Os mercados internacionais iniciaram a manhã repercutindo a nova promessa do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, feita na noite de segunda-feira (25): a imposição de uma tarifa de 25% sobre produtos mexicanos e canadenses, além de uma tarifa adicional de 10% sobre produtos chineses.
A declaração gerou um impacto de alta no dólar e de queda nas bolsas globais, contrastando com o otimismo observado ontem, impulsionado pela escolha de Scott Bessent como Secretário do Tesouro e pela possibilidade de um cessar-fogo iminente entre Israel e o Hezbollah.
Nos mercados asiáticos, o anúncio de Trump gerou um claro movimento de aversão ao risco, refletido em quedas generalizadas nas principais bolsas da região. O desempenho foi particularmente negativo para empresas exportadoras, que sentem mais diretamente o impacto potencial de tarifas comerciais. Um cenário semelhante se desenha na Europa, onde os mercados abriram sob pressão, com destaque para as perdas entre as fabricantes de veículos, um setor particularmente sensível a medidas protecionistas.
Esse ambiente reflete as incertezas crescentes em torno das políticas comerciais de Trump, que, embora destinadas a proteger setores estratégicos nos EUA, acabam amplificando os temores de uma desaceleração econômica global, especialmente em regiões fortemente integradas ao comércio internacional.
· 00:56 — O nível de incompetência é inacreditável
No Brasil, seguimos em compasso de espera pelo tão prometido pacote de corte de gastos, que parece sempre estar prestes a ser anunciado, mas nunca chega.
Enquanto isso, o câmbio estabiliza em torno de R$ 5,80, o Ibovespa permanece incapaz de retomar os 130 mil pontos, e os juros continuam precificando uma Selic terminal em 14%. Havia uma expectativa de que o anúncio fosse feito entre ontem e hoje, mas agora já se cogita um adiamento para os próximos dias, com o Planalto priorizando a apresentação da proposta ao Congresso antes de torná-la pública. Os sucessivos atrasos no anúncio das medidas, combinados com as resistências públicas de ministros do governo Lula, alimentam os temores de que o pacote chegue desidratado, incapaz de entregar o ajuste fiscal necessário. O grande receio agora é que o governo tenha perdido completamente o timing certo para implementar um ajuste fiscal eficaz.
O tom pessimista foi verificado no Boletim Focus divulgado ontem, que trouxe mais um conjunto de projeções preocupantes, principalmente para a inflação de 2025 e 2026. Nesse ritmo, torna-se plausível que o Banco Central opte por um aumento de 75 pontos-base na Selic em dezembro. Isso acontece mesmo após o relatório bimestral de receitas e despesas da última sexta-feira indicar um déficit primário ainda dentro da banda inferior de aceitação (pode surpreender, a depender da execução de despesas).
É preciso lembrar que a situação atual é, em grande parte, responsabilidade do próprio governo. Segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), decisões políticas tomadas entre o período de transição e o primeiro ano da nova gestão Lula podem adicionar entre R$ 2,3 trilhões e R$ 3 trilhões em despesas nos próximos dez anos. Entre os principais fatores estão o aumento do Bolsa Família para os níveis praticados durante a pandemia, a retomada da vinculação das despesas de saúde e educação às receitas, a correção do salário mínimo acima da inflação, sua manutenção como indexador e a criação dos fundos orçamentários previstos na reforma tributária.
Esses elementos configuram uma situação fiscal insustentável, fruto de escolhas que agora colocam o governo em uma posição extremamente complicada, sem capacidade de oferecer uma solução convincente ou comunicar suas decisões de forma transparente. Péssimo…
No curto prazo, além da espera pelo pacote fiscal, a agenda do dia inclui a prévia da inflação de novembro, que deve desacelerar para 0,49%, após registrar 0,54% em outubro. Embora surpresas abaixo do esperado possam aliviar momentaneamente o pessimismo, elas estão longe de oferecer uma solução para os problemas estruturais.
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· 01:48 — Ainda forte
Nos Estados Unidos, o mercado de ações apresentou um desempenho robusto ontem, mesmo diante da inversão da curva de juros pela primeira vez desde setembro, movimento impulsionado pela notícia de que o presidente Trump pretende nomear Scott Bessent como Secretário do Tesouro.
O Dow Jones Industrial Average avançou 440 pontos, ou quase 1%, atingindo um novo recorde e ampliando seus ganhos para quatro sessões consecutivas. O S&P 500 e o Nasdaq Composite também encerraram o dia em alta, com ganhos de 0,3%, enquanto o Russell 2000, focado em small caps, disparou quase 2%, superando sua máxima histórica anterior, registrada em 2021. Quase 80% das ações que compõem o S&P 500 fecharam em território positivo, refletindo o otimismo generalizado do mercado.
Hoje, a atenção dos investidores se volta para a divulgação das atas da reunião de política monetária do Federal Reserve realizada em novembro. O documento é aguardado com grande expectativa, pois pode oferecer insights sobre como as autoridades do Fed estão interpretando as tendências de inflação e a dinâmica econômica atual.
