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Índices de mercado ainda refletem eleição de Trump enquanto pacote fiscal deve chegar após G20: veja os destaques desta quinta (14)

Os índices de mercado nesta quinta-feira (14) acompanham as expectativas que surgiram com a eleição de Donald Trump.

Por Matheus Spiess

14 nov 2024, 09:13 - atualizado em 14 nov 2024, 09:16

Imagem representando o Backtesting, uma opção para melhorar seus resultados no mercado financeiro.

Nos mercados internacionais, os ativos de risco mantêm uma dinâmica alinhada com as expectativas que surgiram com a eleição de Donald Trump, evidenciando um fortalecimento da percepção de “excepcionalismo americano” desde o anúncio de sua vitória.

Nos EUA, as bolsas registram novos recordes históricos, em contraste com o desempenho mais moderado das bolsas de outras regiões, que lidam com a elevação dos juros futuros americanos e a valorização do dólar. As criptomoedas, especialmente o Bitcoin, têm se destacado, superando a marca de US$ 91 mil.

Na Ásia, por outro lado, o clima é de maior apreensão. Os índices de mercado encerraram a quinta-feira (14) em queda, com os investidores aguardando os dados de produção e vendas no varejo da China. Apesar do anúncio de novos estímulos, como cortes de impostos para compradores de imóveis, a percepção geral é de que tais medidas são insuficientes para reverter o pessimismo.

Na Europa, por sua vez, os índices apresentaram leves altas, sustentados pelos resultados corporativos e dados econômicos favoráveis na região. A agenda econômica do dia inclui a divulgação da ata da última reunião de política monetária do Banco Central Europeu e o índice de inflação ao produtor nos EUA para o mês de outubro. Futuros americanos sobem.

No Brasil, a expectativa em torno do aguardado pacote de corte de gastos continua alta, embora o anúncio pareça ter sido adiado para após o G20, aumentando as tensões no mercado local. A falta de clareza sobre os detalhes e o cronograma das medidas fiscais impõe um custo elevado, que se reflete na postura cada vez mais cautelosa dos investidores, como podemos ver no câmbio e nos juros futuros.

· 00:55 — Pode ser grande, mas está demorando demais…

Com o passar dos dias, cresce a expectativa do mercado pelo aguardado pacote de corte de gastos do governo. Lula busca uma articulação política que minimize o desgaste das medidas de contenção fiscal. Há uma apreensão no ar, pois, embora o governo reconheça a necessidade da reforma, encontra resistência dentro da ala petista, que se mostra reticente em relação aos cortes.

É provável que, além de deixar claro que todas as áreas serão impactadas, Lula queira construir uma narrativa popular, talvez apresentando em paralelo um projeto de isenção do Imposto de Renda para aqueles que ganham até R$ 5 mil, enquanto propõe um imposto mínimo para rendas acima de R$ 1 milhão. A intenção é manter o controle sobre a narrativa pública.

Mesmo com a demora, os últimos sinais foram positivos. O Ministério da Fazenda indicou ao Congresso um pacote de cortes de R$ 70 bilhões ao longo dos próximos dois anos (cerca de R$ 30 bilhões para 2025 e o restante para o ano seguinte). O ministro Fernando Haddad já apresentou esses números aos presidentes da Câmara e do Senado, indicando o avanço das negociações. Além disso, o ministro praticamente confirmou que os reajustes do salário mínimo e dos benefícios sociais seguirão as diretrizes do arcabouço fiscal, limitando o crescimento dos gastos a 2,5% acima da inflação. Esse ajuste tornaria o arcabouço mais viável e sustentável a longo prazo, e os detalhes do plano serão cruciais para avaliar a viabilidade e a eficácia das medidas.

Espera-se, porém, que a apresentação formal da proposta ocorra apenas após o G20, especialmente após a explosão e morte na Praça dos Três Poderes na noite passada. Esse evento pode, inclusive, reduzir as chances de anistia aos acusados pelos atos de 8 de janeiro, um dos caminhos que Bolsonaro considerava para restabelecer sua elegibilidade. Com isso, a tese de uma alternativa política à direita para 2026, representada por nomes como Tarcísio ou Caiado, ganha ainda mais relevância.

· 01:48 — Em linha

Nos Estados Unidos, as ações tiveram um dia de negociações movimentado ontem. O Dow Jones Industrial Average registrou um ganho modesto de 0,1%, enquanto o Nasdaq Composite recuou 0,3%, e o S&P 500 permaneceu praticamente estável. O principal destaque do dia foi a divulgação do índice de preços ao consumidor de outubro pelo Bureau of Labor Statistics, que trouxe poucos desvios em relação às expectativas do mercado. O índice avançou 0,2% no mês e 2,6% em relação ao ano anterior, marcando a primeira aceleração anual desde março. O núcleo do índice, que exclui os preços de alimentos e energia, registrou um aumento de 0,3% em outubro e 3,2% em comparação ao ano passado, também alinhado com as previsões.

Esses dados reforçam a lentidão da batalha contra a inflação, sinalizando que o Federal Reserve deve manter uma postura cautelosa enquanto avalia o ritmo adequado para reduzir os juros nos próximos meses. O Fed também terá de equilibrar sua estratégia com as diretrizes econômicas do presidente eleito Donald Trump. Apesar dos desafios, o quadro geral da inflação continua se movendo na direção desejada. Como complemento, o índice de preços ao produtor de outubro será divulgado hoje, adicionando mais uma peça ao cenário inflacionário dos EUA.

