Mercado em 5 minutos

IPCA-15, balanço da Vale (VALE3) e alta no rendimento dos Treasuries – veja os destaques desta quinta-feira (24)

Os ativos parecem se recuperar nesta quarta-feira (24) após um movimento de aversão ao risco com a alta dos rendimentos dos Treasuries.

Por Matheus Spiess

24 out 2024, 09:05 - atualizado em 24 out 2024, 09:05

Dólar como hedge

Fonte: Pixabay

Vejo que os ativos ocidentais estão tentando se recuperar nesta manhã, após a queda de quarta-feira (23). O movimento recente de maior aversão ao risco foi influenciado, em parte, pela alta nos rendimentos dos Treasuries de 10 anos, que ontem chegaram a testar a marca de 4,25% após a divulgação do Livro Bege do Federal Reserve.

No entanto, nesta quinta-feira (24), o cenário se inverte, com os juros desses títulos recuando para abaixo de 4,20%, aliviando a pressão sobre os ativos. Isso tem impulsionado os índices europeus, que apresentam alta, assim como os futuros americanos.

Outro fator que contribui para esse alívio são os bons resultados corporativos divulgados entre ontem e hoje, com destaque para a Tesla (TSLA34). Esse movimento positivo no Ocidente contrasta com o que foi observado nas bolsas asiáticas, que encerraram a sessão majoritariamente em baixa, ainda refletindo a correção nos mercados globais ocorrida ontem.

Os índices chineses, por exemplo, registraram queda após quatro dias consecutivos de alta, que haviam sido impulsionados pelas medidas de estímulo anunciadas por Pequim recentemente.

Na agenda, mais pronunciamentos de autoridades monetárias internacionais devem entrar no radar dos investidores. Além da melhora no sentimento do mercado ocidental, a alta de algumas commodities, como o petróleo, pode ajudar o índice brasileiro, que ontem marcou sua quinta queda consecutiva.

A ver…

· 00:55 — A prévia da inflação

No Brasil, o foco do mercado hoje (24) está na temporada de resultados, que ganha força com a divulgação dos números da Vale (VALE3) após o fechamento. Além disso, teremos a prévia oficial da inflação, com a expectativa para o IPCA-15 de outubro, que deve acelerar para 0,51%, após registrar 0,13% em setembro.

Essa aceleração ocorre em meio a uma série de revisões para cima nas projeções de inflação para o ano. No acumulado de 12 meses, a taxa deve subir de 4,12% para 4,43%, impulsionada principalmente pelo aumento nas tarifas de energia elétrica e nos preços dos alimentos, como a carne, afetados pela estiagem no país.

Esse dado reforça a possibilidade de rompimento do teto da meta de inflação, justificando a continuidade do aperto monetário. Mesmo que o resultado venha abaixo do esperado, é pouco provável que evite uma alta de 50 pontos-base na próxima reunião de política monetária, em novembro. No entanto, a preocupação do Banco Central vai além da inflação corrente.

O que realmente preocupa é a deterioração das expectativas inflacionárias, em grande parte devido às incertezas fiscais, que têm mantido a curva de juros sob pressão constante. Ontem, o Ibovespa fechou em queda pela quinta sessão consecutiva, encerrando o dia a 129.233,11 pontos, seu nível mais baixo desde agosto, refletindo um clima de pessimismo generalizado. 

O cenário é agravado pelo chamado “Trump Trade“, com juros mais altos nos Estados Unidos, além das declarações mais duras de autoridades monetárias brasileiras, como Roberto Campos Neto e Paulo Pichetti, que reforçam a cautela em relação aos ativos de risco. Nesse contexto, o câmbio voltou a se desvalorizar, alcançando novamente a marca de R$ 5,70. A única solução viável para acalmar o mercado parece ser um ajuste fiscal focado na contenção de gastos. No entanto, como se sabe, qualquer movimento nesse sentido só deve ocorrer após o segundo turno das eleições, deixando o mercado em compasso de espera e ampliando as incertezas até lá.

