Nos últimos dias, observamos uma verdadeira corrida nas expectativas de vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos neste novembro. Alguns meses atrás, comentei que esse era nosso cenário-base, ainda que, pela natureza extremamente acirrada da disputa, fosse difícil antecipar um resultado definitivo.
Agora, no entanto, os investidores parecem mais firmes em suas apostas. As casas de apostas já indicam mais de 60% de chance de um retorno de Trump à presidência, enquanto as pesquisas apontam um desempenho crescente do republicano em estados decisivos, os chamados “swing states”. Como resultado, o mercado começou a precificar os potenciais planos de Trump em um eventual retorno à Casa Branca. Isso tem impulsionado ações ligadas à economia tradicional, além de elevar os yields e fortalecer o dólar, especialmente porque as declarações recentes das autoridades monetárias americanas sugerem maior gradualismo para os cortes de juros nos EUA.
Nesta manhã, os futuros americanos registram quedas, acompanhando uma tendência de baixa nos índices europeus. Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, espera-se que várias autoridades monetárias façam declarações ao longo do dia. No entanto, para mim, o foco principal deve ser nos dados econômicos. Nos EUA, os sinais de atividade econômica apontam para a necessidade de um ritmo mais moderado na redução das taxas de juros.
Já na Zona do Euro, a situação é distinta: o Banco Central Europeu (BCE) tende a acelerar o processo de cortes, mesmo que o total do ciclo permaneça inalterado. Isso se deve ao fato de que os indicadores econômicos entre os países da região têm mostrado resultados insatisfatórios. Isso tudo vem após uma terça-feira de desempenho misto na Ásia.
Na China, as bolsas encerraram o dia em leve alta, refletindo os contínuos esforços de Pequim para estimular o crescimento.
A ver…
· 00:55 — Insistência
O mercado brasileiro registrou uma correção ontem (21), após os picos de volatilidade da semana passada, período em que os juros futuros chegaram a atingir 13%. Apesar desse alívio momentâneo, os indicadores econômicos divulgados recentemente ainda trazem sinais preocupantes. O Relatório Focus mais recente, publicado pelo Banco Central, revisou para cima as expectativas de inflação para os próximos anos.
As projeções para o IPCA de 2024 tocaram o teto da meta, de 4,50%, enquanto a estimativa para 2025 alcançou 3,99%. Estamos em um momento crítico, muitas vezes descrito como o “olho do furacão”, em que as decisões econômicas que o governo Lula tomará nos próximos quatro meses serão determinantes para o cenário econômico do Brasil nos próximos dois anos.
Diante disso, com uma agenda mais calma hoje (22), o foco se volta para a divulgação dos dados de arrecadação de setembro pela Receita Federal. Esses números devem oferecer uma nova perspectiva sobre a saúde fiscal do país em um contexto de incertezas que continua a preocupar investidores e analistas.
A economia brasileira ainda demonstra dinamismo, sustentada por um mercado de trabalho robusto e pelo crescimento da massa salarial, fatores que contribuem positivamente para o cenário econômico. No entanto, parte desse dinamismo é alimentado por estímulos fiscais, levantando questões sobre a sustentabilidade dessa trajetória a longo prazo. A manutenção de juros elevados, necessária para conter a inflação, se choca diretamente com as fragilidades fiscais, o que impede uma valorização mais expressiva do real, apesar do diferencial atrativo de juros.
Mesmo que o governo consiga cumprir a meta fiscal para 2024, os desafios para 2025 não serão eliminados. O cenário político sugere que novas medidas de arrecadação enfrentarão forte resistência no Congresso, especialmente com a proximidade das eleições para a liderança das Casas Legislativas.
Além disso, já se iniciaram discussões internas sobre a possibilidade de elevar o teto de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil, um debate que deverá ganhar força em 2024.
Para lidar com esses desafios, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou a preparação de um conjunto de medidas estruturais voltadas para a redução de gastos públicos. No entanto, a eficácia dessas propostas dependerá da capacidade do governo de avançá-las em meio a um ambiente político complexo e diante do ceticismo dos investidores quanto à implementação de reformas significativas.
· 01:44 — Pausa para respirar
Nos EUA, o mercado acionário iniciou a semana de forma cautelosa, em meio a uma agenda movimentada na qual cerca de 110 empresas do S&P 500 estão programadas para divulgar seus resultados do terceiro trimestre. O S&P 500 registrou uma leve queda de 0,2%, refletindo um dia negativo para a maioria das ações do índice, com apenas 81 componentes encerrando o dia em alta. Já o Nasdaq conseguiu um ganho modesto de 0,3%, sustentado pelo otimismo com as grandes empresas de tecnologia.
Ao mesmo tempo, os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos subiram para 4,18%, um aumento significativo em relação aos 3,62% registrados pouco antes da reunião de política monetária do Federal Reserve em setembro. Naquela ocasião, o Fed havia reduzido sua meta para a taxa de juros de curto prazo em 50 pontos, refletindo preocupações do mercado com uma possível desaceleração do crescimento e expectativas de maior flexibilização da política monetária nos meses seguintes.
No entanto, desde então, os indicadores econômicos dos EUA têm se mostrado consistentemente robustos, e o tom do Fed tornou-se mais cauteloso quanto à possibilidade de cortes adicionais nas taxas de curto prazo. Os dados mais recentes sugerem que a trajetória de queda dos juros pode ser mais lenta do que os investidores previam há cinco semanas, um cenário que se reflete no aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro em toda a curva de vencimento.
