Os mercados internacionais continuam reagindo à decisão de Pequim, anunciada ontem (9), de implementar novos estímulos destinados a revitalizar o setor imobiliário e o mercado acionário. Apesar do entusiasmo inicial registrado na segunda-feira, as ações chinesas devolveram parte dos ganhos, refletindo a cautela dos investidores, que aguardam a efetiva materialização das promessas.
Além disso, os dados de novembro mostraram uma queda nas importações e um avanço tímido nas exportações, também contribuindo para esse arrefecimento. Essa mesma dinâmica é visível na Europa, onde mineradoras registram perdas nesta manhã, puxando os índices europeus para baixo.
No Brasil, deverá ser possível observar um movimento semelhante entre as ações que tiveram altas expressivas ontem, com os investidores ajustando suas posições. Nos Estados Unidos, os futuros indicam queda após a correção de ontem, enquanto os agentes aguardam o dado de inflação que será divulgado amanhã (11). Esse indicador será crucial para alinhar as expectativas em relação ao ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve, em um momento de atenção renovada sobre a política monetária americana.
Adicionalmente, a manhã começou com a notícia de que o presidente Lula foi submetido a uma cirurgia em São Paulo, no Hospital Sírio-Libanês, após relatar dores de cabeça. O procedimento, segundo informações oficiais, está relacionado a uma hemorragia intracraniana decorrente da queda sofrida em outubro. Lula permanece internado em estado estável. Esse episódio médico chama atenção, especialmente considerando a idade avançada do presidente e o peso físico e mental de liderar um país com as proporções e complexidades do Brasil. Para um homem que já manifesta intenção de buscar a reeleição, tais questões de saúde não são triviais e tendem a se tornar um ponto de atenção crescente para a opinião pública e o mercado.
· 00:59 — Elevado nível de estresse
Por aqui, o destaque do dia é a divulgação do IPCA de novembro, que deve desacelerar de 0,56% para 0,36%. Mesmo que o índice surpreenda para baixo, é improvável que isso altere a rota já traçada pelo Copom, cuja reunião começa hoje e se encerra amanhã. A desancoragem das expectativas inflacionárias, evidenciada novamente pelo Boletim Focus de ontem, torna uma alta de 100 pontos-base na Selic uma expectativa cada vez mais consensual no mercado. Caso essa alta não se concretize, o impacto sobre os ativos locais pode ser ainda mais negativo. No entanto, optar por esse movimento agora cria um problema adicional: se o BC sobe 100 pontos nesta reunião, será praticamente obrigado a manter esse tom em janeiro, quando Gabriel Galípolo assumirá sua primeira reunião como presidente do Banco Central.
Essa dinâmica é especialmente preocupante para o serviço da dívida pública, agravando a já delicada situação fiscal. Estamos entrando em uma perigosa espiral reflexiva, onde a realidade e a percepção do mercado interagem de maneira negativa, alimentando uma deterioração mútua. A curva de juros reflete esse estresse, precificando uma Selic terminal acima de 15%. Embora não seja garantido que alcancemos esse patamar, esses números ilustram o nível de preocupação dos investidores, enquanto aguardamos avanços concretos na aprovação do pacote fiscal. A situação política também não colabora, com o Congresso demonstrando insatisfação com as exigências do ministro Flávio Dino (STF) para liberar as emendas parlamentares, ampliando o atrito entre Legislativo e Executivo. Essa tensão contribuiu para mais estresse nos juros, enquanto o dólar atingiu novo recorde nominal.
Como se não bastassem os desafios econômicos e políticos, o pano de fundo se torna ainda mais complicado com a saúde do presidente Lula. Ontem, após relatar incômodos, uma ressonância magnética revelou uma hemorragia intracraniana decorrente da queda sofrida em outubro, antes do segundo turno das eleições. O presidente foi submetido a uma cirurgia de emergência no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e, segundo informações oficiais, o procedimento foi bem-sucedido. Lula está estável na UTI, mas o episódio não é trivial, especialmente considerando sua idade e o estresse acumulado no exercício da presidência.
Essa condição de saúde coloca em dúvida a viabilidade de uma candidatura à reeleição em 2026, sugerindo um cenário que pode lembrar o de Joe Biden nos Estados Unidos, com questionamentos sobre a capacidade física de enfrentar os desafios de um segundo mandato.
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· 01:46 — E a Reforma Tributária?
Pensar que a pauta política em Brasília se limita à discussão sobre o controle do crescimento dos gastos públicos é um erro de percepção. A lentidão do governo em avançar com essa proposta ao longo de novembro, combinada com a polêmica sobre as emendas parlamentares no Supremo Tribunal Federal (STF), complicou ainda mais a já congestionada agenda do Congresso. Agora, uma série de temas urgentes precisa ser resolvida em um prazo apertado. Além de discutir o pacote fiscal, os parlamentares terão de deliberar sobre as indicações para a diretoria do Banco Central (hoje no Senado), a reforma tributária e outras prioridades legislativas de grande impacto.
Sobre a reforma, o senador Eduardo Braga, relator do projeto, apresentou um parecer que propõe mudanças no texto aprovado anteriormente pela Câmara dos Deputados. Entre as principais alterações está o aumento de 0,13 pontos percentuais na alíquota média do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que passaria de 27,97% para 28,1%. Além disso, o relatório inclui mecanismos mais rígidos para casos em que a alíquota ultrapasse o teto de 26,5% estabelecido pela Câmara.
