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Microsoft (MSFT34) e Meta (M1TA34) enfrentam pré-mercado desafiador e Brasil comemora geração de empregos em setembro; confira os destaques desta quinta-feira (31)

O dia começa com a decisão do BoJ de manter a taxa de juros do Japão em 0,25% ao ano. Veja os balanços trimestrais que devem ecoar no mercado hoje (31).

Por Matheus Spiess

31 out 2024, 08:50 - atualizado em 31 out 2024, 08:50

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Imagem: Freepik/ @freepik

Iniciamos o dia absorvendo a decisão de política monetária do Japão, que manteve a taxa de juros inalterada em 0,25% ao ano, conforme o esperado. Na China, os dados da indústria mostraram sinais positivos, com o PMI de outubro apresentando uma leve recuperação. Ainda assim, os principais índices da região encerraram o dia em queda, refletindo o pessimismo observado no Ocidente ontem (30).

Essa tendência negativa se estende para a Europa e para os futuros dos EUA nesta manhã de quinta-feira (31), enquanto investidores aguardam novos dados sobre o mercado de trabalho americano e o PCE de setembro, indicador preferido do Federal Reserve para avaliar a inflação.

Entre os resultados corporativos, tanto Microsoft (MSFT34) quanto Meta (M1TA34) enfrentam um pre-market desafiador hoje, apesar de terem superado as expectativas do mercado. Alguns itens específicos nos balanços afetaram a percepção geral dos resultados — na análise inicial de ontem, após o fechamento do mercado, as ações da Microsoft chegaram a subir ligeiramente, mas, junto com Meta, reverteram para o negativo ainda antes do fim do after-market.

Hoje (31), mais resultados de gigantes de tecnologia são aguardados, enquanto no Brasil seguimos no aguardo do prometido pacote de corte de gastos do governo — haja paciência.

· 00:54 — Só não pode acontecer fogo amigo

No Brasil, a temporada de resultados traz Bradesco (BBDC4) e Ambev (ABEV3) como destaques, ambos divulgando balanços antes da abertura do mercado.

No campo dos dados econômicos, teremos a pesquisa Pnad Contínua do trimestre até setembro, que revelará a taxa de desemprego no mercado de trabalho. Após o resultado do Caged de ontem, as expectativas estão altas: o Brasil gerou 247,8 mil empregos líquidos em setembro, superando a projeção de 225 mil. Com o ajuste sazonal, foram criados 129 mil empregos no mês, mantendo estabilidade em relação a agosto (131 mil).

No acumulado do ano, o país registrou a criação de 1,97 milhão de empregos, um avanço de 23,6% frente aos 1,60 milhão nos primeiros nove meses de 2023.

Ainda que o ritmo esteja robusto, a média móvel trimestral ajustada segue em desaceleração, chegando a 144,3 mil em setembro, após um pico de 236,8 mil em maio. Mesmo assim, esse aquecimento no mercado de trabalho pode servir como justificativa adicional para um aumento de 50 pontos-base na Selic na próxima reunião do Banco Central.

Mais do que os dados de atividade e inflação correntes, a preocupação da autoridade monetária está concentrada na situação fiscal do país. Por isso, a espera pelo pacote de corte de gastos do governo segue como fator crucial. As recentes declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indicam um maior alinhamento do governo em torno da contenção de despesas, o que trouxe alívio para os juros futuros e favoreceu as ações do setor financeiro.

Aparentemente, há uma convergência entre a Fazenda e a Casa Civil sobre as medidas fiscais necessárias para garantir a sustentabilidade do arcabouço fiscal — um ótimo sinal, considerando que a Fazenda vê a Casa Civil como uma fonte de “fogo amigo”, frequentemente pressionando a ala mais ortodoxa em termos de política fiscal. Sem uma revisão de gastos agora, os investimentos do PAC poderiam ser comprometidos futuramente, o que ajudou a formar um consenso. A expectativa do mercado é de um pacote de corte de gastos de aproximadamente R$ 25,5 bilhões, pouco mais da metade do necessário (cerca de R$ 50 bilhões). Um anúncio acima dessa mediana seria visto positivamente. Por enquanto, aguardamos.

· 01:43 — Não foi ruim, mas a barra está muito alta

Nos Estados Unidos, o mercado de ações registrou queda ontem, inclusive no setor de tecnologia, apesar do desempenho positivo da Alphabet durante o pregão de quarta-feira. A retração ocorreu em parte devido à apreensão com os resultados das demais Big Techs e foi agravada pela queda acentuada das ações da fabricante de servidores Super Micro, após a saída de sua empresa de contabilidade, Ernst & Young, que declarou não poder mais respaldar as demonstrações financeiras da companhia. 

Hoje, o clima não se mostra mais otimista, com uma reação negativa aos resultados de Microsoft e Meta. Ambas apresentaram números acima das expectativas, mas suas projeções futuras foram motivo de preocupação. No caso da Microsoft, a previsão de crescimento da receita para o serviço de nuvem Azure ficou aquém do esperado. Já na Meta, a previsão de um aumento significativo das despesas com infraestrutura para 2025 não agradou o mercado, o que deve dificultar o desempenho das ações de tecnologia ao longo do dia, enquanto aguardamos pelos resultados de Amazon, Apple e Intel, programados para esta noite.

