Investimentos

Juros nos EUA, Selic e petróleo: veja os principais eventos do mercado financeiro nesta quinta-feira (19)

Como previsto, o Federal Reserve cortou sua taxa de juros em 50 pontos-base na tarde de ontem (19), ajustando-a para a faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano

Por Matheus Spiess

19 set 2024, 08:59 - atualizado em 20 set 2024, 08:56

rali de fim de ano Bolsa

Imagem: Freepik

Como previsto, o Federal Reserve cortou sua taxa de juros em 50 pontos-base na tarde de ontem (19), ajustando-a para a faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano. Apenas um dos membros do comitê votou por um corte mais moderado de 25 pontos-base.

Contudo, conforme mencionei anteriormente, o mais relevante era o início do ciclo de flexibilização monetária e a trajetória futura, mais do que a magnitude do corte inicial.

A reação imediata foi relativamente cautelosa, marcada por volatilidade e um movimento de realização de lucros, típico do cenário “sobe no boato e cai no fato” — um clichê, mas ainda aplicável.

No entanto, o panorama já mudou nesta quinta-feira, com os mercados asiáticos e europeus operando em alta, assim como os futuros americanos, impulsionados pela expectativa de novos cortes à frente e pela confiança de que o Fed está conseguindo afastar o risco de uma recessão. É o tão desejado “soft landing”.

Enquanto isso, o preço do petróleo retomou sua trajetória de alta, mesmo após a pressão negativa de ontem devido às preocupações com a demanda. O Brent já se aproxima novamente dos US$ 75 por barril. Novas explosões na região do Oriente Médio, desta vez envolvendo walkie-talkies, em vez de pagers, estão aumentando as tensões na região.

Apesar disso, a alta do petróleo não parece estar prejudicando o apetite por ativos de risco.

Na agenda econômica, além da digestão da decisão do Fed, há movimentações importantes vindas do Banco da Inglaterra, que optou por manter sua taxa de juros em 5%. Membros do Banco Central Europeu discursam hoje, e espera-se que comentem os desdobramentos da tão aguardada decisão do Fed. No Brasil, o foco se volta para nossa própria reunião de política monetária, que seguiu uma direção oposta à vista nos EUA.

A ver…

· 00:56 — Contracionista e na contramão

No Brasil, o Ibovespa perdeu o patamar dos 134 mil pontos ontem, em meio a uma sessão marcada pela volatilidade, após o Federal Reserve (Fed) cortar sua taxa de juros em 0,50 ponto percentual, colocando-a entre 4,75% e 5% ao ano — a primeira redução significativa em um longo período. Apesar do impulso positivo vindo do exterior, o mercado local não conseguiu se desvencilhar do pessimismo, principalmente devido à grande expectativa em torno da decisão do Banco Central do Brasil, que veio conforme o esperado: um aumento de 25 pontos-base na Selic, elevando-a para 10,75%.

O comunicado que acompanhou a decisão trouxe um tom claramente “hawkish” (contracionista), embora não tenha plenamente atendido às expectativas dos que defendiam três elevações de 50 pontos ainda este ano. Agora, o ritmo e a intensidade dos próximos ajustes na taxa de juros dependerão da evolução da inflação. Além disso, permanecem em destaque as questões fiscais, que continuam sendo um dos principais desafios do Brasil, e o ritmo de cortes de juros nos países desenvolvidos.

O comunicado do Banco Central trouxe algumas novidades importantes. O BC reconheceu que o balanço de riscos para a inflação agora é assimétrico para cima e destacou que o hiato do produto, que estava próximo da neutralidade, se tornou positivo. A sugestão de que a economia doméstica está crescendo acima de seu potencial já era amplamente esperada, especialmente após o forte crescimento de 1,4% do PIB no segundo trimestre. O fato de a decisão ter sido unânime também foi positivo, evitando a desordem observada em ocasiões anteriores, como em maio. Esse alinhamento é crucial para a manutenção da credibilidade, especialmente no contexto de transição de liderança no BC, de Roberto Campos Neto para Gabriel Galípolo.

Olhando à frente, o Banco Central manteve suas opções em aberto, sem oferecer um “forward guidance”, o que é visto como positivo, já que em ocasiões anteriores essa estratégia não funcionou como esperado. Esperamos pelo menos mais duas altas de 25 pontos-base, o que deve levar a Selic a 11,25% até o final do ano. Com isso, o BC ganha tempo enquanto a economia local desacelera, a inflação converge e o Fed ajusta sua política monetária.