· 01:44 — Pressão dos juros

Nos Estados Unidos, após semanas de relativa indiferença em relação ao mercado de títulos, as ações finalmente cederam diante do aumento nos rendimentos dos Treasuries.

Até o Nasdaq Composite interrompeu uma sequência de cinco dias de alta, enquanto o rendimento dos títulos do Tesouro de 10 anos subiu para 4,24%, refletindo uma pressão crescente no mercado de renda fixa. À primeira vista, esse movimento pode parecer inesperado, considerando o corte agressivo de meio ponto percentual realizado pelo Federal Reserve em setembro, seguido pela expectativa de um novo corte de um quarto de ponto na reunião de novembro.

No entanto, a razão por trás do aumento dos rendimentos dos títulos parece estar vinculada ao fortalecimento da economia americana. Atualmente, a estimativa do Nowcast do Fed de Nova York projeta um crescimento de 3%, enquanto o modelo GDPNow do Fed de Atlanta indica um crescimento ainda maior, de 3,4%. 

A preocupação central entre os investidores de títulos é que a inflação pode ser mais resistente do que o previsto, o que pode dificultar a trajetória de cortes de juros pelo Federal Reserve. Mesmo em um cenário de economia robusta, essa persistência inflacionária está pressionando os rendimentos dos Treasuries, enquanto impulsiona a dívida de alto rendimento.

Assim, o temor é que o Fed não consiga reduzir as taxas de juros tão rapidamente quanto o mercado vinha antecipando, gerando uma sensação de cautela. Por outro lado, a temporada de resultados corporativos tem mostrado resultados sólidos até agora, oferecendo um respiro para os mercados. Empresas que divulgaram bons resultados ontem ajudaram a melhorar o humor dos investidores nesta manhã, com sinais de recuperação dos índices. Tesla (TSLA34) foi o grande destaque, subindo dois dígitos no pre-market de hoje, animando os mercados. 

· 02:31 — Excepcionalismo americano

Os Estados Unidos estão se destacando em relação às demais economias avançadas do G7 e devem manter essa liderança em 2025, impulsionados por maiores investimentos, produtividade elevada e salários mais robustos, conforme aponta o último relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI). O Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA deve crescer 2,5% no quarto trimestre em comparação ao mesmo período do ano anterior, uma previsão 0,5 p.p. superior à estimativa de julho feita pelo próprio FMI. Em comparação, a economia chinesa deve registrar um crescimento de 4,5% este ano, enquanto a região europeia deve avançar modestos 1,2%.

O FMI atribui esse desempenho norte-americano ao aumento do investimento não residencial e ao fortalecimento dos gastos do consumidor, que impulsionaram a produtividade e o crescimento econômico a longo prazo. Diversos pacotes legislativos contribuíram para elevar os investimentos em energia verde e infraestrutura, enquanto a abundância de recursos energéticos domésticos protegeu as empresas dos EUA contra escassez e oscilações de preços, garantindo uma base sólida para o desenvolvimento. Naturalmente, temos a presença de gastos do governo aí no meio.

Além disso, a autoridade internacional destaca a formação bruta de capital fixo dos EUA com crescimento projetado de 4,5% para este ano, um ritmo mais de três vezes superior ao das demais economias avançadas e uma média anual de 3,3% no período de 2016 a 2025. Em contraste, o investimento na Alemanha deve recuar 2,7% neste ano, reforçando a discrepância entre os cenários. Esses dados refletem um verdadeiro sinal do excepcionalismo econômico americano, evidenciado pela capacidade de atrair investimentos e manter um crescimento sustentável mesmo diante de desafios globais.

· 03:24 — Trump Trade

Os juros dos Treasuries de 10 anos ultrapassaram a marca de 4,20% ontem, acompanhados por um aumento na volatilidade implícita dos títulos do Tesouro americano. O dólar também se fortaleceu globalmente, especialmente contra o iene japonês, enquanto as ações americanas mantêm uma tendência de alta.

Esses movimentos sugerem um “Trump Trade”, refletindo o crescente sentimento de que Donald Trump pode retornar à presidência dos Estados Unidos. No entanto, o que observamos até agora nos mercados pode ser apenas um prenúncio do que pode ocorrer se o republicano for de fato eleito para um segundo mandato.

