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Mercado começa o dia estável no Brasil, com recuperações no Japão e temor de recessão nos EUA; veja os destaques do dia

Nesta quinta-feira (8), o mercado reflete as recuperações nos índices de ações asiáticos enquanto os EUA enfrentam um temor crescente de recessão.

Por Matheus Spiess

08 ago 2024, 09:17 - atualizado em 08 ago 2024, 09:17

Gráficos passam por um mapa mundi digital

Imagem: Shutterstock.

Bom dia, pessoal. Os mercados globais enfrentaram turbulências esta semana, enquanto os investidores se preparam para movimentos divergentes dos bancos centrais dos EUA e do Japão, o que enfraquece o papel do iene como uma fonte barata de financiamento.

A maioria dos índices de ações asiáticos recuperou as perdas anteriores nesta quinta-feira (8), em um ambiente ainda volátil, à medida que os investidores analisam os sinais dos bancos centrais sobre o futuro das taxas de juros.

O petróleo se estabilizou após seu maior avanço em uma semana, com os mercados nervosos quanto a um possível ataque retaliatório do Irã a Israel.

Algumas instituições agora veem uma chance maior de a economia dos EUA entrar em recessão este ano, um aumento em relação aos 25% previstos no início do mês passado. De fato, mesmo que recessão não seja nosso cenário base, os dados sugerem um enfraquecimento mais acentuado do que o esperado na demanda por mão de obra e os primeiros sinais de cortes no emprego.

Os mercados europeus registram queda nesta manhã, enquanto os futuros americanos tentam se recuperar após a baixa de ontem. Os investidores buscam uma normalização no sentimento do mercado, mas isso não é simples.

Na agenda de hoje, além da continuidade da temporada de resultados, temos os pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos, que ganharam importância diante da necessidade de mapear uma possível recessão. Um número muito alto poderia provocar uma nova onda de temor no mercado — vale lembrar que já passamos da fase em que notícias ruins eram interpretadas como positivas para o mercado, agora notícias ruins podem realmente ter efeitos negativos. O ideal seria uma normalização gradual, sem grandes sobressaltos nos dados econômicos, para evitar sustos no mercado. Entre as commodities, por sua vez, petróleo e minério de ferro caem. 

A ver…

· 00:51 — Vibrações políticas

No Brasil, aguardamos ansiosamente a divulgação do IPCA de julho, que está prevista para amanhã. Enquanto isso, estamos atentos às declarações de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e Gabriel Galípolo, diretor de política monetária e principal candidato à sucessão de Campos Neto, que participarão de eventos distintos ao longo do dia. Espera-se que eles abordem os desdobramentos da última reunião de política monetária, o futuro da taxa Selic e os impactos da recente volatilidade no mercado global.

Como mencionei anteriormente, não prevejo um aumento na taxa básica de juros, mas é provável que ela permaneça elevada por um período prolongado. Além disso, a temporada de divulgação de resultados financeiros está em destaque, com a Petrobras (PETR4) apresentando seus números hoje à noite.

A grande expectativa dos investidores está centrada na distribuição de dividendos, essencial para o equilíbrio fiscal do governo. Nesse cenário, o Ibovespa superou novamente os 127 mil pontos, enquanto o dólar caiu para menos de R$ 5,65.

Na próxima semana, o foco volta para Brasília com a retomada das atividades do Congresso. Os mercados estão ansiosos por atualizações sobre o Orçamento de 2025, possíveis ajustes para 2024, a regulamentação da reforma tributária sobre o consumo e a discussão sobre a dívida dos estados, que pode ser votada já na terça (13) ou quarta-feira (14).

A frustração é evidente com a possibilidade de que a regulamentação da reforma tributária seja adiada para após as eleições municipais. Além disso, as medidas adicionais propostas pelo Senado, como o aumento da CSLL para compensar a desoneração da folha, são consideradas insuficientes. O Instituto Fiscal Independente do próprio Senado Federal aponta que essas medidas não compensam adequadamente a renúncia fiscal de mais de R$ 26 bilhões resultante da desoneração. Simultaneamente, o governo busca intensificar as revisões de despesas para tentar equilibrar as contas públicas.

Diante desse cenário, espera-se nova rodada de volatilidade no mercado devido ao persistente risco fiscal neste segundo semestre.

· 01:46 — A pressão do dólar

Na última quarta-feira, Shinichi Uchida, vice-presidente do Banco do Japão (BoJ), fez uma declaração significativa ao descartar novos aumentos nas taxas de juros do país enquanto o mercado global permanecer volátil. Esse pronunciamento reacendeu o interesse pelo carry trade entre o iene e outras moedas que oferecem juros mais elevados, como o peso mexicano, o rand sul-africano e o real brasileiro, que se valorizaram consideravelmente.

No Brasil, o dólar seguiu essa tendência e aprofundou a queda, fechando abaixo de R$ 5,65, impulsionado também pela expectativa de que a taxa Selic se mantenha elevada por mais tempo, em contraste com as expectativas de cortes nos juros pelo Federal Reserve a partir de setembro. Essa valorização do real é crucial para mitigar possíveis impactos inflacionários decorrentes da desvalorização cambial. Há preocupações de que a recente depreciação da moeda nacional possa contribuir com um aumento de até 50 pontos-base no IPCA.

