O dia (18) será marcado pela aguardada decisão de política monetária do Federal Reserve, nos Estados Unidos, que deve reduzir a taxa básica de juros em 25 pontos-base. Contudo, a expectativa é que o Fed adote um tom mais cauteloso, caracterizando o movimento como um “hawkish cut” — ou seja, um “corte conservador” com viés contracionista. Essa postura reflete a possibilidade de que o ciclo de cortes seja pausado em janeiro, dependendo dos dados econômicos que forem divulgados até lá.
Além disso, a autoridade monetária americana estará atenta ao impacto das primeiras medidas de Donald Trump, que assume a presidência no próximo mês, trazendo incertezas sobre os rumos da política econômica. Enquanto isso, os mercados reagem positivamente à expectativa de corte na taxa de juros: os futuros americanos operam em alta, acompanhados pelos índices europeus, que tentam dissipar os recentes ruídos políticos. Entre os destaques está a queda de Olaf Scholz na Alemanha, e a possível ascensão do conservador Friedrich Merz, conhecido por sua postura fiscalmente responsável, nas eleições convocadas antecipadamente para fevereiro.
Na Ásia, os mercados também fecharam em alta, refletindo o otimismo global em torno das decisões monetárias e a esperança de estabilidade política em meio às incertezas. O cenário indica um alinhamento dos principais índices globais em busca de um fechamento mais positivo para o final do ano. Rali de Natal (ao menos lá fora), é você?
· 00:53 — Avançou
No Brasil, o esforço do Congresso em avançar com pautas críticas na reta final dos trabalhos legislativos trouxe algum alívio ao mercado na segunda metade do pregão de ontem (17). A aprovação do primeiro texto de regulamentação da reforma tributária e o avanço inicial de uma das três propostas do pacote fiscal contribuíram para melhorar o humor dos investidores.
O projeto aprovado refere-se à inclusão de gatilhos para o arcabouço fiscal e permite o bloqueio de até 15% das emendas parlamentares (ainda é necessário passar pelo Senado). Até antes disso, o clima era de estresse generalizado: o dólar chegou a tocar R$ 6,20, e a curva de juros futuros indicava uma Selic terminal próxima de 17%. O Banco Central interveio duas vezes no mercado de câmbio para tentar conter a volatilidade, mas, como já destacado, essas intervenções parecem cada vez menos eficazes, assemelhando-se a uma queima desnecessária de munição. Em dezembro, o BC já injetou US$ 12,8 bilhões por meio de sete leilões à vista ou com compromisso de recompra — o maior volume para um único mês desde março de 2020, quando, em meio à pandemia de Covid-19, foram injetados US$ 23,4 bilhões.
Além das ações do BC, o Tesouro Nacional anunciou, pela primeira vez desde a pandemia, o cancelamento de seu leilão regular de títulos públicos, previsto para ocorrer amanhã. Em resposta às pressões do mercado, o Tesouro promoverá, entre hoje e sexta-feira, três operações extraordinárias de recompra e venda de títulos já emitidos, buscando assegurar a liquidez e o funcionamento do mercado. Ontem, no auge do estresse, o Tesouro emitiu NTN-Bs com taxas superiores a 8% — o maior nível desde junho de 2008. Esse patamar é claramente insustentável a longo prazo. No entanto, após mais um dia de forte volatilidade, os juros futuros devolveram parte dos prêmios ao longo da curva, refletindo a expectativa pela aprovação do pacote fiscal.
Agora, restam dois projetos importantes do pacote que devem ser votados hoje: um que estabelece um teto de 2,5% para a valorização real do salário mínimo e endurece as regras do Benefício de Prestação Continuada (BPC), além de uma PEC com medidas complementares. Enquanto isso, o Congresso ainda precisa votar o Orçamento de 2025, em meio aos esforços do governo para reconquistar a credibilidade fiscal.
Na corrida para aprovar essas pautas essenciais, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, já sinalizou a possibilidade de estender os trabalhos até sábado para votar o Orçamento. Se o Congresso conseguir avançar nesse cronograma, o mercado pode vislumbrar um fechamento de ano menos turbulento.
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· 01:47 — Segue para sanção presidencial
A Câmara dos Deputados aprovou, na noite de ontem, a principal proposta de regulamentação da reforma tributária, que agora segue para sanção do presidente Lula. Entre as alterações promovidas pelos deputados no texto aprovado pelo Senado na semana passada, destacam-se a exclusão do saneamento básico da lista de serviços com direito a uma redução de 60% nos impostos e a reincorporação de bebidas açucaradas, como refrigerantes, à lista de produtos sujeitos ao Imposto Seletivo.
A lei aprovada é um marco fundamental para a implementação do novo sistema tributário, sendo o principal instrumento regulatório que detalha o funcionamento dos impostos instituídos pela Emenda Constitucional. A reforma prevê a criação da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), federal, que substituirá IPI, PIS e Cofins, e do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), estadual, que unificará ISS e ICMS.
Os ajustes realizados no texto têm o potencial de reduzir a alíquota padrão do IVA em 0,7 ponto percentual, aproximando-a de 28%. No entanto, o esforço foi insuficiente para atingir a meta de respeitar o limite máximo de 26,5% estabelecido para a alíquota, o que exige novas medidas. Para cumprir essa determinação, o governo ainda precisará apresentar um projeto futuro que contemple ajustes adicionais. Seja como for, a aprovação dessa proposta marca um passo significativo na reestruturação do sistema tributário brasileiro, mas também reforça a necessidade de avanços contínuos para garantir sua plena eficácia e adequação às metas fiscais e econômicas. Como tenho falado, a reforma vai na direção correta, mas acabou ficando muito longe do ideal.
