Os mercados internacionais, especialmente o americano, estão passando pela primeira correção desde a eleição de Donald Trump. Esse movimento começou ontem (12) e pode se estender com mais um ajuste hoje }(13).
Como reflexo, as bolsas asiáticas encerraram o pregão desta quarta-feira (13) majoritariamente em baixa, enquanto os futuros americanos apontam para uma queda nesta manhã. Investidores aguardam ansiosos os dados de inflação ao consumidor de outubro nos EUA, que podem oferecer mais clareza sobre o ciclo de flexibilização monetária planejado pelo Federal Reserve — a divulgação desse indicador pode influenciar as apostas para a próxima reunião do Fed, em dezembro.
Em segundo plano, embora as ações estejam caindo, o “Trump Trade” permanece acontecendo, impulsionando os yields dos títulos do Tesouro e fortalecendo o dólar, ao passo que o presidente eleito continua a anunciar membros de seu futuro gabinete. Nos mercados europeus, o dia começa com uma tentativa tímida de alta, apoiada na expectativa de declarações de membros do Banco Central Europeu (BCE) que devem reforçar as projeções de corte de taxas na Europa para dezembro.
No Brasil, o foco se mantém no aguardado pacote de corte de gastos, enquanto o Rio de Janeiro se prepara para sediar três grandes eventos entre os dias 14 e 19 de novembro: o Urban 20 (U20), o G20 Social e a Cúpula dos Líderes do G20. Será um período agitado…
· 00:52 — Tem espaço para cortar, mas onde está a vontade do governo?
Hoje, o Banco Central do Brasil deve realizar leilões de linha, agindo em resposta às crescentes pressões sobre as taxas de juros e o câmbio, materializando a preocupação indicada na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem (12).
O documento reforçou uma postura contracionista, já esperada pelo mercado, e, embora o Banco Central tenha mantido uma certa flexibilidade em relação ao ritmo e à intensidade do ciclo de elevação da Selic, a ata sugere uma preferência inicial pela manutenção do ritmo atual. No entanto, a decisão final depende fortemente do aguardado pacote de corte de gastos previsto para este mês, cuja qualidade e alcance serão fundamentais para a próxima decisão sobre a Selic em dezembro, influenciando se o ajuste será de 50 ou 75 pontos-base. Um pacote de cortes mais robusto e bem estruturado pode reduzir a necessidade de um aumento mais agressivo dos juros.
Atualmente, o mercado precifica uma Selic terminal próxima de 14%, apesar de a maioria dos economistas projetar um encerramento do ciclo em torno de 13%. Acontece que, se o corte de gastos for inferior a R$ 50 bilhões, ou 0,5% do PIB, é improvável que o mercado recupere significativamente até o final do ano. Sem rali de Natal para nós. Ao mesmo tempo, sem um ajuste, os dois últimos anos do mandato de Lula podem enfrentar uma combinação de alta inflação e baixo crescimento, complicando o cenário político. Por isso, mantenho a expectativa de que a reforma será implementada, mesmo que demore e exija paciência dos agentes de mercado.
Durante essa fase de incerteza, porém, o Ibovespa, a curva de juros e o câmbio seguirão sob pressão. Curiosamente, há informações de que Lula hesita em limitar o reajuste do salário mínimo a 2,5% acima da inflação, alinhando-o ao arcabouço fiscal, porque contraria as promessas de campanha que previam o aumento real vinculado ao crescimento do PIB de dois anos anteriores, gerando tensões internas no PT. Dessa forma, alguns ministros sugerem que o anúncio das medidas seja adiado para depois do G20, mas tal atraso pode ser prejudicial: quanto mais tempo passar, pior será.
Cabe destacar que, ao limitar o reajuste real do salário mínimo a 2,5% em 2025 e a 2% em 2026, conforme a projeção do teto de gastos, o governo poderia economizar cerca de R$ 11 bilhões nos próximos dois anos. Excelente notícia! Para vocês terem uma ideia, pelas regras atuais, o aumento real seria de 2,9% em 2025 e 3,2% em 2026, uma trajetória financeiramente insustentável. Além disso, as despesas indexadas ao salário mínimo representam metade do orçamento do governo, chegando a quase 10% do PIB no ano passado e projetadas para ultrapassar R$ 1 trilhão este ano, com tendência de aumento. Coisa de maluco, completamente. Assim, abordar essa questão de forma assertiva é crucial para garantir um ajuste fiscal sustentável. É a única saída.
· 01:41 — A inflação ao consumidor
Nos EUA, o entusiasmo pós-eleitoral que impulsionou o mercado de ações a novos recordes perdeu um pouco de fôlego ontem. Diversos setores apontados como potenciais beneficiários do segundo mandato de Trump apresentaram correções, o que faz parte do ajuste natural após uma alta tão expressiva.
O mercado agora começa a recalibrar as expectativas para o novo ciclo presidencial, enquanto Trump e Biden se reúnem para uma conversa hoje (13). Em paralelo, as indicações para o gabinete seguem em destaque, com a nomeação de Elon Musk ao recém-criado Departamento de Eficiência Governamental, função que ele dividirá com o republicano Vivek Ramaswamy, chamando especialmente a atenção.
