Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam em alta nesta quinta-feira, seguindo as indicações amplamente positivas dos mercados globais durante o pregão de ontem, já que os investidores estão otimistas sobre o relatório de inflação dos preços ao consumidor dos EUA, que será divulgado ainda hoje. Adicionalmente, a inflação chinesa veio dentro do que se projetava, o que ajuda a balizar as expectativas para o crescimento do gigante asiático em 2023.
Os mercados europeus e os futuros americanos também desfrutam de uma alta nesta manhã, no aguardo do dado de inflação. Espera-se que o relatório mostre uma desaceleração na taxa anual de crescimento dos preços ao consumidor e possa ter um impacto significativo nas perspectivas para as taxas de juros. No Brasil, acompanhamos o noticiário econômico de Brasília, enquanto digerimos o rombo na Americanas, que deve reverberar por entre o setor do varejo, impactando o Ibovespa.
A ver…
· 00:44 — Um ajuste fiscal e o novo arcabouço
Por aqui, a agenda econômica é o grande destaque, como muita expectativa para o anúncio de Haddad sobre as primeiras medidas de seu Ministério. Entende-se que o pacote de hoje já procura o ajuste fiscal prometido de 2% do PIB (precisamos, afinal, reduzir o déficit esperado de R$ 220 bilhões indicado no Orçamento). O principal fiel da balança será a recomposição de receitas, com medidas como a revogação da redução de PIS/Cofins cobrado sobre receita de grandes empresas e outras envolvendo os combustíveis. Devemos ter quatro medidas provisórias, além decretos e portarias.
O ajuste é importante, mas secundário diante da expectativa para um novo arcabouço fiscal. Ao que tudo indica, uma das propostas fortes dentro da pasta vem da equipe econômica da transição, que contou com a participação de Pérsio Arida, André Lara Resende, Guilherme Mello e Nelson Barbosa. Apesar de não ter sido divulgada, especula-se que a nova regra que substituirá o teto de gastos será pautada por uma meta de despesas, visando separar obrigações correntes de curto prazo do gasto com investimento de longo prazo. Fará preço nos próximos meses sobre a curva.
· 01:38 — Equívoco sutil. Quem nunca?
Um problema para nos preocuparmos será o desempenho do setor de varejo no dia de hoje. A descoberta de “inconsistências contábeis” da ordem de R$ 20 bilhões vai gerar um belo ruído sobre a Americanas e sua própria sustentabilidade financeira — foram identificados financiamentos de compras nas quais é devedora e que não se encontram adequadamente refletidos no balanço (mais dívida). O barulho foi tão grande que o recém-empossado presidente, Sérgio Rial, que o mercado pensava que até resolveria a fome do mundo no comando da companhia, renunciou depois de 11 dias.
Com ele, também deixou o cargo o diretor de Relações com Investidores, André Covre. Ninguém quer ter a imagem associada ao rombo. E quem não pode fazer o mesmo movimento? Os acionistas de referência: Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. O lendário grupo de empresários precisa pensar bem em uma solução para todo o problema; afinal, um rombo contábil de R$ 20 bilhões é paradigmático. Viveremos hoje aqueles tradicionais momentos no mercado financeiro brasileiro que ficam na história, como o que aconteceu com Sadia e Aracruz há mais de 10 anos.
· 02:32 — Inflação ao consumidor americano
Teremos hoje a divulgação do índice de preços ao consumidor de dezembro, com o mercado prevendo nenhuma mudança durante o mês. Espera-se que o indicador tenha subido 6,5% na comparação anual, o que seria uma desaceleração dos 7,1% registrados em novembro. Enquanto isso, o dado núcleo, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, deve subir 5,7% na comparação anual.
A desaceleração não significa que a luta do Federal Reserve contra a inflação acabou, principalmente se o dado núcleo subir 0,3% em dezembro (aproximadamente o dobro do ritmo consistente com a meta de inflação anual de 2% do Fed). Não podemos negar, entretanto, que já passamos do pico do pico da inflação, verificada em junho de 2022 em 9,1% ao ano (6,6% no núcleo).
De qualquer forma, as autoridades do Fed enfatizaram que precisam ver muitos meses de dados encorajadores antes mesmo de considerar o fim de sua campanha de aumento das taxas de juros. Outra desaceleração da inflação em dezembro marcaria a terceira queda mensal consecutiva, o suficiente para representar uma tendência, mas os juros continuariam subindo, mesmo que com ritmo reduzido.
· 03:28 — Relatório europeu e inflação chinesa
Hoje, o mercado lida também com a publicação do boletim econômico do BCE, da Zona do Euro, que pode contar com expectativas importantes para a economia em 2023 dos países da região. Não é segredo que o sentimento na Europa não é dos melhores, com a continuidade da guerra na Ucrânia e a crise energética. Será importante entendermos quanto de juro será necessário para equilibrar tantos pratos.
Enquanto isso, na China, tivemos a publicação da inflação de preços ao consumidor e ao produtor, dominada por preocupações locais (como a inflação de preços de alimentos) e de pouco interesse global. Os preços ao consumidor subiram 1,8% em dezembro, uma aceleração frente ao 1,6% verificado em novembro, mas em linha com o esperado. Enquanto isso, os produtores viram uma desaceleração para 0,7%.
· 04:07 — Quando veremos uma mudança na dinâmica dos juros
Embora a inflação tenha diminuído recentemente, ela ainda está muito acima da meta de 2% desejada pelo banco central americano. Como sabemos que eles vão manter o curso até que o trabalho esteja concluído, devemos esperar mais juros nos próximos meses. No mês passado, o Fed chegou a elevar sua taxa básica de juros ao nível mais alto em 15 anos, e alguns temem que riscos geopolíticos elevados ou eventos incontroláveis possam acontecer novamente, fazendo com que a inflação volte a subir.
O Fed elevou as taxas sete vezes em 2022, empurrando seu benchmark de uma faixa de 0% a 0,25%, para os atuais 4,25% a 4,50%. No entanto, aumentos menores foram implementados em dezembro e as autoridades sinalizaram que planejam apenas continuar elevando as taxas entre 5% e 5,5% em 2023. Melhores perspectivas já estão se materializando, com muitos vendo o Fed continuando a aumentar as taxas no primeiro trimestre, parando no segundo e possivelmente reduzindo as taxas no quarto.
A desaceleração da demanda, os descontos de preços devido a estoques elevados e os preços de imóveis em queda, entre outros fatores, ajudarão a moderar a inflação, o que, por sua vez, deve levar os principais bancos centrais a fazer uma pausa e avaliar sua recente série histórica de aumentos de juros. À medida que as cadeias de suprimentos se recuperam e os mercados de trabalho sofrem menos atrito, podemos ver uma queda mais acentuada e ampla da inflação, o que implicaria um caminho um pouco mais fácil para políticas e maior crescimento global.
Um abraço,
Matheus Spiess
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