Espero que tenham aproveitado as celebrações de final de ano, pois 2025 já se desenha como um ano repleto de desafios. Iniciamos o calendário com grande expectativa pelo retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, cuja posse está marcada para o próximo dia 20.
Enquanto isso, os mercados aguardam ansiosamente pela ata da última reunião do Federal Reserve, a ser divulgada na quarta-feira (8), que pode trazer sinais sobre uma possível pausa no ciclo de cortes de juros já em janeiro. Adicionalmente, teremos nesta semana os dados de emprego nos EUA referentes ao mês de dezembro, sempre um termômetro importante da economia global. Vale mencionar que, na quinta-feira, os mercados globais terão redução na liquidez devido ao dia de luto oficial pela morte do ex-presidente Jimmy Carter.
Na Europa, os mercados começam a semana tentando ganhar fôlego, reagindo a novos dados econômicos, embora o movimento não seja uniforme. Na Ásia, a sessão também foi marcada por uma performance mista: enquanto o setor de tecnologia teve um dia positivo, os mercados chinês e japonês enfrentaram dificuldades. Na China, em particular, o sentimento negativo foi amplificado após o pedido das autoridades para que fundos mútuos limitem a venda de ações neste início de ano (pegou mal).
No cenário cambial, o dólar continua sua trajetória de fortalecimento global, complicando ainda mais o desempenho do Real, que teve um ano desastroso em 2024, perdendo quase 30% de seu valor — o pior desempenho desde 2021. Parte dessa desvalorização reflete a força global do dólar após a vitória de Trump, mas o declínio acentuado da moeda brasileira está fortemente atrelado às questões domésticas, especialmente à crise fiscal que segue sem resolução clara. O pessimismo em relação ao Brasil permanece evidente, mesmo depois de o Ibovespa ter encerrado o ano passado com uma queda superior a 10%. Entramos em 2025 com os holofotes voltados para Brasília, na expectativa de soluções concretas que possam mudar o rumo da economia e restaurar a confiança no mercado local.
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· 00:52 — Ainda estamos aqui
O Ibovespa, principal índice de ações do Brasil, encerrou 2024 com uma queda acumulada de 10,36%, registrando o pior desempenho desde 2021, quando recuou 11,93%. Este resultado reflete um cenário desafiador, marcado pela ausência de compradores locais e pela saída contínua de investidores estrangeiros. Ao longo do ano, os estrangeiros retiraram R$ 32,1 bilhões da bolsa brasileira, configurando a maior fuga de capital desde 2020, no início da pandemia de Covid-19, quando o saldo líquido foi negativo em R$ 40,1 bilhões.
O ambiente interno e externo combinado intensificou a aversão ao risco. Riscos fiscais persistentes, uma Selic elevada e os impactos diretos do protecionismo econômico promovido por Donald Trump afastaram ainda mais o capital estrangeiro. Como reflexo, o Ibovespa iniciou 2025 de forma desanimadora, abaixo dos 119 mil pontos. O pessimismo é evidente no mercado de capitais: o Brasil completou três anos consecutivos sem IPOs, a maior seca em 25 anos.
O câmbio segue em uma trajetória igualmente preocupante, com o dólar estabilizado ao redor de R$ 6,20. Nem mesmo as intervenções do Banco Central, que promoveu uma queima recorde de reservas internacionais em dezembro, conseguiram frear a desvalorização. As reservas encolheram 8,46% no último mês do ano, marcando a maior retração mensal da série histórica. Em termos nominais, caíram de US$ 363 bilhões para US$ 332 bilhões, o menor patamar desde fevereiro de 2023.
Apesar do quadro desolador, os preços dos ativos brasileiros já sofreram correções substanciais e rápidas, refletindo uma posição técnica extremamente negativa em relação ao país. Isso pode sugerir alguma estabilização no curto prazo, mas sem mudanças estruturais, a tendência de longo prazo continua preocupante. Adicionalmente, a recente pressão de vendas pode ser atribuída, em parte, ao resgate de fundos no final de novembro e início de dezembro, período em que o mercado reagia à fraca apresentação do medíocre pacote fiscal pelo governo. Se o governo não sinalizar melhorias concretas nas contas públicas, a espiral negativa pode persistir, forçando ainda mais aumentos na taxa de juros, possivelmente acima dos 15%.