Entre os destaques da agenda do dia, diversas grandes empresas devem divulgar seus balanços, incluindo 3M, Baker Hughes, Danaher, Freeport-McMoRan, GE Aerospace, General Motors, Invesco, Kimberly-Clark, Lockheed Martin, Moody’s, Philip Morris, Sherwin-Williams, Texas Instruments e Verizon Communications. Esses resultados terão um papel importante na definição do tom do mercado ao longo da semana.
· 02:31 — A bomba fiscal
Ainda nos Estados Unidos, o déficit orçamentário federal atingiu a marca de US$ 1,8 trilhão, equivalente a 7,2% do PIB, tornando-se o terceiro maior na história do país. Já se passaram 23 anos desde a última vez que a receita tributária superou as despesas, e esse superávit não foi uma coincidência. Ele resultou de um esforço bipartidário durante o governo de Bill Clinton. No entanto, em um cenário político cada vez mais polarizado, uma nova iniciativa semelhante parece improvável, e o déficit se mantém como um tema secundário nas discussões da campanha presidencial.
No confronto eleitoral, tanto Kamala Harris quanto Donald Trump pouco mencionaram o déficit, mesmo enquanto promoviam programas de governo ambiciosos e caros, que provavelmente ampliarão ainda mais o endividamento. O Comitê para um Orçamento Federal Responsável projeta que as políticas de Harris poderiam adicionar até US$ 8,1 trilhões à dívida até 2035, enquanto as propostas de Trump poderiam elevar esse número para US$ 15,15 trilhões. Em resumo, não há indicações de que qualquer um dos candidatos tenha um plano sólido para conter o crescimento da dívida.
As mais recentes projeções do Congressional Budget Office (CBO) apontam para uma dívida nacional se aproximando de US$ 36 trilhões. A questão que fica é: os americanos devem se preocupar com essa crescente dívida? A resposta é um enfático sim. Isso porque existe uma ligação clara entre déficits fiscais elevados e inflação. De acordo com estimativas do CBO, os custos anuais com juros líquidos sobre a dívida devem alcançar US$ 892 bilhões em 2024, e quase dobrar na próxima década, chegando a US$ 1,7 trilhão em 2034. É muito gasto só para juros da dívida pública.
Por enquanto, os EUA conseguiram evitar uma crise fiscal imediata porque o dólar continua sendo a principal moeda de reserva mundial, dificultando que investidores se afastem do país. No entanto, essa situação não pode perdurar indefinidamente. A necessidade de discutir e enfrentar o problema da dívida está cada vez mais urgente, e adiar essa conversa só aumentará os desafios futuros.
· 03:28 — As reuniões do FMI e do Banco Mundial
Washington, DC, está sediando nesta semana um dos eventos econômicos mais importantes do ano: as Reuniões Anuais do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Nomes de peso, como Ajay Banga, presidente do Banco Mundial, e Kristalina Georgieva, diretora-gerente do FMI, estão à frente das discussões sobre as perspectivas econômicas globais para 2025. Ao lado deles, líderes de bancos centrais de algumas das economias mais vulneráveis do mundo compartilham suas experiências, sucessos e desafios.
Entretanto, um tema que domina as conversas de bastidores é a eleição presidencial nos Estados Unidos. A incerteza em torno do resultado eleitoral, especialmente a possibilidade de um retorno de Donald Trump à Casa Branca, está gerando expectativas e preocupações. Economias ao redor do mundo estão se preparando para essa eventualidade, antecipando uma postura mais assertiva e potencialmente mais protecionista nas políticas comerciais caso Trump volte ao poder.
· 04:14 — Filantropia
A filantropia individual movimenta cerca de US$ 1,3 trilhão anualmente, de acordo com estimativas do Citigroup, embora esse valor possa ser subestimado. Muitos indivíduos de alto patrimônio optam por realizar suas doações por meio de fundações, que são contabilizadas como doações institucionais, mascarando o volume total de doações individuais. O relatório do Citigroup estimou que as doações em dinheiro feitas diretamente por pessoas somaram US$ 770 bilhões, enquanto o valor monetário atribuído ao tempo doado alcançou US$ 559 bilhões, totalizando cerca de 1% do PIB global destinado à caridade.
Os EUA lideram em termos absolutos e proporcionais de doações, sendo o país com maior volume de recursos destinados à filantropia e com a maior parcela do PIB dedicada a essas causas. A Nova Zelândia segue na segunda posição quando se considera a proporção de sua economia destinada a contribuições filantrópicas. Além disso, a Índia está emergindo como uma força crescente na filantropia global, impulsionada pelo engajamento cada vez maior de seu setor privado e de indivíduos de alto patrimônio em causas sociais e humanitárias. Esse movimento sugere que a filantropia está destinada a ter um papel cada vez maior na economia mundial.
· 05:09 — Investindo em energia nuclear
As Big Techs estão liderando uma nova onda de investimentos em energia nuclear, revitalizando uma fonte de energia limpa que tem perdido participação nos Estados Unidos, onde atualmente operam 94 reatores nucleares, abaixo do pico de 112 em 1990. Hoje, a energia nuclear representa 19% da geração de eletricidade do país, enquanto combustíveis fósseis ainda dominam com 60%.
Agora, porém, em um movimento estratégico, empresas como…