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Mercado reflete “correção feia lá fora” e bolsa do Japão tem circuit breaker; confira os destaques do mercado nesta segunda-feira (5)

Circuit breaker no Japão, ata do Copom e serviços nos EUA. O que esperar desta segunda-feira (5)?

Por Matheus Spiess

05 ago 2024, 09:33 - atualizado em 05 ago 2024, 09:41

Imagem representando o mercado secundário. Ele permite a negociação de ativos entre diferentes perfis de investidores. fed copom super quarta mercado day one

Bom dia, pessoal. A correção nos mercados de ações globais se intensificou significativamente nesta segunda-feira (5), à medida que aumentam as preocupações de que o Federal Reserve esteja atrasado em cortar as taxas de juros em uma economia dos EUA que está desacelerando, levando os investidores a buscar refúgio em ativos mais seguros.

Curiosamente, embora a reação inicial do mercado ao sinal de Jerome Powell sobre um possível corte de juros tenha sido de otimismo, resultando em uma disparada das bolsas, os dias seguintes revelaram uma queda acentuada nos ativos.

As criptomoedas também foram afetadas, com o Ether registrando sua pior queda desde 2021.

No Japão, os índices Topix e Nikkei estavam prestes a cair cerca de 20% em relação aos seus recordes históricos, com ambos enfrentando declínios de três dias, os mais acentuados desde o desastre nuclear de Fukushima em 2011. O iene se valorizou significativamente com a expectativa de que o Banco do Japão continue aumentando as taxas de juros. A agenda econômica inclui uma série de pesquisas de sentimento empresarial e mais resultados corporativos.

Na semana passada, o temor de uma recessão nos EUA foi intensificado por dados do ISM e pedidos de auxílio-desemprego que vieram muito abaixo do esperado.

O relatório de empregos de julho, divulgado na sexta-feira (2), foi o golpe final. Como resultado, o mercado começou a prever um corte de 0,50 ponto percentual nas taxas de juros em setembro e um corte total de 125 pontos-base em 2024. Instituições financeiras de destaque, como o Citi e o JPMorgan, estão projetando uma redução de 0,50 ponto percentual nas duas próximas reuniões do Fed. Francamente, considero isso um exagero.

O mercado está reagindo de forma exagerada aos dados de alta frequência, demonstrando a ansiedade dos investidores. Dois ou três cortes de 25 pontos-base seriam mais do que suficientes para acalmar os ânimos. Além disso, os balanços de algumas grandes empresas de tecnologia não atingiram as expectativas, e as tensões geopolíticas também contribuíram para o pessimismo, com Israel se preparando para um possível ataque do Irã e de milícias regionais.

A ver…

· 00:54 — Afetados pelo humor estrangeiro

No Brasil, esta semana será especialmente importante para o mercado, pois a temporada de resultados ganha força com a divulgação dos balanços da Petrobras (PETR4), dos principais bancos e da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), além da divulgação do índice de inflação ao consumidor. Ao mesmo tempo, embora a agenda nos Estados Unidos esteja relativamente calma nos próximos dias, os investidores permanecerão atentos a qualquer sinal de recessão na maior economia do mundo, preocupados com a possibilidade de que o Federal Reserve tenha adiado excessivamente os cortes nas taxas de juros.

Esse cenário desfavorável pode ter efeitos negativos no ambiente doméstico brasileiro. Em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho, é esperado um aumento de 0,34% em comparação ao mês anterior, o que representa uma aceleração em relação ao índice de 0,21% registrado em junho.

No entanto, a probabilidade crescente de redução das taxas de juros por parte dos bancos centrais globais torna ainda mais improvável um aumento da Selic aqui no Brasil. Como tenho enfatizado, a manutenção da taxa atual deve ser suficiente.

Além disso, os dados da balança comercial que serão divulgados esta semana devem indicar um total de US$ 7,7 bilhões em julho, o segundo maior valor registrado para o mês na série histórica. No campo das exportações, que registraram um crescimento de 1% em relação ao ano anterior, várias commodities devem se destacar, como soja, petróleo e seus derivados, açúcar, aço e carne, impulsionadas principalmente pelo aumento do volume exportado.

No último ano, o superávit comercial deve chegar a US$ 96,1 bilhões. Em relação à exportação de petróleo, o governo tem motivos para comemorar, já que estima-se que a arrecadação com esse setor possa alcançar R$ 325 bilhões entre 2025 e 2030, um fator importante para aliviar o crescimento da dívida pública nos próximos anos. Se o problema fosse apenas de arrecadação, estaríamos em uma boa posição. No entanto, como todos sabemos, a questão é estrutural e envolve os gastos públicos. Portanto, os investidores devem permanecer cautelosos, mesmo com o Ibovespa apresentando preços atraentes. A questão fiscal continua sendo uma preocupação significativa, e o cenário internacional não oferece apoio positivo.

· 01:46 — Desacelerando

Nos EUA, os investidores estão demonstrando cautela nesta semana, após observarem o Nasdaq Composite, que é fortemente composto por empresas de tecnologia, entrar em território de correção. A narrativa do mercado mudou rapidamente em poucos dias, e agora surgem preocupações de que o Federal Reserve pode ter desacelerado a economia excessivamente e não aliviou a sua política monetária a tempo.

O último relatório de folhas de pagamento não agrícolas intensificou os temores de recessão, e os investidores estarão atentos aos próximos dados econômicos. A taxa de desemprego aumentou para 4,3% em julho, comparada a 4,1% em junho, enquanto a economia dos EUA adicionou apenas 114 mil novas folhas de pagamento não agrícolas, um número abaixo do esperado e inferior ao de junho. Isso elevou a expectativa de um corte de 50 pontos-base nas taxas de juros em setembro, o que, na minha opinião, ainda não é o caso, pois poderia ser interpretado como um ato de desespero por parte do Fed.

