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Mercado em 5 minutos: Coloca no pé do Vini Jr. que o menino faz mágica

Abertura econômica da China, IPCA de novembro, novos ministros e mais: o que você precisa saber sobre o mercado nesta sexta-feira (9)

Por Matheus Spiess

09 dez 2022, 09:23 - atualizado em 09 dez 2022, 09:23

Vinicius Jr. - Mercado em 5 minutos
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos subiram nesta sexta-feira (9), repercutindo o otimismo da abertura econômica chinesa, apesar de os investidores continuarem se preocupando com o aumento das taxas de juros e uma possível recessão. Agora, no âmbito internacional, o mercado estará de olho na divulgação de dois importantes relatórios de inflação dos EUA, um hoje e outro na semana que vem, além de esperar ansiosamente a última reunião de política monetária do ano do Federal Reserve. 

Os mercados europeus, por outro lado, não são unânimes na alta, e trabalham de maneira mista nesta manhã, mas o tom é predominantemente positivo, à luz dos dados que sinalizam que quase um ano de alta nas taxas de juros está começando a impactar os preços. Pelo menos os futuros americanos sobem por enquanto. As commodities, que conseguem sustentar uma alta em seus principais nomes nesta sexta-feira, podem servir de ajuda para o Brasil, que vem acompanhando os desdobramentos fiscais. 

A ver… 

· 00:41 — Os nomes 

Por aqui, finalmente chegou o dia de recebermos os dados oficiais de inflação de novembro, o IPCA, que deve apresentar alta de 0,55% na comparação mensal, mas ainda assim desacelerar para 6,01% na comparação anual. Acontece que, apesar de relevante, a agenda política roubará a cena da manhã. Lula dará uma entrevista hoje às 10h15 para anunciar os primeiros nomes oficiais do ministério. 

Como era amplamente esperado já há alguns dias, Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, deverá ocupar a pasta da Fazenda, sendo o grande destaque do dia. Outros nomes como o de Flávio Dino para a Justiça, José Múcio na Defesa e Rui Costa na Casa Civil devem ser igualmente anunciados. Sim, Haddad não era o nome que o mercado queria, mas não é o pior quadro do PT (tem coisa pior). 

Visto como uma figura pragmática, mais lulista que petista e com uma imagem de fiscalmente responsável, pelo menos durante sua passagem na prefeitura (colocou ex-McKinsey para a Fazenda e foi criticado pelo próprio PT por gastar pouco), Haddad terá a grande responsabilidade de já no primeiro semestre emplacar uma reforma tributária e um novo marco fiscal. É uma tarefa homérica e o futuro ministro precisará mostrar trabalho. 

A PEC volta a ser discutida só na semana que vem, com a Câmara pressionando por mais reduções (algumas mais marginais não precisam fazer o texto voltar para o Senado). A atuação é vista como uma demonstração de insatisfação de Lira, que comanda a Casa, por conta das movimentações do STF contra as emendas do relator. Até lá, a PEC continua com seus R$ 168 bilhões, com gastos federais devendo subir a 19% do PIB em 2023 e o déficit primário ficando a 7% do PIB. Ruim para os juros. 

· 01:59 — Na expectativa pela semana que vem 

Depois de um início difícil, as ações nos EUA finalmente tiveram um bom dia em dezembro. Depois de cair por cinco dias consecutivos no início do mês, o S&P 500 subiu 0,75% ontem, deixando os investidores com um gostinho de quero mais. Todos se perguntam sobre a eventual ocorrência de um rali de Natal. Na atual conjuntura, de fato é possível, mas não tão provável, pelo menos não no ímpeto tradicional. 

Para os próximos dias há um fluxo de grandes notícias chegando que podem sustentar os ganhos ou fazer o mercado cambalear mais uma vez. Começa com o importante relatório de inflação hoje do Departamento do Trabalho dos EUA, que divulga o índice de preços ao produtor de novembro. O PPI deverá aumentar 7,2% na comparação anual, após um salto de 8% em outubro. Já o núcleo, que exclui os preços voláteis, deve aumentar 5,9%, desaceleração da alta de 6,7% anteriormente. 

Naturalmente, uma eventual leitura de preços mais suaves do que o esperado deveria aumentar as esperanças de que um pivô do Fed nos movimentos das taxas esteja chegando. Na semana que vem, na terça-feira, é o índice de preços ao consumidor que ganha espaço — o CPI tem sido a métrica mais observada há meses e promete ser outro grande evento. Por fim, o relatório será rapidamente acompanhado pela decisão de juros do Fed, na quarta-feira que vem, que deverá desacelerar o ritmo de aperto. 

