Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados de ações asiáticos fecharam em baixa nesta terça-feira (20), acompanhando os sinais negativos dos mercados europeus durante o pregão de ontem, já que os investidores permanecem cautelosos depois que o banco central da China não introduziu mais estímulos como especulado para sustentar sua recuperação econômica (a autoridade monetária até cortou algumas de suas principais taxas de empréstimo pela primeira vez em 10 meses, mas o movimento não foi tão abrangente como esperado). Em outras palavras, as preocupações com a desaceleração do crescimento econômico chinês acabaram compensando os cortes pelo banco central.
Os mercados europeus e os futuros americanos têm uma manhã de queda por enquanto, com os investidores aguardando os depoimentos do presidente do Fed, Jerome Powell, no Congresso, na quarta e quinta-feira, em busca de pistas sobre a política monetária à frente. A inflação de preços ao produtor alemão continuou as tendências de desinflação há muito estabelecidas, vindo com uma queda bem mais forte do que a esperada (embora observe que a faixa de previsão de consenso é ampla e baseada em uma pequena amostra). Fala da autoridade monetária britânica também é aguardada na véspera da reunião do Banco da Inglaterra no final da semana.
A ver…
· 00:48 — Quantos cortes vem aí?
Por aqui, começa hoje a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), devendo manter a taxa de juros inalterada em 13,75% na conclusão do evento (amanhã depois do fechamento do mercado). Acompanhando o Boletim Focus, a nova onda de revisões de menos inflação e mais crescimento tem provocado um movimento positivo sobre os ativos locais. Adicionalmente, a nova redução do preço da gasolina alimenta a expectativa de deflação do IPCA de junho, dando ainda mais argumentos para o Banco Central começar a reduzir a Selic no terceiro trimestre, provavelmente em agosto.
O relatório também indicou que a mediana para a taxa de juros no final do ano caiu para 12,25%. Dos atuais 13,75% isso se traduz em um corte de pelo menos 150 pontos ao longo das quatro reuniões do segundo semestre. Se começarmos em agosto com 25 pontos-base e depois acelerarmos para 50 pontos nos três encontros posteriores, há espaço para encerrarmos o ano em 12% de Selic. Na sequência, vejo a taxa caindo para algo entre 10% e 9% até o final de 2024. Vai depender da trajetória da inflação corrente. A terça-feira reserva a votação do arcabouço fiscal na CAE do Senado.
· 01:35 — Os IPOs estão voltando
Nos EUA, o mercado de IPOs (“initial public offering”, ou “oferta pública inicial” em português) mostra alguns sinais de vida após ondas de incerteza econômica e um ciclo de aperto da política monetária que freou a abertura de capital. Houve 44 IPOs nos EUA este ano que levantaram US$ 7,3 bilhões, logo podendo ultrapassar os 71 IPOs do ano passado, que arrecadaram US$ 7,7 bilhões. Ainda é insignificante em comparação com as listagens de 2021, cujos 397 IPOs arrecadaram US$ 142,4 bilhões, destacando que o mercado ainda está longe de um retorno total.
O mesmo pode ser esperado para o Brasil. Como Felipe Miranda chamou a atenção em sua carta para investidores ontem, depois de uma safra lamentável de IPOs em 2021, em que muita empresa não deveria ter aberto o capital e só o fez por conta da taxa de juros em 2%, tivemos uma completa esterilização das ofertas iniciais em 2022. Se não houver qualquer oferta inicial neste ano, será a primeira neste século que não tivemos IPOs no Brasil por dois anos seguidos. Contudo, as coisas parecem estar mudando. Na última sexta-feira, a Localiza anunciou uma oferta de R$ 4,5 bilhões. Entendo que uma janela para ofertas de ações grandes possa estar sendo reaberta.
Começamos ganhando intensidade em follow-ons de empresas de altíssima qualidade, como no caso de Localiza, e logo voltaremos a debater os IPOs. Ganham os nomes do segmento financeiro, como B3, BTG, XP, BR Partners e outros. Outra que chamou a atenção foi a Copel, que quer fazer sua oferta de ações entre R$ 3 e R$ 5 bilhões. Depois de uma completa esterilidade, o Ibovespa em 120 mil pontos pode estar ressuscitando os IPOs. Talvez esse seja o grande tema para o segundo semestre. Que o novo ciclo seja de uma qualidade melhor que a última safra.
· 02:48 — Frustrações e o mercado imobiliário
O Banco Popular da China cortou sua taxa básica de juros de empréstimo em 10 pontos-base, conforme amplamente esperado pelos mercados. Embora se espere que a medida desbloqueie mais estímulos no país, ela também destaca uma desaceleração da recuperação econômica na China. O movimento, contudo, frustrou as expectativas mais ansiosas do mercado, que esperavam mais novos estímulos à economia. Como consequência, vemos certa fraqueza na maioria das commodities em nível internacional, o que poderá dificultar as coisas para o pregão no Brasil.
As perspectivas econômicas para a China permanecem sombrias, com uma série de grandes bancos de investimento reduzindo suas previsões de crescimento para o ano. Ainda assim, a redução marginal das taxas de referência das hipotecas dificilmente fará tanta diferença econômica real, uma vez que as taxas de poupança preventiva são altas. Por falar em hipotecas, outro mercado preocupado com o mercado imobiliário é o americano, que ainda precisa absorver o enfraquecimento do dado de construção de novas moradias, embora se espere que haja estabilidade nos níveis vistos em 2019.
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· 03:29 — Tensão no relacionamento
O ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, ao completar 100 anos e ainda se manter inacreditavelmente mais lúcido que muita gente por aí, disse acreditar que o conflito militar entre a China e Taiwan é provável se as tensões continuarem em seu curso atual, embora ele ainda espere um diálogo que leve à desescalada. Os comentários foram alguns dos mais pessimistas sobre o estado das relações entre a China e os EUA, que prometeram apoiar Taiwan no caso de ataques da China.
Kissinger disse que cabe a Washington e Pequim recuar de seu impasse. O ex-diplomata dos EUA falou dias antes de o secretário de Estado, Antony Blinken, viajar a Pequim para negociações. Ao que tudo indica, sua passagem pelo território chinês foi frutífera e deverá impedir, ao menos no curto prazo, nova escalada de tom entre os dois países. Contando que a ordem econômica global seja mantida e os fluxos de comércio preservados, o mercado deverá deixar essa história um pouco de lado.
· 04:09 — Parece que o “El Nino” chegou!
A confirmação recente de que as condições meteorológicas do El Niño estão presentes acrescenta um novo desafio para uma economia global já em dificuldades. De acordo com a modelagem da Bloomberg Economics, os El Niños anteriores resultaram em um impacto marcante na inflação global, adicionando 3,9 pontos percentuais aos preços das commodities não energéticas e 3,5 pontos ao petróleo. Eles também atingiram o crescimento do produto interno bruto, especialmente no Brasil, Austrália, Índia e outros países vulneráveis; afinal, culturas de milho, soja, açúcar e algodão são afetadas.
Também pode significar más notícias para a luta para domar a inflação. Claro, é provável que o impacto econômico varie consideravelmente de acordo com o local, mas um tema comum nos eventos do El Nino são mais pressões inflacionárias como resultado dos preços mais altos das commodities, como aconteceu com os preços do milho em 2012, por exemplo, quando as condições de solo e chuva eram equivalentes às atuais. Para piorar, a Rússia promete não renovar o acordo de exportação via Mar Negro, o que poderia gerar ainda mais pressão de oferta. Algo para observarmos.