
Os mercados globais iniciam o dia em alta, impulsionados por uma combinação de fatores positivos. As bolsas asiáticas encerraram a quinta-feira (6) em terreno positivo, e esse otimismo se estende aos índices europeus e aos futuros americanos, sinalizando um pregão promissor no cenário internacional. Parte desse bom humor deriva da recuperação do PMI global da manufatura, que atingiu a marca dos 50 pontos pela primeira vez desde 2022, indicando uma retomada do crescimento no setor. Com exceção da América Latina, houve melhora nos componentes de atividade em todas as regiões, o que reforça a confiança dos investidores e reduz os temores de uma desaceleração mais acentuada da economia global. Esse movimento também impulsiona as commodities, o que beneficia alguns emergentes, incluindo o Brasil.
Na agenda do dia, os mercados acompanham a decisão do Banco da Inglaterra, que reduziu sua taxa básica de juros em 25 pontos-base, além da reunião de política monetária no México, que, embora relevante regionalmente, tem impacto mais restrito no cenário global. Nos Estados Unidos, os últimos dados econômicos indicam uma atividade menos aquecida, o que fortalece as expectativas de cortes adicionais nas taxas de juros pelo Federal Reserve nos próximos meses — a cereja do bolo vem na sexta-feira, com o payroll. No Brasil, o ambiente externo mais favorável pode sustentar um desempenho positivo dos ativos locais, enquanto os investidores monitoram as repercussões da entrevista concedida por Fernando Haddad na noite anterior, avaliando possíveis impactos nas perspectivas fiscais e econômicas do país.
· 00:43 — Qual a agenda, ministro?
O dólar encerrou a quarta-feira (5) em alta pela primeira vez após 12 sessões consecutivas de queda, algo natural após a mais longa sequência de valorização do real em duas décadas. No entanto, a aversão ao risco não se refletiu de maneira uniforme entre os ativos. O Ibovespa, por exemplo, avançou, impulsionado pelo desempenho positivo dos grandes bancos, especialmente após os bons números apresentados pelo Santander (SANB11). Para esta quinta-feira (6), o mercado volta suas atenções para os resultados do Itaú (ITUB4). Embora o banco tenha reportado um balanço sólido, a recepção dos investidores foi menos entusiasmada, refletida na queda de suas ADRs no pré-mercado em Nova York. O recado das principais instituições financeiras é claro: 2025 será um ano desafiador, exigindo uma abordagem mais cautelosa por parte da gestão e um maior conservadorismo estratégico nas carteiras de crédito.
Nesse contexto, a entrevista concedida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na noite anterior, parece destoar da realidade econômica. Aparentemente, a grande prioridade do governo Lula para os próximos dois anos resume-se à isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais, sem qualquer outra pauta relevante em evidência. O problema central desse projeto não é apenas o custo subestimado – que deve girar em torno de R$ 70 bilhões, bem acima dos R$ 40 bilhões mencionados pelo governo –, mas também a necessidade de compensação financeira.
A questão que se impõe é: o Congresso estaria disposto a aprovar medidas de aumento da arrecadação quando a raiz do problema fiscal reside no crescimento das despesas? A resposta não parece trivial. Embora haja mérito na discussão de uma Reforma Tributária sobre a renda, o momento e o escopo dessa proposta levantam dúvidas. Nenhum país do mundo adota uma isenção de IR para 90% da população, o que tornaria o Brasil um experimento único, na contramão do atual zeitgeist global, que prioriza políticas mais pró-mercado, desregulamentação e maior fiscalismo.
Tudo isso ocorre em um ambiente de endividamento ainda crescente e com o Tesouro queimando seu colchão de liquidez a um ritmo acelerado – uma redução de R$ 122 bilhões em apenas um ano. Enquanto isso, as propostas para controle de despesas parecem limitadas a ajustes pontuais, como a revisão dos supersalários do Judiciário e da aposentadoria dos militares. Embora sejam temas relevantes, são insuficientes para um ajuste estrutural. O fato de os ativos brasileiros terem apresentado um desempenho mais positivo no início de 2025 não significa que os desafios desapareceram. Eles continuam presentes, e o mercado ainda não tem clareza sobre a real disposição do governo em enfrentá-los. A sinalização até agora não foi encorajadora.
