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Investimentos

Mercado aguarda mais resultados de bancos americanos nesta terça (16); confira a agenda econômica

Na China, é aguardada a divulgação do PIB e da produção industrial do país, após decisão do Banco Popular da China de inalterar os juros.

Por Matheus Spiess

16 jan 2024, 08:51 - atualizado em 16 jan 2024, 08:51

resultados dos balanços de bancos americanos no 1T23 surpreendem positivamente, mas especialista recomenda cautela na compra de Bolsa americana
Crédito: Unsplash

Bom dia, pessoal. Após o feriado de segunda-feira nos EUA, o mercado financeiro global retoma suas atividades hoje, impulsionado pela continuação dos resultados financeiros de grandes empresas como Goldman Sachs e Morgan Stanley. Contudo, os principais dados econômicos, incluindo as vendas no varejo dos EUA e o Livro Bege do Federal Reserve, só serão divulgados a partir de amanhã. Esta expectativa cria uma divisão entre os investidores: alguns antecipam um corte nas taxas de juros já em março, enquanto outros, como eu, só preveem tais cortes a partir do segundo trimestre. Essa incerteza gera um certo receio no mercado, influenciando as expectativas de investimento.

Enquanto isso, na Ásia e no Pacífico, o índice de Hong Kong puxou a baixa dos mercados na terça-feira, e as ações japonesas pausaram sua ascensão histórica que levou os índices a atingirem máximas de várias décadas. A aguardada divulgação do PIB e da produção industrial da China, marcada para esta noite, aumenta a tensão na região, especialmente após a recente decisão do Banco Popular da China (PBOC) de manter inalteradas as taxas de juros. Paralelamente, os mercados europeus e os futuros dos EUA lutam para manter um desempenho positivo pela manhã, enquanto algumas commodities, como o petróleo, voltam a registrar alta nos preços.

A ver…

· 00:43 — Escondendo aquilo que todo mundo já sabe

No cenário político brasileiro, a Medida Provisória (MP) da reoneração continua sendo um tema central. Após uma reunião ontem com Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, Fernando Haddad planeja um encontro hoje com Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados.

A equipe econômica está empenhada em encontrar soluções para o significativo déficit público do país, considerando o término da desoneração fiscal como uma das estratégias possíveis.

Espera-se que uma resolução definitiva sobre este assunto ocorra somente após o recesso parlamentar, em fevereiro.

Atualmente, busca-se um acordo intermediário que estabeleceria um período de transição mais extenso para a reoneração, estendendo-se até 2029.

Idealmente, essa política já deveria ter sido concluída, mas dada a realidade brasileira, um período de transição parece ser a opção mais viável para evitar desgastes políticos excessivos.

Parece evidente que este cenário está pavimentando o caminho para uma inevitável revisão da meta fiscal. Embora fosse uma expectativa desde o ano passado, o governo evitou discutir o assunto abertamente, permitindo maior liberdade de ação para Haddad. Considerando um déficit de 1,4% do PIB no ano passado, reduzi-lo para 0,8% neste ano já seria um avanço significativo.

O essencial é estabelecer um plano concreto para as finanças públicas, algo que o governo ainda não conseguiu apresentar.

Há preocupações, especialmente porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, temendo as restrições impostas pelo arcabouço fiscal – que exige cortes de gastos em caso de descumprimento das metas – pode evitar medidas impopulares antes das eleições de 2026, nas quais pode buscar a reeleição.

Assim, revisar a meta fiscal se apresenta como um caminho quase que obrigatório diante da situação atual.

· 01:45 — Uma das guerras que existem hoje no mundo

Na noite passada, Donald Trump garantiu uma vitória nas primárias de Iowa, distanciando-se dos concorrentes Ron DeSantis e Nikki Haley.

Enquanto outras primárias importantes, como as de New Hampshire e South Carolina, ainda estão por vir, esse triunfo reafirma sua posição como principal candidato do Partido Republicano para a próxima eleição, posicionando-o para um possível retorno à Casa Branca em caso de vitória sobre Biden em novembro. A preocupação reside no desconhecido potencial de retaliação de Trump (revanchismo) e no risco de uma polarização ainda mais intensa do que a vista em 2020. Essa situação é descrita pela Eurasia de Ian Bremmer como uma das “três guerras” contemporâneas para 2024, retratadas no conflito interno dos EUA contra si mesmo, ao lado das guerras na Ucrânia e em Israel.

