Investimentos

Mercado de olho nos balanços de Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11) e dados de empregos nos EUA: confira destaques desta quarta-feira (5)

As medidas protecionistas de Donald Trump ainda devem ecoar nos mercados internacionais, com a Europa aguardando ser a próxima “vítima”. Entenda.

Por Matheus Spiess

05 fev 2025, 09:32 - atualizado em 05 fev 2025, 09:44

Imagem: iStock.com/Mongkol Onnuan | Montagem: Canva PRO

Os mercados globais seguem repercutindo os desdobramentos da escalada protecionista do presidente americano, Donald Trump, gerando reações mistas nos principais índices internacionais. Na Ásia, os mercados encerraram o dia sem uma tendência única, refletindo a cautela dos investidores diante do acirramento das disputas comerciais. Além disso, o Índice de Gerentes de Compras (PMI) de Serviços da S&P Global registrou uma queda mais acentuada do que o esperado em janeiro, ampliando as incertezas sobre a recuperação econômica da região.

Na Europa, o sentimento também é predominantemente negativo, com investidores assimilando os resultados corporativos de grandes empresas do continente, como Novo Nordisk e GSK. Apesar das surpresas positivas nesses balanços, o mercado permanece em alerta com a decisão de Trump de impor tarifas de 10% sobre as importações chinesas, além do aviso de que a União Europeia será o próximo alvo. 

Nos Estados Unidos, os futuros operam em baixa enquanto os investidores aguardam a divulgação do relatório ADP de criação de empregos no setor privado. O dado ganha ainda mais relevância após o relatório JOLTS de ontem (4) ter indicado uma desaceleração no mercado de trabalho americano — o enfraquecimento do mercado de trabalho reforça as expectativas de cortes de juros pelo Federal Reserve. Além disso, a temporada de balanços continua influenciando o humor dos investidores. As ações da Alphabet (GOGL34), dona da Google, e da AMD (A1MD34) registraram quedas expressivas após resultados decepcionantes divulgados na noite de ontem, adicionando mais pressão ao mercado.

No setor de commodities, o petróleo opera em baixa, pressionado pelo aumento dos estoques nos Estados Unidos e pelas crescentes tensões comerciais entre China e EUA. A queda da commodity contrasta com o movimento de alta observado na sessão anterior, quando Trump restabeleceu a política de pressão máxima sobre o Irã, impondo novas restrições às exportações de petróleo bruto do país.

· 00:58 — Não, o real não está forte…

No Brasil, o dia traz como destaque a divulgação dos resultados de grandes bancos, como Santander (SANB11) pela manhã e Itaú (ITUB4) no período da noite. No campo macro, a atenção se volta para os dados da produção industrial de dezembro, que deve acelerar sua queda para 1,2% no mês. Apesar do crescimento acumulado de quase 3% ao longo de 2024, os sinais de desaceleração da atividade econômica já são evidentes, o que corrobora com a sinalização mais cautelosa do Copom em sua ata divulgada ontem (4). 

Outro ponto que chama atenção é a sequência de desvalorização do dólar frente ao real, chegando agora à sua 12ª sessão consecutiva de queda (faz 20 anos que não temos uma sequência tão longa). No entanto, um câmbio a R$ 5,77 ainda não é motivo para comemoração. Essa reversão de tendência se explica, em parte, pelo enfraquecimento global do dólar após a posse de Donald Trump, que apenas nesta semana voltou a recuperar força com as novas disputas comerciais. No âmbito local, há uma leve melhora no ambiente, embora sem mudanças estruturais significativas.

Dois fatores internos ajudam a explicar essa movimentação cambial. Primeiro, o compromisso do Banco Central em manter uma postura firme tem fortalecido o “carry trade“, tornando o real mais atraente para investidores estrangeiros em busca de rendimento. Segundo, como mencionamos no início do ano, o nível do mercado importa: após a queda generalizada dos ativos brasileiros no final de 2024, uma recuperação, ainda que parcial, era esperada. Entretanto, essa valorização da moeda brasileira não deve ser motivo para complacência: o câmbio ainda reflete um patamar elevado e os desafios fiscais permanecem longe de uma solução definitiva.