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· 01:45 — Estão mais calmos agora
Nos Estados Unidos, o clima entre os investidores se mostra mais tranquilo, permitindo que o foco retorne para os fundamentos do mercado, em vez de ser constantemente desviado por manchetes ligadas às movimentações do novo governo Trump. Essa mudança de humor impulsionou os principais índices acionários: o Dow Jones Industrial Average fechou o dia com alta de 0,7%, o S&P 500 avançou 0,4% e o Nasdaq Composite registrou um ganho mais modesto de 0,2%.
A recuperação ocorreu apesar do desempenho ruim da Alphabet (GOGL34), como discutimos ontem (5). A gigante de tecnologia decepcionou o mercado devido ao crescimento ligeiramente mais lento no segmento de computação em nuvem e ao expressivo volume de capex realizados no último ano. Ainda que os riscos comerciais e tarifários permaneçam no radar, o mercado parece menos apreensivo agora do que no início da semana, permitindo uma retomada do apetite por ativos de risco.
Outro fator que tem chamado atenção são os dados de emprego, que vêm trazendo sinais mistos para os investidores. Na terça-feira (4), o relatório JOLTS indicou um mercado de trabalho mais fraco do que o esperado, reforçando a expectativa de cortes de juros pelo Federal Reserve. No entanto, essa leitura foi parcialmente ofuscada pelo relatório de emprego ADP divulgado ontem (5), que surpreendeu positivamente ao mostrar um mercado ainda aquecido. O impacto dessa surpresa, porém, foi contrabalançado pela desaceleração na atividade do setor de serviços, que veio abaixo do projetado e fortaleceu a tese de continuidade da flexibilização monetária ainda em 2025.
O grande teste, no entanto, virá amanhã (7), com a divulgação do payroll de janeiro – o dado econômico mais relevante da semana nos EUA e que deve oferecer direções mais claras sobre os próximos passos da política monetária. Enquanto isso, os mercados continuam atentos à temporada de resultado, que hoje traz uma série de resultados importantes, incluindo Amazon, AstraZeneca, Bristol Myers Squibb, Eli Lilly, ConocoPhillips, Hilton, Philip Morris, Ralph Lauren, Roblox, Take-Two e Yum! Brands.
· 02:34 — A direção do governo Trump
As declarações mais recentes de Donald Trump sobre revisitar o expansionismo americano – seguindo o mesmo tom de suas falas anteriores sobre o Canadá, a Groenlândia e o Canal do Panamá – reacenderam o habitual alvoroço na mídia. Enquanto os debates públicos seguem dominados por temas como tarifas, imigração e conflitos internacionais, nos bastidores, Elon Musk avança na implementação de um dos projetos mais ambiciosos de Trump: a redução do tamanho do governo federal.
Após a desativação da USAID, a agência de desenvolvimento internacional dos EUA, Musk voltou sua atenção para órgãos responsáveis pela administração do Medicare e do Medicaid. O esforço para fechar agências e cortar o financiamento destinado a esses programas já enfrenta desafios jurídicos e tem gerado forte resistência, como era de se esperar. Ainda assim, o Partido Republicano, que controla o Congresso, parece plenamente alinhado com a agenda e tem endossado as iniciativas lideradas por Musk.
Caso o bilionário seja bem-sucedido na redução do aparato governamental e consiga, junto com Scott Bessent, implementar medidas para conter o déficit fiscal, os EUA poderão se tornar um modelo global de enxugamento do setor público. A proposta se assemelha às reformas promovidas por Javier Milei na Argentina, que também enfrentam forte oposição, mas já começam a ganhar tração como uma nova abordagem para lidar com as crescentes pressões sobre os gastos públicos.
