Investimentos

Mercado aguarda payroll enquanto petróleo continua subindo: fique por dentro dos destaques da semana

O relatório de empregos dos EUA divulgado hoje deve oferecer aos investidores uma visão mais concreta sobre a flexibilização da política monetária pelo Fed

Por Matheus Spiess

04 out 2024, 09:20 - atualizado em 04 out 2024, 09:20

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(Imagem: Montagem Canva Pro)

O relatório de empregos dos EUA, o payroll, que será divulgado hoje (4), deve oferecer aos investidores uma visão mais concreta sobre o rumo da flexibilização da política monetária pelo Federal Reserve. Esse relatório é amplamente considerado mais confiável do que as declarações de autoridades monetárias, conhecidas por suas frequentes variações de opinião.

Espera-se que o número de contratações tenha aumentado ligeiramente em setembro, com a taxa de desemprego permanecendo estável em 4,2%. Um resultado dentro dessas expectativas ajudaria a aliviar preocupações sobre uma possível desaceleração na demanda por trabalho — fator que levou o Fed a implementar recentemente um corte significativo de meio ponto percentual nas taxas de juros. Contudo, qualquer desvio desses números deverá movimentar os mercados globais de maneira expressiva.

Simultaneamente, os preços do petróleo continuam a subir nesta manhã, após terem registrado a maior valorização diária em quase um ano. Esse movimento é impulsionado por temores de que Israel possa retaliar um ataque de mísseis ocorrido no início da semana, mirando instalações de petróleo no Irã.

A preocupação entre investidores é que uma resposta iraniana possa escalar o conflito, potencialmente comprometendo o trânsito de petróleo pelo Estreito de Hormuz. Em meio às tensões, o preço do ouro também está em alta nesta sexta-feira, refletindo a busca por ativos mais seguros.

Nos mercados globais, os índices europeus apresentam resultados variados, mas tendem a um cenário positivo, impulsionados especialmente pelo bom desempenho das empresas petrolíferas. Esse avanço ocorre mesmo diante das notícias de um possível aumento de impostos pelo governo francês, no contexto de seu mais recente ajuste fiscal.

Já os futuros americanos estão em alta, sinalizando um clima de cautela, porém com otimismo moderado, à medida que os investidores aguardam os desdobramentos econômicos e geopolíticos que podem impactar a trajetória de crescimento nos EUA.

A ver…

· 00:57 — Nada animador

No cenário local, as tensões no Oriente Médio rapidamente ofuscaram o efeito positivo, embora questionado pela maioria do mercado, do recente upgrade de rating do Brasil pela Moody’s. Como resultado, o Ibovespa recuou 1,38% ontem, com ganhos restritos apenas aos papéis ligados ao setor de óleo e gás.

O sentimento negativo foi ampliado pelos dados fiscais, que revelaram um déficit primário de R$ 22,4 bilhões para o governo central em agosto. Embora a arrecadação federal permaneça robusta, com crescimento real de 8,7% no acumulado do ano, os gastos continuam a pressionar as contas públicas: o ritmo de execução desacelerou, mas as despesas obrigatórias ainda somam 18,4% do PIB nos últimos 12 meses até agosto. O déficit primário neste período representa 1,98% do PIB.

O Tesouro agora projeta uma estabilização da dívida pública entre 81% e 82% do PIB até 2028. Isso contrasta com a recente afirmação do secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, que anteriormente garantiu que a dívida não ultrapassaria a marca de 80%, uma meta que parece cada vez mais distante. Diante desse quadro, o analista líder para o Brasil da S&P Global Ratings, Manuel Orozco, declarou que é difícil vislumbrar uma melhora no rating do país sem ajustes substanciais, especialmente porque um impulso fiscal menor reduziria a necessidade de manter a Selic em patamares elevados.

Neste contexto, o mercado depende de novas medidas do governo, que devem ser anunciadas de forma mais incisiva a partir da próxima semana. Com o primeiro turno das eleições municipais superado, espera-se que os congressistas se sintam mais confortáveis para discutir pautas mais polêmicas. Vale ressaltar que as eleições municipais devem mostrar um governo enfraquecido, com o partido governista e seus aliados conquistando poucas vitórias, enquanto partidos de centro-direita e do Centrão ganham força. Esse panorama pode ser um indicativo relevante do que está por vir nas eleições gerais de 2026.

· 01:48 — Falta criatividade

Diante das dificuldades para reduzir os gastos públicos, o governo brasileiro tem se concentrado em desenvolver novas formas de aumentar a arrecadação, ainda que pareça haver poucas inovações nesse sentido. Um exemplo recente é a Medida Provisória 1261/2024, que deve gerar R$ 16 bilhões em 2025, ao estender o prazo para que instituições financeiras deduzam perdas do cálculo do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Esse valor ultrapassa as previsões contidas na proposta orçamentária já enviada ao Congresso.

Parte desse montante adicional será destinada a compensar perdas fiscais de outros projetos, como o que regulamenta investimentos financeiros e a revisão das regras de tributação para subsidiárias de empresas brasileiras no exterior. Eventuais recursos excedentes podem melhorar o resultado primário do governo.

Embora o governo tenha adotado várias iniciativas para elevar a arrecadação, o controle de gastos públicos ainda é um tema delicado. Como observou Marcos Lisboa, economista e ex-presidente do Insper, no Brasil, é raro cortar gastos públicos; o máximo que se faz é limitar seu crescimento. A regulação e tributação de sites de apostas online também estão na pauta do Ministério da Fazenda, devendo ser o próximo setor para o abate da equipe econômica.