Embora o aumento da Selic e o tom agressivo possam ajudar a valorizar o real, o compromisso com a disciplina fiscal continua sendo fundamental para sustentar essa apreciação. Ontem, o Tribunal de Contas da União (TCU) alertou novamente o Ministério da Fazenda sobre o risco de frustração de receitas com o Carf e a possibilidade de não cumprir a meta fiscal. Sem cortes de gastos, o aperto monetário sozinho será ineficaz. Vale ficar atento ao Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do quarto bimestre, que será divulgado amanhã.

· 01:45 — E o ciclo foi iniciado

Nos Estados Unidos, o Federal Reserve reduziu sua taxa básica de juros em meio ponto percentual ontem, colocando-a entre 4,75% e 5,00% ao ano, iniciando assim uma nova fase do ciclo de política monetária. O mercado estava dividido entre a expectativa de um corte de 25 ou 50 pontos-base, mas o movimento mais arrojado prevaleceu.

Agora, o foco do banco central parece estar voltado para o mercado de trabalho, que dá sinais de desaceleração, enquanto a inflação, embora ainda elevada, se aproxima da meta anual de 2%. Esse corte marca um ponto de inflexão importante, uma vez que as taxas permaneceram inalteradas desde julho de 2023. O consenso entre os membros do comitê foi notável, com a decisão sendo quase unânime, refletindo uma clara direção.

Também divulgado ontem, o novo gráfico de pontos do Fed, que traça as expectativas dos membros, indica uma meta de taxa de 4,25% a 4,5% até o final de 2024, o que é um pouco mais rígido do que os mercados esperavam, mas significativamente abaixo da previsão anterior, que estimava 5,0% a 5,25% em junho. Isso sugere que ainda há espaço para cortes adicionais, seja dois cortes de 25 pontos em novembro e dezembro ou um único corte de 50 pontos em um dos dois meses.

Pessoalmente, prefiro o gradualismo com cortes menores, mas dada a tendência de erros nas previsões anteriores do gráfico de pontos, não seria surpreendente se o Fed mantivesse o ritmo e optasse por uma redução de 50 pontos em novembro, seguida de uma desaceleração em dezembro, com um corte de 25 pontos, totalizando uma queda de 125 pontos em 2024. Naturalmente, o ciclo deverá continuar em 2025, com os próximos cortes sendo ajustados de acordo com os dados econômicos futuros.

De qualquer modo, o ponto crucial foi o início do ciclo de corte de juros. Além disso, a postura de Jerome Powell, presidente do Fed, foi equilibrada durante sua coletiva de imprensa, nem excessivamente cautelosa, nem agressiva. Ele adotou um tom otimista em relação às perspectivas econômicas, demonstrando confiança na capacidade do banco central de lidar com eventuais fraquezas. Havia temores de que um corte tão expressivo pudesse sinalizar um receio do Fed em relação à economia, mas Powell foi claro ao dizer que a probabilidade de recessão ou desaceleração significativa ainda não é elevada.

Com a economia crescendo a um ritmo sólido, a inflação em queda e o mercado de trabalho ainda robusto, o corte de 50 pontos pareceu ser uma correção do fato de que o Fed poderia ter iniciado essa flexibilização já em julho. Powell destacou que cortes dessa magnitude não serão garantidos nos próximos meses, pois as decisões continuarão sendo guiadas pelos dados econômicos.

A decisão reforça o cenário de um “soft landing”, ou “Goldilocks”, onde a economia consegue desacelerar suavemente sem entrar em recessão, o que deve ser positivo para os ativos de risco no último trimestre.

· 02:32 — Risco de shutdown mais uma vez?

Nos Estados Unidos, com a aproximação da paralisação do governo em 1º de outubro e as eleições de novembro no horizonte, o presidente da Câmara, Mike Johnson, apresentou uma proposta ousada. Ele sugeriu vincular um novo projeto de financiamento governamental de seis meses a uma medida de segurança eleitoral que exigiria prova de cidadania para votar, uma resposta a preocupações de longa data dos republicanos sobre o risco de não cidadãos participarem das eleições.

Essa proposta foi amplamente apoiada por Donald Trump, que baseou grande parte de sua plataforma política em torno de questões relacionadas à imigração ilegal. Trump chegou a sugerir uma paralisação do governo caso o Congresso não aprovasse essa medida. Não custa lembrar que, desde 1980, o governo federal dos EUA já passou por 14 paralisações, sendo a mais recente em 2018-19, durante o governo Trump, que durou 34 dias e gerou um custo estimado de US$ 11 bilhões.

