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Mercado em 5 minutos

Mercado deve digerir corte da Selic de 50 pontos-base e produção de petróleo caminha para bater recorde nos EUA; confira

Além disso, o Banco da Inglaterra realizará sua reunião de política monetária hoje e pode chegar a uma decisão dividida.

Por Matheus Spiess

03 ago 2023, 08:32 - atualizado em 03 ago 2023, 08:32

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Imagem: Adobe Stock

Bom dia, pessoal. Nesta quinta-feira (3), os mercados asiáticos seguiram o movimento de baixa de Wall Street após a Fitch Ratings cortar a classificação de crédito do governo dos Estados Unidos. O benchmark do mercado de Tóquio teve uma queda de quase 1,5%, enquanto Xangai, Hong Kong e Seul também registraram quedas. No entanto, alguns ativos chineses conseguiram se manter em alta devido à resiliência dos índices PMI de serviços.

Ontem, o mercado americano teve sua maior queda em meses, influenciado pelo rebaixamento da Fitch e pela percepção de que as contas públicas dos EUA estão se deteriorando, o que gerou um sentimento pessimista que se espalhou globalmente.

Os mercados europeus também estão em queda hoje, acompanhados pelos futuros americanos que enfrentam dificuldades nesta manhã. Embora seja possível minimizar o impacto direto do rebaixamento da nota de risco soberano dos EUA, a decisão desencadeou uma onda de aversão ao risco nos mercados de ações globais, levando os investidores a realizar lucros após uma forte alta nos meses anteriores.

A agenda internacional ainda reserva mais resultados corporativos e a reunião de política monetária do Reino Unido. Enquanto isso, no cenário doméstico, além dos números corporativos do trimestre encerrado em junho, os investidores estão avaliando os desdobramentos da conclusão do Copom de ontem. Todo esse contexto contribui para a volatilidade e incerteza nos mercados, com os investidores reagindo a cada novo desenvolvimento.

A ver…

· 00:54 — O melhor dos mundos

No Brasil, finalmente foi dado início ao ciclo de flexibilização da política monetária, como já tínhamos previsto. A notícia trouxe alegria a todos, pois não apenas a taxa Selic foi reduzida em 50 pontos-base, para 13,25% ao ano, mas também houve um alinhamento positivo entre Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central, e Gabriel Galípolo, o novo diretor de política monetária.

Conforme havíamos discutido, havia espaço para um corte de 50 pontos, em vez de 25 pontos, o que, embora fosse mais consistente com a comunicação recente do BC, eliminou a possibilidade de pressão por parte do governo em relação à entrada de Galípolo no comitê. O placar foi de 5 a 4, sendo que Roberto Campos Neto utilizou o voto de minerva para mostrar alinhamento com Galípolo e evitar perda de credibilidade do BC. Excelente jogada.

Ontem, as ADRs (American Depositary Receipts) brasileiras listadas no exterior estavam em alta no “after-market” de Nova York. O mesmo padrão foi observado no “pre-market” de hoje. A repercussão local tende a ser positiva hoje, com mais devolução de prêmio em diferentes vértices na curva de juros. Além disso, parte do mercado esperava um corte de 25 pontos ontem, e isso precisará ser ajustado agora. Vale destacar que o comitê ainda projetou cortes de mesma magnitude para os próximos três encontros de 2023, o que levará a Selic para 11,75% até o final do ano – uma previsão que também precisa ser refletida nos preços dos ativos.

Outro ponto relevante é que todos os membros do comitê concordaram unanimemente com mais cortes de mesma proporção nas próximas reuniões, o que esvaziou a falta de unanimidade no encontro de ontem. Com isso, fica claro que a saga de redução dos juros está apenas começando, e o primeiro movimento foi mais dovish (flexível) do que o esperado. O mercado deve ficar atento aos próximos desdobramentos e como as decisões do BC irão influenciar a economia e os investimentos nos próximos meses.

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· 01:59 — A reação foi dura

Nos EUA, a notícia do rebaixamento da nota pela Fitch Ratings, na noite de terça-feira, da dívida de longo prazo dos EUA de AAA para AA+, teve uma repercussão negativa. A agência citou o impasse do teto da dívida nesta primavera como um dos principais motivos para a decisão. Esse rebaixamento foi um golpe duro para os EUA, uma vez que o sistema financeiro global confia na promessa de que o governo sempre pagará suas dívidas, o que torna o dólar americano a moeda mais amplamente mantida em todo o mundo. Esse downgrade ameaça complicar essa confiança e sua posição no cenário internacional.

Historicamente, durante o impasse do teto da dívida em 2011, a Standard and Poor’s também rebaixou a nota da dívida dos Estados Unidos pela primeira vez na história. O rebaixamento ocorreu numa tarde de sexta-feira, dando aos investidores o fim de semana para ponderar sobre seu próximo passo. No entanto, isso não ajudou muito, pois no primeiro dia de negociação após o rebaixamento, o S&P 500 despencou 6,5%, e os mercados experimentaram sua semana mais volátil desde a crise de 2008. Levou mais seis meses para os mercados se recuperarem e voltarem às máximas anteriores.

