Bom dia, pessoal. Lá fora, a maioria das ações asiáticas caíram nesta terça-feira, ainda que alguns players tenham se beneficiado da diminuição das preocupações com a crise bancária nos Estados Unidos. Infelizmente, os dados comerciais mistos da China mostraram que a demanda na maior economia da região permanece fraca. Ao mesmo tempo, o Japão teve o melhor desempenho do dia, subindo 0,8% no pregão, depois que o governador do Banco do Japão, Kazuo Ueda, minimizou as expectativas de que a política monetária será mais rígida no curto prazo.
Os mercados europeus e os futuros americanos caem nesta manhã. O sentimento de cautela internacional precede a divulgação dos principais dados da inflação dos EUA na quarta e quinta-feira, vetores que podem alterar a posição do Federal Reserve sobre os aumentos nas taxas de juros. Em paralelo, ainda nos EUA, o impasse do teto da dívida amplia as preocupações e começa a prejudicar o mercado – os investidores ignoravam o assunto até então. No Brasil, o governo flerta com a interferência no BC e as revisões de privatizações já consolidadas, que soam muito mal para os investidores.
A ver…
· 00:54 — Intervir ou não intervir, eis a questão
Por aqui, sem muitos indicadores econômicos para acompanharmos, os investidores se debruçam sobre a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que poderá dar mais detalhes sobre o que aconteceu no último encontro da autoridade monetária, delineando um pouco melhor a expectativa de flexibilização do discurso do BC. Ao mesmo tempo, temos que lidar com a indicação do até então secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo, para a diretoria de política monetária do BC.
Braço direito de Haddad na atualidade, o nome de Galípolo já havia sido cotado, mas sua oficialização não soou muito bem, principalmente porque deixam a impressão desejo de interferência do governo sobre a condução da política monetária, mesmo com a possível aceitação do nome por Roberto Campos Neto, que entenderia a indicação como mais uma forma de diálogo entre a autoridade monetária e o Poder Executivo. Pelo menos a tradição institucional do BC deve blindar qualquer iniciativa.
Para piorar o clima, o governo parece tentar reverter as regras de privatização da Eletrobras, algo que muito provavelmente não conseguirá. Sim, o movimento foi em direção a mais poder de voto da União, não uma revisão da privatização em si, mas sabemos como funciona. Vai comendo pelas beiradas e pronto. O pior é a sensação de insegurança jurídica que isso passa diante de um Congresso que nitidamente não é favorável à revisão da privatização. Mais desgaste para o governo.
· 01:59 — E o otimismo, para onde ele foi?
Nos EUA, os investidores tiveram ontem o segundo dia de negociação mais tranquilo do ano, em termos de total de ações negociadas. Os principais índices terminaram o dia praticamente estáveis. Ainda assim, o clima não é dos melhores, não apenas pelas discussões envolvendo o teto da dívida, mas também por conta da elevada expectativa pelo índice de preços ao consumidor de abril, a ser divulgado na quarta-feira, que deve desacelerar para 5% na comparação anual (0,32% na comparação mensal).
Os números da inflação serão observados de perto pelos formuladores de políticas do Fed enquanto eles decidem se devem pausar os aumentos das taxas no próximo mês. Um número quente pode colocar em risco a alta recente do mercado. Adicionalmente, contamos hoje com a pesquisa de pequenas empresas de abril e alguns resultados corporativos. De pano de fundo, os investidores digerem o relatório de crédito do Fed, que indicou mais aperto dos padrões de empréstimo dos bancos americanos.
· 02:51 — A questão da dívida
O tempo está passando para que o Congresso dos EUA, hoje bem dividido, aumente o teto da dívida do governo federal, atualmente em US$ 31,4 trilhões. Sem uma discussão mais aprofundada, o governo corre o risco de ficar sem dinheiro já em 1º de junho. Um punhado de rejeições pode inviabilizar qualquer acordo e a obtenção de concessões é mais difícil, especialmente com alas extremistas envolvidas na discussão. Embora o presidente Biden tenha convidado o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, para uma reunião nesta terça-feira, as coisas podem entrar em espiral rapidamente na zona de perigo e é uma das três crises que agora afetam os EUA.
Mesmo que estejamos muito próximos desta data, se o Congresso não agir, é provável que vejamos as consequências do mercado financeiro. Não há como proteger nosso sistema financeiro e nossa economia a não ser que o Congresso faça seu trabalho e eleve o teto da dívida e nos permita pagar as contas — mesmo que como contrapartida precise realizar corte de gastos (reduzir o déficit). À medida que os EUA se aproximam da iminência de um calote, circulam conversas sobre possíveis opções de emergência para contornar um desastre. Algumas ideias que surgiram incluem invocar a 14ª Emenda, bem como emitir dívida com cupons acima dos rendimentos atuais.
· 03:56 — Dados chineses
A China relatou fortes valores de exportação e queda nos valores de importação em abril. As exportações cresceram 8,5% na comparação anual em abril, marcando o segundo mês consecutivo de crescimento depois que a economia registrou um salto surpreendente de 14,8% em março. Enquanto isso, as importações caíram 7,9% no mês, bem pior do que o esperado. Como resultado, o superávit comercial da China subiu para US$ 90,21 bilhões, acima do superávit de US$ 88,2 bilhões em março e melhor do que o projetado pelos agentes de mercado.
Pequim certamente se concentrou em obter exportações mais fortes relatadas no final do primeiro trimestre (e o crescimento do PIB no primeiro trimestre foi impulsionado pelos números de exportação relatados). Embora seja difícil casar os dados de exportação de um país com os dados de importação de outro país, é muito difícil ver para onde estão indo as exportações. A desaceleração da demanda por bens sugere que os volumes do comércio global provavelmente diminuirão como uma parcela da economia mundial — dados de importação fracos indicam uma demanda fraca.
· 04:49 — Geopolítica do Ártico
Afinal, quem é o dono do Pólo Norte? O Ártico é uma zona internacionalmente neutra que há muito foi mantida longe da geopolítica. Mas a mudança climática precipitou um nível incomum de atividade na região polar remota e rica em recursos, já que interesses estratégicos em colisão e gelo derretido podem remodelá-la profundamente (novas rotas comerciais e domínio por recursos estratégicos).
Hoje, a administração do Ártico é repentinamente questionada como resultado do isolamento da Rússia, o maior estado do Ártico, por causa de sua guerra contra a Ucrânia. Dessa forma, começamos a ver uma corrida entre a Rússia e o Ocidente para reivindicar os potencialmente vastos recursos naturais abaixo das águas do território. A disputa em andamento pode ter grandes repercussões no mundo.