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Mercado em 5 minutos: Se o VAR deu o gol, não há do que reclamar

Perspectivas para o crescimento brasileiro, os dados de emprego nos EUA e muito mais: tudo que você precisa saber nesta sexta-feira (2)

Por Matheus Spiess

02 dez 2022, 09:15 - atualizado em 02 dez 2022, 09:15

copa do Brasil

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam em baixa nesta sexta-feira (2), acompanhando os sinais mistos dos mercados globais durante o pregão de ontem, com os investidores cautelosos e abstendo-se de fazer movimentos significativos antes da divulgação dos dados mensais de empregos nos EUA, os quais podem afetar o mercado de ações. Apesar da tensão por conta das perspectivas para as taxas de juros, há otimismo com a recuperação da demanda chinesa em meio à flexibilização das restrições da Covid. 

Os mercados europeus amanhecem em queda, assim como os futuros americanos, corrigindo a euforia de quarta-feira, depois da fala de Jerome Powell. Eventuais surpresas nos dados de payroll hoje terão o poder de afetar os mercados globais. O Brasil segue o movimento internacional ainda prestando atenção nas novidades políticas de Brasília, com o trabalho da equipe de transição. O jogo da seleção durante o final do pregão deverá reduzir a liquidez local na parte da tarde. 

A ver… 

· 00:47 — As perspectivas para o crescimento brasileiro 

No Brasil, o dado de produção industrial de outubro ganhou peso hoje depois que os números de PIB do terceiro trimestre, divulgados ontem, decepcionaram parte do mercado, que esperava um patamar mais alto de crescimento (foi de apenas 0,4% na comparação com o trimestre anterior, com uma mediana de projeções da ordem de 0,7%). De fato, o crescimento econômico de 2022 será robusto, na casa dos 3%, mas resta entender se a trajetória vai se manter minimamente estável em 2023. 

Algumas casas esperam uma evolução de cerca de 1% no PIB do ano que vem, o que seria salutar, visto que o mundo pode entrar em recessão e já partimos de uma comparação mais complicada do que pares internacionais. Ao mesmo tempo, novas expectativas para o crescimento têm como consequência alterações nas estimativas de endividamento público, tema que vem ganhando destaque por conta da PEC da Transição, ainda em aberto — sem falar, é claro, da nova regra fiscal, que não conhecemos ainda. 

· 01:35 — Os dados de emprego 

Nos EUA, costuma-se dizer que dezembro é a melhor época do ano, pelo menos historicamente. Para se ter uma ideia, desde 1950, o S&P 500 terminou dezembro com retornos positivos mais do que em qualquer outro mês, subindo 73% das vezes. Naturalmente, o ano de 2022 em si é bem diferente do padrão histórico, mas ainda assim é um dado curioso para acompanharmos. 

Ontem, tivemos os dados americanos de consumo pessoal (favoritos do Fed para sua tomada de decisão), que subiram 0,2% em outubro, abaixo do ganho de 0,5% em setembro (em relação ao ano anterior, subiu 5%, também uma desaceleração em relação ao ritmo de setembro). O número pode dar às autoridades mais incentivos para começar a desacelerar seus aumentos de juros nos próximos meses. 

Em algum momento, porém, mesmo com a redução da inflação, os investidores terão que lidar com uma economia em desaceleração (ou entrando em recessão). Com isso, chegamos no relatório mais importante da semana: os dados de emprego do Departamento do Trabalho dos EUA. Espera-se a criação de 200 mil no mês passado, ante 261 mil em outubro, enquanto a taxa de desemprego é vista mantendo-se estável em 3,7%. Surpresas negativas podem dar gás às ações, que vibram com notícias ruins. 

· 02:37 — O dilema europeu 

Ontem, a presidente do BCE, Christine Lagarde, falou ao mercado, indicando que era importante que o público entendesse que a inflação voltaria à meta, mas muito mais lentamente do que boa parte dos agentes financeiros esperam. Contudo, resta entender como isso de fato afeta a política monetária europeia. Estaria Lagarde disposta a enfraquecer os salários e machucar os resultados corporativos com taxas de juros mais elevadas para frear a inflação?  

De fato, talvez seja preciso uma recessão na Europa, como deverá acontecer nos EUA. O problema é que os países da Zona do Euro vão receber a crise de maneira distinta, criando uma situação que poderá ser semelhante à Crise da Dívida, entre 2012 e 2014. A diferença está na inflação e na crise energética, em patamares muito complicados atualmente. Diante de um contexto mais incerto, a economia europeia parece menos atrativa hoje para se investir. 

· 03:20 — A tão falada reabertura chinesa 

Nesta semana, a China deu os primeiros passos para uma reabertura de fato; afinal, o regime de contenção de Covid do país parece ter quebrado após protestos nos últimos dias. Vale dizer, no entanto, que mesmo antes dos protestos, o sistema de contenção já enfrentava flexibilização, basta observar as medidas anunciadas no início do mês passado para “otimizar” as políticas da Covid. 

Isso não significa, no entanto, que as restrições serão suspensas abruptamente; na verdade, o governo deve mudar pouco sua política nas próximas semanas, fazendo com que as perturbações econômicas possam piorar. De qualquer jeito, uma reabertura seria uma grande fonte de alívio para os mercados chineses e para os mercados asiáticos mais amplos, que dependem da China. As commodities ganham espaço. 

· 04:01 — Os preços do petróleo 

Os preços do petróleo voltaram a subir depois de terem, no início da semana, caído brevemente abaixo do nível em que começaram o ano. Os preços da energia estavam subindo de 2021 para 2022, quando a economia global emergiu da pandemia de Covid-19. As linhas de abastecimento não estavam funcionando bem após dois anos de quedas induzidas pelos bloqueios e a demanda estava se fortalecendo à medida que os consumidores voltavam ao mercado. 

Veio então a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que fez com que os preços subissem ainda mais com a preocupação de que o fornecimento de um dos maiores produtores do mundo pudesse ser cortado. Isso fez a inflação disparar, erodindo o poder de compra dos consumidores em todos os lugares e forçando os banqueiros centrais a atuarem com aumentos mais agressivos das taxas de juros. 

Depois de toda a preocupação com uma crise de energia no início deste ano, os preços mais baixos podem parecer um alívio; contudo, a razão pela qual os custos estão baixos deriva de uma perspectiva econômica sombria: recessão. Por isso, qualquer sentimento bom não dura muito. De qualquer forma, ainda vejo espaço para que os preços do petróleo permaneçam em patamares elevados, muito por conta da oferta. 

Um abraço, 

Matheus Spiess 

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.