Bom dia, pessoal.
Lá fora, os mercados asiáticos fecharam em baixa nesta quinta-feira, acompanhando as movimentações negativas de Wall Street durante o pregão de ontem, devido às preocupações contínuas dos investidores sobre as perspectivas para as taxas de juros e uma desaceleração econômica global. Ainda que uma postura mais agressiva quanto ao aperto monetário não seja retomada, restam dúvidas sobre a duração do processo.
Para piorar, as crescentes tensões geopolíticas entre Washington e Pequim nos últimos dias também estão pesando nos mercados — o líder democrata no Senado dos EUA, Chuck Schumer, descreveu como tensionado o estado das relações bilaterais, acrescentando que o governo Biden está analisando outras ações que pode tomar depois de derrubar o que chamou de balão de vigilância chinês no fim de semana.
Os mercados europeus e os futuros americanos sobem nesta manhã, mesmo depois da série de resultados corporativos mistos. Na agenda, contamos com falas de autoridades monetárias na Europa e dados de emprego nos EUA. Por aqui, ainda debatemos a troca de farpas entre o Executivo e o Banco Central — ontem tivemos a atuação de bombeiros para acalmar os ânimos. A temporada de resultados segue.
A ver…
· 00:56 — Os bombeiros foram acionados
No Brasil, o grande evento econômico do dia é a divulgação do IPCA, nosso índice de inflação oficial, para o mês de janeiro, que deverá reportar alta de 0,57% na comparação mensal, o que seria uma desaceleração frente ao 0,62% indicado no mês anterior. As vendas no varejo também estão na agenda, podendo impactar as varejistas listadas, mais voláteis desde o caso Americanas. Na frente de resultados corporativos, temos BB Seguridade antes da abertura e Bradesco depois do fechamento, um dia após a repercussão positiva dos números do Itaú (a ação subiu mais de 8%).
Mas como estamos falando do nosso querido país, nem só de fundamento vive o mercado. Precisamos de algum ruído para provar que somos uma economia emergente. E como não poderia deixar de ser, a volatilidade recente deriva justamente da confusão entre Lula e Roberto Campos Neto. Foi tão estressante os últimos dias, que os bombeiros tiveram que entrar em campo, com Alexandre Padilha e Rui Costa atuando para acalmar os ânimos, reforçando que o governo não vai mudar a regra de autonomia do BC. A negativa dos chefes do Legislativo também ajuda.
· 01:52 — Falas difusas
Nos EUA, as ações sofreram ontem, digerindo novos comentários do Federal Reserve e relatórios de resultados corporativos. Entre as falas das autoridades monetárias, destaque para a participação de membros do Conselho do Fed, como Christopher Waller e Lisa Cook, e presidentes regionais da instituição, como Neel Kashkari (Minneapolis) e John Williams (Nova York). Em todos os casos, a direção foi diferente do que Powell esboçou, dando um tom mais agressivo para a política monetária.
Eles lembraram que, caso as condições financeiras sejam afrouxadas prematuramente, taxas mais altas podem ser necessárias. Vemos que as condições financeiras estão melhorando desde outubro, o que nos parece um equívoco de precificação do mercado, dado que não vemos queda nos juros ainda em 2023. Em outras palavras, mais altas ainda são possíveis e os juros podem permanecer elevados por mais tempo.
Um juro entre 5% e 5,5% até o final do ano nos parece o mais provável — a taxa está hoje entre 4,50% e 4,75%. Para isso, precisamos de mais dados econômicos. Por isso será importante acompanharmos os números do Departamento do Trabalho americanos hoje, que divulgará os pedidos iniciais de auxílio-desemprego. O relatório deve registrar média semanal de 191,75 mil em janeiro.
· 02:53 — Mais demissões
Ainda em solo americano, nesta temporada de resultados, as empresas relataram números relativamente mais fracos nos últimos três meses de 2022, à medida que os custos crescentes comiam suas margens (o lucro por ação do S&P 500 no quarto trimestre está em queda de 2,9% em relação ao mesmo período do ano anterior — excluindo o setor de energia, os ganhos caíram 7,1% na comparação anual). Hoje teremos a digestão dos dados da Disney, que sobe mais de 6% do pre-market desta manhã (a companhia surpreendeu positivamente o mercado com seus resultados).
O destaque, porém, ficou para o anúncio de corte de cerca de 7 mil empregos, naquilo que Bob Iger, o CEO da companhia, chamou de transformação significativa na estrutura corporativa da Disney — se trata de 3% do total de funcionários. Olhando para frente, a empresa planeja economizar US$ 5,5 bilhões em despesas. Consequentemente, teremos o retorno do dividendo. Vemos que os anúncios de perda de empregos ainda podem ter um impacto econômico relevante, dado que a rotatividade do mercado de trabalho pós-pandemia foi significativa.
· 03:44 — Inflação na Europa
Como esperado, a inflação na Alemanha voltou a subir em janeiro, registrando alta de 1% na comparação mensal e 8,7% na comparação anual, o que se traduz em uma aceleração. O movimento chama a atenção e conversa com os alertas do BCE de que o aperto dos juros ainda não acabou — de maneira similar como vimos na Espanha, a inflação se mostra mais resiliente na Zona do Euro (estamos com um viés negativo em termos de dados econômicos por lá). Mesmo assim, as Bolsas sobem nesta manhã.
Enquanto isso, no Reino Unido, o governador do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, testemunhará ao Parlamento Britânico hoje, com os mercados sentindo que o pico do ciclo de taxas do Reino Unido está próximo — nas próximas semanas, considerando o ritmo das coisas, será o nosso presidente do BC que testemunhará no Congresso, buscando explicar a taxa de juros elevada. Ainda na Europa, contamos com vários palestrantes do BCE, o que pode eventualmente causar uma volatilidade marginal.
· 04:33 — Tentando impulsionar a economia
Seguindo no Reino Unido, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, planeja uma remodelação de seu gabinete depois de concluir 100 dias difíceis no cargo. Sunak nomeará um novo presidente do Partido Conservador depois de demitir Nadhim Zahawi, que responde à justiça por um escândalo fiscal, e está sob pressão para reconsiderar a decisão de nomear Dominic Raab como vice-primeiro-ministro e secretário de Justiça, diante a investigação sobre alegações de assédio. O governo inglês já viu dias melhores.
A ideia é que as remodelações possam dar mais dinamismo ao governo, ao passo em que também rotacionam um pouco as lideranças do partido Conservados, hoje tão dividido. Essa nova dinâmica teria o objetivo de impulsionar a economia lenta do país e tornar o Reino Unido uma superpotência de ciência e tecnologia. O problema do crescimento é global, principalmente com taxas de juros tão elevadas. O que vivemos no Brasil, portanto, não é algo isolado, mas fruto do aperto monetário pós-pandêmico.
Um abraço,
Matheus Spiess