No contexto da corrida presidencial, a OpenAI, desenvolvedora do ChatGPT e do Dall-E, implementou restrições ao uso dessas ferramentas em cenários políticos, especialmente durante as eleições de 2024 nos EUA. Essa medida vem em resposta a preocupações crescentes de que a inteligência artificial possa ser utilizada para disseminar desinformação em larga escala, influenciando eleitores em eleições significativas através de notícias falsas, imagens e vídeos gerados por computador. Nos últimos anos, a vulnerabilidade das democracias já era evidente com o uso de redes sociais em contextos eleitorais. Agora, o desafio se amplia com a potencial interferência da inteligência artificial em processos eleitorais.

· 02:38 — Goldilocks?

Atualmente, o termo “Goldilocks” tem sido frequentemente mencionado, uma metáfora que se refere a uma situação ideal em economia – “nem muito quente, nem muito frio, mas exatamente certo”. Esta expressão simboliza condições perfeitas para os mercados financeiros, caracterizando um equilíbrio onde a economia não experimenta nem expansão excessiva nem contração acentuada. Neste cenário ideal, haveria um crescimento econômico estável, suficiente para evitar uma recessão, mas moderado o suficiente para não impulsionar a inflação a níveis elevados. Em outras palavras, um ambiente economicamente sereno e promissor.

Pode ser que estejamos vivenciando esse cenário “Goldilocks” atualmente. A perspectiva dominante para este ano é de reduções substanciais nas taxas de juros, o que beneficiaria o mercado de ações, juntamente com uma economia que cresce de forma estável, porém lenta. Essa combinação de fatores é rara, daí a associação com o nome de um conto de fadas (“Goldilocks” = “Cachinhos Dourados”). Os primeiros dados econômicos dos EUA para 2024 parecem corroborar esse cenário. Por exemplo, com a queda nas taxas hipotecárias, observou-se uma recuperação nas aprovações de hipotecas para compra de imóveis desde o ponto mais baixo em outubro. Embora o mercado imobiliário ainda tenha desafios a superar, essas condições atuais oferecem uma janela de oportunidade alinhada com a noção de “Goldilocks”.

· 03:27 — Uma Europa mais conservadora do ponto de vista monetário

Ontem, Joachim Nagel, membro do Conselho do Banco Central Europeu (BCE), aderiu a um grupo ainda pequeno, mas crescente, de colegas da instituição que estão abertos à possibilidade de reduzir as taxas de juros em breve. Por outro lado, alguns membros, como Robert Holzmann, têm uma visão diferente, rejeitando a ideia e alertando que cortes nas taxas de juros em 2024 não são uma certeza, especialmente em um cenário marcado por inflação e tensões geopolíticas. De fato, parece que há um recuo nas expectativas europeias de cortes nas taxas de juros para 2024, o que pode influenciar negativamente o sentimento de risco nos mercados globais.

Diversos formuladores de políticas do BCE indicaram que ainda é prematuro considerar a diminuição dos custos de empréstimos. Nos Estados Unidos, os mercados financeiros antecipam cerca de seis cortes de 25 pontos-base cada ao longo deste ano. Philipp Hildebrand, vice-presidente da BlackRock, advertiu que tais expectativas podem ser exageradas, especialmente se a inflação se mostrar mais persistente do que o esperado. Este é um risco relevante atualmente: o possível atraso na desinflação. Embora eu ainda acredite que o ciclo de cortes de juros possa começar este ano, provavelmente não ocorrerá de forma tão intensa.

· 04:14 — Não vão parar até que vejam o abismo

Nesta segunda-feira, os rebeldes Houthi do Iêmen lançaram um ataque com míssil contra um navio comercial norte-americano carregando produtos siderúrgicos ao largo da costa iemenita. Este incidente sublinha os crescentes perigos enfrentados por uma das rotas comerciais mais cruciais do mundo, que continua a ser altamente arriscada para a navegação. Na sexta-feira, a indústria marítima já havia sido aconselhada a evitar a área, o que levou diversos armadores, incluindo os que operam petroleiros do Catar, a buscar rotas alternativas mais extensas. Em consequência dessas tensões, os preços do petróleo registraram alta nesta manhã.

Após uma série de ataques em terra pelos Estados Unidos e seus aliados, os rebeldes Houthi prometeram manter sua ofensiva contra as embarcações. Mohamed El Erian, ex-CEO da Pimco, sugere que a persistência das perturbações na navegação do Mar Vermelho pode ter impactos significativos sobre a inflação global e a atividade econômica. Contudo, espera-se que as consequências desse recente conflito sejam notadamente menos severas do que as dificuldades enfrentadas pelas cadeias de suprimentos globais entre 2021 e 2022, no pós-pandemia.

· 05:06 — Espaço para emergentes

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.