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Mercado em 5 minutos

Mercados digerem decisões da Super Quarta; veja os destaques desta quinta (23)

Confira os temas mais quentes do mercado financeiro e das principais economias do mundo nesta quinta-feira, 23 de março

Por Matheus Spiess

23 mar 2023, 08:58 - atualizado em 23 mar 2023, 08:59

Indicação de investimento mercado super quarta
Fonte: Freepik

Bom dia, pessoal. Lá fora, a maioria dos mercados asiáticos se movimentou em uma faixa estável nesta quinta-feira, fechando predominantemente no negativo, com os investidores avaliando a perspectiva de um Federal Reserve menos agressivo diante de um aumento de ventos econômicos contrários nos próximos meses. Os índices de Hong Kong e de Xangai foram os únicos com desempenho positivo no dia, com a força dos nomes de tecnologia depois que a Tencent registrou resultados melhores do que o esperado. 

Nesta manhã, os mercados europeus caem, enquanto os futuros americanos registram alta. Ontem, o Fed aumentou as taxas conforme o esperado e sugeriu uma possível pausa em seu ciclo de alta de taxas após as notícias envolvendo o sistema bancário. Ainda assim, a autoridade monetária reiterou seu compromisso em reduzir a inflação, prevendo pelo menos mais uma alta neste ano. No Brasil, digerimos o Copom de ontem. A piada que circula na Faria Lima é que Lula trucou, mas o BC pediu 6.  

A ver… 

· 00:47 — Marcando posição: se preparem para os atritos políticos 

Francamente, até eu esperava um comunicado menos agressivo do que tivemos. O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa de juros inalterada em 13,75% ao ano ontem, preservando um tom bem duro no texto que acompanha a decisão, sem retirar a ponderação de voltar a subir juros, o que eu duvido que aconteça, caso necessário. Assim, nossa autoridade monetária seguiu uma estratégia parecida com a europeia e a americana, focando em ancorar as expectativas e reduzir a inflação. 

Agora, se preparem para muito atrito político nas próximas semanas, como tivemos em fevereiro e março, com o Poder Executivo equivocadamente querendo intervir no BC e pressioná-lo por juros mais baixos. Não vai acontecer. O recado é claro. Quer juros caindo? Então pare de falar e apresente logo um arcabouço fiscal crível. Quem sabe o desfecho de ontem fosse diferente se tivesse o governo já apresentado a regra que substituirá o teto de gastos. As forças políticas vão se mobilizar para atacar o BC. 

Resta saber se a ata da reunião, a ser divulgada na semana que vem, irá mudar alguma coisa. Duvido muito, mas ainda assim, será importante dar uma olhada. A tão sonhada queda dos juros não deve acontecer nas próximas reuniões (maio e junho), ficando apenas para o segundo semestre. Até lá, o governo tem tempo de apresentar o arcabouço, mas já prevejo que não fará isso sem brigar (juros elevados por tanto tempo vão afundar mais a economia). Nada mais importa, apenas a regra fiscal. 

· 02:02 — E continuou a subida 

Nos EUA, o Federal Reserve elevou sua taxa básica de juros em 25 pontos ontem, para 4,75% a 5% ao ano, prosseguindo com seus esforços de combate à inflação, apesar da turbulência no sistema bancário regional americano. A autoridade sugeriu, porém, que o fim dos aumentos das taxas está próximo. Foi o nono aumento em cerca de um ano, levando a taxa de juros ao seu nível mais alto desde 2007. 

Houve indícios imediatos de que os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) esperam que estejam quase terminando de aumentar as taxas. O último resumo das projeções econômicas do comitê, ou o chamado “gráfico de pontos”, mostrou que a estimativa mediana entre os membros coloca a taxa máxima dos fundos federais em 5,1% este ano, o que implica mais uma alta por vir. Com isso, o Fed está dependendo de dados para os próximos passos. 

Ainda assim, embora as taxas possam estar chegando ao ponto em que os membros do comitê as consideram suficientemente restritivas, a luta contra a inflação ainda não acabou. Por isso, conforme o próprio presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou, não devemos ter reduções de juros neste ano — em três dos quatro ciclos substanciais de aperto monetário nos últimos trinta anos, o Fed começou a cortar juros apenas cerca de seis meses após o último aumento da taxa. 

· 03:10 — Ingleses e suíços 

Hoje, no Reino Unido, teremos reunião de política monetária do Bank of England (Banco da Inglaterra, a autoridade monetária do país). Espera-se que haja um aumento de taxas da ordem de 25 pontos, para 4,25% ao ano, com foco em combater a inflação, que voltou a acelerar em fevereiro, como vimos em dado recente. Eventuais surpresas podem fazer preço, mas os mercados já estão tensionados na Europa nesta manhã. 

Enquanto isso, na Suíça, também temos decisão de política monetária. Neste caso, o Banco Nacional Suíço seguiu o BCE com um movimento de alta da ordem de 50 pontos, apesar do estresse recente com o Credit Suisse. Vale avaliar o comunicado que acompanha a decisão, bem como fala de autoridades por lá, vetores que podem trazer alguma novidade sobre o setor bancário suíço. 

· 03:50 — Os EUA vão banir o TikTok? 

A rede social chinesa TikTok está correndo o risco de ser banida dos EUA. Hoje, o CEO da companhia, Zi Chew, irá ao Congresso americano para defender a empresa e indicar que o aplicativo não é um agente da China — a tese seria de que a rede social estaria acumulando dados da sociedade americana (se você trabalha no governo, já não pode usar o aplicativo, sob o argumento de atentar sobre a segurança nacional). 

O executivo deverá ser hoje questionado pelos legisladores, argumentando que os EUA não devem proibir o aplicativo ou forçar a venda do TikTok, de propriedade chinesa, que atualmente possui 150 milhões de usuários mensais nos EUA, para algum americano. Chew afirma que uma proibição prejudicaria as empresas americanas e que o TikTok nunca compartilhou dados de usuários dos EUA com o governo chinês.  

· 04:31 — E se a inflação estiver sendo impulsionada por lucros? 

Alguns economistas, como Paul Donovan do UBS de Londres, dizem que a inflação que estamos observando em muitos países é, em grande parte, impulsionada pelo lucro das empresas. A ideia seria de que as economias centrais tiveram três ondas de inflação desde a pandemia: i) inflação transitória de bens duráveis; ii) inflação de commodities; e, finalmente, iii) a inflação liderada pela margem de lucro. 

A inflação liderada pela margem de lucro não é causada por um desequilíbrio entre oferta e demanda, mas pela margem de lucro; isto é, quando algumas empresas inventam uma história que convence os clientes de que os aumentos de preços são “justos”, quando na verdade disfarçam a expansão da margem de lucro. Com isso, o aperto monetário teria uma menor sensibilidade sobre o controle da inflação.   

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.