· 02:34 — Vem corte aí
Nos Estados Unidos, na véspera da aguardada decisão de política monetária, os mercados registraram queda generalizada, com destaque para o Dow Jones Industrial Average, que recuou pelo nono pregão consecutivo — sua mais longa sequência de perdas desde 1978. Apesar do desempenho negativo, o foco do dia está voltado para o esperado corte de 25 pontos-base na taxa básica de juros, que deve situá-la no intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano. Após o anúncio, a atenção se voltará para a coletiva de imprensa de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, que pode fornecer pistas importantes sobre os próximos passos da política monetária.
Com a economia dos EUA ainda mostrando sinais de resiliência e à luz do início do segundo mandato de Donald Trump, o mercado aguarda indicações sobre como o Fed pretende calibrar sua estratégia diante dos dados econômicos futuros. O cenário mais provável é o de um “hawkish cut”, em que o corte de juros vem acompanhado de um discurso mais cauteloso, sugerindo a possibilidade de uma pausa em janeiro enquanto o Fed avalia novos dados econômicos antes de decidir o próximo movimento.
Paralelamente, o Congresso dos EUA chegou a um acordo preliminar para aprovar um projeto de lei de financiamento temporário, evitando uma paralisação parcial do governo. Embora os Estados Unidos também enfrentem desafios fiscais, a resolução desse impasse, ao menos por enquanto, alivia a pressão sobre a administração. O cenário permanece de cautela, com o mercado acompanhando de perto os desdobramentos fiscais e monetários, que devem ditar o ritmo dos próximos meses.
· 03:21 — Será que mais um vai cair
Tenho dedicado os últimos dias a explorar como os desafios fiscais estão se acumulando em várias partes do mundo, indo muito além do cenário brasileiro — embora, como de costume, pareçamos sempre querer caprichar mais no problema. Governos da França, Alemanha e Coreia do Sul já enfrentaram quedas, impulsionadas, entre outros motivos, por impasses orçamentários. Nos Estados Unidos, o risco de shutdown foi evitado, ao menos temporariamente, com um acordo de financiamento de curto prazo. No entanto, o cenário não é tão otimista para o vizinho do norte.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, está sob intensa pressão, com líderes da oposição pedindo sua renúncia. Esse desgaste não é recente: indo para seu décimo ano no poder, Trudeau enfrenta uma queda acentuada de popularidade, agravada pela perspectiva de uma derrota iminente para os conservadores nas eleições do próximo ano. No entanto, a paciência dentro de seu próprio partido, o Liberal, parece estar se esgotando. Muitos veem sua saída antecipada como a única forma de minimizar os danos e preservar alguma chance de competitividade no pleito.
O episódio mais recente que intensificou a crise foi a renúncia de Chrystia Freeland, ministra das Finanças e figura de destaque no governo. Em uma carta de demissão contundente, Freeland criticou duramente o plano orçamentário de Trudeau, que propõe aumentar os gastos em meio à aproximação das eleições. Embora um voto de desconfiança no governo não pareça iminente, especialmente com o Parlamento entrando em recesso para as festas de fim de ano, a possibilidade paira no ar. Caso ocorra, Trudeau poderá se juntar à lista de líderes globais que enfrentaram graves problemas orçamentários e acabaram sucumbindo politicamente.
· 04:16 — Grande fusão
Enquanto o parlamento japonês aprovou um orçamento suplementar de US$ 90 bilhões para o atual ano fiscal, com vigência até março de 2025, destinado a financiar um novo pacote econômico focado em medidas de alívio da inflação e custos de reconstrução após desastres naturais, o mercado asiático voltou seus olhos para outro tema de grande impacto: a possível fusão entre as montadoras Honda e Nissan, com chances de incluir, futuramente, a Mitsubishi Motors. Caso se concretize, esse movimento criaria um poderoso concorrente para a Toyota, consolidando a indústria automobilística japonesa em dois grandes blocos. Além disso, a fusão proporcionaria à Honda e à Nissan os recursos necessários para disputar mais intensamente o mercado, em meio à crescente pressão para se destacar no desenvolvimento de veículos elétricos.
Essa proposta ocorre no contexto de uma colaboração já existente entre as empresas, iniciada neste ano, focada no desenvolvimento conjunto de baterias e softwares para carros elétricos. A perspectiva de uma fusão impulsionou as ações da Nissan na Bolsa de Tóquio, refletindo o entusiasmo do mercado com o potencial financeiro da aliança. Para a Nissan, a medida traria alívio econômico imediato, enquanto, para a Honda, os benefícios parecem mais estratégicos do que práticos no curto prazo. A iniciativa, caso avance, poderá redefinir o equilíbrio de forças na indústria automotiva japonesa e fortalecer sua posição no cenário global. Deverá movimentar o mercado em 2025.
· 05:07 — Saindo da concentração
Nos EUA, temos acompanhado um verdadeiro rali das ações, impulsionado principalmente pelo desempenho impressionante das grandes empresas de tecnologia. No entanto, esse movimento de alta tem se mostrado fortemente concentrado, levantando preocupações sobre a sustentabilidade e a amplitude desse avanço. Um reflexo disso pode ser observado no Dow Jones, que registrou sua nona queda consecutiva ontem, marcando a mais longa sequência de perdas desde 1978.