O risco agora é que a recente queda do dólar sirva de justificativa para o governo postergar medidas essenciais de ajuste fiscal — um comportamento recorrente no Brasil, onde qualquer sinal de alívio se traduz em relaxamento das reformas necessárias. O país ainda precisa lidar com o orçamento de 2025 (só depois do Carnaval), que pode trazer surpresas negativas relacionadas às despesas obrigatórias, além de um quadro fiscal preocupante, com a dívida pública crescendo 1,55% em dezembro frente a novembro, atingindo R$ 7,316 trilhões (projeções indicam que esse montante pode alcançar entre R$ 8,1 trilhões e R$ 8,5 trilhões até o final de 2025).

Se há um ponto positivo no cenário político, ele vem das primeiras declarações do novo presidente da Câmara, Hugo Motta. Suas mensagens iniciais foram bem recebidas pelo mercado, sinalizando que o Congresso não deve avançar com uma ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda sem uma compensação clara. Além disso, há um alinhamento maior entre a cúpula do Congresso e a equipe econômica do governo, em detrimento da ala política mais expansionista. Motta também enfatizou que não vê espaço para propostas que envolvam aumento de arrecadação, defendendo, em vez disso, cortes de gastos. Esses são sinais encorajadores, mas que ainda precisam se traduzir em ações concretas para restaurar a confiança fiscal no Brasil.

· 01:49 — E a Reforma Ministerial?

Outro fator que tem contribuído para a valorização do real é a crescente expectativa de uma mudança no pêndulo político em 2026, algo que já discutimos extensivamente. As pesquisas mais recentes escancararam a queda na aprovação do governo, sinalizando um ambiente político mais desafiador para Lula. Um presidente enfraquecido naturalmente aumenta a probabilidade de uma mudança na condução da política econômica em Brasília, cenário que, considerando a resistência de Lula a reformas pró-mercado, seria visto como positivo para os ativos brasileiros.

Além disso, alternâncias regulares entre governos de espectros opostos são essenciais para a saúde democrática de qualquer país. O atual momento social e econômico global parece favorecer uma guinada para governos mais à direita, como resposta natural ao ciclo anterior, mais progressista. O mercado já começa a precificar que um candidato alinhado a uma agenda fiscal mais responsável e com viés reformista teria, a partir de 2027, um ambiente político e social mais favorável para governar. No cenário ideal, essa transição se fortaleceria ainda mais caso nem Lula nem Bolsonaro participassem do pleito, abrindo espaço para uma renovação geracional na política. A ascensão de candidatos mais moderados, tanto na direita quanto na esquerda, poderia representar um avanço institucional significativo para o Brasil, reduzindo a polarização.

No entanto, ainda há um longo caminho até lá, e Lula certamente buscará reforçar sua posição para evitar um desgaste irreversível. Nesse sentido, uma Reforma Ministerial é esperada já neste início de ano, como um movimento para recompor alianças e melhorar a governabilidade. Nos bastidores, a ala mais pragmática do PT tem intensificado o diálogo com líderes do Centrão, mas tem ouvido alertas claros: uma simples rearranjo de cadeiras, sem mudanças estruturais, não será suficiente para reverter a deterioração da credibilidade do governo. Para obter um impacto real, avaliam os articuladores políticos, seria necessário uma verdadeira reforma ampla.

Dentro desse contexto, uma das sugestões que circulam entre os principais partidos do Congresso é uma mudança estratégica nas cadeiras ministeriais mais importantes. Segundo fontes do Centrão, Lula deveria considerar deslocar Fernando Haddad para a Casa Civil e nomear Geraldo Alckmin para a Fazenda. Embora não esteja claro se essa troca realmente ocorreria, ela poderia tirar Haddad do centro dos holofotes negativos, preservando-o como o único sucessor viável de Lula dentro do PT — apesar de seu histórico recente de derrotas eleitorais. Uma reconfiguração ministerial bem estruturada poderia, na prática, representar uma espécie de renovação do governo, algo que acompanharemos de perto nas próximas semanas.

· 02:31 — Entre a guerra comercial e os resultados corporativos

Nos EUA, as atenções na guerra comercial se voltaram para a mais recente resposta da China, que anunciou tarifas retaliatórias sobre importações americanas. Apesar desse cenário desafiador, o mercado de ações registrou alta na sessão de ontem, impulsionado por um relatório Jolts mais fraco do que o esperado, sinalizando um possível arrefecimento no mercado de trabalho. Esse dado reforça a expectativa de que o Federal Reserve possa ter mais espaço para reduzir as taxas de juros em 2025.

