Investimentos

IPCA de setembro, S&P 500 batendo recordes e ata de reunião do Fed: confira os principais destaques econômicos desta quarta-feira (9)

O mercado aguarda a ata de dirigentes do Fed e o resultado do IPCA de setembro nesta quarta-feira (9).

Por Matheus Spiess

09 out 2024, 09:01 - atualizado em 09 out 2024, 09:01

ibovespa B3 3t24 terceiro trimestre

Imagem: Paralaxis

Ontem (8), as gigantes da tecnologia impulsionaram o S&P 500, levando o mercado de ações dos EUA a se recuperar após sua pior sessão em um mês.

O índice S&P 500 subiu 1%, aproximando-se significativamente de suas máximas históricas, com a Nvidia (NVDC34) liderando os ganhos. No entanto, enquanto o setor de tecnologia se destacou, as ações de energia recuaram em meio à queda do petróleo, e as ações chinesas listadas nos EUA também registraram perdas, refletindo a decepção do mercado com o governo de Pequim, que não anunciou novos estímulos econômicos como era esperado.

A pressão no mercado asiático foi significativa, afetando diretamente o petróleo, que se vê dividido entre as preocupações com o enfraquecimento das perspectivas econômicas da China e os riscos geopolíticos persistentes no Oriente Médio. Especulações de que Israel não pretende atacar as instalações nucleares do Irã contribuíram para a queda de mais de 4% no preço do petróleo na terça-feira.

Hoje (9), o foco está voltado para a ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto dos EUA, que será divulgada à tarde, além dos discursos de autoridades monetárias, com uma expectativa de desaceleração no ritmo de corte de juros já em novembro, conforme os dados recentes indicam. No Brasil, após a aprovação de Gabriel Galípolo para o Banco Central, o destaque do dia será a divulgação dos dados de inflação de setembro, que devem apontar para uma nova aceleração dos preços.

A ver…

· 00:51 — Terno institucional

No Brasil, o atual diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, foi aprovado por unanimidade pela Comissão de Assuntos Econômicos para assumir a presidência da instituição a partir do próximo ano, demonstrando uma habilidade política notável — algo que provavelmente será essencial nos desafios futuros. A aprovação no plenário veio com apenas cinco votos contrários, reforçando seu respaldo político. Durante a sabatina, não houve grandes surpresas. Galípolo vestiu o terno institucional, como esperado, reiterando seu compromisso com a meta central de inflação, o respeito ao rigor técnico da instituição e a proteção da autonomia do Banco Central. Um discurso que agradou ao mercado, mas já estava amplamente precificado.

Agora, o verdadeiro teste virá quando ele assumir o comando em 2025, com desafios como a conclusão do ciclo de aperto monetário, que começou recentemente, e possivelmente o início de cortes de juros antes do final do ano. Além disso, o aprofundamento do debate sobre inovação tecnológica no Banco Central e a questão da autonomia orçamentária, adiada para o próximo ano, também exigirão sua atenção. 

Antes disso, hoje será divulgado o IPCA de setembro, que deve mostrar aceleração para 0,45% na variação mensal, após a queda de 0,02% em agosto. Para o acumulado em 12 meses, a mediana das expectativas aponta para uma alta de 4,44%, acima dos 4,24% de agosto, aproximando-se novamente do teto da meta. Diante desse cenário, é quase certo que o ritmo do aperto monetário se intensifique em novembro, com uma expectativa de alta de 50 pontos-base.

· 01:43 — A ata

Nos EUA, está prevista para hoje a divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve, realizada nos dias 17 e 18 de setembro. Esse encontro marcou o primeiro corte nas taxas de juros em quatro anos, com uma redução de 50 pontos-base. Embora o tom do documento não deva alterar a expectativa geral de novos cortes de juros, ele pode trazer mais clareza sobre o ritmo dessa flexibilização, uma vez que o Fed ainda enfrenta o desafio de lidar com uma inflação em desaceleração.

Contudo, desde essa reunião, os dados de empregos de setembro surpreenderam positivamente, sendo muito mais robustos do que o previsto. Isso torna algumas das análises econômicas e do mercado de trabalho apresentadas na ata um tanto desatualizadas. Além disso, o modelo GDPNow do Fed de Atlanta elevou sua estimativa de crescimento real do PIB dos EUA no terceiro trimestre de 2024 para uma taxa anualizada de 3,2%, o que reforça a percepção de uma economia ainda aquecida.

Além da ata do Fed, os investidores também estão atentos a outros acontecimentos relevantes. Há especulações de que o Departamento de Justiça dos EUA pode exigir a divisão do Google, em uma possível ação antitruste. E, no cenário climático, o furacão Milton, a tempestade mais intensa no Golfo do México desde 2005, está previsto para atingir a Flórida ainda hoje à noite, levando milhões de pessoas a deixarem suas casas em busca de segurança — em ano eleitoral, esse tipo de evento muda o jogo.