Entre os principais eventos de hoje, temos a continuação da temporada de resultados corporativos, com divulgações esperadas de empresas como Cisco, Nu Holdings, Under Armour e Tower Semiconductor. Além disso, o mercado aguarda o índice de inflação ao consumidor de outubro, que deve mostrar uma alta de 2,6% em relação ao ano anterior, levemente acima dos 2,4% de setembro. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, deve registrar um aumento de 3,3%, mantendo o ritmo de setembro. Este dado pode servir como um importante indicativo de que a inflação nos EUA permanece em um processo de desaceleração gradual. Caso a inflação venha acima do esperado, isso pode influenciar as projeções dos investidores para a reunião de dezembro do Comitê Federal de Mercado Aberto. No entanto, até o momento, a expectativa majoritária é de mais um corte de 25 pontos-base na taxa de juros.
· 02:38 — Pressão
A volta de Donald Trump à presidência dos EUA está impulsionando positivamente os mercados acionários no curto prazo, mas também elevando as preocupações com inflação e endividamento do país. Como tenho explorado, espera-se que Trump adote políticas fiscal, comercial e regulatória agressivas, incluindo reduções de impostos para empresas e incentivos para setores estratégicos como defesa, manufatura e tecnologia, com o objetivo de estimular o crescimento. Essas iniciativas devem fornecer um impulso imediato, especialmente em setores alinhados às prioridades industriais de Trump, promovendo a expansão operacional e a produtividade nas empresas.
Contudo, o aumento recente nas taxas de juros dos Treasuries de longo prazo reflete a cautela dos investidores quanto ao crescimento da dívida e suas implicações. Juros mais altos sinalizam que, embora os investidores reconheçam o potencial de crescimento econômico imediato, eles estão igualmente atentos às pressões inflacionárias e à sustentabilidade fiscal dos EUA. Nesse contexto, a nomeação de Trump para o Departamento do Tesouro será um fator decisivo, com Scott Bessent, da Key Square, despontando como o candidato mais provável para o cargo.
· 03:25 — Desglobalização? Muita calma nessa hora…
Os rumores sobre o fim da globalização parecem ser amplamente exagerados. Anualmente, mais de 100 milhões de pessoas são retiradas da pobreza. Além disso, dois terços da população global têm acesso à internet, um salto significativo em comparação com apenas 16% há duas décadas. As viagens aéreas internacionais tornaram-se mais acessíveis, enquanto o comércio global continua em expansão, apesar das adversidades. Esses avanços sugerem que o progresso alcançado até aqui é irreversível. Tanto as economias desenvolvidas quanto as emergentes dependem desse crescimento para atender às expectativas de seus cidadãos por prosperidade.
Entretanto, a organização global passa por uma transformação: não mais orientada apenas pela eficiência, como foi logo após a queda do Muro de Berlim, mas agora voltada para a segurança – seja energética, alimentar, militar, cibernética ou logística.
Ou seja, em vez de representar o fim da globalização, essa reestruturação está moldando uma nova fase do fenômeno, onde as interdependências e trocas globais continuam, mas de forma ajustada às novas prioridades de segurança e resiliência.
· 04:13 — Alguém lembra da COP29?
A conferência anual dos líderes globais sobre o meio ambiente, a 29ª Cúpula da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP29), está sendo realizada esta semana em Baku, Azerbaijão — um país que, ironicamente, está entre as dez economias mais dependentes de combustíveis fósseis. Até o momento, um avanço significativo foi alcançado, embora não seja destaque nas manchetes: os participantes finalmente chegaram a um consenso sobre os padrões para a comercialização de créditos de carbono entre países, um passo importante que vinha enfrentando impasses há anos. Com isso, a cúpula se aproxima da criação de um mercado global para a negociação desses créditos. Esse sistema permitirá que países mais ricos, como EUA, Suíça e Japão, alcancem suas metas climáticas comprando reduções de emissões de países menores, como aquelas obtidas pela captura de carbono através de reflorestamento, sem necessariamente reduzir suas próprias emissões domésticas.
Além desse avanço, a COP29 busca também definir o montante necessário para financiar nações vulneráveis, que necessitam de recursos para enfrentar desastres naturais e desenvolver energia limpa. No entanto, essa promessa pode não se concretizar nesta edição, uma vez que a presença de líderes globais caiu drasticamente: 48 chefes de estado a menos compareceram em relação ao ano passado, incluindo os presidentes dos dois maiores produtores de petróleo, Xi Jinping e Joe Biden, que não estarão presentes.
Esse cenário enfraquece o evento e gera incertezas sobre o compromisso internacional com a agenda climática, especialmente com a possibilidade de uma nova presidência de Donald Trump — que, em seu mandato anterior, retirou os EUA do Acordo de Paris e deu sinais de que repetiria a ação. Essa situação também cria desafios para o Brasil, que se prepara para sediar a próxima edição da COP, em um momento em que o interesse global parece arrefecer.
· 05:06 — Um belíssimo resultado
O BTG Pactual (BPAC11) divulgou seus resultados para o terceiro trimestre, que vieram alinhados com as expectativas do mercado, destacando-se pelo sólido crescimento e elevada rentabilidade.
O banco reportou um lucro líquido de R$ 3,2 bilhões, o que representa um aumento de 9% em relação ao trimestre anterior e de 17% em comparação com o mesmo período do ano passado. Esse resultado foi impulsionado por uma receita recorde e uma alavancagem operacional eficaz…