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Mercado em 5 minutos

Mercados digerem comunicados do Fed e do Copom; veja os destaques desta quinta (4)

Sem surpresas, Fed aumenta taxa de juros em 25 pontos-base, enquanto Selic foi mantida em 13,75% ao ano. Agora, investidores digerem comunicados das autoridades

Por Matheus Spiess

04 maio 2023, 08:59 - atualizado em 04 maio 2023, 08:59

Mercado em 5 minutos fed copom juros
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Lá fora, a maioria dos principais mercados de ações asiáticos conseguiu subir timidamente nesta quinta-feira, com os investidores ainda refletindo sobre o aumento das taxas de juros nos EUA e uma piora nas perspectivas econômicas, embora os fortes números de gastos no feriado chinês tenham apoiado as ações locais. 

O PMI industrial (atividade do setor manufatureiro), por outro lado, caiu de 50 pontos em março, para 49,5 em abril, o que é negativo para a percepção de atividade global. A Autoridade Monetária de Hong Kong também aumentou as taxas de juros em sintonia com o Fed. Com isso, deverá chamar a atenção dos investidores globais a reunião de política monetária na Zona do Euro hoje. 

Os mercados europeus e os futuros americanos começam o dia em queda, também acompanhando a queda das ações do PacWest Bancorp, nos EUA, que caiu mais de 50% no after hours em NY de ontem depois da notícia de que pode ser vendido, transformando a instituição na quarta a cair desde março com a quebra do SVB. No Brasil, devemos repercutir hoje a decisão de política monetária de ontem. 

A ver… 

· 00:56 — Amenizou só um pouquinho 

Por aqui, como era esperado, tivemos manutenção pelo Comitê de Política Monetária (Copom) da taxa de juros em 13,75% ao ano. A grande dúvida, porém, residia na expectativa para o comunicado que acompanha a decisão. Acontece que a autoridade monetária realmente amenizou o tom, mas foi bem pouco. Algumas sinalizações foram importantes. A primeira e mais relevante se relaciona à adição da frase “esse cenário é menos provável” entre vírgulas para se referir à possibilidade de voltar a subir juros. Ele não removeu a menção, esvaziando a chance de uma queda dos juros em junho. 

O segundo ponto que me chamou a atenção foi que o BC parou que falar sobre a deterioração adicional das expectativas inflacionárias de longo prazo, uma vez que as expectativas estiverem bem-comportadas na última semana, em linha com a formalização do novo arcabouço fiscal, que ainda carece da devida tramitação no Congresso. Com isso, a queda da Selic deverá vir apenas no segundo semestre, muito provavelmente em agosto, com variação marginal de 25 pontos-base. Em outras palavras, quando a flexibilização vier, ela será lenta e gradual. 

· 01:51 — O governo estava esperando… 

Ainda no Brasil, abalado com as duas derrotas recentes no Congresso (PL das Fake News, retirado de pauta, e queda de parte dos decretos sobre saneamento), o governo estava esperando o comunicado da noite de ontem para decidir sobre os próximos nomes das diretorias vagas do BC, bem como a possível antecipação da reunião do Conselho Monetário Nacional (CNM), previsto para junho. Sem a sinalização de queda no curto prazo, o Palácio do Planalto pode voltar a pressionar a autoridade monetária — lembrem-se como os atritos institucionais foram ruins para os mercados. 

Entretanto, caso o governo opte por uma abordagem mais amena, indicando nomes adequados para as diretorias (Marcello Negro para a Diretoria de Política Monetária ganhou força nos últimos dias e parece ter aceitação do mercado) e não dando um cavalo de pau no CMN, o desfecho pode ser mais positivo — a reunião do Conselho serviria para manter as metas já previstas para 2024 e 2025 de 3%, mudando o horizonte do cumprimento para um prazo de dois anos (ao invés de anual) e as bandas para até 2% (ao invés de 1,5%). Não tão ruim como mudar a meta em si. 

· 02:48 — Chegamos ao fim do ciclo de aperto americano? 

Nos EUA, o comitê de política monetária do Federal Reserve aumentou sua meta de taxa de juros de referência em 25 pontos-base, conforme o esperado, no que pode ser o último aumento deste ciclo. O aumento de ontem foi o décimo consecutivo desde março de 2022, elevando a taxa dos fundos federais para uma meta de 5,0% a 5,25%. É o maior valor desde 2007, sendo a alta mais agressiva desde a década de 1980. 

Na sequência da decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, deu a entender que as opções do Fed estão em aberto caso os dados econômicos apoiem novos aumentos. Me parece mais uma atuação vocal do que qualquer outra coisa, mas o mercado de trabalho permanece forte e a inflação segue elevada, permitindo tal abordagem. Sem dúvida, a situação recente dos bancos regionais prejudica muito a posição do Fed. 

Contudo, a inflação não vai cair para 2% da noite para o dia. Ou seja, pode levar algum tempo com a política monetária restritiva para que a inflação caia. Em outras palavras, não vemos chance de corte dos juros por lá em 2023, devendo ser uma discussão para 2024. Naturalmente, como o mercado esperava queda dos juros ainda neste ano, algo que sempre considerei equivocado, novas quedas devem ser observadas nas ações. 

· 03:53 — Os próximos passos 

A pandemia de Covid-19 e as interrupções relacionadas, além de ações de política fiscal e monetária ultra flexível, contribuíram para uma inflação persistente que muitos pensavam ser apenas transitória. A escassez de trabalhadores disponíveis persistiu até 2023, enquanto em pouco mais de um ano o Fed aumentou as taxas de juros agressivamente — foram cinco pontos percentuais em 14 meses, sendo que a taxa de desemprego hoje é de 3,5%, ainda mais baixa frente a quando o processo começou. 

A atual turbulência no setor bancário regional americano e uma possível crise do teto da dívida do governo apenas complicam as coisas. Todos esses choques ao mesmo tempo não estavam previstos na literatura; logo, nenhum modelo conseguiu antecipar bem as coisas até aqui. Consequentemente, os economistas vão estudar o momento atual pelos próximos 20 anos. Um momento paradigmático, sem dúvida. O que o Fed fizer em junho dependerá do que acontecer com o mercado de trabalho e a inflação. 

· 04:40 — E os europeus? 

No velho continente, o Banco Central Europeu deve subir a taxa de juros na Zona do Euro em 25 ou 50 pontos-base — o mercado está dividido sobre o que virá. O mais provável é 25 pontos, desacelerando o ritmo de aperto monetário (os padrões de crédito mais rígidos e o núcleo da inflação mais baixo sugerem um ritmo mais lento de aperto). A pausa do ciclo, porém, deve ficar para outro momento.  

Este tem sido um ciclo de política monetária peculiar. Os consumidores têm sido menos sensíveis às taxas devido à poupança excepcionalmente alta e ao baixo endividamento no início do aperto da liquidez. Com isso, o ônus dos aumentos de juros parece ter recaído mais sobre os grupos de renda mais baixa. Ainda não sabemos qual herança o processo atual deixará para a sociedade. Talvez a recessão futura nos explique. 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.