· 02:31 — Déficit

O governo dos Estados Unidos encerrou o ano fiscal de 2024 com um déficit de US$ 1,83 trilhão, segundo o mais recente relatório do Congressional Budget Office. Durante esse período, o país arrecadou US$ 4,92 trilhões, mas suas despesas totalizaram US$ 6,75 trilhões, superando o déficit de US$ 1,7 trilhão registrado em 2023. Esse é o maior déficit anual dos últimos três anos, evidenciando que os legisladores negligenciaram o crescente rombo fiscal, mesmo diante de decisões orçamentárias críticas que se aproximam em 2025. O aumento expressivo no déficit, próximo de US$ 2 trilhões, foi impulsionado principalmente por maiores gastos com programas voltados à população idosa e por aumentos significativos nos pagamentos de juros.

Esse cenário é especialmente preocupante, pois os déficits costumam aumentar em períodos de crise, como guerras, recessões ou pandemias, quando o governo precisa injetar recursos para sustentar a economia. No entanto, ver um déficit tão elevado em um momento em que a economia está relativamente forte preocupa os setores mais fiscalmente conservadores em Washington, que argumentam que os gastos do governo estão fora de controle — uma visão com a qual concordo. Nos anos de expansão econômica do início dos anos 1990, a dívida federal representava cerca de um terço do PIB dos EUA. Agora, com projeções para 2027, a dívida deve atingir 106% do PIB.

Essa aparente falta de compromisso com a responsabilidade fiscal entre os países desenvolvidos talvez ajude a explicar a confusão observada em agências de classificação de crédito, como a Moody’s, em relação às notas atribuídas a economias emergentes, como o Brasil. As referências de o que constitui um bom pagador parecem estar se perdendo. A situação se agrava ainda mais quando percebemos que nenhum dos candidatos presidenciais dos EUA, Donald Trump ou Kamala Harris, tem dado prioridade à redução do déficit. Pelo contrário, ambos apresentaram propostas econômicas que, se aprovadas, aumentariam ainda mais a dívida nacional, que já alcança US$ 35,7 trilhões. Ou seja, esse déficit não deverá ser reduzido tão cedo.

· 03:20 — O Nobel da nova tecnologia

O renomado especialista em machine learning, Geoffrey Hinton, foi nomeado co-vencedor do Prêmio Nobel de Física, reconhecido por seu trabalho pioneiro iniciado nos anos 1980, que resultou em tecnologias que hoje ele acredita que precisam ser regulamentadas. Hinton compartilha o prêmio e o valor de US$ 1 milhão com outro grande pioneiro da área, John Hopfield, cujas contribuições foram fundamentais para a pesquisa de Hinton sobre redes neurais — a base para a inteligência artificial moderna, incluindo ferramentas como o ChatGPT.

Conhecido como o “padrinho da IA”, Hinton deixou o Google no ano passado, após mais de uma década na empresa, afirmando que se arrepende parcialmente do rumo que seu trabalho tomou. Ele tem defendido que as grandes empresas de tecnologia reduzam o ritmo de desenvolvimento da IA e avaliem cuidadosamente seus riscos. Ao receber o prêmio, Hinton reiterou sua preocupação de que sistemas mais inteligentes do que os humanos possam, no futuro, escapar ao nosso controle.

Por sua vez, Hopfield, que também foi um dos primeiros a defender uma regulamentação mais rígida para a IA, comparou essa tecnologia ao poder nuclear, destacando seu potencial tanto para beneficiar quanto para prejudicar a civilização.

· 04:18 — E por falar em IA…

Os modelos de inteligência artificial são treinados com vastas quantidades de dados, que vão desde bilhões de artigos na web até livros e imagens. Essa prática, no entanto, desencadeou uma série de processos por violação de direitos autorais, com figuras de destaque iniciando batalhas jurídicas que podem estabelecer precedentes importantes. Como resultado, aproximadamente 90% dos grandes veículos de notícias já bloqueiam rastreadores de IA de empresas como OpenAI, Anthropic e Nvidia, em uma tentativa de impedir que seu conteúdo seja extraído para treinamento.

À medida que essas reivindicações de violação de direitos autorais ganham força, as empresas de IA têm começado a firmar grandes acordos de licenciamento de conteúdo para evitar complicações legais futuras. Este ano, a OpenAI anunciou uma parceria com a News Corp, dona do Wall Street Journal, permitindo o uso dos artigos da editora tanto para responder a perguntas quanto para treinamento de seus modelos.

Em um movimento semelhante, a OpenAI fechou no ano passado um acordo com Axel Springer (proprietária do Business Insider e Politico), para utilizar seu conteúdo no ChatGPT. Em maio, a empresa também anunciou que licenciaria dados do Reddit, e no mês passado o estúdio Lionsgate deu à startup de IA de vídeos Runway acesso à sua vasta biblioteca de filmes. Com isso, acordos de licenciamento tendem a se tornar cada vez mais comuns, à medida que as empresas de IA buscam se proteger legalmente.

· 05:06 — Mudança de rota

Em 2020, a BP (originalmente British Petroleum) se comprometeu a reduzir sua produção de petróleo e gás em 40% até 2030, uma meta amplamente considerada a mais ambiciosa do setor. No entanto, essa meta foi revisada no ano passado para uma redução de 25%.

Agora, a BP está buscando aumentar sua produção, investindo em três novos projetos no Iraque e no redesenvolvimento de…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.