· 03:23 — Sobreviveu
O governo francês conseguiu sobreviver a mais um teste de resistência política ao superar uma moção de desconfiança no Parlamento, garantindo, enfim, a aprovação do Orçamento para 2025 após meses de impasse. O atual premiê, François Bayrou, recorreu a um mecanismo constitucional especial para aprovar o orçamento sem submetê-lo à votação legislativa, uma decisão que desencadeou a tentativa de derrubá-lo. No entanto, a moção de desconfiança obteve apenas 128 votos favoráveis, muito aquém dos 289 necessários para aprovação, selando a continuidade do governo.
A instabilidade política na França tem se prolongado além do limite da paciência dos próprios parlamentares, que parecem cada vez mais desgastados com o cenário de crise permanente. Tanto os socialistas quanto os representantes da extrema-direita decidiram não apoiar a moção, inviabilizando qualquer possibilidade de sua aprovação.
Bayrou, um veterano da política centrista, assumiu o comando do governo em dezembro, após uma turbulência orçamentária que derrubou seu antecessor e mergulhou o país em uma crise institucional. Desde que o presidente Emmanuel Macron convocou eleições antecipadas no ano passado, a França tem se mantido em um cenário de paralisia política, com um Parlamento fragmentado e sem maioria clara.
Com base na Constituição francesa, o fracasso da moção automaticamente transformou o Orçamento de 2025 em lei. O plano orçamentário tem como principal objetivo reduzir o déficit fiscal do país, atualmente em 6,1% do PIB, para 5,4% ao longo deste ano. Para isso, prevê um pacote de medidas que inclui cortes de gastos e aumento de impostos. O caso francês é mais um reflexo de uma tendência observada globalmente: cada vez mais países buscam reequilibrar suas contas públicas em meio a pressões crescentes sobre a sustentabilidade da dívida. Serve de exemplo para nós.
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· 04:16 — Instabilidade global
Os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio ilustram claramente a escalada das rivalidades geopolíticas nos últimos anos, evidenciando um cenário global cada vez mais volátil e fragmentado. Longe de se restringir ao confronto estratégico entre Estados Unidos e China, essa nova dinâmica multipolar tem transformado alianças outrora sólidas em arranjos temporários, regidos por interesses nacionais oportunistas. A estabilidade internacional que marcou o período pós-Guerra Fria, conhecida como o “dividendo da paz”, já não existe mais. Durante décadas, a redução das incertezas permitiu uma maior globalização, que, por sua vez, minimizou ineficiências, ajudou a conter pressões inflacionárias e impulsionou a prosperidade econômica global.
No entanto, desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, tornou-se evidente que essa era de relativa estabilidade chegou ao fim. A ordem mundial atual é marcada por um realinhamento fluido, no qual os países, em vez de aderirem rigidamente a blocos tradicionais, priorizam seus próprios interesses de forma pragmática. O número de nações envolvidas em conflitos interestatais voltou a crescer após uma década relativamente pacífica, sendo a escalada da violência no Oriente Médio um dos exemplos mais recentes e preocupantes dessa tendência.
Além do aumento da instabilidade geopolítica, a militarização global segue um caminho de expansão contínua. Desde meados da década de 2010, os gastos militares têm crescido de maneira constante, refletindo a percepção de que a competição estratégica entre potências é uma condição duradoura e não apenas um fenômeno transitório. Esse novo paradigma multipolar, repleto de atores independentes com agendas próprias, cria um ambiente de imprevisibilidade, tornando ainda mais difícil antecipar os desdobramentos das relações internacionais. Como consequência, o risco de choques de oferta se tornou estruturalmente elevado, consolidando um mundo no qual a segurança econômica e política está cada vez mais sujeita a rupturas inesperadas.
· 05:01 — Uma oportunidade complementar diferente das demais…
No dia 28 de janeiro, a Vale (VALE3) divulgou seu relatório de produção referente ao quarto trimestre de 2024, trazendo impactos relevantes para o mercado, especialmente no que diz respeito às Debêntures Participativas da companhia (CVRDA6). Um dos destaques foi o atingimento da meta de produção do Sistema Sudeste, fator que influencia diretamente a remuneração desses títulos e atrai a atenção de investidores atentos a essa classe de ativos. Mas, afinal, o que são essas debêntures?