Contudo, desta vez pode ser diferente. Os investidores já passaram por um rebaixamento da classificação de crédito dos EUA antes e perceberam que, na verdade, ele não aumentou significativamente os custos de empréstimos dos EUA ou prejudicou os mercados do Tesouro. Por isso, o rebaixamento pela Fitch é considerado um desenvolvimento já bem precificado e não deve ter um impacto estrutural nos mercados financeiros ou na economia. Enquanto o Federal Reserve continuar tratando os papéis emitidos nos EUA como crédito classificado como AAA, os participantes do mercado também seguirão a mesma avaliação.

· 02:52 — O ouro negro

A produção de petróleo bruto nos Estados Unidos está se encaminhando para alcançar um recorde este ano, o que está contribuindo para manter os preços da energia estáveis e enfraquecendo os esforços da Arábia Saudita e de outros exportadores de petróleo para aumentá-los. Embora a Opep e seus aliados tenham reduzido a produção este ano, o aumento na produção de países fora do grupo está compensando essa diferença.

Metade do aumento na produção de petróleo vem dos Estados Unidos, onde empresas como ConocoPhillips e Devon Energy registraram um forte aumento na produção no primeiro trimestre, impulsionadas por esforços para melhorar a eficiência. Essa tendência coloca o mercado de petróleo em uma posição assimétrica, favorecendo o lado positivo, uma vez que a demanda por petróleo nos EUA está se recuperando em um ritmo acelerado e a produção de petróleo de xisto do país está atingindo o pico.

Com esse cenário, os preços do petróleo permanecem relativamente estáveis, apesar das tentativas da Opep de equilibrar o mercado com cortes na produção. O aumento da produção nos EUA está fornecendo um contrapeso significativo e pode continuar a influenciar o mercado global de energia no futuro próximo.

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· 03:38 — Quem pediu mais decisão de política monetária?

No continente europeu, o Banco da Inglaterra realizará sua reunião hoje e pode chegar a uma decisão dividida. Os dados econômicos do Reino Unido podem ser analisados de diversas maneiras. Por um lado, os empréstimos hipotecários mostram resistência, por outro, os preços das casas estão em queda, a inflação está diminuindo gradualmente e é sustentada, em grande parte, por fatores peculiares que o banco central tem pouco controle para influenciar. O consenso entre os analistas é que a autoridade monetária deve elevar as taxas de juros em 25 pontos-base, chegando a 5,25% ao ano, mas não descartam completamente a possibilidade de um aumento de 50 pontos, embora seja menos provável.

Em relação aos índices econômicos, o índice de preços ao consumidor de junho apresentou uma desaceleração, atingindo uma alta anual de 7,9%, mas ainda está distante da meta de inflação de 2%. Mesmo que o Banco da Inglaterra opte por aumentar as taxas de juros novamente, é provável que estejamos nos aproximando do fim do ciclo de aperto monetário. Entretanto, para controlar os preços de forma mais enfática na economia britânica, seria difícil evitar uma recessão. Diante disso, os mercados estão se preparando para a possibilidade de que as taxas de juros atinjam um pico em torno de 5,75% até o final deste ano.

· 04:20 — E o “soft landing”?

Muitas pessoas estão se questionando se Canadá e EUA estão seguindo um caminho de “aterrissagem suave” para suas economias, ou seja, controlando a inflação sem desencadear uma grande recessão, o que é extremamente raro de ser alcançado. No entanto, há argumentos para ambos os lados. Vamos examinar a situação dos preços no Canadá como exemplo: a taxa de inflação anual caiu para 2,8% em junho, um valor menor do que o esperado, sendo o patamar mais baixo desde abril de 2021.

De um lado, a inflação no Canadá agora está dentro da faixa de 2-3%, considerada saudável pelos economistas, e continua sendo a taxa mais baixa entre os países do G-7. Isso indica que o Banco do Canadá pode em breve optar por reduzir as taxas de juros, apesar de tê-las elevado no mês anterior para 5%, o nível mais alto em 22 anos. Essa movimentação sugere que a economia canadense está, possivelmente, seguindo em direção a uma “aterrissagem suave”.

Por outro lado, o núcleo da inflação, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, permanece resistente. Essa tendência também está ocorrendo nos EUA, onde a inflação teve uma desaceleração, mas itens como aluguel e refeições fora de casa estão ficando significativamente mais caros.

Embora o Banco Central do Canadá e o Federal Reserve dos EUA frequentemente estejam alinhados em suas ações, o Banco do Canadá se diferenciou no início deste ano ao ser o primeiro a pausar os aumentos das taxas de juros. Portanto, não será surpreendente se o Canadá avançar com cortes nas taxas assim que a inflação no núcleo estiver sob controle. Enquanto isso, nos EUA, a inflação em junho em relação ao ano anterior atingiu 3%, e o mercado agora espera que o país consiga evitar uma recessão.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.