Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações da Ásia e do Pacífico fecharam sem uma única direção nesta quinta-feira (29), com os investidores ainda analisando os comentários do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que indicou que pode haver vários aumentos de juros à frente. A autoridade americana disse na quarta-feira que uma política mais restritiva está por vir enquanto o Fed continua sua luta contra a inflação, alertando para a probabilidade de aumentos nas taxas de juros nas reuniões subsequentes. No continente asiático em si, as vendas no varejo japonês subiram pelo 15º mês consecutivo em maio — paralelamente, o Japão e a Coreia do Sul devem discutir um acordo de swap cambial em sua primeira reunião financeira bilateral em sete anos.
Os mercados europeus operam nesta manhã em tom predominantemente positivo. Enquanto isso, os futuros americanos sobem, no aguardo de eventuais novas sinalizações sobre política monetária no Fórum de Sintra, em Portugal. A perspectiva de novos aumentos nas taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed), Banco Central Europeu (BCE) e Banco da Inglaterra (BoE) tem mantido os investidores globais em um clima de cautela, o que continua a afetar negativamente os mercados emergentes. Além disso, as incertezas em relação à economia da China também têm contribuído para esse cenário, com a divulgação de novos dados sobre a atividade econômica nesta noite. Nos EUA, o destaque é o anúncio do Produto Interno Bruto (PIB).
A ver…
· 00:55 — Finalmente, o dia do Conselho Monetário Nacional chegou
No Brasil, além da divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) na manhã de hoje, contamos com a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), talvez o principal evento da semana depois da ata do Copom na terça-feira. O encontro acontece logo depois de mais uma manutenção da taxa de juros no patamar de 13,75% ao ano e de alguns ruídos envolvendo um aumento de R$ 300 milhões em crédito subsidiado no programa de descontos dos automóveis — para compensar, o governo planeja implementar uma nova medida de reoneração do diesel a partir de outubro, com um acréscimo de R$ 0,03 por litro. Considerando o estresse fiscal até aqui, ainda que pequeno, a movimentação gerou ansiedade entre os investidores.
De qualquer forma, o que importará mesmo hoje será a direção do CMN. Ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antecipou que a meta da inflação de 3% ao ano será mantida. Isso seria uma sinalização muito positiva, podendo auxiliar no recuo das expectativas futuras (estima-se um impacto de pelo menos mais 0,3 p.p.). A mudança poderá acontecer no escopo de atuação, alterando a meta verificada no ano-calendário para uma de horizonte contínuo de 18 ou 24 meses. Se for só isso, ótimo. Poderemos continuar com a nossa expectativa de um novo ciclo de corte de juros a ser iniciado em agosto de 2023. Ainda pesa a revisão do juro neutro para 4,5% na ata do Copom. O estresse deve se mostrar presente apenas no curto prazo.
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· 01:54 — E esse PIB?
Nos EUA, ontem tivemos um pregão instável, com desempenho divergente entre setores e indústrias abaixo da superfície. Um destaque negativo foi o segmento de semicondutores, que abriram no vermelho após notícias durante a noite de que o governo dos EUA está considerando restrições adicionais de exportação para a China para certos chips relacionados à inteligência artificial. Apesar de não observarmos nenhum impacto material imediato, seguimos atentos a eventuais restrições adicionais. Pelo menos observamos otimismo sobre setores defensivos clássicos.
Na agenda, contamos com a divulgação da terceira e última estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) americano para o primeiro trimestre. As estimativas de mercado contam com um leve viés positivo para a revisão de hoje. Esperamos que a taxa anualizada seja de 1,4%, um décimo de ponto percentual a mais do que a segunda estimativa do final de maio. Em sendo o caso, ainda vemos resiliência por parte da economia americana, que resiste às elevações da taxa de juros pelo Fed. Se a robustez continuar, podemos realmente entrar em um cenário de “soft landing”.
· 02:35 — Você vai comer essa carne?
