Mercado em 5 minutos

Arregacem as mangas: temos muito trabalho pela frente

Mercado nos EUA tem primeiro pregão no ano e declarações ‘desagradáveis’ do governo Lula: o que você precisa saber sobre o mercado nesta terça-feira (3)

Por Matheus Spiess

03 jan 2023, 09:04 - atualizado em 03 jan 2023, 09:04

Mercado em 5 minutos - trabalho em equipe
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Lá fora, os investidores estão de olho na volta do mercado nos EUA, que terá o primeiro pregão do ano hoje e promete elevar a liquidez dos mercados globais.

Nesta terça-feira, os mercados asiáticos fecharam o dia de maneira mista, sem uma única direção, mas predominantemente negativa, já que os investidores continuam preocupados com movimentos agressivos de política monetária dos bancos centrais globais neste ano (o tema principal de 2023 deverá ser o risco de recessão). 

Pelo menos os mercados europeus e os futuros americanos apresentam alta nesta manhã, apesar da fala dura da diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, de que 2023 será um ano difícil, já que os principais motores do crescimento, ou seja, EUA, Europa e China, estão experimentando atividade enfraquecida — os surtos de Covid na China também devem ser temática central nos primeiros meses do ano. No Brasil, o novo governo estressou o mercado local no primeiro dia útil de 2023. 

A ver… 

· 00:47 — Patinho feio? 

No Brasil, os investidores estão preocupados com o novo governo em Brasília, que criticou regras fiscais nos primeiros dias do ano e retirou estatais importantes, como a Petrobras e os Correios, do plano de privatizações. Há um receio de que a equipe econômica mais moderada, com Alckmin e Tebet, possa ter um papel decorativo. 

Ainda é cedo para dizer, é verdade, mas os primeiros sinais (prorrogação da desoneração dos combustíveis) não foram bons e isso foi para o preço. Notadamente, o próprio Haddad brincou que aceita seu papel de “patinho feio”, como se estivesse ali para fazer um tipo de advogado do diabo da esplanada.  

Devemos ter como primeiro grande tema econômico do ano a discussão sobre um novo arcabouço fiscal, o que fará com que o equilíbrio das contas públicas seja central no debate dos investidores. Novas sinalizações negativas vão prejudicar o mercado, mas também o próprio governo, com elevação do dólar e alta dos juros na curva. 

· 01:34 — De volta ao trabalho 

O mercado americano volta hoje. 2022 foi um ano muito difícil para os investidores. O S&P 500 caiu 19,4% no ano em seu quarto pior declínio anual desde seu início oficial em 1957. O Dow Jones foi um pouco melhor no ano passado, tendo caído apenas 8,8% no período. Por fim, o Nasdaq foi o pior dos três grandes: caiu 33% em 2022. Todos os três tiveram o pior ano desde 2008, mesmo com a alta do último trimestre. 

2022 foi também o pior ano desde 2008 para as ações da Apple, Microsoft, Alphabet, Nvidia, Costco, Cisco Systems, Adobe, Salesforce, Starbucks e S&P Global, entre outros, enquanto as ações da Tesla, Meta Platforms, e Accenture tiveram seu pior ano já registrado. Foi um período paradigmático, com um forte ajuste dos ativos, em grande parte por conta da alta dos juros. 

Na volta do mercado hoje, os investidores se debruçam sobre a Câmara dos Representantes dos EUA, que elegerá um presidente hoje. Isso normalmente é uma formalidade, mas a pequena maioria republicana e a natureza dividida em facções do partido sinalizam que o deputado republicano McCarthy não tem certeza de vencer. Ainda assim, é o favorito. Os próximos anos serão mais difíceis para Biden. 

· 02:36 — Dados alemães 

Os mercados europeus estão em alta nesta manhã, enquanto os investidores acompanham os dados de emprego e de inflação ao consumidor na Alemanha. O receio por lá é que mais inflação possa forçar mais juros sobre a economia, mas a deflação na variação mensal do índice de preços deve continuar a acontecer. 

Os preços da energia devem seguir no centro do debate financeiro dos investidores globais, principalmente na Europa, com o clima mais quente que o normal. Se os preços da energia forem moderados, haverá inflação e implicações fiscais por parte dos governos, que podem responder com subsídios aos preços da energia. 

· 03:07 — O problema da atividade chinesa 

As ações asiáticas tentaram se recuperar das perdas iniciais nesta terça-feira, mas os investidores ainda temem os problemas de curto prazo que as infecções por coronavírus na China possam causar. O destino de longo prazo ainda é uma reabertura completa da segunda maior economia do mundo, mas o caminho não será linear. 

Por lá, os indicadores de sentimento têm sido negativos, mas isso não é uma surpresa, dados os níveis de medo da população — os níveis de medo dos consumidores são importantes, pois afetarão os gastos no ano novo lunar. Ao mesmo tempo, um lote de pesquisas mostrou que a atividade fabril da China encolheu no ritmo mais acentuado em quase três anos, à medida que as infecções por Covid-19 varriam as linhas de produção. Em tese, a China está entrando nas semanas mais perigosas da pandemia. 

· 04:01 — As taxas de juros 

Nos EUA, os dados sobre as folhas de pagamento nesta semana devem mostrar que o mercado de trabalho continua apertado, enquanto os preços ao consumidor da União Europeia podem mostrar alguma desaceleração na inflação à medida que os preços da energia diminuem. 

Os efeitos da base de energia trarão uma redução considerável na inflação nas principais economias em 2023, mas a rigidez dos componentes principais, muito disso decorrente de mercados de trabalho apertados, impedirá uma política dovish (flexível) precoce dos bancos centrais. 

Neste sentido, as taxas de juros devem chegar a 5% nos Estados Unidos, 2,25% na Zona do Euro e 4,5% na Grã-Bretanha, permanecendo por lá durante todo o ano. A ata da reunião de dezembro do Federal Reserve prevista para esta semana provavelmente mostrará uma necessidade de mais juros por mais tempo, criando uma recessão. 

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.