agora alocam cerca de 16% de suas reservas totais em ouro físico, com destaque para a influência chinesa nesse aumento. A demanda por ouro na China, seja para fins de investimento ou para a aquisição de joias, permanece intensa, impulsionada tanto pela desvalorização do setor imobiliário quanto pelo mercado de ações local, elevando o status do ouro como um bastião de segurança patrimonial. Em um cenário global cheio de incertezas geopolíticas, o ouro se destaca como uma proteção cobiçada.

· 05:02 — Uma gigante de semicondutores

Hoje, retorno ao tema das ações internacionais, focalizando na Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), listada na NYSE sob o símbolo TSM, que desde minha primeira recomendação em 19 de janeiro, apreciou aproximadamente 27% em valor. Um ganho expressivo em dólares, que captura a atenção dos investidores. Fica a dúvida: depois desse rali, ainda vale a pena ter a ação?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.