Nessas situações, caberia ao Poder Executivo enviar um projeto de lei complementar ao Congresso, propondo ajustes na alíquota e revisando os regimes tributários beneficiados. Apesar dessas modificações, a ala econômica do governo afirmou que o parecer de Braga introduz poucas alterações às exceções previstas na reforma tributária e terá impacto mínimo na alíquota calculada pela Fazenda. Ainda que a reforma esteja muito longe da ideal, ela representa um avanço em direção a um sistema fiscal mais eficiente e previsível.
· 02:35 — Esperando pela inflação
Nos Estados Unidos, os investidores estão aproveitando o início da semana para realizar lucros após uma sequência notável de altas nos mercados. Esse movimento de ajuste reflete uma postura de cautela, enquanto o foco se volta para a aguardada divulgação dos dados de inflação do índice de preços ao consumidor (CPI), prevista para esta quarta-feira. A expectativa é de que os números de novembro apresentem mais um mês de progresso limitado em direção à meta de 2% do Federal Reserve.
Espera-se que o índice registre um aumento de 0,2% na comparação mensal, marcando o quinto mês consecutivo nesse ritmo, o que levaria a taxa anual para 2,7% em novembro, ligeiramente acima dos 2,6% observados em outubro. Apesar disso, o mercado continua precificando um corte de 25 pontos-base na taxa de juros na semana que vem. Paralelamente, os investidores começam a ajustar suas expectativas para a política monetária em 2025, à medida que avaliam os possíveis desdobramentos do cenário econômico e as decisões futuras do Federal Reserve.
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· 03:21 — O otimismo pode continuar?
Ainda nos EUA, uma questão ganha destaque: o otimismo dos empresários poderá impulsionar uma aceleração econômica significativa? O próximo ano promete ser um teste crucial para essa visão de “excepcionalismo americano”, especialmente com o início do segundo mandato de Donald Trump. O mercado parece abraçar a narrativa de que uma combinação de impostos mais baixos, desregulamentação federal e uma política comercial voltada para a valorização da produção doméstica poderia criar uma economia robusta, capaz de beneficiar amplamente diversos setores. Até mesmo o delicado cenário fiscal tem sido observado com um olhar mais esperançoso, dada a escolha de Scott Bessent para o Tesouro e de Elon Musk para liderar iniciativas de Eficiência Governamental (um direcionamento pragmático e potencialmente inovador).
Essa configuração sugere a possibilidade de medidas mais ousadas e criativas para lidar com os desafios econômicos e fiscais do país. No entanto, a grande questão permanece: essa onda de renovado otimismo empresarial, traduzida em “espíritos animais” do mercado, será suficiente para catalisar uma expansão econômica concreta e sustentável? Caso se materialize, os Estados Unidos poderão consolidar ainda mais sua posição como uma economia excepcional no cenário global.
· 04:12 — Transbordo no Oriente
Ontem, mencionei o colapso do regime da família Assad na Síria, encerrando 50 anos de domínio com o presidente Bashar al-Assad buscando asilo na Rússia após a invasão de Damasco por uma coalizão de grupos rebeldes. Essa ofensiva relâmpago trouxe um fim abrupto à guerra civil síria, que se estendeu por 13 anos e devastou o país.
A fragilidade de apoiadores de Assad, como o Hezbollah e a Rússia — esta atolada em sua campanha na Ucrânia —, foi determinante para esse desfecho, em um contexto de mudanças geopolíticas significativas após os ataques terroristas do Hamas contra Israel em outubro de 2023. Entretanto, o custo dessa guerra para a Síria foi astronômico. O PIB nacional despencou 54% entre 2010 e 2021, a inflação atingiu níveis alarmantes, e o mercado negro se tornou uma força dominante, alimentado pela produção e tráfico de drogas ilícitas. Portanto, a saída de Assad, por si só, não resolve a situação do país, que continua mergulhado em colapso econômico e social.
Além disso, o futuro da Síria sob o controle do grupo rebelde radical Hayat Tahrir al-Sham (HTS) levanta preocupações. O HTS, conhecido por suas ideologias extremistas, está longe de ser uma solução ideal para estabilizar uma nação em ruínas. O cenário atual sugere que a luta pelo poder entre facções na região pode desencadear uma nova onda de refugiados, aprofundando ainda mais a crise humanitária. Por outro lado, esse desenrolar reflete o enfraquecimento do chamado “Eixo do Mal”, composto por Irã e Rússia, entre outros, cujos pilares foram significativamente abalados por esses eventos. [
Assim, paralelamente aos eventos na Síria, parece haver abertura de espaço para avanços diplomáticos: existe a possibilidade de que o Fatah e o Hamas cheguem a um consenso para formar um governo pós-guerra em Gaza, estruturado por um comitê de tecnocratas, pondo fim a 17 anos de domínio do Hamas sobre o território. Embora ainda seja incerto, tal acordo poderia sinalizar um novo capítulo para a região (poderia ser uma boa notícia).
· 05:07 — Ainda aquecido
Os preenchimentos de receitas para medicamentos destinados à perda de peso, como Ozempic e Wegovy, da Novo Nordisk, e Zepbound, da Eli Lilly, mais que dobraram nos Estados Unidos este ano. Mesmo sem ampla cobertura pelos seguros de saúde, muitos americanos continuam pagando do próprio bolso cerca de US$ 1.000 mensais para ter acesso a essas injeções.
A demanda por esses tratamentos ultrapassa significativamente a oferta, com aproximadamente 25 mil novos pacientes iniciando o uso semanalmente. Apesar desse crescimento exponencial no consumo, as ações do setor de saúde não estão refletindo o mesmo entusiasmo.