A expectativa de uma nova administração Trump inclui cortes agressivos de impostos, o que poderia estimular o crescimento econômico americano no curto prazo, mas também aumentos significativos de tarifas, que pressionariam a inflação. Planos de deportações em massa poderiam gerar choques no mercado de trabalho, enquanto a desregulamentação seria vista como positiva para as ações. Isso sem falar na provável maior volatilidade geopolítica. Em resumo, o cenário atual dos juros pode ser apenas o início de uma mudança maior, impulsionada por esses fatores.

Nosso cenário-base continua a apontar para uma possível vitória de Trump, mas com um Congresso dividido, como tenho mencionado nos últimos meses. No entanto, o mercado já começa a considerar seriamente a possibilidade de um controle republicano tanto na Câmara quanto no Senado. Se essa hipótese se confirmar, poderemos ver movimentos significativos no mercado, reagindo à possibilidade de um aumento acentuado no déficit fiscal dos EUA, o que levaria o Federal Reserve a adotar uma postura mais cautelosa em relação aos cortes de juros no próximo ano.

Vale ressaltar que, mesmo sob um governo de Kamala Harris com um Congresso Democrata, a percepção de déficits maiores não seria muito diferente. A principal diferença reside na menor probabilidade de um domínio completo dos democratas, o que o mercado considera menos provável de acontecer e, por isso, precifica de forma distinta.

· 04:12 — As novas alianças globais: money talks, bullshit walks

O cenário geopolítico atual revela uma dificuldade crescente para os países escolherem aliados preferenciais, refletindo a ausência de uma liderança global clara e coesa. Uma pesquisa recente da Bloomberg ilustra bem essa situação ao questionar cinco países latino-americanos sobre suas preferências de alianças entre seis opções: EUA, União Europeia, China, Rússia, BRICS ou a neutralidade. Os resultados foram variados, evidenciando como o mundo multipolar de hoje incentiva uma postura mais pragmática e flexível.

Por exemplo, o México tende a se alinhar mais com os EUA, uma escolha natural devido à proximidade geográfica e à forte relação comercial — 85% das exportações mexicanas tiveram como destino os EUA no ano passado. Em contraste, o Brasil tem um bom motivo para não tomar partido (algo histórico em nosso país, inclusive), já que contamos com dezenas de parceiros comerciais. A China, o maior, e os EUA juntos respondem por apenas 42% das exportações do Brasil, ao passo em que o valor das remessas brasileiras para países não-alinhados, como Indonésia, Malásia, Vietnã, Turquia, Tailândia e Emirados Árabes Unidos, tem aumentado constantemente nos últimos anos, reforçando essa estratégia de diversificação.

Do ponto de vista econômico, essa neutralidade oferece vantagens, permitindo que o Brasil aproveite as oportunidades comerciais e de investimento que surgem de diferentes alianças globais. À medida que o cenário geopolítico se torna mais polarizado, alinhar-se exclusivamente a um bloco de poder pode limitar o acesso ao comércio e ao capital. Por essa razão, muitos países do Sul Global evitam tomar um partido claro no impasse entre EUA e China. Em essência, o pragmatismo está conduzindo a política externa de muitas nações, que buscam maximizar benefícios econômicos enquanto evitam o custo de se comprometerem com apenas um lado nessa disputa geopolítica. Money talks, bullshit walks.

· 05:03 — Eletrificação com resultado

Na noite passada, a Tesla (TSLA) divulgou seus resultados financeiros para o terceiro trimestre, superando as expectativas do mercado. A empresa registrou um aumento no lucro líquido, marcando o primeiro crescimento anual desde o segundo trimestre de 2023.

Com esses resultados positivos, a Tesla reafirmou sua meta de vender mais carros em 2024 do que no ano anterior e anunciou planos de iniciar a produção de um novo modelo de veículo de menor custo no primeiro semestre de 2025. As ações da empresa já subiram mais de 50% desde suas mínimas nos últimos 12 meses, levantando a questão: há mais espaço para crescimento?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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