· 02:32 — Linha dura

O segundo mandato de Donald Trump está rapidamente se desenhando, com o presidente eleito optando por nomeações de linha-dura e aliados fiéis para cargos-chave no gabinete e em outras posições estratégicas, indicando claramente suas prioridades para o novo governo. Até o momento, as escolhas sugerem que a imigração será uma das principais pautas da administração, com Trump determinado a cumprir suas promessas de campanha nesse tema — incluindo deportações e o reforço do controle fronteiriço. Um exemplo disso é a nomeação de Tom Homan como “czar da fronteira”, responsável pela implementação da polêmica política de separação familiar durante o primeiro governo de Trump.

Na política externa, a equipe de Trump também começa a ganhar forma com a indicação de figuras que mantêm uma postura crítica em relação à China. Entre elas, destaca-se o senador republicano Marco Rubio, escolhido para o cargo de secretário de Estado. Embora Rubio seja visto como uma escolha mais moderada em comparação com outros nomeados — ele é conhecido por sua visão “neoconservadora” e não é necessariamente alinhado ao movimento MAGA (“Make America Great Again”) —, ele compartilha da visão de Trump em relação a uma abordagem rígida contra a China. Em conjunto com os demais membros da equipe de relações exteriores, Rubio representa o compromisso da administração em adotar uma postura inflexível em relação a Pequim, refletindo o tom severo de Trump.

· 03:21 — Não aguentou

As bolsas europeias encerraram o pregão de ontem predominantemente em baixa, influenciadas pelas preocupações sobre as possíveis políticas protecionistas de um segundo governo Trump nos EUA. François Villeroy de Galhau, membro do Banco Central Europeu (BCE), comentou que a agenda de Trump pode provocar o retorno da inflação nos EUA e afetar negativamente o crescimento global. Joachim Nagel, presidente do Bundesbank, alertou que as novas tarifas propostas pelo republicano poderiam custar até 1% do PIB da Alemanha.

Falando sobre a principal economia da Europa, houve um avanço na crise política alemã. O chanceler Olaf Scholz concordou em realizar um voto de confiança no dia 16 de dezembro e marcou eleições parlamentares para 23 de fevereiro. Essa decisão surge após semanas de tensões dentro de sua coalizão. Caso Scholz perca o voto de confiança em dezembro, como esperado, o caminho estará aberto para as eleições de fevereiro. Atualmente, as pesquisas apontam a oposição da União Democrata Cristã (CDU) como a favorita, com 32% de apoio — o dobro da popularidade dos social-democratas de Scholz.

· 04:17 — Posição estratégia

Nos últimos anos, a segurança alimentar tornou-se uma prioridade crucial nas agendas de líderes globais, impulsionada pela crise econômica provocada pela pandemia de Covid-19, por conflitos geopolíticos que comprometem as cadeias de abastecimento e por eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, que intensificam os desafios de fome e desnutrição em escala global.

Dados da FAO indicam que, entre 2019 e 2020, mais de 152 milhões de pessoas passaram a enfrentar insegurança alimentar. Nesse cenário, o comércio internacional assume um papel fundamental para mitigar os riscos à segurança alimentar, promovendo a integração dos sistemas agroalimentares globais e possibilitando que alimentos fluam de regiões com superávit para áreas deficitárias. Um sistema de comércio alimentar eficiente pode ampliar a oferta, melhorar a qualidade e diversificar as dietas, além de suavizar os efeitos de choques adversos como esses.

Nesse contexto, a América Latina surge como um ator essencial, consolidando-se como a maior exportadora líquida de alimentos do mundo, com exportações que somaram US$ 170,6 bilhões em 2023. A expectativa é de que essa posição se fortaleça, com projeções indicando um aumento de 26% no superávit comercial de produtos agrícolas latino-americanos até 2033.

A região também deve ampliar sua participação nas exportações de commodities alimentares estratégicas, como soja, milho, açúcar e carne bovina. Dotada de vastos recursos naturais, a América Latina reúne 34 países em uma área de 2 bilhões de hectares, dos quais 38% são destinados à agropecuária (9,5% para agricultura e 28,5% para pecuária) e 46% são cobertos por florestas.

A região também concentra 30% das chuvas globais e gera 33% da água doce do mundo, o que a posiciona como uma reserva estratégica de terras cultiváveis. Apesar dessa riqueza natural, por muito tempo a produção e exportação de alimentos não refletiu plenamente seu potencial. Nesse cenário, o Brasil se destaca como o principal protagonista regional, liderando a América Latina na capacidade de atender à demanda global por alimentos.

· 05:04 — Ponto de virada

Nesta semana de divulgação de resultados corporativos, o desempenho da Localiza (RENT3) foi um dos destaques, com números sólidos para o terceiro trimestre que contrastaram com o desempenho mais contido no segundo trimestre de 2024. A empresa manteve sua forte atuação operacional nas divisões de aluguel, enquanto a área de Seminovos superou as expectativas, contribuindo significativamente para a expansão da rentabilidade.

A pergunta que se coloca é: este trimestre será o ponto de virada para as ações da Localiza, que enfrentaram desafios ao longo do ano?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.