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Investimentos

Mercado abre semana em clima moderado, com foco no início do ciclo de cortes de juros nos EUA e outros países

Os ativos internacionais continuam em uma trajetória positiva, dando sequência ao movimento observado na semana passada.

Por Matheus Spiess

26 ago 2024, 08:53 - atualizado em 26 ago 2024, 13:15

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Imagem: Flickr/Raphael Ribeiro/BCB

Os ativos internacionais continuam em uma trajetória positiva, ainda que de forma moderada nesta manhã, dando sequência ao movimento observado na semana passada. O foco permanece o mesmo: o início do ciclo de cortes de juros nos países desenvolvidos, que poderá redistribuir recursos pelos mercados globais. Em razão disso, investidores de todo o mundo estão aguardando novos dados dos EUA e da Europa para ajustar melhor suas expectativas em relação às reduções de taxas esperadas nos próximos meses (com destaque para o índice PCE a ser divulgado em breve).

Além disso, o resultado da Nvidia, que será anunciado nesta semana, promete atrair a atenção novamente para as ações de tecnologia americana, já que os números da gigante dos chips podem ter amplas implicações para o futuro do crescimento da inteligência artificial.

Com o feriado em Londres, as bolsas europeias estão operando sem uma direção clara na manhã desta segunda-feira.

Entre os fatores que contribuem para a aversão ao risco, destacam-se o novo episódio de crise geopolítica no Oriente Médio, intensificado pelos confrontos entre Israel e o Hezbollah, e a queda no índice de sentimento das empresas, especialmente na Alemanha.

Em contrapartida, os futuros americanos mostram um humor mais otimista e bem definido, alinhado ao que foi observado na Ásia, apesar da manutenção da taxa de juros de médio prazo (MLF) de 1 ano pelo Banco Central da China.

A ver…

· 00:55 — Nivelando o discurso por baixo

Nesta semana, o Brasil conta com a divulgação de dados econômicos de grande importância, com destaque para a divulgação do IPCA-15 de agosto, na quinta-feira (29), e os dados fiscais referentes ao balanço primário do governo central de julho. Espera-se que o balanço indique um déficit superior a R$ 12 bilhões, apesar do expressivo crescimento real da receita federal, o que ressalta a necessidade urgente de cortes nos gastos públicos. Além disso, estão previstos dados relevantes sobre o emprego, que agregarão mais elementos à análise econômica do período.

No âmbito monetário, as incertezas em torno das decisões do Copom para setembro continuam a gerar especulações, especialmente após as declarações controversas de Gabriel Galípolo, diretor de política monetária e provável sucessor de Roberto Campos Neto. A necessidade de um discurso mais coeso por parte do Banco Central é evidente, especialmente diante do aumento das expectativas de uma possível elevação da Selic. No entanto, uma inflação abaixo do esperado e um mercado de trabalho mais fraco poderiam fortalecer os argumentos a favor da manutenção da taxa de juros atual, embora o mercado ainda esteja inclinado a esperar novos aumentos.

Paralelamente, há grande expectativa em relação à nomeação dos novos diretores e do próximo presidente do Banco Central. Estão em andamento negociações com Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, para que a sabatina do novo presidente do Banco Central ocorra já na primeira semana de setembro, antes da próxima reunião do Copom, marcada para os dias 17 e 18. No mercado financeiro, Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, e Roberto Paris, chefe da tesouraria da mesma instituição, despontam como os principais candidatos à sucessão de Galípolo.

Além disso, o governo enfrenta o desafio de retomar sua capacidade de negociação com o Congresso. Estão sendo discutidas propostas para alinhar as emendas parlamentares ao arcabouço fiscal, que regula as contas públicas e permite um aumento de despesas de até 2,5% acima da inflação anual. Esse debate é especialmente relevante no contexto em que o governo deve apresentar, até sexta-feira, o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025, já incluindo uma revisão de gastos que, segundo o ministro Haddad, promete economizar R$ 25,9 bilhões. A concretização dessas medidas é crucial, considerando a preocupante projeção de que, caso o governo mire apenas o piso da meta fiscal, a dívida bruta poderá continuar crescendo até 2034, com impactos negativos sobre a curva de juros.

· 01:43 — Queimando

Agosto costuma ser um mês marcado por queimadas, mas este ano os incêndios atingiram proporções alarmantes. A Amazônia está passando pela pior temporada de queimadas em 17 anos, com uma espessa camada de fumaça se espalhando por dez estados. Desde janeiro, foram registrados 59 mil focos de incêndio, o maior número desde 2008, e esse total ainda pode aumentar, pois os dados de agosto ainda estão sendo consolidados. A fumaça desses incêndios está se propagando por milhares de quilômetros, misturando-se com a fumaça das queimadas no Pantanal, em Rondônia, especialmente no Parque Guajará-Mirim, e até mesmo da Bolívia, formando um vasto “corredor de fumaça” que atravessa grandes regiões do país, criando uma crise ambiental de proporções inéditas.

Outros estados brasileiros também estão sofrendo com incêndios intensificados por um período de calor extremo, com temperaturas em torno de 30°C, e por um clima sazonalmente seco. Aliás, chamou a atenção que no estado de São Paulo, a região mais rica e desenvolvida do Brasil, está ocorrendo um número recorde de queimadas. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) coletados entre 22 e 24 de agosto registraram 2.621 focos de incêndio em apenas três dias. Um levantamento separado do INPE revelou que, até agora, São Paulo contabilizou 4.973 incêndios ao longo deste ano, o maior volume desde o início dos registros em 1998. Atualmente, 17 cidades no estado enfrentam focos ativos de incêndio, enquanto 36 municípios estão sob intensa vigilância e em alerta máximo devido ao risco de fogo.

