Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos encerraram a semana predominantemente em baixa nesta sexta-feira (16), acompanhando as movimentações negativas dos mercados globais durante ontem, com os investidores permanecendo cautelosos, já que os aumentos agressivos das taxas de juros pelos bancos centrais globais levarão a economia a uma recessão — avisamos que o otimismo internacional recente era fruto de ansiedade e afobação.
Há também relatos de que as mudanças do governo chinês em sua política de zero-Covid resultaram em infecções generalizadas em Pequim, mas os números de casos não estão sendo relatados oficialmente. Naturalmente, teme-se que, consequentemente, as autoridades possam reverter os afrouxamentos, prejudicando a economia. Os mercados europeus e os futuros americanos amanhecem em queda.
A ver…
· 00:33 — Adiamento
Internacionalmente, algumas ADRs brasileiras acompanham o humor estrangeiros e caem nesta manhã no pré-market de NY, também digerindo a incerteza política local. Nem as commodities conseguem se salvar, com queda por conta do temor relacionado com a desaceleração da atividade econômica. O problema é que o ambiente local não é mais tranquilo, com um impasse político relevante colocando incerteza sobre a PEC, que acabou ficando travada na Câmara e sendo adiada para terça-feira que vem (o Orçamento para 2023 deverá ser votado na quarta-feira).
Se esperava resolver tudo isso até dia 15 de dezembro, de modo a garantir o pagamento do Auxílio Brasil em R$ 600 para o mês de janeiro e de não ter paralisação de serviços e obras. A ideia era que semana que vem servisse apenas para a formalização final do Orçamento, mas as expectativas foram frustradas. O recesso legislativo começa depois do dia 22, então semana que vem é a última janela possível para a aprovação, que não é tão certa, principalmente por conta dos atritos provocados pela votação do STF sobre a constitucionalidade do Orçamento Secreto. Muito ruído pela frente.
Na Suprema Corte, o placar está, por enquanto, 5 a 4 contra as emendas do relator. Faltam os votos de Gilmar Mendes e Lewandowski, que poderiam inverter o cenário e tornar constitucional o movimento do Congresso. A sessão, porém, só voltará na segunda-feira, às 10 horas, um dia antes da análise da PEC pela Câmara. O mercado tem reagido a cada notícia nova de Brasília, transformando o nosso dia a dia em uma verdadeira loucura volátil. Lula voltou para Brasília para negociar mais ministérios e demais postos para aprovar a proposta. Ainda tem água para rolar.
· 01:56 — Para onde foram os otimistas americanos?
Ontem, nos EUA, o S&P 500 teve sua pior queda desde o início de novembro, em meio a preocupações sobre uma recessão iminente e por quanto tempo o Federal Reserve manterá as taxas de juros elevadas para combater a inflação. Outra preocupação importante para o mercado é a taxa terminal — ou seja, onde a taxa de juros eventualmente termina no final de seu regime de aperto de taxa (atualmente, estamos na faixa entre 4,25% e 4,5% ao ano).
O Fed sinalizou uma taxa terminal entre 5,0% e 5,25% em 2023, mas mercados de trabalho fortes e inflação elevada de serviços preocupam o Fed com a persistência da inflação. Em outras palavras, a taxa pode ir além desse patamar e, depois de alcançá-lo, ficar por lá algum tempo, até que as expectativas fiquem ancoradas novamente. Até que o mercado consiga avaliar isso corretamente, continuaremos passando por muita volatilidade e sofrendo com bear market rallies (pequenas altas em mercados de baixa).
· 02:44 — Não é só nos EUA
O Federal Reserve, dos EUA, o Banco da Inglaterra, do Reino Unido, e o Banco Central Europeu, da Zona do Euro, aumentaram suas taxas de juros em 50 pontos-base nesta semana, indicando adicionalmente mais aperto monetário nos próximos meses para conter a inflação. Destaque para o BCE, que esteve nos últimos 10 anos com uma postura consideravelmente relaxada e que agora tem falado grosso com o mercado, reforçando sua postura hawkish (contracionista) — por lá, os juros subiram para 2% e ainda devem alcançar 3% em 2023.
Surpreende o comentário duro de Christine Lagarde, presidente da autoridade monetária, que teve contornos bem sérios sobre a inflação, apesar do recuo recente no nível dos indicadores de preços. Por outro lado, o Banco da Inglaterra, que começou a subir os juros antes, começou a aplicar um tom mais comedido (quem sobe antes, terminar de subir primeiro, como é o caso brasileiro). O problema é que, enquanto a postura contracionista continuar, os mercados europeus continuarão sofrendo.
· 03:32 — Mais oferta de petróleo
O preço do barril de petróleo cai nesta manhã. Não é só o receio com a demanda, por conta da atividade global, que deve desacelerar (entrar em recessão em alguns casos), mas também por conta da oferta. Nos EUA, o oleoduto Keystone (capacidade de capacidade de 610 mil barris por dia) voltou a funcionar parcialmente depois de ficar fechado por mais de uma semana devido a um vazamento no dia 7.
Nem toda a operação voltou ao normal, mas um trecho que se estende de Hardisty, em Alberta (Canadá), a Wood River e Patoka, em Illinois (EUA), já está operacional, enquanto o segmento afetado pelo vazamento permanece isolado. De qualquer forma, se antes a falta de oferta havia pressionado na margem os preços para cima, a retomada da atividade do oleoduto deveria pressionar os preços para baixo.
· 04:14 — E essa tal fusão nuclear?
Nos EUA, o Departamento de Energia anunciou nesta semana que cientistas de um laboratório da Califórnia foram capazes de criar pela primeira vez uma reação de fusão nuclear com ganho líquido de energia. O avanço é significativo. A esperança é que a fusão nuclear, que não produz carbono ou resíduos radioativos, possa ser aproveitada para fornecer energia limpa ilimitada para o mundo e substituir os combustíveis fósseis — para ilustrar, a fusão nuclear libera 4 milhões de vezes mais energia do que a queima de petróleo, carvão ou gás.
Por décadas, tudo isso foi apenas teórico. A dificuldade até então era promover uma fusão com ganhos líquidos de energia. Foi o que conseguiram: geraram 50% a mais de energia do que o necessário para sua criação. Agora, com a prova de que é possível criar uma reação de fusão nuclear que realmente produz mais energia do que o necessário, podemos começar a tornar essa esperança de energia limpa sustentável uma realidade (poderia liberar energia livre de carbono “virtualmente ilimitada”). Muito tempo e muito dinheiro foram necessários para atingir esse marco. Contudo, precisaremos de mais dinheiro gasto no futuro.
O motivo?
Levará décadas até que iniciativas comercialmente viáveis funcionem fora do laboratório, até mesmo porque ainda precisamos descobrir como transformar a energia criada na reação em eletricidade para os usos do dia a dia. Pelo menos os investidores estão a caminho de investir mais de US$ 1 bilhão em tecnologia de fusão este ano. Sim, é apenas uma fração dos US$ 1,4 trilhão investidos este ano em energia limpa, mas já é alguma coisa (o mercado geral de fusão pode valer US$ 40 trilhões no futuro). Foi um pequeno passo, mas um marco importante para as próximas décadas.
Um abraço,
Matheus Spiess
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