Assim, no curto prazo, a atenção se volta para Brasília, que continua no centro das expectativas, mesmo em recesso. A reforma ministerial aguardada pode ser um divisor de águas. Além disso, dados econômicos relevantes estão no radar desta semana: a produção industrial, na quarta-feira (8); as vendas no varejo, na quinta (9); e o IPCA de dezembro, na sexta-feira (10), que será o principal indicador doméstico a ser observado. Falei sobre 2025 em um podcast junto ao Market Makers, ao lado de José Faria Jr., no final do ano passado. Deixo aqui meu convite para conferir clicando aqui.
· 01:46 — Semana de menor liquidez
A semana começa marcada por um ritmo ainda reduzido nos mercados americanos, com a terceira sequência consecutiva de menos pregões. Na quinta-feira, as bolsas estarão fechadas em um dia nacional de luto em memória do ex-presidente Jimmy Carter, que faleceu no final do ano passado aos 100 anos.
O calendário tem como destaque o relatório de empregos nos Estados Unidos, que será divulgado na sexta-feira (10), sendo um dos principais termômetros da economia americana. Antes disso, outros indicadores relevantes entram em foco, como o Índice de Gerentes de Compras de Serviços (ISM), previsto para terça-feira (7), e a aguardada ata da última reunião do Federal Reserve, que será divulgada na quarta-feira.
Além dos dados econômicos, a semana traz o Consumer Electronics Show (CES), um dos maiores eventos de tecnologia do mundo, programado para ocorrer de terça a sexta-feira. A participação do CEO da Nvidia (NVDC34), Jensen Huang, com um discurso esperado, pode influenciar os preços das ações de tecnologia, setor que tem sido um dos principais motores dos mercados globais.
No campo político, os preparativos para a posse de Donald Trump, marcada para o dia 20, continuam atraindo atenção. O presidente eleito tem defendido um projeto de lei orçamentária único no Congresso, mas essa abordagem pode atrasar sua aprovação, o que potencialmente retardaria a implementação de suas políticas econômicas.
Vale destacar que, após dois anos consecutivos de ganhos superiores a 20% no S&P 500 — que alcançou mais de 50 máximas históricas em 2024 —, os investidores podem encontrar razões para realizar lucros. A incerteza em torno das políticas de Trump, aliada a dúvidas sobre a trajetória dos juros e do crescimento global, surge como um possível catalisador para movimentos de correção no mercado.
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· 02:33 — De saída
Tudo indica que esta será a última semana de Justin Trudeau como primeiro-ministro do Canadá, encerrando um ciclo de mais de nove anos no poder. A renúncia de Trudeau é esperada entre hoje e quarta-feira, após perder apoio dentro do próprio Partido Liberal. Curiosamente, quando estive no Canadá durante meus estudos, ele ainda estava na primeira metade de seu mandato e colhia os louros típicos de um início de governo. O cenário atual, entretanto, não poderia ser mais contrastante.
Trudeau se tornou bem impopular e vem enfrentando uma erosão significativa no apoio de seu núcleo político mais próximo nas últimas semanas. No final do ano passado, comentei que a saída de Chrystia Freeland, sua ministra das Finanças, poderia ser o golpe final em seu governo — algo que parece ter se concretizado. Sua renúncia é mais um reflexo das dificuldades orçamentárias que dominaram diversas economias globais no contexto pós-pandemia, e que devem continuar marcando 2025.
De qualquer forma, o mandato de Trudeau estava com os dias contados, já que o Canadá teria eleições gerais neste ano. Sua saída pode acelerar esse processo, antecipando o pleito. Com isso, os Conservadores, liderados por Pierre Poilievre, estão bem posicionados para retornar ao poder, prometendo implementar reformas ambiciosas, especialmente em um cenário onde devem conquistar um bom número de cadeiras no parlamento. Se essa transição se confirmar, será mais um exemplo da mudança do pêndulo político global, reforçando a tendência de alternância de poder em diversos países que têm enfrentado pressões econômicas e políticas intensas.