· 02:31 — 25 ou 50?

Como era esperado, o Simpósio Econômico anual de Jackson Hole, promovido pelo Federal Reserve em Wyoming, proporcionou a Jerome Powell, presidente do Fed, a oportunidade que ele tanto aguardava para sinalizar que o momento de iniciar cortes nas taxas de juros havia chegado. Em seu discurso na última sexta-feira, Powell deixou claro que, incentivadas por uma desaceleração constante da inflação durante o verão, após um começo de ano turbulento, e com o objetivo de apoiar um mercado de trabalho em enfraquecimento, as autoridades do Fed estão prontas para implementar o primeiro corte de taxa desde março de 2020 na reunião de política monetária de meados de setembro.

O discurso, embora não tenha trazido novidades, consolidou a expectativa de cortes nos juros, restando apenas definir se a redução será de 25 ou 50 pontos-base. Acredito que podemos esperar entre dois e três cortes de 0,25 ponto percentual ainda este ano. Em relação a isso, é importante acompanhar os dados do PIB que serão divulgados na quinta-feira e o índice de preços de despesas de consumo pessoal de julho, na sexta-feira. Se esses dados vierem abaixo do esperado, a possibilidade de um corte de 50 pontos poderá ganhar mais força.

· 03:29 — Voltou a subir

Nos últimos dias, o mercado de petróleo testemunhou uma sequência de quedas nos preços, precipitadas tanto por uma redução nos estoques americanos maior do que o esperado quanto pela significativa depreciação do dólar frente a outras principais moedas. Esses fatores incentivam a aquisição de commodities. Além disso, a preocupação crescente com a demanda global e a diminuição de algumas tensões geopolíticas também contribuíram para essa tendência de baixa nos preços. No entanto, recentemente, os preços começaram a mostrar sinais de recuperação.

Na manhã desta segunda-feira (26), houve um aumento de cerca de 1% nos preços do petróleo, aproximando-os novamente da marca de US$ 80 por barril. Esse aumento coincide com a antecipação de possíveis cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve na sua reunião de setembro e é exacerbado pelos recentes conflitos entre Israel e Hezbollah, que ameaçam a estabilidade na Faixa de Gaza. Em resposta, Israel declarou um estado de emergência, enquanto os recentes ataques no Mar Vermelho, perpetrados pelos rebeldes Houthis do Iêmen, adicionam mais tensão à situação.

Ainda que os preços tenham tido esse aumento pontual, o setor petrolífero enfrenta desafios substanciais. Os membros da OPEP+ estão numa encruzilhada, divididos entre manter as restrições atuais de oferta ou começar a relaxá-las em resposta à crescente necessidade de receitas. Paralelamente, o temor de um declínio contínuo na demanda adiciona mais pressão. Esse equilíbrio delicado entre uma oferta restrita e uma demanda incerta delineia um cenário complicado para o mercado global de petróleo.

Do lado da oferta, a OPEP+ está em um dilema: há uma vontade de aumentar a produção para aliviar pressões financeiras, mas isso é contrabalanceado por sinais de enfraquecimento na demanda, especialmente dos EUA e da China, que juntos formam um segmento significativo do consumo global de petróleo. Enquanto a perspectiva de cortes nas taxas de juros nos EUA pode aliviar um pouco a situação, as incertezas quanto à demanda na China adicionam uma camada extra de complexidade.

· 04:14 — Qual o futuro do Telegram?

No último final de semana, Pavel Durov, fundador e CEO do aplicativo de mensagens Telegram, foi preso na França. A detenção ocorreu em meio a uma investigação policial que apura a possível facilitação de atividades criminosas pelo aplicativo, devido à ausência de moderação de conteúdo. Durov, de 39 anos, bilionário e cidadão francês, foi preso em um aeroporto próximo a Paris como parte de uma investigação preliminar que busca esclarecer o suposto envolvimento de sua plataforma em atividades ilegais.

No Brasil, o Telegram já enfrentou suspensões diversas vezes por decisões judiciais, após se recusar a cumprir ordens legais. Durov, que fundou o Telegram em 2013 na Rússia, seu país natal, com o objetivo de permitir a comunicação livre em um ambiente de censura, viu sua criação se transformar em uma ferramenta essencial, especialmente para aqueles que vivem sob regimes com forte controle da informação.

Avaliado em mais de US$ 30 bilhões, o Telegram tem sido alvo de controvérsias e ações legais, principalmente por sua política de não moderação de conteúdo. As autoridades francesas argumentam que essa falta de controle permitiu que o aplicativo fosse utilizado para atividades criminosas, como tráfico de drogas e disseminação de pornografia infantil. Durov, no entanto, se recusou a colaborar com as investigações policiais, o que levou à emissão do mandado de prisão. Agora, resta saber como essa situação afetará o futuro do Telegram.

· 05:06 — O maior resultado da temporada?

Neste ciclo de divulgação de resultados, a apresentação dos números trimestrais da Nvidia (Nasdaq: NVDA), marcada para a próxima quarta-feira à noite, destaca-se como um dos eventos mais aguardados. Como um dos principais impulsionadores do atual rali da inteligência artificial, os resultados da Nvidia têm o potencial de causar um impacto significativo no mercado, seja positivamente ou negativamente.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.