Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações globais se afastaram ainda mais das máximas de 2 semanas e meia atrás (para o índice MSCI World), com o sentimento abalado pelas expectativas de novos aumentos de juros dos grandes bancos centrais e com o foco na temporada de resultados americana. Os mercados asiáticos não tiveram uma boa quinta-feira, com apenas Japão e Hong Kong conseguindo se desvencilhar timidamente, enquanto as ações na Europa caem nesta manhã, assim como fazem os futuros americanos.
Para hoje, os investidores internacionais contam com a ata da última reunião do Banco Central Europeu (BCE), quando a autoridade elevou em mais 50 pontos-base a taxa de juros. Nos EUA, além das falas de autoridades monetárias e alguns dados econômicos, temos a continuidade da temporada de resultados, com os destaques desta quinta-feira ficando por conta de AT&T, Blackstone e American Express. No Brasil, em véspera de feriado, há espaço para recuperação depois da queda de ontem.
A ver…
· 00:50 — Gerou ansiedade
Por aqui, o mercado se mostrou bastante ansioso com a formalização do texto do arcabouço fiscal. Suas exceções e alterações marginais fazem com que haja receio de que o país caia em novas sucessivas crises fiscais no futuro, sem conseguir virar essa página, herança dos erros do governo Dilma. Sem falar no desafio que será conseguir arrecadar tudo o que se pretende para honrar os compromissos de superávit.
Ao mesmo tempo, para piorar, o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, pediu exoneração do cargo depois da divulgação de imagens que mostram sua suposta conivência com as manifestações no dia 8 de janeiro. O medo é que a instalação da CPMI que investigará os atos possa atrapalhar a tramitação do arcabouço, gerando mal-estar adicional sobre os ativos de risco locais.
A agenda é esvaziada na véspera do feriado. Haveria espaço para uma recuperação, ainda que marginal, depois do sell-off de ontem, mas é natural que investidores prefiram ajustar posições antes de dias nos quais o mercado local fica fechado enquanto o mundo acontece lá fora. Na parte da manhã, teremos o anúncio de medidas estruturais de crédito pelo Ministério da Fazenda, podendo afetar ações do setor financeiro. De tarde, Lula viaja à Península Ibérica, visitando Portugal e Espanha. Seguindo a tradição, quando ele sai do país, os ativos deveriam ir bem (Alckmin assume a presidência, afinal).
· 01:58 — Repercutindo o Livro Bege e mais resultados corporativos
Nos EUA, o presidente regional do Federal Reserve de NY, John Williams, reforçou a ideia de que os bancos estão bem, argumento confirmado pelo início da temporada de resultado, mas que os padrões de empréstimos bancários podem ficar mais rígidos, o que contrai ainda mais as condições financeiras dos americanos. Paralelamente, o Livro Bege, que compila as condições e perspectivas do Fed para as 12 regiões em que atua nos EUA, indicou mais uma vez que a economia americana está em processo de desaceleração – houve crescimento em apenas quatro das 12 regiões.
Para hoje, os investidores contam com mais resultados corporativos, que incluem American Express, AT&T, Blackstone, Philip Morris, Taiwan Semiconductor Manufacturing e Union Pacific. Fora isso, temos a divulgação do índice econômico para março do Conference Board e as vendas de casas existentes no mês de março pela Associação Nacional de Corretores de Imóveis. Naturalmente, o aumento das taxas de juros combinado com a queda nos gastos do consumidor provavelmente levará a economia dos EUA à recessão no curto prazo. Os dados podem confirmar essa tese.
· 02:51 — A saga do teto da dívida
Ainda nos EUA, democratas e republicanos estão novamente caminhando para um confronto legislativo sobre se (e por quanto tempo) devem aumentar o limite da dívida federal dos EUA para permitir gastos contínuos. Parece que o Congresso atingirá seu atual limite de gastos na primeira semana de agosto e, se não for prorrogado, os EUA podem deixar de pagar sua dívida, criando uma crise global, de maneira similar ao que aconteceu em 2011 e 2013, que semelhantes foram resolvidos apenas no último minuto.
Sim, normalmente os americanos costumam se entender antes que a coisa saia completamente do controle, mas não sem antes conferir danos à economia e à percepção dos investidores. Temos comentado há algum tempo sobre esse risco e ele vem aumentando significativamente nas últimas semanas. A ideia hoje gira em torno da proposta do presidente da Câmara dos EUA, Kevin McCarthy, de cortar US$ 2 trilhões em gastos federais e estender o teto da dívida até maio de 2024.
É claro que os democratas não vão aceitar. Ao mesmo tempo, o fracasso em unir os republicanos em torno de uma única posição de barganha com a Casa Branca provavelmente permitiria que o Congresso aprovasse um aumento de curto prazo que adiasse a luta pelo limite da dívida até dezembro. Considerando que McCarthy é o presidente mais fraco da Câmara em mais de 100 anos (vide o processo que o elegeu), talvez essa seja a saída; afinal, todos estão de olho nas eleições do ano que vem.
· 03:55 — Um bom começo de temporada para os grandes bancos
Seguindo em solo americano, os grandes bancos são sempre o primeiro grupo a divulgar seus números a cada temporada de resultados, mas seus resultados estão sob um escrutínio ainda maior desta vez, uma vez que a primeira vez que os investidores ouvem muitas de suas equipes de gestão desde a turbulência de março no setor – os investidores globais estavam nervosos depois dos colapsos do Silicon Valley Bank e do Signature Bank. Pelo menos as coisas parecem ir bem até aqui.
Contudo, os resultados do JP Morgan, Bank of America, The Bank of New York Mellon e Morgan Stanley, acalmaram os mercados – a leitura foi de que os maiores bancos, pelo menos, estão bem equipados para lidar com ventos contrários de curto prazo, não havendo evidência de uma crise estrutural bancária. Aliás, os grandes nomes também parecem estar se beneficiando da turbulência (as falências de bancos pequenos podem ter levado os clientes a transferir dinheiro para credores maiores, mais seguros).
· 04:30 — O aperto monetário europeu
Hoje, contamos com a digestão da ata da última reunião de política monetária do BCE. O documento pode consolidar a expectativa dos investidores por mais aumentos de juros, podendo pressionar novamente os ativos de risco. O movimento faria sentido para uma resposta à inflação, que ainda está elevada, com preços de alimentos sendo o vetor mais recente de preocupação – a Europa propôs restrições adicionais às importações de grãos ucranianos (a guerra foi um dos principais fatores inflacionários da região).
Ontem, fora da Zona do Euro, o Reino Unido foi surpreendido com uma inflação acima do esperado (a desaceleração do índice foi muito tímida, mostrando que será difícil enfrentar as pressões resistentes nos preços). Consequentemente, o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) deve elevar o juro em 25 pontos-base na reunião de maio, dando contornos de para onde os países centrais continuam caminhando. O fato é problemático para o crescimento das economias, claro.
Um abraço,
Matheus Spiess