Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em alta nesta quarta-feira, apesar dos sinais amplamente negativos de Wall Street durante o pregão de ontem, em meio à alta dos preços do ouro e sinais positivos dos mercados europeus. Os investidores também repercutiram positivamente o fato de que as infecções por Covid na China possam ter atingido o pico em algumas grandes cidades.
Na Europa, nesta manhã, assim como nos futuros americanos, as coisas vão bem. Há certa ansiedade pela ata do Federal Reserve sobre sua última reunião de política monetária, que poderá fortalecer a chance de um aperto de apenas 50 pontos-base no próximo encontro da autoridade, no início de fevereiro. Enquanto isso, no Brasil, as coisas vão de mal a pior com os primeiros dias de governo novo.
· 00:39 — Estão inviabilizando o próprio governo
Por aqui, o sentimento de aversão ao risco é grande. Em uma série de equívocos de comunicação e atuação desde a posse, no final de semana, o novo governo caminha para inviabilizar a si mesmo. Em outras palavras, devemos continuar a sentir sobre os ativos locais a pressão política de Brasília. Ontem, foram péssimas as participações de Galípolo, o secretário-executivo da Fazenda, e de Lupi, o ministro da Previdência.
O pior foi o segundo, que passou vergonha ao mentir sobre matemática e negar algumas verdades básicas sobre previdência social. A fala sobre “rever” uma suposta “antirreforma” é uma sinalização horrível — muito pouco provavelmente o governo conseguirá alterar alguma coisa da reforma previdenciária (não tem voto para isso e tem outras prioridades), mas a simples atuação vocal passa uma impressão péssima aos mercados. Não podemos ter retrocessos tão grandes (muita cabeça retrógrada ali).
Comprar briga com o mercado pode ser um caminho sem volta e Lula parece ainda não ter entendido a gravidade da situação. Por incrível que pareça, entre os loucos, Haddad acabou se tornando o mais palatável. Caberá a ele (junto à dupla Alckmin e Tebet) dar uma arejada na situação toda. Devemos até abril já começar a debater a nova regra fiscal, que hoje vive ainda encoberta sobre uma densa neblina. Se não houver previsibilidade, as coisas vão piorar muito e em uma velocidade surpreendentemente rápida.
· 01:41 — O que os americanos estão esperando?
Hoje, nos EUA, o grande assunto do dia é a ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) de sua reunião de política monetária de meados de dezembro. A autoridade elevou a taxa dos fundos federais em suas últimas sete reuniões em 2022, para uma alta total de 4,25 pontos percentuais, a maior variação desde 1980. Comentários sobre os próximos passos serão observados com lupa pelo mercado, mas a taxa terminal deverá ser algo acima de 5% ao ano mesmo.
Paralelamente, também temos o famoso relatório de emprego JOLTS, que estuda as vagas de emprego e a rotatividade de mão de obra. Espera-se que 10 milhões de vagas tenham sido abertas até o último dia útil de novembro, 334 mil a menos que em outubro — atualmente, existem 1,7 vagas de emprego para cada pessoa que procura emprego. Se o mercado de trabalho americano continuar apertado, o Fed terá mais confiança para continuar subindo os juros.
· 02:30 — Quarto turno
Ainda nos EUA, o deputado republicano Kevin McCarthy fracassou pela terceira vez em sua tentativa de assumir a presidência da Câmara dos EUA. Como falamos ontem, ainda que os republicanos tivessem maioria na Câmara, a margem era tão pequena que não era certeza que ele conseguiria facilmente, o que evidencia as rachaduras no interior do partido. A última vez que foi necessários mais de dois turnos para que houvesse a escolha de um presidente foi em 1923 (à época, foram necessários nove turnos).
Pelas leis americanas, a votação só acaba quando um candidato obtém maioria, com 218 votos. A falta de unidade dos republicanos é evidente e a Câmara não pode fazer nada até que eleja um presidente, inclusive expandir o teto da dívida americana. McCarthy ainda é o favorito e deverá levar a corrida, mas o teste mostra como não será fácil para ninguém nos EUA nos próximos anos. Teremos recessão e complicações políticas, o que justificaria mais realizações do mercado.
· 03:18 — Ruídos europeus
Na Zona do Euro, os investidores ainda repercutem a inflação alemã, que veio menor do que o esperado, o que mostra que a política monetária já começou a fazer efeito e que talvez o BCE não precise ir tão longe para controlar os preços. Hoje, contamos com os dados de preços ao consumidor de dezembro na França. Se houver um movimento parecido, os mercados podem ficar ainda mais animados.
Ainda na Europa, o índice de preços do Reino Unido mostrou uma ligeira desaceleração, sendo que houve uma queda mais acentuada nos preços não alimentares (os preços de alimentos ainda sobem bastante). Enquanto isso, os preços dos bens duráveis no Reino Unido tiveram a desinflação mais rápida desde 2010, com o enfraquecimento da demanda. Uma recessão deverá ser observada por lá.
· 04:01 — O problema da demanda
Ontem, chamou a atenção a queda das ações da Tesla, que começou o ano de 2023 com o pé esquerdo. A pioneira em veículos elétricos disse que entregou cerca de 405 mil unidades no quarto trimestre, um recorde trimestral que elevou seu total de 2022 para 1,3 milhão de veículos entregues (um aumento de 40% em relação a 2021). O problema foi que isso ficou abaixo da meta da empresa e da estimativa de consenso do mercado, mesmo com os recentes descontos oferecidos aos clientes.
Consequentemente, as ações da Tesla, que já perderam 65% de seu valor em 2022, começaram 2023 com uma queda de 12%. O próximo grande vetor para as ações deve ocorrer em 25 de janeiro, quando a Tesla publicará seus resultados financeiros do quarto trimestre. Contudo, ela não foi a única que sofreu com uma demanda mais baixa do que a esperada. A Apple também amargou quase 4% de queda no primeiro pregão do depois de cortar os pedidos de AirPods, Apple Watches e MacBooks no primeiro trimestre. Como podemos ver, a recessão já dá seus primeiros sinais mais firmes.
Um abraço,
Matheus Spiess