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Mercado em 5 minutos

Lula e Haddad discutem hoje regra que promete suceder teto de gastos; veja os destaques desta segunda (6)

Tudo o que você precisa saber sobre o mercado financeiro para esta segunda-feira, 6 de março

Por Matheus Spiess

06 mar 2023, 08:44 - atualizado em 06 mar 2023, 08:44

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Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações da Ásia e do Pacífico encerraram o pregão sem uma única direção nesta segunda-feira, à medida que os investidores digerem a meta de crescimento mais conservadora da China, enquanto esperam pelos próximos dias da semana, cheios de dados econômicos. Adicionalmente, ainda há incerteza sobre os próximos passos do Federal Reserve e do BCE para a política monetária, principalmente depois de comentários recentes de membros do Fed. 

Os mercados europeus abrem o dia predominantemente em alta, enquanto os futuros americanos caem nesta manhã. A semana é cheia de emoções, com Livro Bege de perspectivas econômicas do Fed na quarta-feira e dados de emprego americano na sexta-feira. O Brasil sofre com esse nervosismo global, em especial o relacionado com um crescimento chinês mais fraco do que se pressupunha, que prejudica as commodities internacionalmente hoje.  

A ver… 

· 00:41 — Quando será apresentado o novo arcabouço fiscal? 

Por aqui, entre os indicadores econômicos brasileiros, contamos com o índice oficial de inflação, o IPCA, na sexta-feira. A atenção, porém, fica por conta das discussões envolvendo o novo arcabouço fiscal, que deverá ser apresentado antes da próxima reunião do Comitê de Política Monetária, entre os dias 21 e 22 de março. Hoje, Lula e Haddad discutem exatamente a regra que promete suceder o teto de gastos públicos — devemos caminhar para um crescimento de gastos na proporção de receitas.   

A ideia do Ministério da Fazenda parece ser a de apresentar todas as iniciativas promovidas envolvendo a responsabilidade fiscal (recomposição de receitas e nova âncora) para que o BC tenha espaço para reduzir os juros. O problema é que nem nas melhores das hipóteses havíamos pensado em queda dos juros já em março, o que coloca Roberto Campos Neto em uma situação delicada, podendo tomar uma decisão política de redução, ainda que marginal, como sinal de boa fé. Pode refletir mal. 

Sobre o novo arcabouço, a expectativa é que afaste temores sobre trajetória explosiva da dívida pública. Ao que tudo indica, a regra já teria sido concluída na semana passada, restando o bater de martelo de Lula (os próximos dias devem ser de discussão conjunta entre Fazenda, Palácio do Planalto e demais ministérios de assuntos econômicos, como Planejamento e Desenvolvimento). Muito do jogo para os ativos brasileiros será definido com a nova regra, não restando espaço para erros. 

· 01:52 — A semana para os americanos 

Nos EUA, os investidores estão se preparando para uma semana bastante agitada do ponto de vista econômico, com uma onda de dados a serem avaliados. Um dos números de atenção é o do mercado de trabalho, que segue apertado e é hoje, portanto, a maior fonte de preocupação do Fed — vários membros da autoridade monetária já disseram em diversas ocasiões que acreditam que a taxa de inflação permanecerá elevada até que os números de emprego alterem o trajeto para baixo.  

Em apenas um ano, o Federal Reserve elevou as taxas de juros de quase zero para um intervalo de 4,5% a 4,75% visando esfriar a economia. Enquanto isso, os números de trabalho continuam superando as expectativas nos últimos 10 meses, com a economia tendo adicionado 517 mil empregos em janeiro e derrubando o desemprego ao seu nível mais baixo desde 1969 (mesmo com várias demissões em massa acontecendo). Para fevereiro, devemos ter mais 200 mil empregos criados. 

· 02:39 — E os europeus? 

O mercado digere nesta manhã as vendas de varejo da Zona do Euro, que frustraram bastante as expectativas com uma queda de 2,3% na comparação anual (a expectativa era de 1,8% de queda), apesar da tímida alta contra o mês anterior. Sabemos que a região enfrenta problemas por conta da queda em termos reais dos salários nos últimos meses, podendo começar a afetar de maneira crescente a economia. 

Enquanto isso, temos a fala do economista-chefe do BCE, Philip Lane, podendo reforçar a abordagem conservadora da autoridade monetária europeia, indicando mais juros pela frente — a própria Christine Lagarde, presidente da instituição, reforçou que a inflação precisa ser combatida a qualquer custo. O problema é que isso gera desaceleração econômica, de maneira similar ao que acontece no Brasil. 

· 03:17 — Modesto 

As metas de crescimento da China anunciadas no fim de semana não foram uma surpresa, mas podem parecer decepcionantes para alguns investidores. Afinal, na semana passada, alguns players ventilavam a chance de uma projeção de crescimento da ordem de 6%. Portanto, mesmo que 5% possam parecer bastante para o Ocidente, é menor que a meta do ano passado (5,5%) e bem distante dos usuais 10% de antes. 

Entendo que Pequim poderia estar definindo essa meta modesta para afastar as preocupações de não entregar o crescimento prometido por mais um ano, como aconteceu em 2022 — o governo estaria preocupado com os danos causados pelo sentimento dos agentes. Ao mesmo tempo, chama a atenção que haverá aumento dos gastos com defesa em 7,2%. Vivemos uma nova dinâmica de gastos militares. 

· 04:01 — E quem está na frente? 

Quando se trata da corrida tecnológica que estamos vivendo, a China parece estar agora à frente dos EUA em 37 dos 44 tipos de tecnologia avançada, de acordo com um novo relatório do Australian Strategic Policy Institute. Isso inclui inteligência artificial, computação quântica e robótica — os chineses estão finalmente colhendo os frutos de décadas e vastas somas de dinheiro investidas em pesquisa científica. 

Ao mesmo tempo, o estudo aponta que não é fácil transformar marcos de pesquisa de ponta em proezas de fabricação. Em outras palavras, os chineses podem ter alcançado a tecnologia para fabricar os computadores quânticos mais avançados do mundo, mas o país ainda não tem capacidade para produzi-los em massa com os mesmos padrões de qualidade dos modelos americanos. 

Isso se aplica também, por exemplo, aos semicondutores. Por enquanto, pelo menos, os EUA parecem estar ganhando a corrida da execução, uma vez que eles conseguem colocar em prática as pesquisas, escalando a produção em diferentes frentes. Como sabemos, os imbróglios geopolíticos devem ser a principal fonte de preocupação internacional na próxima década, remodelando as cadeias de suprimentos globais.    

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.