O Departamento de Agricultura, órgão regulador americano, aprovou recentemente a venda de frango feito de células animais pela primeira vez por duas empresas da Califórnia, Upside Foods e Good Meat, o que pode ser um marco para uma longa lista de empresas que buscam produzir carne cultivada em laboratório — carne e aves “cultivadas em células” ou “cultivadas”. A iniciativa poderia lançar uma nova era de produção de carne que poderia competir com as proteínas “plant based” (produtos vegetais). Aqui, a carne é normalmente cultivada em tanques de aço usando células que vêm de um animal vivo (um ovo ou um banco especial de células, por exemplo).
Os defensores dizem que a carne cultivada em laboratório tem muito menos probabilidade de ser infectada por bactérias e outros contaminantes que podem ser encontrados nas instalações de processamento, enquanto também pode haver redução da exposição a antibióticos ao tirar os animais de fazenda da equação. Os danos a eles e ao meio ambiente também são citados como uma vantagem, embora alguns digam que a carne cultivada pode exigir ainda mais energia e emitir mais gases de efeito estufa. Note que se trata de um pequeno passo e que levará de sete a dez anos até que o produto seja amplamente visto nos supermercados.
· 03:26 — Um discurso bem duro
O mercado conta com alguns números da inflação de preços ao consumidor de junho em países da Zona do Euro. Ontem, os dados italianos desaceleraram conforme previsto. Ao mesmo tempo, a inflação espanhola merece atenção, pois a taxa cheia está confortavelmente abaixo de 2%, enquanto o núcleo, que exclui os itens mais voláteis, deve continuar desacelerando. A inflação alemã, por sua vez, é uma história diferente, já que não há mais os efeitos benéficos dos preços de transporte subsidiados empurrando os números para baixo. Algo a prestarmos atenção.
Os dados chegam até nós depois das falas de vários banqueiros centrais, que usaram o Fórum de Sintra como palanque para externar a frustração com a inflação global, a qual se mostrou até agora resistente a uma enxurrada de aumentos nas taxas de juros — mesmo que tenhamos visto progresso, ele está bem mais lento do que se pressupunha. O presidente do Federal Reserve, por exemplo, sugeriu que o núcleo da inflação pode não atingir 2% por alguns anos. Com isso, as taxas devem continuar subindo em diferentes regiões desenvolvidas em 2023 (com exceção do Japão).
· 04:10 — A dor de cabeça de Putin
O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que o presidente russo, Vladimir Putin, está enfraquecido e perdeu parte de seu poder após a rebelião do grupo mercenário Wagner no final de semana. Como já conversamos, o evento mostrou que há rachaduras na estrutura de poder russa. Os ucranianos tentarão aproveitar a turbulência para obter ganhos em sua contraofensiva. De fato, apenas nos últimos dias, eles relataram progresso nas regiões de Zaporizhzhia e Kherson (embora a importância desses ganhos seja até agora marginal).
Nas palavras de Ian Bremmer, da Eurásia: “isso parece um pouco com uma versão extrema de 6 de janeiro nos Estados Unidos: um acontecimento antes impensável, que abalou a fé das pessoas no sistema, que expôs uma fragilidade estrutural das instituições nacionais, mas que pouco mudou no país no dia seguinte.”
De fato, apesar da probabilidade de mudança de regime na Rússia permaneça próxima de zero, os eventos mostraram que os riscos da cauda são maiores do que pensávamos. Quanto mais falarmos sobre guerra, mais volátil poderá se tornar o mercado — vivemos em uma era de maior impacto geopolítico sobre os ativos.
Isso é importante porque, conforme ilustrou estudo sobre as edições do New York Times, o tópico “guerra” demonstra um poder preditivo significativamente maior em relação ao retorno das ações. No modelo estatístico de classificação, verifica-se a existência de um suposto “fator guerra”, o qual ajuda a explicar o retorno das ações ao longo do tempo (foram 160 anos de dados). Nele, estima-se que um aumento de um desvio-padrão do fator (ocorrência de guerra ou algo do gênero) prevê um aumento de 3,80% no excesso de retorno anualizado das ações no próximo mês. Esse poder preditivo aumentou ao longo dos anos (nas últimas décadas, esse número é de 9,83%).