Contudo, a estratégia de Johnson parece ter falhado. Os democratas pressionam para que ele trabalhe em um projeto bipartidário de financiamento, separado das medidas eleitorais.

Além disso, alguns legisladores republicanos também se opõem à proposta — uns por acreditarem que ela não aborda adequadamente a questão do déficit, e outros por considerar que ela congelaria o orçamento do Pentágono nos níveis atuais, prejudicando os planejadores de defesa. Diante da falta de apoio necessário, Johnson retirou o projeto de votação, mas planeja renegociar com os dissidentes e, eventualmente, prosseguir com uma nova tentativa de aprovação.

No entanto, com uma maioria republicana tão estreita, essa estratégia se torna arriscada. O impasse deixa ambos os partidos em uma posição delicada, tentando evitar uma paralisação do governo, algo profundamente impopular e que ocorreria a poucas semanas das eleições, um cenário que poderia prejudicar tanto os democratas quanto os republicanos, especialmente Trump.

· 03:21 — Movimentações no mercado de café

O café produzido em países como Peru, Tailândia e outros pequenos produtores, antes considerado um luxo para consumidores que buscavam grãos exóticos, pode se tornar fundamental para o futuro da indústria cafeeira em meio às mudanças climáticas. Embora o café seja cultivado em cerca de 40 países, mais da metade da produção global está concentrada no Brasil e no Vietnã. Essa dependência de grandes produtores torna o mercado vulnerável à instabilidade climática, que frequentemente afeta suas colheitas, resultando em flutuações expressivas nos preços globais. Diante desse cenário, investimentos em países alternativos têm se intensificado, reforçando a necessidade de diversificar as fontes de produção do café.

Várias empresas já estão agindo em resposta a essa realidade. No primeiro semestre, a Volcafe garantiu um financiamento de US$ 60 milhões para expandir suas operações na África Oriental. Outro exemplo é a Starbucks, que tem apoiado produtores no Peru, Ruanda e Tanzânia com o fornecimento de mudas e concessão de empréstimos. A Lavazza, por sua vez, está envolvida em um projeto de 20 anos para reviver a indústria cafeeira em Cuba, que entrou em declínio após a Revolução Cubana nos anos 1950. Da mesma forma, até a Nespresso, marca da Nestlé, anunciou um investimento de US$ 20 milhões no setor cafeeiro da República Democrática do Congo neste ano.

Embora esses esforços representem passos importantes para diversificar a cadeia global de suprimentos de café, os consumidores não devem esperar uma queda nos preços no curto prazo, já que a indústria ainda enfrenta desafios a nível global.

· 04:18 — Mudança na BlackRock

Pela terceira vez consecutiva, a BlackRock diminuiu seu apoio às propostas de acionistas voltadas para questões ambientais e sociais, categorizadas sob a sigla ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa), um tema que ganhou grande relevância nos últimos anos, mas que vem perdendo espaço. Segundo a gestora, muitas dessas propostas não estão alinhadas com os interesses financeiros de longo prazo e não trazem melhorias significativas para as empresas. Nos 12 meses encerrados em junho, a BlackRock apoiou apenas 4% das 493 propostas ESG, uma queda em relação aos 7% do ano anterior e muito distante dos mais de 20% registrados em 2022.

Em contrapartida, a gestora ampliou seu foco em governança corporativa, apoiando 21% das propostas nesse campo, um crescimento de 10 pontos percentuais na comparação anual. Como maior gestora de ativos global, a BlackRock vem ajustando suas estratégias à medida que os mercados enfrentam uma nova fase de incerteza, com a proximidade dos cortes de juros pelo Federal Reserve e das eleições presidenciais nos EUA. Embora o cenário de mercado ainda seja de alta, a gestora adotou uma postura mais conservadora, diminuindo sua exposição em ações de crescimento nos EUA e priorizando papéis de valor e ativos de renda fixa, o que reflete uma abordagem mais cautelosa diante da volatilidade e incertezas no mercado.

· 05:07 — Oportunidade em renda fixa isenta

Dando continuidade à nossa seleção criteriosa de ativos de renda fixa, voltada para o fortalecimento de carteiras de investimentos locais, destacamos uma excelente oportunidade: uma Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), isenta de Imposto de Renda e protegida pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), ideal para complementar carteiras já consolidadas.

Nesta ocasião, trazemos a LCA emitida pelo…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.