De fato, se houver mais evidências de desaceleração da inflação e mais retórica do Fed de que eles vão desacelerar os aumentos para dar tempo de avaliar o impacto na economia de todos os aumentos de juros já em vigor, as ações terão sua melhor chance de finalmente encenar um rali tradicional de fim de ano, o que pode impactar o mundo e até engajar investidores brasileiros, depois das discussões fiscais. 

· 02:52 — Mais preços ao produtor 

Na China, também tivemos os dados da inflação de preços ao produtor, que foi negativa em novembro (queda de 1,3% na base anualizada), enquanto a taxa de inflação de preços ao consumidor desacelerou de 2,1% em outubro para 1,6% no mês passado. Contudo, nem isso foi capaz de evitar uma alta nos ativos asiáticos hoje, ainda animados com a abertura da economia chinesa, saindo das restrições contra a Covid-19 (os dados de inflação americana são relativamente muito mais importantes). 

Enquanto isso, na Europa, temos a pesquisa de inflação do Banco da Inglaterra (o BC inglês), que parece ser realmente útil. Os países do continente europeu devem ter continuidade de um processo de aperto monetário duro, tanto na Zona do Euro como em países não-membros, como é o caso do Reino Unido, também em uma situação fiscal bastante delicada. A desaceleração do tom, ainda que possa acontecer nos próximos meses, deverá ser ainda mais gradual que nos EUA. 

· 03:38 — Buscando proteções 

As conversas sobre uma recessão em 2023 estão por toda parte. Os estrategistas e gestores de fundos estão se preparando com estratégias para jogar defensivamente. As tradicionais empresas defensivas do mercado são aquelas cujos negócios cotidianos não são afetados por mudanças no produto interno bruto, nas taxas de juros ou nas flutuações do mercado. Pense em setores como produtos básicos de consumo, saúde e serviços públicos — as pessoas ainda precisam comprar pasta de dente, ir ao médico e iluminar suas casas quando a economia entrar em recessão. 

O rali recente foi sustentado pela esperança de que o Federal Reserve faça uma pausa em sua campanha de aumento da taxa de juros, estimulada por dados encorajadores de inflação e empregos. Mas a inflação permanece muito acima da meta de 2% do Fed, e a trajetória de queda não é garantida para ser suave. Ou seja, ainda que desacelere na semana que vem, os juros continuarão subindo e poderão ficar em patamares elevados por mais tempo. Em outras palavras, negócios sensíveis aos juros ainda não serão bem-recebidos nas carteiras dos investidores. 

Como não é nenhuma surpresa a possibilidade de recessão, muitas ações com orientação defensiva estão sendo negociadas com altos prêmios no mercado. No Brasil, no entanto, isso não é necessariamente verdade, com muitos nomes mais resistentes e de qualidade negociando com desconto (novamente os ativos brasileiros com atratividade). Infelizmente, 2023 ainda será um ano de exceção, assim como foi o período entre 2020 e 2022, com muita volatilidade no radar. 

· 04:36 — As relações entre EUA e China 

Não há dúvida de que estamos passando já há algum tempo por um período ruim nas relações diplomáticas e comerciais entre EUA e China. Contudo, apesar de toda a conversa motivada pela pandemia de mudar as cadeias de suprimentos da China e restaurar as fábricas, o valor dos produtos chineses comprados pelos EUA é maior do que nunca — o valor das exportações dos EUA para a China este ano também esteve perto de níveis recordes (nos primeiros nove meses de 2022, as empresas americanas enviaram US$ 108,8 bilhões em mercadorias para a China, contra US$ 105,6 bilhões no mesmo período de 2021). 

Como não poderia ser diferente, para os Estados Unidos essa situação é um grande problema com uma grande implicação na política externa, já que a China é vista como seu principal rival econômico e geopolítico. Os próximos anos serão importantes para entendermos o redesenho das cadeias produtivas globais e como essa relação fica daqui em diante. Hoje, a relação comercial com a China continua a ser a maior dos EUA por alguma margem, sendo que as importações da China representaram 17% do total das importações dos EUA. Sair dessa armadilha não será fácil ou rápido. 

  

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.