Hoje (5), o foco se volta para o relatório de empregos ADP, que pode reforçar essa visão caso traga novos sinais de desaceleração no mercado de trabalho. No entanto, o dado mais aguardado da semana será divulgado apenas na sexta-feira (7), com a publicação do payroll, que deve fornecer um panorama mais abrangente sobre a saúde do emprego nos EUA e, consequentemente, influenciar as apostas sobre a política monetária.

Paralelamente, seguimos acompanhando os desdobramentos da temporada de balanços corporativos. Até o momento, quase metade das empresas do S&P 500 já divulgou seus resultados, e os lucros por ação estão projetados para registrar um crescimento anual de 11,5%, com as receitas avançando 4,6%. Esse ritmo de expansão da receita seria o segundo mais rápido desde a recuperação econômica de 2021. Ainda assim, nem todos os balanços vieram dentro das expectativas. Nomes como PepsiCo, PayPal, AMD e Alphabet decepcionaram o mercado. Para o pregão de hoje (5), os investidores aguardam a divulgação dos resultados de grandes companhias, como Arm Holdings, Ford Motor, MetLife, Uber e Walt Disney.

· 03:27 — Mais volatilidade

Já era esperado que as ações americanas enfrentassem pressão caso Donald Trump anunciasse tarifas mais severas do que as já precificadas pelo mercado ou rejeitasse uma implementação gradual, como vinha sendo sugerido por sua equipe econômica. Esse cenário adicionaria um fator de instabilidade a um mercado que, apesar de sua forte valorização recente, já opera em níveis elevados de incerteza.

Vale lembrar que o S&P 500 acumulou uma alta de aproximadamente 60% desde janeiro de 2023, impulsionado, em parte, por um ambiente de expectativas moderadas em relação ao crescimento econômico e aos lucros corporativos. Nos últimos dois anos, predominava o temor de uma recessão iminente nos EUA, o que manteve as projeções conservadoras e facilitou a superação das estimativas por parte das empresas. Agora, com um consenso mais otimista e sem o mesmo receio de recessão, o cenário se torna mais desafiador. A barra para surpresas positivas está mais alta, e qualquer decepção pode ter um impacto mais significativo nos mercados.

Além disso, a projeção atual para o crescimento do PIB dos EUA em 2025 é consideravelmente mais robusta do que as estimadas nos anos anteriores, o que aumenta a sensibilidade do mercado a novos riscos. Isso significa que, em um ambiente de valuations elevados, um aumento na incerteza política e comercial — particularmente sob uma retórica mais agressiva de Trump — poderia tornar as ações americanas mais vulneráveis a correções e amplificar a volatilidade.

· 04:13 — Estresse geopolítico

A incerteza no cenário global se intensificou ainda mais após o presidente Donald Trump sugerir que os Estados Unidos poderiam assumir o controle da Faixa de Gaza e liderar a reconstrução do território, devastado pelo conflito desencadeado pelos ataques terroristas do Hamas contra Israel. Essa proposta representaria uma mudança significativa na postura dos EUA em relação à região e levanta uma série de implicações geopolíticas. A fala foi proferida durante uma coletiva de imprensa conjunta com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Trump fez essas declarações após várias nações árabes rejeitarem sua sugestão anterior de que os palestinos deveriam ser permanentemente realocados para fora de Gaza.

Apesar desse posicionamento, não parece haver um apetite real do governo americano para se envolver em um conflito prolongado na região, seja em Gaza ou na Ucrânia. No caso do leste europeu, cresce a sinalização de que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, estaria mais disposto a negociar diretamente com Vladimir Putin para discutir um possível acordo de paz, diante da crescente fadiga do Ocidente em continuar financiando a guerra contra a Rússia. Esse possível realinhamento nas estratégias dos EUA e seus aliados pode ser um fator-chave para os mercados nos próximos meses.

· 05:05 — Novas verticais

Ao longo da semana, mencionei meu entusiasmo com o resultado do Itaú, que será divulgado na noite de hoje. No entanto, outro nome que merece atenção, não apenas para a temporada de balanços, mas para o ano como um todo, é Porto (PSSA3). Já recomendado anteriormente neste espaço, o papel acumula alta de mais de 30% nos últimos seis meses, refletindo a evolução da empresa na diversificação de seus negócios e na redução gradual da dependência de seguros automotivos.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.