Bom dia, pessoal. Lá fora, as bolsas asiáticas caíram nesta terça-feira, apesar dos sinais positivos dos mercados globais durante o pregão de ontem, com os investidores reagindo aos importantes dados econômicos do quarto trimestre vindos da China – ainda que acima das expectativas, o gigante asiático registrou seu segundo menor crescimento econômico anual em quase 50 anos. Adicionalmente, os investidores também estão avaliando a persistência da inflação e a possibilidade de recessão.
Acompanhando o humor negativo, os mercados europeus têm queda nesta manhã. A mesma direção para baixo pode ser verificada nos futuros americanos — os ativos dos EUA voltam hoje do feriado de Martin Luther King Jr., que fechou os mercados por lá ontem. A temporada de resultados ganha força nesta semana, em paralelo à divulgação de alguns dados econômicos importantes por lá. No Brasil, voltamos a nos preocupar com o contexto político, diante da chance de nova derrota de Haddad.
A ver…
· 00:45 — E o salário-mínimo?
Por aqui, além do interminável debate sobre os desdobramentos do caso Americanas, ainda temos que voltar a nos preocupar com a nova possibilidade de derrota da equipe econômica na discussão sobre um aumento maior do salário-mínimo. Se o pacote de medidas da semana passada, apesar de dar uma direção um pouco mais positiva, já ficou apagado, o risco agora é de novo ruído fiscal relevante prejudicando a curva de juros e o câmbio.
Ao que tudo indica, o presidente Lula está estudando subir o valor do mínimo acima dos R$ 1.320 previsto no orçamento para o ano firmado no final de 2022. O problema é que para cada R$ 1,00 de aumento no valor do mínimo estima-se um impacto de R$ 370 milhões. Para uma equipe econômica, que esperava poder levar o déficit para algo entre 0,5% e 1% ainda em 2023, a possibilidade de derrota não é uma opção.
É problemático porque o salário-mínimo atual de R$ 1.302 já cumpria a promessa de campanha, com aumento real (acima da inflação) de 1,41%. É pouco, sim, mas melhor do que houve nos últimos anos. Ou seja, caso caminhemos para mais aumentos (as centrais sindicais pedem mais de R$ 1.340,00), podemos esvaziar novamente o poder da equipe econômica, prejudicando o trabalho de sinalizar responsabilidade fiscal.
· 01:44 — Dados econômicos e o encontro de Yellen
Nos EUA, os investidores devem enfrentar hoje a volta do feriado do mercado, com a divulgação do Livro Bege e da inflação ao produtor, ambas previstas para amanhã, na cabeça dos agentes preocupados com atividade e nível dos preços em 2023. Ainda temos esperança de que haja um ritmo moderado de crescimento, o qual possibilitaria uma menor pressão inflacionária e, consequentemente, menos espaço para mais juros.
Ao mesmo tempo, há uma preocupação com a temporada de resultados, que hoje conta com nomes como Morgan Stanley e Goldman Sachs, caso haja uma desaceleração exacerbada dos números corporativos, sinalizando uma recessão mais dura do que se pressupunha. Até agora, pelo menos, das 29 empresas do S&P 500 que divulgaram lucros, 24 superaram as expectativas dos analistas. O problema é que, como se não bastasse as perspectivas econômicas, ainda há geopolítica para hoje.
A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, deve realizar uma reunião com o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, no Fórum Econômico Mundial, em Davos. A ideia seria reforçar a coordenação das políticas macroeconômicas e financeiras entre as principais economias do mundo. O encontro deve acontecer amanhã, dia 18 de janeiro, e pode concluir a implementação dos acordos firmados entre o presidente dos Estados Unidos e o presidente da China, Xi Jinping, no final do ano passado.
· 02:40 — Ventos europeus
Os mercados europeus digerem os dados trabalhistas do Reino Unido, que mostraram menos contratação em dezembro. A força adicional no mercado de trabalho reforça o que tem sido dito pela autoridade monetária, de que as taxas de juros terão que entrar em território restritivo para trazer a inflação de volta à meta. O mesmo pode ser observado na Zona do Euro: dificilmente o BCE irá frear o aperto monetário agora.
Para ajudar, os dados de sentimento provenientes da Alemanha (a pesquisa ZEW de especialistas econômicos) vieram mais fortes do que o esperado. Por um lado, o movimento sinaliza que uma recessão dura no velho continente é menos provável. Por outro, uma atividade econômica forte e a manutenção do patamar de inflação em níveis elevados prejudicam o espaço para flexibilização da política monetária.
· 03:29 — O crescimento chinês
O mundo foi surpreendido ontem com a notícia de que a população da China caiu em 2022 pela primeira vez em seis décadas. Uma das forças do PIB de um país deriva da quantidade de pessoas que nele vivem e quantas delas trabalham (crescimento populacional e crescimento da produtividade). Em outras palavras, populações em queda tornam o crescimento negativo mais provável, o que provavelmente será uma preocupação latente no mundo nas próximas décadas.
Coincidentemente, tivemos também dados de crescimento econômico chinês também. A economia da China teve um crescimento anual de 2,9% no quarto trimestre, sendo um número melhor do que o esperado (a composição dos dados sugere uma queda na participação do consumidor no PIB, podendo significar um crescimento de pior qualidade e com menor tendência para os próximos trimestres).
Podemos ver a força da China em 2023 com seu processo de reabertura. O país afetou fortemente a atividade econômica nos últimos meses, devido ao aumento de infecções, escassez temporária de mão de obra e interrupções na cadeia de suprimentos. Uma reversão desse processo pode servir de amortecedor da desaceleração global, dando suporte às matérias-primas.
· 04:25 — Há motivos para otimismo
Nem tudo é desgraça lá fora; afinal, ainda não estamos em recessão. Nos EUA, por exemplo, a contração ainda não se verifica de maneira unilateral, com mercado de trabalho ainda forte. Ao mesmo tempo, como também se verifica em outras regiões do mundo, ainda que o custo de vida esteja elevado, a taxa de inflação parece ter atingido o pico. As notícias são positivas para quem quer trabalhar com um 2023 mais otimista.
Em sendo o caso, talvez haja uma nítida desaceleração da economia, como deveria ser em qualquer ciclo econômico em que há contracionismo monetário, mas nada catastrófico. O movimento pode ser positivo para o Brasil, que costuma ser considerado um grande beta global (as coisas vão muito bem quando o mundo vai bem). Assim, mesmo que cresçamos menos em 2023, talvez evitemos a recessão.
Um abraço,
Matheus Spiess