Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações asiáticas chegaram a atingir as máximas de duas semanas, mesmo sob um humor mais cauteloso na terça-feira, ajudadas por indícios de progresso para evitar um calote dos EUA e pela resiliência na economia do Japão. Os ativos viraram para o negativo no final do dia, infelizmente, abrindo espaço para um tom um pouco mais pessimista no pregão desta terça-feira (23). Há mais evidências da desaceleração no comércio global, com a produção de contêineres caindo e os estoques de contêineres não utilizados entupindo alguns portos.
As prioridades dos consumidores mudaram de dois anos para cá. Agora, o comércio real parece cair em relação ao PIB. Os mercados europeus e os futuros americanos amanhecem em queda. A questão do teto da dívida nos Estados Unidos ainda não foi resolvida. Depois do encontro com o presidente Biden na noite passada, o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, afirmou que a reunião foi considerada produtiva, mas destacou que ainda existem divergências de opinião em relação aos gastos. Portanto, o impasse continua representando um risco para os investidores.
A ver…
· 00:46 — Investidores locais usam capacete: cautela é a palavra do dia
No Brasil, os investidores acompanham a alta dos juros americanos, que acaba pressionando os mercados internacionais, inclusive o brasileiro. Por aqui, o tema é de expectativa pela votação do arcabouço, que deverá acontecer hoje ou amanhã. Segundo o Placar do Arcabouço, do Estadão, o governo dispõe de 147 deputados que manifestaram publicamente apoio à nova regra fiscal para o controle das contas públicas (a maioria optou por não responder). Por se tratar de um projeto de lei complementar, o arcabouço requer uma maioria absoluta para ser aprovado (257 votos). Nosso entendimento é que o governo conseguirá aprovar a matéria.
Se estamos finalmente virando essa página, por que os mercados estão estressados? Bem, além das questões internacionais, começam algumas dúvidas a respeito da execução do novo marco fiscal. Para ilustrar, o Planejamento informou ontem um alto de R$ 28,6 bilhões de déficit no segundo bimestre. Isso é problemático. Haddad terá que mover montanhas para conseguir pelo menos R$ 86 bilhões para fechar o ano. Isso sem falar que 2024 virá com novas preocupações e desafios. Em outras palavras, o arcabouço não encerra a discussão fiscal, apenas a ameniza. Temos mais a tratar, começando pela Reforma Tributária, que poderá ajudar o governo.
· 01:41 — A saga do Teto da dívida americana continua
Nos EUA, a negociação sobre a expansão do teto da dívida pública americana dominou as manchetes. Ontem, os parlamentares retomaram as reuniões com a Casa Branca. O encontro mais importante foi entre o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, e o presidente Joe Biden, que acabava de voltar de uma reunião do G7 no Japão.
A conta do Tesouro dos EUA é de que o orçamento se estende apenas até a “data X” de 1º de junho, quando o governo federal deve ficar sem dinheiro. O fato dos investidores em ações pensarem sobre a possibilidade de um default pode levar a uma reavaliação significativa dos ativos se um acordo não for alcançado.
Com isso, os investidores começaram a precificar um risco maior de não serem pagos no prazo. As consequências da inadimplência sem dúvida seriam amplas e desastrosas, desde uma queda no mercado de ações até a suspensão da Previdência Social nos EUA e de outros benefícios governamentais dos quais milhões de americanos dependem.
Sem falar nos danos irreparáveis à fé global no sistema econômico dos EUA. Ainda acreditamos que um acordo será fechado. Contudo, se Washington demorar demais poderemos ver uma reprise de 2011, quando o S&P 500 caiu cerca de 17% em duas semanas por conta da lentidão nas negociações.
O problema é que existem diferenças importantes entre agora e 2011. Hoje, a política monetária está apertada, a oferta monetária está em colapso, a inflação está mais alta e as ações estão mais caras. Quase todas essas mudanças aumentaram a probabilidade de um sell-off em ativos de risco se o default vier a acontecer.
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· 02:52 — Falas complicadas
Na Europa, o discurso do banco central de ontem confirmou o entendimento de uma política monetária mais restritiva na Zona do Euro. Os membros do BCE se comportaram como se estivessem no piloto automático quando falam da necessidade de aumentos das taxas para controlar a inflação. Isso pode criar uma apreciação do euro relativamente ao dólar, uma vez que o processo de aperto monetário parece ter acabado nos EUA, enquanto ainda deve durar mais alguns meses no velho continente.
O estresse deve voltar hoje, com a fala do presidente do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), Andrew Bailey, sendo um dos destaques do dia na agenda internacional. Isso ocorre um dia antes da divulgação de dados de inflação britânica que devem mostrar uma grande queda na inflação dos preços ao consumidor no Reino Unido. Entre os ingleses, os juros devem continuar subindo mais um pouco pelo menos, até que a autoridade monetária se sinta confortável com o patamar de inflação.
· 03:35 — Tóquio Turbo: Velocidade Máxima na Valorização dos Ativos Japoneses
A atividade manufatureira do Japão expandiu pela primeira vez em sete meses em maio, mostraram dados de pesquisa na terça-feira, enquanto o setor de serviços atingiu crescimento recorde, à medida que a recuperação pós-Covid ganha força.
Para ilustrar, o índice de gerentes de compras (PMI) industrial do Japão avançou de 49,5 em abril para 50,8 em maio (a primeira melhora desde outubro de 2022). Os serviços, por sua vez, acompanharam a alta de 55,4 para 56,3 no mesmo período. Neste índice, valores acima de 50 pontos indicam expansão da atividade econômica.
Os dados apontam o ritmo de crescimento mais forte já registrado pelo Japão desde 2013 e o segundo mais robusto desde o início da série histórica, em setembro de 2007, com os problemas da cadeia de suprimentos apresentando sinais de melhora.
Os números surgem num contexto em que o mercado japonês acabou de atingir máximas de 33 anos — as ações por lá estiveram em alta nas últimas duas semanas, auxiliadas em grande parte por uma forte temporada de resultados e apostas de que o Banco do Japão manterá sua política flexível. Agora, porém, com as ações no patamar mais elevado desde os anos 1990, os investidores devem ficar mais atentos.
· 04:12 — Pessimismo geopolítico
Os mercados chineses afundaram nesta terça-feira, com os investidores temendo um ressurgimento das tensões comerciais sino-americanas depois que a China entrou em conflito com a fabricante de chips Micron Technology em uma revisão de segurança, impedindo-a de vender alguns produtos no continente. A notícia se soma às perdas acentuadas em maio, com uma série de indicadores econômicos mostrando que a recuperação pós-Covid no país estava perdendo força.
Os investidores viram o caso da Micron como uma retaliação à Casa Branca, que introduziu restrições rígidas à exportação de tecnologia de semicondutores para a China. Mas o movimento também provocou alguns ganhos nas ações de fabricantes de chips asiáticos, já que os mercados apostam que os fabricantes locais irão recorrer aos fabricantes de chips regionais para atender às suas necessidades. Como vemos, o processo de regionalização segue acontecendo, apesar das falas amenas no G7.