O ministro Fernando Haddad anunciou que cerca de 2 mil plataformas serão bloqueadas por operarem ilegalmente. As plataformas que continuarem operando legalmente estarão sujeitas a tributação, contribuindo para o aumento da arrecadação. Concordo com essa abordagem; as apostas online se tornaram uma questão preocupante, com muitos brasileiros acumulando dívidas. É uma questão que exige uma intervenção firme e regulatória.

· 02:35 — Como vem o desemprego?

Nos EUA, os principais índices de ações fecharam um dia de negociações voláteis com leves quedas, em meio às últimas notícias sobre o conflito crescente no Oriente Médio. O S&P 500 recuou 0,2%, o Nasdaq Composite caiu menos de 0,1% e o Dow Jones Industrial Average encerrou o dia com queda de 0,4%.

O índice de volatilidade CBOE, conhecido como VIX, subiu 8%, encerrando acima de 20 pontos pela primeira vez em um mês. Hoje, todas as atenções se voltam para o tradicional relatório de emprego (payroll) dos EUA, esperado com grande expectativa. A projeção é de um aumento de 140 mil empregos não-agrícolas em setembro, em comparação aos 142 mil adicionados em agosto. A taxa de desemprego deve se manter estável em 4,2%, sugerindo um mercado de trabalho sólido, mas sem grandes variações.

Esses dados serão fundamentais para os formuladores de política do Federal Reserve, que deliberam sobre suas próximas ações no início de novembro. Vários membros do Fed já indicaram que um enfraquecimento no mercado de trabalho pode ser um fator decisivo para iniciar a redução nas taxas de juros ainda neste outono. Vale lembrar que, embora haja um outro relatório de emprego antes da reunião do Fed de 6 e 7 de novembro, o relatório de hoje provavelmente será o último antes que os efeitos de eventos futuros, como o esperado furacão Helene, possam distorcer as estatísticas.

· 03:21 — Durou pouco…

O sindicato International Longshoremen’s Association e a United States Maritime Alliance, que representa os empregadores nos portos da Costa Leste e do Golfo, chegaram a um acordo provisório para um aumento salarial de 62% aos trabalhadores portuários ao longo dos próximos seis anos. Junto com isso, foi anunciada uma suspensão temporária das greves portuárias até 15 de janeiro, proporcionando mais tempo para finalizar o novo contrato, que também precisará abordar questões de automação e benefícios de aposentadoria.

Nesse período, os trabalhadores portuários continuarão operando sob os termos do contrato anterior. Essa medida traz um alívio para a economia, que ficará temporariamente protegida dos impactos de uma paralisação prolongada, como mencionei no início da semana, e também favorece o governo, que temia que uma greve estendida pudesse influenciar negativamente o humor do eleitorado nas eleições de novembro.

Porém, nem tudo está a favor dos democratas. A pouco mais de um mês das eleições, o furacão Helene, que resultou em pelo menos 154 mortes e declarou zonas de desastre em 66 condados nas Carolinas, Geórgia e Flórida, pode ter um impacto significativo nas urnas. A trágica tempestade causou interrupções nos serviços de correio e afetou a votação à distância. Milhares de seções eleitorais estão alagadas ou inacessíveis, impactando a votação antecipada que já começou na Carolina do Norte.

A área mais atingida no estado de Tar Heel contém quase um milhão de eleitores. Em 2020, Donald Trump venceu Joe Biden na Carolina do Norte por menos de 80.000 votos, sua menor margem de vitória em qualquer estado. Nesta eleição, cada voto será crucial. Trump está preocupado com o impacto do furacão sobre a votação nas áreas rurais, enquanto Harris busca evitar uma perda de popularidade por uma resposta inadequada à crise. Ambos estão utilizando a tragédia como plataforma eleitoral.

· 04:19 — Tensão no ar

O preço do petróleo disparou ontem (3), com o mercado antecipando que uma eventual retaliação de Israel ao Irã, após o recente bombardeio com mísseis contra os israelense, possa incluir ataques às instalações de petróleo iranianas. O referencial americano WTI subiu mais de 5%, encerrando o dia acima de US$ 73 por barril, após questionamentos ao presidente Joe Biden sobre um possível apoio a um ataque israelense à infraestrutura petrolífera iraniana. Esta manhã, o Brent já ultrapassou a marca de US$ 78 por barril, refletindo preocupações sobre o impacto de uma escalada nas tensões entre Israel e Irã sobre o mercado global — vale lembrar que o Oriente Médio é responsável por cerca de um terço da produção mundial de petróleo.

Caso Israel ataque as instalações de petróleo e gás do Irã, entre 300 mil e 1,5 milhão de barris diários de suprimentos podem ser afetados. Embora essa produção tenha como destino principal a China, e não os Estados Unidos, qualquer interrupção no fornecimento aumentaria as tensões geopolíticas. Uma preocupação central é o impacto potencial no Estreito de Hormuz, uma via estratégica essencial para o transporte de petroleiros, o que poderia levar o preço do petróleo a ultrapassar a marca de US$ 100 por barril. Em meio a esse cenário, os países árabes do Golfo têm buscado acalmar o Irã, reafirmando sua neutralidade no conflito entre Israel e o Estado pária iraniano durante reuniões realizadas nesta semana em Doha, Catar.

· 05:04 — Congressistas americanos no radar

Nos EUA, ganhou destaque a proposta de um grupo bipartidário de senadores para proibir a negociação de ações por membros do Congresso.

O projeto de lei, chamado “Ending Trading and Holdings in Congressional Stocks (ETHICS) Act”, foi elaborado por cinco senadores (quatro democratas e um republicano) e visa exigir que os parlamentares, seus cônjuges e filhos dependentes vendam seus ativos até 2027…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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