Confira os balanços trimestrais completos das companhias:

Em paralelo, investidores absorvem alguns dados econômicos importantes. O último relatório de emprego da ADP revelou um aumento de 233 mil vagas no setor privado, superando em mais que o dobro as expectativas do mercado. Além disso, o Produto Interno Bruto (PIB) ajustado pela inflação cresceu a uma taxa anualizada de 2,8% no terceiro trimestre, um pouco abaixo das projeções, mas ainda indicando uma economia robusta.

Esse cenário pode levar o Federal Reserve a moderar o ritmo de cortes na taxa de juros, como tenho destacado recentemente. Assim, para a próxima reunião, espera-se uma redução de apenas 25 pontos-base, em vez dos 50 pontos aplicados em setembro. Na agenda de hoje, o destaque é o índice de preços das despesas de consumo pessoal (PCE) de setembro, uma métrica preferida pelo Fed para monitorar a inflação, com uma expectativa de alta de 2,1% no comparativo anual (2,6% no núcleo).

· 02:37 — Frente europeia

A União Europeia elevará as tarifas sobre veículos elétricos fabricados na China para até 45,3% a partir desta quarta-feira, medida que provavelmente intensificará a guerra comercial entre a UE e a China, embora negociações continuem na busca por uma solução amigável. Além do imposto padrão de importação de 10% aplicado pela UE, os veículos elétricos chineses estarão sujeitos a tarifas adicionais: 7,8% para a Tesla; 17% para a BYD; 18,8% para a Geely; 20,7% para empresas cooperantes, como XPeng e NIO; e 35,3% para a estatal SAIC e demais empresas chinesas.

Essas tarifas extras foram instituídas com o objetivo de “proteger” as montadoras europeias de uma concorrência considerada “desleal”, dado que as fabricantes chinesas de veículos elétricos são amplamente subsidiadas pelo Estado, o que facilita a entrada de carros mais baratos no mercado europeu. É importante ressaltar que a capacidade de produção de veículos elétricos na China excede substancialmente a demanda local, e o mercado chinês é quase três vezes maior que o europeu. 

Em resposta, a China já impôs medidas antidumping sobre importações de conhaque da UE e abriu investigações sobre a importação de carne suína e laticínios europeus. Esse movimento sinaliza uma escalada nas tensões comerciais globais, cenário que pode se agravar ainda mais em um eventual segundo mandato de Trump.

· 03:25 — Há algum fim para o conflito no Oriente Médio?

A dinâmica no Oriente Médio é significativamente distinta do conflito entre Rússia e Ucrânia. Não há um desfecho no horizonte para a pior guerra da região desde os anos 1970 que seja aceitável para israelenses e palestinos. Além disso, os riscos regionais e globais parecem menos graves, depois da resposta israelense ao Irã, em comparação com o caso russo. Apesar de um cessar-fogo ainda parecer improvável, o conflito em Gaza parece próximo do fim, com Israel alcançando amplamente seus objetivos militares após sofrer os trágicos ataques terroristas de outubro de 2023.

A maior parte das forças de defesa israelenses foi retirada e redirecionada para o Líbano. Contudo, a guerra intensificou a radicalização entre palestinos em Gaza e na Cisjordânia, tornando-os mais propensos a seguir líderes que clamam por ações contra Israel. Isso aumentou consideravelmente o risco de novos ataques terroristas, especialmente em território israelense, o que deixa qualquer resolução definitiva ainda mais distante.

Os Acordos de Abraão, entretanto, permanecem intactos. A Arábia Saudita exige oficialmente a criação de um Estado palestino para normalizar suas relações com Israel, mas, nos bastidores, a cooperação econômica e de segurança entre sauditas e israelenses segue em progresso. É possível que Riad, ao término do conflito, possa abandonar essa exigência. Adicionalmente, o Irã demonstrou dificuldades em reagir diretamente contra Israel ou em apoiar seus aliados extremistas, mesmo com a neutralização das lideranças terroristas do Hamas e do Hezbollah por Israel. Os Houthis do Iêmen, outro aliado armado do Irã, continuam com ataques no Mar Vermelho, mas não chegam a provocar um conflito de maior escala no Oriente Médio, já que uma guerra total contra Israel é vista como insustentável. Contudo, infelizmente, um fim para o conflito ainda não parece visível no horizonte.

· 04:16 — O avanço da indústria chinesa

Quando Donald Trump, então presidente, anunciou em março de 2018 as tarifas sobre exportações chinesas, ele afirmou que essa medida tornaria os EUA uma nação mais forte. Seis anos e meio depois, e a menos de uma semana de uma eleição que pode levar Trump de volta à Casa Branca, algumas análises indicam que, na realidade, a China também se fortaleceu em diversas indústrias essenciais desde o início dessa prolongada guerra comercial. As políticas industriais chinesas, como o plano “Made in China 2025” …

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.