·03:24 — Ainda algumas eleições pelo mundo
No início do ano passado, alertei para o cenário de um dos anos eleitorais mais intensos das últimas décadas. Com mais de 65 países indo às urnas em 2024, aproximadamente 4,2 bilhões de pessoas — cerca de metade da população adulta mundial — participaram de processos eleitorais. Agora, com o benefício do retrospecto, vimos muitos desses eleitores se voltarem contra os governantes incumbentes.
Embora 2025 não prometa o mesmo nível de agitação eleitoral, ainda há pleitos importantes no radar. Já mencionei as eleições no Canadá, onde os conservadores devem retornar ao poder, mas a Austrália também estará no centro das atenções. Lá, os conservadores preparam um retorno similar ao que se espera no cenário canadense. Na Alemanha, a situação não é diferente: em fevereiro, tudo indica que os conservadores da CDU formarão o novo governo, consolidando a mudança após a queda de Olaf Scholz no final do ano passado.
Nas Filipinas, o pleito de maio será crucial para medir o apoio ao reposicionamento estratégico que o presidente Ferdinand Marcos Jr. vem conduzindo, distanciando-se da China. Ainda na Ásia, a Coreia do Sul deve convocar eleições, em meio à turbulência política que marcou as últimas semanas.
Na América do Sul, teremos atenção voltada para a Bolívia, onde Luis Arce busca se reeleger em agosto, e para o Chile, onde a esquerda parece prestes a deixar a presidência. Já na Argentina, as eleições de meio de mandato serão um termômetro para avaliar o apoio popular às reformas do presidente Javier Milei.
Esses eventos ao redor do mundo serão acompanhados de perto ao longo do ano, especialmente pelo que podem sinalizar em termos de tendências políticas globais. As mudanças de pêndulo político, como temos observado em diversos países, podem ser um indicativo do que pode ocorrer no Brasil em 2026. A história política parece se alinhar para mais um ciclo de transformações e rejeição ao incumbente.
· 04:15 — Geração Beta
Uma nova geração está surgindo. Os bebês nascidos no dia de Ano Novo de 2025 inauguram a Geração Beta, composta por crianças que nascerão entre 2025 e 2039. Esses novos membros da sociedade têm como pais, predominantemente, indivíduos da Geração Z (nascidos entre 1998 e 2009) e da geração mais jovem dos millennials (nascidos entre 1980 e 1997). A Geração Beta será a segunda geração inteiramente nascida no século 21, com a perspectiva de que muitos de seus membros vivam para testemunhar o início do século 22.
A trajetória de vida dessa geração será profundamente influenciada pela inteligência artificial (IA) e por avanços tecnológicos cada vez mais rápidos. Para muitos, eventos como o primeiro passo humano em Marte ou a experiência de estar ao volante de um carro incapaz de se conduzir sozinho serão apenas histórias contadas, ou memórias indistintas. Esses marcos, que hoje representam inovação, estarão totalmente integrados às suas realidades cotidianas.
Até 2035, espera-se que a Geração Beta represente 16% da população mundial, evidenciando o impacto dessa nova coorte na sociedade global. Com o intuito de manter um padrão sistemático e compreensível para análises futuras, a prática de nomear gerações usando letras do alfabeto grego a cada 15 anos pode se consolidar, permitindo maior clareza no estudo das dinâmicas culturais, sociais e econômicas que emergirão com essas novas gerações.
· 05:09 — Calibre suas posições
Nos Estados Unidos, o índice S&P 500 registrou um retorno total de impressionantes 25% em 2024, posicionando-se no percentil 71 em relação aos últimos 40 anos e consolidando o segundo ano consecutivo de retornos superiores a 20% — em 2023, o índice havia apresentado 26% de retorno.