Esses detalhes serão cruciais para ajustar as projeções sobre a trajetória da política monetária, especialmente no que diz respeito às chances de um possível corte nas taxas de juros em dezembro. A reação do mercado dependerá diretamente do tom adotado nas atas e da percepção sobre os próximos passos do banco central americano.
· 02:34 — Tarifas
Na noite de ontem, Trump ameaçou impor tarifas a países que, segundo ele, não controlam adequadamente o fluxo de drogas e imigrantes ilegais para os EUA. Ele propôs uma tarifa de 25% sobre todos os produtos importados do Canadá e México, além de uma tarifa adicional de 10% sobre produtos chineses. Essa medida gerou debate sobre os possíveis impactos em parceiros comerciais importantes, como o México, principal parceiro dos EUA, com riscos de aumento de preços aos consumidores e desorganização das cadeias de suprimentos. O Canadá, maior exportador de energia para os EUA, e o México, com exportações de automóveis, eletrônicos, vegetais e plásticos, seriam fortemente afetados.
Era esperado que Trump agisse com rapidez antes mesmo de sua posse oficial, e o anúncio reforça esse padrão. Curiosamente, a ameaça surge pouco após a escolha de Scott Bessent como Secretário do Tesouro, contrapondo a expectativa de moderação na política econômica. Os mercados reagiram de forma negativa: o dólar canadense atingiu seu menor nível em quatro anos, o peso mexicano caiu ao pior patamar desde 2022, e o yuan chinês sofreu desvalorização.
Minha avaliação é de que essas tarifas sejam mais ferramentas de barganha do que medidas definitivas, seguindo o estilo de negociação de Trump visto entre 2016 e 2020. Por isso, continuo acreditando que há boas oportunidades para lucrar nos próximos quatro anos sob sua administração.
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· 03:27 — Se a moda pegar
No Reino Unido, o primeiro-ministro Keir Starmer anunciou que seu recém-empossado governo trabalhista apresentará na próxima semana reformas abrangentes para enfrentar o aumento dos custos relacionados ao pagamento de benefícios. A notícia surge após os primeiros indicadores econômicos desde a apresentação de seu orçamento inaugural, que revelaram estagnação na atividade do setor privado e queda nos gastos dos consumidores no varejo.
O Partido Trabalhista, após mais de uma década fora do poder, está sob intensa pressão para equilibrar as finanças públicas e impulsionar o crescimento econômico.
Essas movimentações por cortes de gastos no Reino Unido coincidem com esforços semelhantes nos Estados Unidos, onde o novo governo busca reestruturar o orçamento. A nomeação de Scott Bessent como Secretário do Tesouro, conforme discutido anteriormente, gerou uma redução de aproximadamente 14 pontos-base na curva longa de juros americana, aliviando a pressão sobre ativos de longa duração. Contudo, a situação fiscal nos EUA permanece desafiadora: a dívida nacional ultrapassou a marca histórica de US$ 36 trilhões.
Nesse contexto, iniciativas como o recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado por Elon Musk e Vivek Ramaswamy, ganham relevância. O departamento foi concebido para “reduzir o tamanho do governo federal” e revisar os gastos excessivos acumulados durante a pandemia, marcando um passo importante em direção à disciplina fiscal. Esses esforços refletem um reconhecimento da necessidade de ajustes profundos em meio a uma conjuntura econômica global marcada por desafios significativos.
· 04:13 — A chance de um cessar-fogo
Israel e o Hezbollah estão aparentemente próximos de firmar um cessar-fogo. O gabinete israelense deve votar hoje um acordo mediado pelos Estados Unidos, que prevê a retirada de Israel do Líbano em um prazo de 60 dias, enquanto o Hezbollah desloca suas armas para o norte, afastando-as da fronteira israelense. O primeiro-ministro Netanyahu já teria concordado com os termos do acordo. Caso seja confirmado, pode aliviar um importante risco no cenário internacional de curto prazo.
Como reflexo dessa possível distensão, o preço do petróleo recuou 2,87% ontem, revertendo parte das altas acumuladas na semana anterior devido às crescentes tensões entre Rússia e Ucrânia. A expectativa é de que o anúncio oficial do acordo seja feito nas próximas 36 horas pelos presidentes dos Estados Unidos e da França.
Nesta manhã, o preço do petróleo mostra sinais de recuperação, destacando a sensibilidade do mercado a essas dinâmicas. Diante disso, é prudente esperar por mais volatilidade no curto prazo, à medida que os desdobramentos desses eventos moldam o sentimento dos investidores. Pelo menos a sinalização foi positiva…
· 05:09 — A crise no mercado de proteína animal
Nos últimos dias, um comunicado publicado pelo Carrefour (CRFB3) na França nas redes sociais gerou forte repercussão no Brasil. A empresa anunciou que deixaria de comprar carne da América do Sul, alegando preocupações sanitárias, e declarou apoio explícito aos pecuaristas franceses. Forte teor político na manifestação, claro…