Este cenário impõe desafios ao Banco Central do Brasil, que enfrenta a tarefa de manejar a intensa volatilidade cambial. Embora eu pessoalmente não preveja um aumento na Selic no curto prazo, apesar da pressão do dólar no mercado cambial, há quem defenda que, se o dólar não retornar a patamares inferiores a R$ 5,55, um aumento dos juros se tornaria inevitável.

Discordo dessa perspectiva, pois não acredito que o Banco Central esteja disposto a engajar-se nessa disputa no momento. No entanto, é plausível que continuemos a enfrentar um período de taxas de juros elevadas por um tempo mais extenso. Felizmente, a tendência de alta do iene, que tem contribuído para o enfraquecimento do real, parece não ser duradoura, o que deve trazer algum alívio para a economia brasileira.

· 02:35 — Espaço para melhorar

Nos EUA, as ações começaram o dia de ontem em alta, mas terminaram no vermelho, enquanto os investidores continuam a analisar os dados recebidos em busca de sinais de fraqueza econômica. O desempenho ficou aquém da recuperação que muitos esperavam ver. Em vez disso, o mercado registrou sua maior reversão desde 2022.

O Dow, que subiu 1,2% no seu ponto mais alto da sessão, perdeu seu maior ganho desde 2 de novembro de 2022. O S&P 500 e o Nasdaq, que subiram 1,7% e 2,1% nas suas respectivas máximas, marcaram seus maiores ganhos revertidos desde 8 de março de 2022. Apesar da tentativa de recuperação, o mercado continua nervoso e ansioso por mais dados econômicos.

Os próximos números da economia podem não ser tão tranquilizadores, especialmente com a temporada de furacões se aproximando. De fato, o clima foi um dos culpados pelo fraco relatório de empregos de sexta-feira (2), quando os empregadores dos EUA adicionaram apenas 114 mil empregos em julho, muito abaixo dos 175 mil previstos. Em grande parte, o dado foi influenciado pelo furacão Beryl, além de ainda refletir os efeitos do mercado de trabalho pós-pandêmico. Por isso, será importante acompanhar hoje os pedidos iniciais de auxílio-desemprego para a semana que termina em 3 de agosto. Um número muito alto pode renovar as preocupações.

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· 03:29 — O efeito dos jogos olímpicos nos preços

A mudança dos consumidores de economias desenvolvidas de comprar bens para se divertir (gastar com serviços) cria distorções nos dados econômicos. A crescente importância dos megaeventos pode aumentar os índices de preços ao consumidor — sem necessariamente aumentar o custo de vida dos consumidores. Neste sentido, os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, podem ter o mesmo choque repentino da demanda verificado em um show da Taylor Swift (lembrem-se que os shows da cantora impactaram os índices de inflação dos locais onde ela passou no ano passado). 

Não estou falando dos preços dos ingressos em si, que são bem altos, mas dos serviços que dão suporte ao megaevento. Os preços dos hotéis geralmente aumentam para acomodações perto de um local de megaevento. Os custos de transporte (em particular as passagens aéreas) também podem aumentar. Isso sem nem falar da alimentação nos locais dos eventos. Os aumentos de preços gerados por um aumento concentrado na demanda não afetarão o custo de vida para a maioria dos consumidores, mas prejudicam no carrego estatístico do dado.

· 04:18 — A esperança de um cessar-fogo

Os ataques que resultaram na neutralização de um comandante do Hezbollah em Beirute e de um líder do Hamas em Teerã ameaçam minar meses de esforços dos EUA para garantir uma trégua em Gaza e evitar um conflito mais amplo no Oriente Médio. Já abordamos esse tema nesta semana, quando expressei preocupação com uma possível escalada do conflito na região. O Irã rapidamente culpou Israel. Autoridades iranianas se reuniram com aliados regionais para discutir possíveis retaliações, e a região está se preparando para os próximos desdobramentos.

As autoridades dos EUA esperam uma retaliação iraniana nos próximos dias e estão se preparando, assim como fizeram em abril, quando o Irã lançou um ataque de drones e mísseis contra Israel em resposta ao ataque israelense ao Consulado Iraniano na Síria.

O Secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, alertou que, se Israel for atacado, os EUA o defenderão.

E quanto às negociações de cessar-fogo? Os ataques recentes certamente colocaram as negociações em espera, embora não necessariamente as tenham destruído. Vale lembrar que os esforços para garantir um cessar-fogo em Gaza já enfrentavam sérios obstáculos antes dos ataques recentes, principalmente devido às exigências impossíveis do Hamas ou aos ataques e violações do grupo terrorista palestino. Por trás de tudo isso, atualmente adormecidos, estão os esforços para criar laços diplomáticos entre Israel e as potências árabes. É importante lembrar que o ataque terrorista do Hamas em outubro do ano passado visava justamente paralisar os significativos avanços israelenses, muito importantes ao longo dos últimos anos.

· 05:07 — Monopólio?

Na segunda-feira (5), os Estados Unidos testemunharam um marco jurídico quando um juiz federal determinou que o Google (GOGL34) violou leis antitruste para manter seu monopólio nas buscas online. Esta é a primeira grande derrota judicial de uma empresa de tecnologia em décadas no que diz respeito a questões de monopólio. O juiz Amit Mehta foi enfático em sua decisão, afirmando que “o Google é um monopolista e agiu como tal para manter seu monopólio.” Este veredito é…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.