Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados europeus têm uma manhã mais difícil, depois de uma terça-feira sem uma única direção na Ásia (tom predominantemente negativo, como verificamos na Europa). Os futuros americanos também não sustentam alta, dando continuidade ao mau humor testemunhado ontem de tarde, com investidores na expectativa pelos dados de inflação dos EUA desta semana (quinta-feira) — podem encorajar o Federal Reserve a diminuir os planos de mais aumentos nas taxas de juros.
Os investidores globais temem que os repetidos aumentos de juros do Fed e de outros bancos centrais para reduzir a inflação, que está na máxima de várias décadas, possam levar o mundo à recessão. Há um desejo para trazer de volta as conversas sobre um “soft landing” (pouso suave), mas há desafios. Enquanto isso, no Brasil, ficamos com um alinhamento positivo entre os Poderes da República e os Estados da Federação depois da barbárie de domingo (bons sinais vieram ontem).
A ver…
· 00:45 — Boas sinalizações
Por aqui, tivemos na segunda-feira um dia de reflexão, para recolhermos os cacos. Levantamos e estamos sacudindo a poeira, só falta agora dar a volta por cima, de modo a termos um país mais unido e pacificado (difícil, mas não impossível). No final, o mercado gostou da resposta coordenada dos Três Poderes, do afastamento temporário do governador do DF, da desocupação dos acampamentos na frente dos quartéis do Exército e da reunião com os 27 governadores da União. Ajudou a Bolsa a subir ontem.
Como falamos, os eventos de domingo, ainda que trágicos, não mudaram os lucros das empresas nem a solvência soberana. Enquanto as autoridades restauram os estragos e prendem os culpados, portanto, voltamos nossa atenção à agenda econômica. Temos hoje dados de inflação local, para fechar o ano com possivelmente 5,50% segundo a mediana das expectativas (0,45% em dezembro na comparação mensal). Como resultado, o BC terá descumprido a meta pelo terceiro ano consecutivo.
Além disso, temos a votação simbólica no Senado sobre a intervenção federal no DF, já aprovada ontem na Câmara, enquanto aguardamos a reunião de Haddad, o ministro da Fazenda, com seus secretários agora pela manhã. Ainda se espera nesta semana as primeiras medidas do Ministério do novo governo. Uma formalização da proposta de um ajuste fiscal de 2% do PIB (cerca de R$ 223 bilhões) é aguardada. Seria uma boa sinalização depois de tanto ruído na primeira semana de governo.
· 01:57 — Para onde vão os juros americanos?
Hoje, os investidores americanos se debruçam sobre o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, em evento na Suécia pela manhã. A depender do que for dito, poderemos ter uma consolidação das apostas em uma nova desaceleração na próxima reunião de fevereiro, subindo os juros apenas 25 pontos-base. A taxa continuaria subindo e ficaria elevada por bastante tempo, ainda assim.
Ontem, o mercado sentiu as falas de membros do Federal Reserve, que sugeriram que as taxas de juros dos EUA podem ter que subir acima de 5%. A verdadeira questão é quanto tempo a inflação pode sobreviver diante de um crescimento negativo da renda real, com a erosão dos estoques de poupança. Hoje, os juros estão na faixa de 4,25% a 4,50%, bem acima do referencial de quase zero há um ano.
· 02:36 — Imbróglios britânicos
No Reino Unido, os investidores contam hoje com a digestão dos dados de vendas no varejo para dezembro, que mostraram volumes de vendas em queda. A demanda está enfraquecendo, uma vez que a inflação continua alta. No entanto, também há mudanças estruturais, como as sugeridas pelos dados do cartão de crédito, que apontaram a existência de um viés para entretenimento e alimentação fora de casa (de maneira similar ao que vem acontecendo desde a abertura da economia depois da pandemia).
Enquanto ainda vemos sinais da recuperação pós-pandêmica, há quem se dedique a acompanhar a saga interminável do Brexit. As discussões sobre a separação entre a União Europeia e o Reino Unido continuam, principalmente por conta dos problemas relacionados com a fronteira comercial da Irlanda do Norte. Como a principal parte do acordo já foi firmada, o mercado deixou de acompanhar a questão, mas caso haja problemas adicionais novamente nesta frente, poderia voltar a ser fator de preço.
· 03:23 — Abrindo a China
Os mercados asiáticos fecharam mistos nesta terça-feira, ainda que haja um crescente otimismo sobre a reabertura econômica da China. O vetor positivo acaba sendo compensado pelos alertas de que as taxas de juros dos EUA continuarão subindo e permanecerão elevadas por algum tempo.
Depois de um 2022 difícil, as ações asiáticas tiveram um início de ano consideravelmente forte graças em grande parte à decisão de Pequim de se livrar das algemas de sua política rígida de Covid-zero, que afetou a economia. Embora haja preocupações sobre o impacto de curto prazo das crescentes infecções em todo o país, os investidores estão cada vez mais confiantes graças às promessas de apoio do governo, inclusive para o problemático setor imobiliário.
· 04:01 — Mais demissões
Nos EUA, as demissões no setor de tecnologia estão chegando rapidamente, à medida que a indústria reduz o número de funcionários em meio a ventos macroeconômicos contrários. As primeiras ondas ocorreram em meados do ano passado, mas só crescem em força e número.
Muitas empresas contrataram de forma muito agressiva durante a pandemia e estão percebendo que folhas de pagamento infladas e custos elevados não estão se sustentando no atual ambiente de negócios. As informações mais recentes vieram da Salesforce e da Amazon, que cortaram, respectivamente, 8 mil e 18 mil funcionários.
De acordo com o site de rastreamento “layoffs.fyi”, mais de 150 mil trabalhadores de tecnologia foram demitidos em 2022, e esse número deve crescer este ano. As empresas do setor que dispensaram funcionários incluem Airbnb, Booking Holdings, Cisco, HP, Meta, Netflix, Twitter e Uber. Sinais de recessão.
Um abraço,
Matheus Spiess
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