É hora de entrar em pânico? Não necessariamente. Acredito que essa situação reflete mais a ansiedade do mercado, que estava há algum tempo buscando um motivo para corrigir. Ainda assim, continuaremos vigilantes quanto a possíveis mudanças de cenário, que podem ocorrer.

Hoje, teremos dados do setor de serviços dos EUA, com foco nos componentes de emprego e preços. Além disso, a pesquisa de sentimento do mercado de financiamento será divulgada, fornecendo a leitura mais recente sobre as condições de crédito na economia.

Por fim, a atualização de quinta-feira sobre os pedidos iniciais de seguro-desemprego deve atrair atenção, especialmente após o relatório de empregos de julho. A temporada de resultados continua em destaque, com grandes empresas como Walt Disney, Caterpillar, Tyson Foods, Uber e Airbnb programadas para divulgar seus números trimestrais.

· 02:35 — A queda de uma gigante

Em poucas décadas, a Intel (INTC34) passou de líder global em semicondutores para uma empresa que busca desesperadamente conservar dinheiro. Os resultados divulgados na semana passada, referentes ao segundo trimestre, revelaram a magnitude chocante dos desafios que a empresa enfrenta: a fabricante de chips anunciou que cortará 15% de sua força de trabalho, o que representa aproximadamente 15.000 funcionários, e suspenderá os dividendos que vinha pagando desde 1992 como parte de um plano para economizar US$ 10 bilhões em custos no próximo ano. Como resultado, as ações da Intel despencaram 26% na sexta-feira (2), atingindo seu nível mais baixo em 15 anos.

O que deu tão errado para a Intel?

Nos anos 1990 e início dos anos 2000, a Intel superou a concorrência ao fornecer os processadores para os PCs da Microsoft. No entanto, o mundo mudou, e a Intel não estava preparada para acompanhar essa transformação.

Enquanto a empresa estava fortemente focada na fabricação de chips para computadores, ela deixou passar a transição para smartphones. Além disso, foi superada na produção de transistores pela Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC) e pela Samsung, da Coreia do Sul. Entretanto, o erro mais significativo talvez tenha sido sua falta de preparação para a explosão da inteligência artificial. Enquanto a Nvidia vende cerca de US$ 20 bilhões em chips de IA a cada trimestre, a Intel projeta vender apenas US$ 500 milhões ao longo de todo o ano. Em outras palavras, a Intel ficou para trás e vai demorar para alcançar.

· 03:29 — A correção asiática

A queda de 12,4% no Nikkei, do Japão, marcou o pior dia para o índice desde a “Segunda-feira Negra” de 1987. Como resultado, o Nikkei apagou todos os ganhos acumulados no ano, entrando em uma posição de perda. Os índices de referência registraram uma queda de mais de 20% desde suas máximas históricas em 11 de julho. O iene também se valorizou, atingindo seu nível mais alto em relação ao dólar desde janeiro, sendo negociado por último a 142,09, o que pode enfraquecer ainda mais o real e levar o Banco Central a considerar uma intervenção.

Na Coreia do Sul, o Kospi caiu 8,77%. Devido à magnitude da liquidação, as bolsas atingiram disjuntores, interrompendo temporariamente as negociações. O índice de referência de Taiwan, o Taiwan Weighted Index, caiu mais de 8%, puxado para baixo por ações dos setores de tecnologia e imobiliário. Em resumo, a correção foi generalizada.

· 04:11 — E a China…

Durante a segunda-feira, o PMI de serviços avançou de 51,2 em junho para 52,1 em julho, superando a expectativa dos analistas, que era de uma leve alta para 51,3. Em contrapartida, o PMI composto chinês, que inclui tanto o setor de serviços quanto o industrial, caiu de 52,8 para 51,2 no mesmo período.

Leituras acima do nível de 50 indicam que a atividade econômica na China permanece em território de expansão. Entretanto, o governo chinês estabeleceu novas prioridades para estimular os gastos dos consumidores, já que a fraca demanda doméstica continua a afetar negativamente o crescimento. No final de semana, o governo divulgou 20 etapas principais, incluindo a exploração de potenciais para expandir o consumo básico em áreas como alimentação, serviços domésticos e cuidados com idosos, de acordo com uma declaração publicada no site oficial do governo central.

Até o Fundo Monetário Internacional, conhecido por sua defesa da disciplina fiscal, está pressionando por mais estímulos do governo chinês, com o objetivo de combater a crise imobiliária do país. O FMI recomendou um pacote de estímulos que representa 5,5% do PIB ao longo de quatro anos, o que equivale a quase US$ 1 trilhão.

O problema é que, até o momento, o governo chinês tem afirmado que as políticas vigentes são suficientes para gerar um impulso positivo no mercado imobiliário. As 20 medidas anunciadas no fim de semana estão longe de atender às recomendações do FMI. O erro clássico na política é subestimar os riscos e adiar ações decisivas, o que acaba por amplificar os custos finais. Este é o receio do mercado em relação à China.

· 05:08 — Muita calma nessa hora!

As bolsas asiáticas enfrentaram novamente fortes quedas nesta semana, ampliando as perdas já registradas na última sexta-feira. Esses declínios refletem os recentes dados econômicos dos Estados Unidos, que geraram preocupações crescentes sobre a saúde da economia americana. Atualmente, os futuros do mercado norte-americano indicam mais um dia de tensão em Wall Street…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.